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UM NOVO MODELO DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA PARA O SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Pablo Pulhese Perim; Danilo Soares Monte-Mor; Marco Aurélio dos Santos Sanfins;
Pablo Pulhese Perim; Danilo Soares Monte-Mor; Marco Aurélio dos Santos Sanfins; Neyla Tardin
UM NOVO MODELO DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA PARA O SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL
A NEW SOLVENCY PREDICTION MODEL FOR COMPANIES IN THE REAL ESTATE SECTOR
UNO NUEVO MODELO DE PREDICCIÓN DE INSOLVENCIA PARA LA CONSTRUCIÓN
Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão, vol. 14, núm. 2, pp. 143-169, 2016
Universidade Federal do Ceará
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Resumo: Este artigo propõe um modelo de cálculo do risco de insolvência para empresas do segmento da construção civil por meio de uma abordagem que considere, além da qualidade dos ativos, o grau de severidade dos descasamentos entre ativos e passivos, bem como os riscos inerentes a esse setor. A partir de simulações de Monte Carlo e de exemplos hipotéticos, verificou-se que a nova medida foi capaz de capturar os efeitos dos descasamentos entre ativos e passivos bem como os efeitos da variação das medidas de risco de crédito, o risco de liquidez e o risco de engenharia. Além disso, os resultados sugerem que a ausência de uma distribuição harmoniosa entre ativos e passivos pode acarretar um aumento do risco de insolvência, ainda que o total de ativos a valor presente seja superior ao total de passivos.

Palavras-chave:Setor da construção civilSetor da construção civil,Risco de insolvênciaRisco de insolvência,Simulação de Monte CarloSimulação de Monte Carlo.

Abstract: This study aims to propose a model that estimates insolvency risk for real estate companies through an approach that considers, in addition to the assets' quality, the mismatches between assets and liabilities on time, as well as different risks within the sector. Through Monte Carlo simulations and hypothetical examples, we show that the proposed model was able to capture mismatches between assets and liabilities and the effects of changes in the risks of credit, liquidity and engineering. In addition, our results suggest that the absence of a harmonious distribution of assets and liabilities leads to increasing insolvency risks even when the present value of total assets is greater than the present value of total liabilities.

Keywords: Real Estate Sector, Insolvency risk, Monte Carlo Simulation.

Resumen: Este artículo tiene como objetivo proponer un modelo de cálculo del riesgo de insolvencia para las empresas del sector de la construcción a través de un enfoque que tenga en cuenta, además de la calidad de los activos, el grado de severidad de la falta de correspondencia entre los activos y pasivos, así como los riesgos inherentes a este sector. A partir de simulaciones de Monte Carlo y ejemplos hipotéticos, se encontró que la nueva medida fue capaz de capturar los efectos de los desajustes entre activos y pasivos, así como los efectos de los cambios en las medidas de riesgo de crédito, el riesgo de liquidez y el riesgo ingeniería. Además, nuestros resultados sugieren que la ausencia de una distribución armónica de los activos y pasivos puede conducir a un aumento del riesgo de insolvencia, aunque los activos totales a valor actual es mayor que el total de pasivos.

Palabras clave: Industria de la construcción, Simulación de Monte Carlo, Riesgo de insolvencia.

Carátula del artículo

UM NOVO MODELO DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA PARA O SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL

A NEW SOLVENCY PREDICTION MODEL FOR COMPANIES IN THE REAL ESTATE SECTOR

UNO NUEVO MODELO DE PREDICCIÓN DE INSOLVENCIA PARA LA CONSTRUCIÓN

Pablo Pulhese Perim
Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), Brasil;, Brasil
Danilo Soares Monte-Mor
Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), Brasil, Brasil
Marco Aurélio dos Santos Sanfins
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil
Neyla Tardin
Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), Brasil, Brasil
Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão, vol. 14, núm. 2, pp. 143-169, 2016
Universidade Federal do Ceará

Recepção: 07 Março 2016

Aprovação: 22 Agosto 2016

1 INTRODUÇÃO

Impulsionado por políticas de incentivo à redução do déficit habitacional, tais como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e pela necessidade de ampliação e de modernização da infraestrutura a partir de eventos esportivos como os jogos Pan-Americanos de 2007 e a Copa do Mundo de 2014, o setor da construção civil representa um importante vetor na geração de empregos e crescimento econômico no Brasil (JUNIOR; NOGUEIRA; SHIKIDA, 2012).

Apesar do aumento dos investimentos e do grau de endividamento das empresas desse setor ao longo da década de 2000, a crise americana do subprime de 2008 e o agravamento dos problemas fiscais dos países membros da União Europeia em 2011 elevaram as restrições de financiamento e de concessão de novas linhas de crédito nos mercados emergentes, acarretando redução na demanda e contração na indústria de construção civil (JUNIOR; NOGUEIRA; SHIKIDA, 2012).

Especificamente no Brasil, a crescente dívida pública, a necessidade de ajustes no orçamento da União e a redução no crédito privado têm contribuído para o aumento no número de pedidos de recuperação judicial de empresas do setor (ALVES, 2005). Nesse contexto, alguns estudos têm evidenciado os efeitos negativos da falência de empresas da construção civil, como é o caso da construtora Encol, que deixou mais de 42.000 mutuários sem seus imóveis comprados (ALVES, 2005). Entre as principais pesquisas sobre insolvência na construção civil destacam-se Langford, Iyagba e Komba (1992), que fazem um comparativo do uso de análise de índices e o modelo Z-score proposto por Altman (1968) no Reino Unido, e Correia (2012), que utiliza os modelos de probabilidade linear em empresas de construção em Portugal. No Brasil destaca-se Horta et al. (2011), que propõe o uso de metodologia de data mining a partir de dados da Bovespa para a identificação de indicadores financeiros discrepantes entre empresas solventes e insolventes.

A maior parte dos trabalhos referentes à insolvência, entretanto, tem se limitado a informações contidas nos balanços passados e não leva em consideração para o cálculo do risco de insolvência as expectativas de descasamento de fluxo de caixa futuro das empresas, bem como riscos específicos associados a cada setor. Dentro dessa perspectiva, Thomson (1991) evidencia que outros fatores como a qualidade dos ativos e habilidades do gestor em gerenciar descasamentos devem ser levados em consideração em análises que envolvam a estimação da probabilidade de falência das empresas. Ainda que identifiquem determinantes da insolvência condicionados a informações passadas, a maior parte dos estudos deixa aberta a questão sobre a influência de descasamentos futuros no risco de insolvência e como riscos específicos de cada setor influenciam probabilidades de default.

Esta pesquisa tem por objetivo apresentar um modelo de cálculo do risco insolvência específico para empresas do setor de construção civil. Tal modelo considera, além da qualidade dos ativos, o grau de severidade entre descasamentos, riscos específicos e inerentes ao setor da construção civil, como é o caso do risco de crédito, do risco de engenharia e do risco de liquidez (KIM, 2013). Para tanto, ampliou-se o conceito de risco de insolvência apresentado no modelo de Monte-Mor e Sanfins (2014).

Monte-Mor e Sanfins (2014) propõem uma medida estatística com base na qualidade dos ativos e no descasamento entre os ativos e passivos. Por meio de um estudo de caso hipotético de uma instituição financeira, esta medida, denominada RiD, indica a valor presente, o risco de insolvência da instituição considerando, além dos recebíveis e das obrigações futuras, o risco dos recebíveis e o grau de severidade do descasamento em cada período analisado. No modelo RiD, além do risco total dado pela medida ao longo do período, é possível medir a contribuição marginal no risco de insolvência de cada período k de maneira a identificar quais períodos contribuem mais significativamente no indicador de insolvência da empresa.

Para que seja possível ampliar o conceito de risco de crédito do modelo apresentado por Monte-Mor e Safins (2014), foram inseridas no modelo RiD medidas que incorporam os riscos de não faturamento da empresa por atrasos ou penalidades na obra (risco de engenharia) e o risco de falta de liquidez de mercado para o imobilizado dado como garantia de crédito (risco de liquidez).

A partir de simulações de Monte Carlo e de exemplos hipotéticos, verificou-se que a nova medida foi capaz de capturar os efeitos dos descasamentos entre ativos e passivos bem como os efeitos da variação das medidas de risco de crédito, risco de liquidez e risco de engenharia. Além disso, os resultados sugerem que a ausência de uma distribuição harmoniosa entre ativos e passivos pode acarretar em um aumento do risco de insolvência, ainda que o total de ativos a valor presente seja superior ao total de passivos.

O presente trabalho contribui para a literatura de insolvência ao apontar que descasamentos entre fluxos de caixa futuro e riscos específicos de cada segmento, devem ser considerados para o cálculo de probabilidades de default. Especificamente, verificou-se que a incorporação dos riscos de liquidez e de engenharia ao risco de crédito mostrou-se capaz de capturar os efeitos dos descasamentos entre ativos e passivos com uma diferença entre o verdadeiro percentual de descasamento e o percentual calculado inferior a 7 × 1 0 6 para qualquer nível percentual considerado. Em termos práticos, verifica-se que o modelo proposto possibilita um posicionamento mais realista das obrigações presentes no balanço patrimonial no que tange principalmente aos quesitos cumprimento de metas e redirecionamento de recursos no longo prazo. O estabelecimento de uma ferramenta que auxilie na gestão do fluxo de caixa da empresa e no remanejamento de recursos tem potencial para contribuir com análises que envolvam o risco de falência no segmento da construção civil, principalmente em cenários de instabilidade econômica e de aumento do número de pedidos de recuperação judicial.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Modelos de previsão de insolvência, suas características e particularidades

A insolvência de uma empresa pode ser definida como a incapacidade da mesma no cumprimento de suas obrigações e na manutenção de suas atividades operacionais. Em particular, quando as expectativas de lucro futuro a valor presente não garantem a manutenção de suas operações, diz-se que uma empresa encontra-se em posição de insolvência (ALTMAN, 1968).

Altman (1968), por meio de um estudo baseado em análise discriminante, propôs o modelo Z-Score para previsão de falências de instituições financeiras. O modelo Z-score considera um índice formado a partir de indicadores de mercado e de informações contidas no balanço das empresas que têm efeito na probabilidade de falência das empresas (HANNAN; HANWECK, 1988). A partir da análise de uma amostra com 66 instituições financeiras, Altman (1968) obteve o Z-score a partir da seguinte equação discriminante:

no qual x1, x2, x3, x4 e x5 representam respectivamente Capital de giro/Ativo total, Lucro acumulado/Ativo total, Lucro antes de juros e impostos/Ativo total, Valor de mercado/Dívida total e Vendas/Ativo total.

A partir do modelo de Altman (1968), diversos outros estudos avaliaram empiricamente a aplicabilidade do Z-score. Thomson (1991), por exemplo, mostrou que, além da liquidez, a insolvência foi responsável pela falência de 770 bancos entre 1984 e 1989. Outros trabalhos como Kanitz (1976) e Brito e Assaf Neto (2008) apontam evidências de que empresas apresentam riscos de insolvência em períodos anteriores à falência ou ao período em que incorrem em pedidos de recuperação judicial.

Especificamente no setor de construção civil, Langford, Iyagba e Komba (1992) fizeram um estudo comparativo do uso de análise de índices e o modelo Z-Score no Reino Unido utilizando três empresas insolventes nos 4 anos que antecederam o período de falência. Tal estudo foi baseado na função Z-Score adaptada por Mason e Harris (1979), os quais analisaram 40 empresas do setor setor de construção civil do Reino Unido, das quais 20 eram insolventes, o que resultou na seguinte equação discriminante:

no qual x1, x2, x3, x4, x5 e e representam, respectivamente, o Lucro antes do juros/Ativo líquido; Lucro antes do juros/Capital empregado; Devedores/Credores, Passivo circulante/Ativo circulante; log10 (média em dias para recebimento dos devedores por ano); e tendência em dias para pagamento aos credores.

O estudo de caso concluiu que a utilização do Z-Score se mostrava mais eficiente na predição de falência das empresas analisadas do que a análise de índices financeiros de desempenho.

Mais recentemente alguns trabalhos apresentaram abordagens que ampliam a análise do Z-score. Décamps, Rochet e Roger (2004), por exemplo, baseados nas contribuições de Merton (1977, 1978) acerca do custo dos seguros e de garantias, consideram a insolvência como um fator endógeno e que está relacionado à capacidade de capitação de recursos de terceiros. Outros trabalhos como Salcedo-Sanz et al. (2005) e Hsiao e Whang (2009) apresentam medidas para o cálculo do risco de insolvência a partir de abordagens baseadas em algoritimos genéricos e em redes neurais artificiais para estimar probabilidades de default.

No segmento de Real Estate, Correia (2012) utilizou os modelos de probabilidade linear, logit e probit em uma análise com 300 empresas de Portugal e concluiu que o indicador que tinha a maior importância na determinação de insolvência era o de Fluxo de caixa/Ativo total. Horta et al. (2011), em uma análise aplicada à firmas brasileiras, propõe o uso de metodologia de data mining com o intuito de caracterizar empresas que apresentam maiores potenciais de se tornarem insolventes a partir de uma amostra em que a proporção de empresas insolventes é bastante inferior à de empresas solventes.

A maior parte dos trabalhos referentes à insolvência, entretanto, tem se limitado a informações contidas nos balanços passados e não levam em consideração para o cálculo do risco de insolvência as expectativas de descasamento de fluxo de caixa futuro das empresas, bem como riscos específicos associados a cada setor. Dentro dessa perspectiva, Thomson (1991) evidencia que outros fatores como a qualidade dos ativos e habilidades do gestor em gerenciar descasamentos devem ser levados em consideração em análises que envolvam a estimação da probabilidade de falência das empresas. Ainda que identifiquem determinantes da insolvência condicionados à informações passadas, a maior parte dos estudos deixa aberta a questão sobre a influência de descasamentos futuros no risco de insolvência e como riscos específicos de cada setor influenciam probabilidades de default.

Nesse contexto, Monte-Mor e Sanfins (2014) propõe uma medida estatística com base na qualidade dos ativos e no descasamento entre os ativos e passivos. Por meio de um estudo de caso hipotético de uma instituição financeira, essa medida, denominada de RiD, indica a valor presente o risco de insolvência da instituição considerando, além dos recebíveis e obrigações futuras, o risco dos recebíveis (risco de crédito) e o grau de severidade do descasamento em cada período analisado. No modelo RiD, o risco de insolvência de uma instituição em um instante de tempo t é dado por

no qual p k t e a k t representam os totais de ativos e passivos em cada período analisado, , e determinam o peso do descasamento no período k, a posição relativa de insolvência dada à qualidade dos recebíveis desse período e o valor presente do descasamento relativo do período k, respectivamente. Já a variável θ representa uma medida de risco de crédito. Com este modelo, além do risco total dado pela medida RiDt, é possível medir a contribuição marginal no risco de insolvência de cada período k de maneira a identificar quais períodos contribuem mais significativamente no indicador de insolvência da empresa.

Especificamente para o caso do setor de construção civil, alguns estudos evidenciam o efeito do risco de crédito, do risco de engenharia e do risco de liquidez na manutenção das atividades operacionais das empresas. Na próxima seção, será apresentada uma adaptação do modelo de Monte-Mor e Sanfins (2014), de forma que tal medida de insolvência se torne apropriada a análises no segmento de construção civil.

2.2 Um modelo de insolvência adaptado ao setor de construção civil (RIDCivil)

Nesta seção, amplia-se o conceito de risco de insolvência, apresentado no modelo de Monte-Mor e Sanfins (2014), inserindo os conceitos de risco de engenharia e risco de liquidez. Essas novas variáveis inseridas no modelo RiD incorporam novos fatores de risco relativos ao segmento de construção civil. Em particular: o risco de engenharia refere-se ao risco de não faturamento da empresa por atrasos ou penalidades na obra; o risco de liquidez refere-se ao risco de falta de liquidez de mercado para o imobilizado dado como garantia de crédito.

Nas análises a serem apresentadas, define-se como recebíveis os ativos disponíveis para venda em estoque mais os recebíveis das unidades já vendidas. Considera-se ainda como passivos as obrigações da empresa ao longo dos períodos.

Para que seja possível a consideração dos riscos de crédito, liquidez, engenharia e de mercado para o cálculo do risco de crédito a partir do modelo de Monte-Mor e Sanfis (2014), define-se primeiramente o descasamento a valor presente de um dado período k como

no qual representa o descasamento a valor presente entre a soma dos ativos disponíveis para venda e os recebíveis de unidades já vendidas menos as obrigações do período k.

Em particular, denota-se por a soma a valor presente dos quatro tipos de recebíveis do período k:

no qual a 1 k t representa o valor presente dos recebíveis no período k de unidades prontas e já vendidas; a 2 k t representa os ativos disponíveis para venda no período k de unidades prontas e que encontram-se em estoque no período t; a 3 k t se refere aos ativos disponíveis para venda no período k de unidades em construção ou lançadas no instante t; e a 4 k t representa os recebíveis no período k de unidades em construção no instante t e já vendidas.

Essa decomposição de ativos no período k se faz necessária uma vez que os mesmos estarão sujeitos a diferentes fatores de risco, a saber: um fator de risco de crédito θ1, ou seja, de inadimplência do devedor; um fator de risco de liquidez de mercado θ2 referente ao ativo em estoque; e um fator de risco de engenharia θ3 que representa a possibilidade de não recebimento devido a atrasos na entrega das unidades. Na equação de descasamento, representa as obrigações totais no período k trazidas a valor presente no instante t.

Uma vez estabelecidos os fatores de risco, ampliam-se as funções presentes no modelo proposto por Monte-Mor e Sanfins (2014) a partir das seguintes definições:

no qual: a k t representa os ativos totais disponíveis para venda mais os recebíveis totais de unidades já vendidas a valor presente no instante t referente ao período k; θ representa o fator de risco ponderado e que leva em consideração os riscos inerentes ao setor de construção civil; avalia a posição relativa das obrigações de cada período k com relação às obrigações totais da instituição (ou seja, representa o peso a ser atribuído à ocorrência de um descasamento de um determinado período k; representa os impactos relativos do descasamento entre os passivos e ativos totais do período k, dados os riscos associados à cada tipo de ativo desse período; e representa a posição relativa de insolvência no período k.

A partir dessas definições, propõe-se uma medida para evidenciar o grau de insolvência para empresas do setor de construção civil por meio da seguinte função:

O Quadro 1 apresenta resumidamente a descrição das variáveis utilizadas para construção do .


Quadro 1
Descrição das variáveis utilizadas para a construção da medida
Fonte: Elaboração dos autores.

Assim como no modelo proposto por Monte-Mor e Sanfins (2014), é possível determinar quais períodos têm maior impacto marginal na composição do índice de insolvência da instituição, tal como exposto a seguir. Nesse caso, verifica-se que ambas as medidas e podem indicar o valor total de risco de insolvência bem como os períodos que mais contribuem para este risco em empresas do setor de construção civil, respectivamente.

Na próxima seção, apresentam-se simulações com o intuito de verificar o comportamento da medida proposta a partir de diferentes níveis de descasamento e de diferentes valores para os riscos de engenharia, de crédito e de liquidez considerados.

3 SIMULAÇÃO

O propósito desta seção é, por meio de simulações de Monte-Carlo, verificar como a medida RiDcivil se comporta diante de diferentes cenários de descasamento entre ativos e passivos e de aplicação dos fatores de risco. Após as simulações, é feito um teste com dados hipotéticos para verificar a aplicabilidade do modelo e aderência dos resultados obtidos com as conclusões das simulações feitas.

3.1 Resultados da simulação

Com o intuito de verificar a sensibilidade da nova medida RiDcivil aos riscos de crédito, engenharia e liquidez, variáveis endógenas ao modelo, foram realizadas duas simulações, nas quais para determinados valores de θ1, θ2 e θ3, são escolhidos a partir de valores de risco de crédito, liquidez e engenharia aleatórios e proveniente de uma distribuição beta com média j e variância 0.01. As simulações foram feitas tanto a partir do descasamento de ativos em relação a passivos, ou seja, valores de ativo superiores aos valores de passivo , quanto a partir do descasamento do passivo em relação ao ativo . Para tanto o seguinte algoritmo foi elaborado:

  • passo 1 - o percentual de descasamento i variando de 10, 30, 50, 70 e 90 é escolhido;

    passo 2 - o percentual j para o risco de crédito variando de 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 é escolhido;

    passo 3 - o percentual k para o risco de liquidez variando de 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 é escolhido;

    Passo 4 - o percentual l para o risco de engenharia variando de 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 é escolhido;

    passo 5 - são escolhidos aleatoriamente valores para os riscos de crédito, liquidez e engenharia, a partir de uma distribuição beta com média j, k e l, respectivamente, e variância 0.01;

    passo 6 - são escolhidos aleatoriamente n períodos para se realizar o descasamento;

    passo 7 - para os n períodos escolhidos, é escolhido aleatoriamente o percentual proporcional a ser descasado;

    passo 8 - a medida é calculada;

    passo 9 - para cada (i,j,k,l), repetir 100 vezes a partir do passo 5 e armazenar a medida ;

    passo 10 - calcular o valor esperado das 100 simulações;

    passo 11 - retornar ao passo 4 e incrementar l;

    passo 12 - retornar ao passo 3 e incrementar k;

    passo 13 - retornar ao passo 2 e incrementar j;

    passo 14 - retornar ao passo 1 e incrementar i.

A Tabela 1 mostra os valores esperados da medida para as simulações a partir do descasamento do ativo em relação ao passivo, para um valor fixo de risco de crédito de 10%, enquanto a Tabela 2 mostra os valores esperados da medida para as simulações a partir do descasamento do passivo em relação ao ativo para a mesma condição de risco de crédito fixo em 10%.

Observa-se a partir dos resultados da Tabela 1 no Painel A que quanto maiores os fatores de risco de liquidez e engenharia, maior é o resultado da medida . Observa-se ainda que, analisando-se os resultados dos painéis B, C, D e E, para cada aumento no valor do descasamento do ativo em relação ao passivo, o valor da medida se aproxima de zero. No entanto verifica-se que mesmo quando o ativo tem valor 90% superior ao passivo, o risco de insolvência não é nulo para elevados riscos de liquidez e engenharia. Esse fato indica que mesmo que o ativo da empresa seja superior ao passivo, existe um risco de insolvência associado à possibilidade de não recebimento dos ativos.

Tabela 1
Resultados das simulações para descasamento do ativo em relação ao passivo

Fonte: Dados da pesquisa.

Na Tabela 2, que indica o descasamento do passivo em relação ao ativo , nota-se que a medida captura com precisão o risco de insolvência atrelado a não disponibilização dos recebíveis, mesmo para um valor baixo de descasamento de 10%, como se observa no Painel A. Observa-se também nos painéis subsequentes que este risco de insolvência é maior quanto maior for o descasamento e os fatores de risco atrelados aos ativos.

Tabela 2
Resultados das Simulações em que o passivo é descasado em relação ao ativo

Fonte

A partir dos resultados destas simulações, verifica-se que a medida é capaz de mensurar riscos de insolvência para quaisquer que sejam os descasamentos a valor presente entre ativos e passivos e qualquer que seja a forma que esses descasamentos estejam distribuídos ao longo do tempo. Como a incidência dos riscos de crédito, liquidez e engenharia sob as carteiras ao longo do tempo também foi aleatorizada, permitiu-se que carteiras de diferentes períodos pudessem estar suscetíveis a diferentes riscos, o que aproxima a simulação de contextos reais, nos quais carteiras compostas por diferentes riscos possuem perdas esperadas distintas.

Diante de cenários de instabilidade econômica com crescente número de pedidos de recuperação judicial e decretação de falências, análises como as fornecidas pela medida proposta têm potencial para contribuir tanto para gestores das empresas como para investidores do segmento de construção civil. Só no Brasil, por exemplo, segundo dados do Serasa Experian (2015), as falências decretadas tiveram um aumento a partir de 2011 até 2013. Já o número de recuperações judiciais concedidas continua crescendo significativamente de 2011 a 2014, conforme Gráfico 1.


Gráfico 1
Falências decretadas e recuperações judiciais concedidas a empresas brasileiras
Fonte: SERASA Experian (2015).

Na próxima seção, será apresentada a aplicação da metodologia do para dados representativos de ativos e passivos presentes em um balanço patrimonial hipotético. Dessa forma, será possível uma melhor visualização do impacto dos fatores de risco no risco de insolvência e a influência marginal que cada período possui na medida , dadas as distribuições dos ativos e passivos.

3.2 Exemplo de aplicação da medida RiDcivil

Como exemplo de aplicação da nova medida , foi construído um balanço patrimonial hipotético para 36 períodos com dados já apresentados a valor presente no período t=1. Para que alterações no custo de capital da empresa hipotética ao longo do tempo não distorçam inferências a serem feitas a partir do fluxo analisado, as séries apresentadas na Tabela 3 foram inicialmente formuladas de modo a já representar o valor presente de cada ativo/passivo. A Tabela 3 detalha as informações desse balanço com os dados assumidos pelas funções componentes da medida .

Para o cálculo do considerou-se uma perda média por risco de liquidez de 5% com variância de 0,1. A perda média por risco de crédito foi considerada de 1%, uma vez que os contratos firmados para esses recebíveis dão o próprio objeto do contrato como garantia. Já para a perda média por risco de engenharia, assumiu-se um valor médio de 5%. Assim os ativos disponíveis para venda mais os recebíveis totais, aqui definidos apenas como ativos, de todos os períodos analisados foram penalizados seguindo esse critério. Espera-se que dessa forma, assumindo-se diferentes fatores de risco em diferentes períodos com uma probabilidade média de 95% desses ativos, tenha-se uma informação mais verossímil, uma vez que as diferentes classes de ativos de uma carteira estão associadas a diferentes perdas esperadas. Dessa maneira, o valor dos ativos em questão em cada período depende diretamente da qualidade desses ativos, aproximando-se esse exemplo de um caso real.

Observando-se os resultados da Tabela 3, o risco de insolvência total dado pela medida ficou em 30,01%, ou seja, mesmo que os ativos totais disponíveis para venda mais os recebíveis totais, sejam superiores às obrigações totais, ambos trazidos a valor presente no período 1, existe um risco de a empresa ser insolvente em 30,01%. Observa-se também que os períodos de 10 a 16 são os que mais contribuem marginalmente para esse risco de insolvência e representam 64,47% de peso no risco de insolvência em todos os períodos analisados.

Tabela 3
Informações da função para o exemplo hipotético

Fonte: Dados da pesquisa.

Esses resultados sugerem que, mesmo com esses ativos totais superiores às obrigações da empresa, vê-se a necessidade de uma redistribuição mais harmoniosa desses ativos ao longo dos períodos a fim de diminuir o risco de insolvência da empresa. A partir dessa análise os gestores da empresa poderiam, por exemplo, rever um plano de venda dos imóveis, postergar ou antecipar as formas de pagamento ou até mesmo fazer provisões para esses períodos de maior risco marginal, com o intuito de reduzir o risco de insolvência da empresa.

O Gráfico 2 mostra a distribuição desarmoniosa dos ativos considerados e das obrigações (passivos) do balanço hipotético, em que há uma grande concentração de ativos disponíveis nos primeiros períodos e um descasamento dos passivos em relação aos ativos a partir do sétimo período. É possível observar também um descasamento mais acentuado nos períodos de 10 a 16, que seriam os mais representativos ao risco de insolvência da empresa.


Gráfico 2
Gráfico comparativo entre ativos e passivos hipotéticos para os 36 períodos considerados
Fonte: Dados da pesquisa.

O Gráfico 3 mostra como ficaria esse balanço hipotético com uma redistribuição nos ativos considerados ao longo dos 36 períodos, tendo como critério que em todos os períodos ativos superiores aos passivos.


Gráfico 03
Gráfico comparativo entre ativos redistribuídos e passivos para os 36 períodos
Fonte: Dados da pesquisa.

Por fim, a Tabela 4 mostra uma proposta de redistribuição desses ativos a fim de minimizar o efeito do descasamento entre ativos e passivos considerados ao longo dos períodos analisados representados no Gráfico 3.

Com essa redistribuição de ativos ao longo dos períodos, de forma que os ativos sejam sempre superiores aos passivos, observa-se que ainda assim existe um risco de insolvência de 2,27%, risco este que será tão maior quanto maiores forem os riscos de crédito, de liquidez e de engenharia da carteira de ativos associados.

Tabela 4
Informações da função para o exemplo hipotético - redistribuição de ativos

Fonte: Dados da pesquisa.

4 CONCLUSÃO

Embora existam na literatura modelos que buscam indicar previamente situações de insolvência em empresas, suas abordagens não são direcionadas a empresas do setor de construção civil e, portanto, esses modelos não permitem indicar quais classes de ativos da carteira estariam contribuindo em maior proporção para essa situação de risco da empresa, bem como quais seriam os períodos críticos.

O risco de crédito é importante no contexto de risco de insolvência em geral uma vez que o mesmo representa o risco de inadimplência dos devedores da empresa. No entanto observa-se no caso de empresas do setor de construção que, na maioria das vezes, esse risco é minimizado, uma vez que o objeto do contrato passa a ser uma garantia real do recebimento desse ativo. Em contrapartida, diferentemente de empresas do setor financeiro, observa-se que a disponibilização desse ativo para liquidação das obrigações da empresa está intimamente ligada à liquidez do ativo, que por sua vez está sujeita a uma condição de mercado do setor em um período específico.

Outro fator importante é que as empresas do setor na prática da modalidade de incorporação imobiliária realizam uma venda para entrega futura, ou seja, os seus recebimentos passam a estar intimamente ligados à sua capacidade técnica de entrega do produto no prazo acertado do contrato de venda. Os impactos desses riscos, nomeados de liquidez e engenharia, na solvência da empresa, podem ser ainda maiores quando o descasamento entre ativos e passivos não for suficiente para compensar a diferença entre ativos provisionados como recebíveis e ativos efetivamente recebidos.

O objetivo deste trabalho foi o de formular uma nova medida estatística em que, além de ter base no descasamento entre ativos e passivos com o risco de crédito incorporado, como indicou Monte-Mor e Sanfins (2014) na formulação da medida RiD, incorpore também os riscos de liquidez e engenharia na determinação do risco de insolvência ao qual a instituição está submetida. Essa nova medida foi nomeada neste trabalho de RiDcivil.

Por meio das simulações apresentadas, verifica-se que a abordagem proposta para o risco de insolvência para empresas do setor de construção civil permite não só o acompanhamento periódico do descasamento entre ativos e passivos, fornecendo a valor presente um grau de insolvência de uma instituição do setor, mas também incorpora diferentes riscos inerentes a diferentes classes de recebíveis, dando assim uma resposta mais precisa para empresas do setor da construção civil.

Como verificado pelas simulações, a incorporação dos fatores de risco de liquidez e engenharia ao risco de crédito no modelo foi capaz de capturar os efeitos dos descasamentos entre ativos e passivos com uma diferença entre o verdadeiro percentual de descasamento e o percentual calculado inferior a 7×10−6 para qualquer nível percentual considerado. Observando-se os resultados fornecidos pelas medidas RiDtcivil e Rt, conclui-se que essas medidas possibilitam um posicionamento mais realista das obrigações presentes no balanço patrimonial, no que tange principalmente aos quesitos cumprimento de metas e redirecionamento de recursos no longo prazo.

Essa funcionalidade da ferramenta como auxílio à gestão financeira de empresas desse setor pode ser avaliada na aplicação do exemplo hipotético, em que foi mostrado que a ferramenta permite indicar em quais períodos o descasamento é mais severo e também quais classes de ativos estão influenciando mais no descasamento entre ativos e passivos. Em estudos posteriores, pretende-se estabelecer uma medida probabilística ao RiDcivil, que indicará a influência da habilidade do gestor na redistribuição dos recursos. Outro tema de estudo futuro é a criação de uma função estatística para determinação de valores condizentes com o mercado brasileiro da construção civil, para as medidas de risco de crédito, risco de liquidez e risco de engenharia.

Por fim, o novo modelo RiDcivil, além de indicar uma probabilidade mais realística de insolvência para empresas do setor da construção civil, fornece resultados que permitem uma gestão mais eficiente dos recursos da empresa no longo prazo. Assim, os resultados obtidos pela medida RiDcivil, tanto os globais quanto os marginais, podem ser utilizados para que as empresas de construção tracem estratégias de forma a minimizar o risco de falência, dadas as perdas esperadas associadas à atividade em questão, ou ainda para que os processos de recuperação judicial sejam desenhados de forma a permitir a efetiva recuperação da empresa em questão.

Vale ressaltar ainda que, para que alterações no custo de capital ao longo do tempo não distorçam as inferências a serem feitas a partir da medida proposta, todas as simulações apresentadas nesse trabalho consideraram fluxos de recebíveis e obrigações inicialmente formulados de forma a já representarem o valor presente de cada ativo/passivo futuro da empresa. Recomenda-se que futuras pesquisas avaliem o comportamento da medida de insolvência proposta em cenários macroeconômicos em que haja alterações das taxas de inflação, de juros e do custo de capital das empresas.

Material suplementar
Notas

Quadro 1
Descrição das variáveis utilizadas para a construção da medida
Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 1
Resultados das simulações para descasamento do ativo em relação ao passivo

Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 2
Resultados das Simulações em que o passivo é descasado em relação ao ativo

Fonte

Gráfico 1
Falências decretadas e recuperações judiciais concedidas a empresas brasileiras
Fonte: SERASA Experian (2015).
Tabela 3
Informações da função para o exemplo hipotético

Fonte: Dados da pesquisa.

Gráfico 2
Gráfico comparativo entre ativos e passivos hipotéticos para os 36 períodos considerados
Fonte: Dados da pesquisa.

Gráfico 03
Gráfico comparativo entre ativos redistribuídos e passivos para os 36 períodos
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 4
Informações da função para o exemplo hipotético - redistribuição de ativos

Fonte: Dados da pesquisa.
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