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INTERLIGAÇÕES SETORIAIS E COMPOSIÇÃO DO PRODUTO, DEMANDA E RENDIMENTO DA AGROPECUÁRIA DE MATO GROSSO DO SUL: UMA APLICAÇÃO DA MATRIZ INSUMO-PRODUTO
INTERCONNECTIONS SECTOR AND COMPOSITION OF PRODUCT DEMAND AND INCOME AGRICULTURE AND LIVESTOCK OF MATO GROSSO DO SUL: AN APPLICATION OF INPUT-OUTPUT MATRIX
INTERCONEXIONES SECTOR Y COMPOSICIÓN DE LA DEMANDA, DEL PRODUCTO Y DE LA RENTA DE AGRICULTURA Y GANADERÍA DE MATO GROSSO DO SUL: UNA SOLICITUD DE MATRIZ INSUMO-PRODUCTO
Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão, vol. 14, núm. 1, pp. 52-82, 2016
Universidade Federal do Ceará



Recepção: 30 Setembro 2015

Aprovação: 09 Maio 2016

DOI: https://doi.org/10.19094/contextus.v14i1.779

Resumo: O objetivo geral deste artigo é analisar a composição do produto, da demanda, da renda e das interligações setoriais da agropecuária do estado do Mato Grosso do Sul. Utilizou-se o método quantitativo de pesquisa da matriz insumo-produto e as noções do PIB pelas abordagens do produto, demanda e renda. Dentre os principais resultados estão as compras e vendas concentradas, principalmente, na própria agropecuária e no setor de alimentos e bebidas. Quanto às óticas do PIB, a agropecuária se posicionou entre as cinco primeiras em produto. Pela ótica da renda, as tributações e salários da agropecuária atingiram pequenas proporções da economia. Pela demanda, o destaque coube à participação das exportações destinadas ao restante do Brasil. Esses resultados demonstraram a importância da agropecuária na economia de Mato Grosso do Sul, fornecendo suporte à tomada de decisões do próprio setor e do governo.

Palavras-chave: Agricultura, Pecuária, Produto interno bruto.

Abstract: The aim of this article is to analyze the output, demand, income and sectoral linkages of Mato Grosso do Sul’s agriculture. A quantitative research was conducted, using an input-output matrix and GDP’s notions by the approaches of output, demand and income. Among the key findings are the concentration of purchases and sales mainly in the agriculture itself and in the food and beverage sector. About the GDP’s approaches, the agriculture has positioned itself among the top five outputs. By the income approach, agricultural taxation and wages reached small sharesof the economy. By the demand side, the highlight was the share of exports to the rest of Brazil. These results demonstrated the importance of agriculture in Mato Grosso do Sul’s economy, providing support to decision-making within this sector and the government.

Keywords: Agriculture, Livestock, Gross domestic product.

Resumen: El objetivo de este artículo es analizar la composición del producto, de la demanda, de los ingresos y los vínculos sectoriales de la agricultura de Mato Grosso do Sul. Se utilizó el método de investigación cuantitativa de la matriz de insumo-producto y nociones del PIB en los enfoques de producto, de la demanda y de los ingresos. Entre los principales resultados están que las compras y las ventas se concentraron en la propia agricultura y en el sector de alimentos y bebidas. Acerca del enfoque del PIB, esta actividad se ha posicionado entre los cinco mayores productos. Desde el enfoque de los ingresos, los impuestos y los salarios agrícolas alcanzaron pequeñas proporciones de la economía. En el enfoque dela demanda, lo más destacado fue la participación de las exportaciones al resto de Brasil. Estos resultados demostraran la importancia de la agricultura en la economía de Mato Grosso do Sul, el apoyo a la toma de decisiones dentro de este sector y del gobierno.

Palabras clave: Agricultura, Ganado, Producto interno bruto.

INTERLIGAÇÕES SETORIAIS E COMPOSIÇÃO DO PRODUTO, DEMANDA E RENDA DA AGROPECUÁRIA DE MATO GROSSO DO SUL: UMA APLICAÇÃO

No estado do Mato Grosso do Sul, a agropecuária representa mais de 15% do Produto Interno Bruto (PIB), portanto acima da média nacional de aproximadamente 5%. Essa atividade se destaca no estado como uma das principais responsáveis pela mobilização e geração de efeitos multiplicadores de produto, e se torna ainda mais significativa quando consideradas suas contribuições sobre os demais setores da economia, como na indústria de transformação e no comércio (FAGUNDES, 2015).

Dessas contribuições, evidencia-se o consumo intermediário que expressa tudo aquilo que os produtores não possuem e necessitam adquirir, como sementes e adubos para transformarem em outros produtos (IPEA, 2013). Nota-se nesse contexto, que a agropecuária destaca-se nas interligações setoriais ao fornecer insumos, como o milho e a soja para a suinocultura e avicultura, ou para a produção de óleos e farelos (PINAZZA, 2007a; PINAZZA, 2007b).

Entende-se por interligações setoriais como os fluxos de bens e serviços entre as diferentes atividades econômicas. Entre os primeiros estudiosos das interligações setoriais, coube a Wassily Leontief a invenção e elaboração da matriz insumo-produto, definida como um modelo de relações entre diferentes atividades de uma economia, ao representar os fluxos entre os setores econômicos (GARFIELD, 1986).

Nesse contexto de interligações setoriais, percebe-se que a pecuária, a extração vegetal e a agricultura constituem as principais bases para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, de forma que as indústrias instaladas no estado possuem estreita relação com estas atividades da chamada agropecuária (SEADE, 2001), ou ainda do chamado agronegócio (o conjunto das atividades ligadas à propriedade agropecuária, incluindo desde a indústria de insumos, a produção agropecuária e os elos de transformação e distribuição dos produtos derivados).

A agropecuária em Mato Grosso do Sul avançou no século XXI de modo que a melhor tecnologia do segmento permitiu maior produção em menor espaço de tempo e em menor área (MASCARENHAS et al, 2015). Dentre esses avanços tecnológicos, destacaram-se os referentes à conservação do solo (BORGES, 2011), aqueles na promoção da sustentabilidade em níveis econômico, social e ambiental, além da capacitação do empresário rural (SENAR/MS, 2011). O estado se destaca como quarto maior estado brasileiro na produção de milho (7.573.324 toneladas), quinto de soja (5.780.519 toneladas), quinto de cana-de- açúcar (42.399.659 toneladas) e segundo de carne bovina (965.361,38 toneladas) (IBGE, 2014a; IBGE, 2014b).

A produção final de todas as unidades produtoras da economia a preços de mercado, em um determinado período, geralmente um ano, define o PIB pela ótica da produção (FEIJÓ; RAMOS, 2004). Pela ótica da demanda ou da despesa são consideradas as mercadorias levadas diretamente aos consumidores finais, famílias, instituições, na forma de investimentos, consumo do governo e exportações líquidas (BÊRNI; LAUTERT, 2011).

Considerando a demanda, o Mato Grosso do Sul também se posicionou, de acordo com o SECEX (2014), como o 4º maior exportador de milho (US$ 260 milhões e 1,41 milhões de toneladas), o 5º de soja em grão (US$ 1,23 bilhões e 2,43 milhões de toneladas), o 4º de carne bovina in natura (US$690,55 milhões e 148,57 mil toneladas), o 7º de frango in natura (US$373 milhões e 161,20 mil toneladas) e o 6º de carne suína in natura (US$ 39 milhões e 14,67 mil toneladas).

Pela ótica da renda, percebe-se que a agropecuária foi responsável em 2013 por 10,48% da geração empregos no estado com concentração da geração de massa salarial superior a 10% da massa salarial total gerada na economia na faixa de renda entre 1,01 e 5 salários mínimos (CAGED, 2013).

A fim de detalhar essas três óticas do PIB e as interligações setoriais que contribuem para esses resultados, este artigo tenta responder a questão: qual a importância da agropecuária, na composição do produto, demanda, renda e das interligações setoriais para o Estado de Mato Grosso do Sul?

Utilizou-se, para tanto, a Matriz insumo-produto (MIP) para o ano de 2010, elaborada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Essa Matriz foi financiada pela FUNDECT (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul) de acordo com o Edital da Chamada FUNDECT/CNPq N° 05/2011 – PPP.

Para Leontief (1966) a matriz insumo-produto consiste em um método de análise do fluxo de bens e serviços entre os setores da economia, em um quadro detalhado do sistema que permita a manipulação e análise pela teoria econômica. A MIP descreve os fluxos dos setores de uma economia nacional durante um determinado período de tempo como, por exemplo, um ano (LEONTIEF, 1966). Também se apresenta como uma ferramenta para as agências governamentais e privadas, como dados auxiliares na formulação de suas políticas (LEONTIEF, 1983).

Assim, o objetivo geral deste artigo consiste em analisar a importância da agropecuária na composição do produto, da demanda, e da renda e as interligações setoriais sobre a economia de Mato Grosso do Sul. Especificamente objetiva-se: mensurar os percentuais relativos de composição de demanda, renda e produto; estruturar as interligações setoriais da agropecuária; e, descrever a composição da demanda final.

Alguns trabalhos já foram realizados com essa finalidade pelo World Bank (2011) tais como o estudo de caso do açúcar nos Estados Unidos, manutenção e proteção do emprego nos EUA e UE e, barreiras às importações. Outro exemplo refere-se à aplicação da matriz insumo- produto na economia da Colômbia (DIAZ, 2011). No Brasil, os principais trabalhos relacionados a essa matriz couberam a Guilhoto et al (2008) ao construir a tabela para entendimento das interligações setoriais do país. Também se destaca Montoya, Lopes e Guilhoto (2014) na desagregação do Balanço energético brasileiro.

Este artigo apresenta como diferencial a recente elaboração da matriz insumo-produto, considerando a realidade regional para a agropecuária, uma vez que, de acordo com a Romanatto (2010), a análise setorial das relações dentro dos estados permite aproveitar as oportunidades e traçar estratégias de desenvolvimento econômico regional, planejamento e avaliação econômica. Também auxilia a visualização dos impactos socioeconômicos, ao apresentar- se como uma criação de modelos úteis aos gestores públicos e privados na formulação e adoção de políticas (ROMANATTO, 2010).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O produto interno bruto (PIB) envolve a fronteira de produção, do total de bens e serviços, somados à produção por conta própria, e à produção pessoal e doméstica quando remunerada (IBGE, 2012). No Brasil o órgão oficial responsável pela divulgação do PIB, é o IBGE em parceria com os Estados, Secretarias de Estado e SUFRAMA. A partir disso são divulgados, a preços correntes, os valores adicionados brutos em três categorias: Agropecuária, Indústria e Serviços, além de impostos líquidos. O PIB deriva-se das pesquisas de Contas Nacionais e Regionais do Brasil (IBGE, 2012).

Diante dessa concepção, de acordo com Feijó, Ramos (2004), Bêrni e Lautert (2011) o PIB brasileiro assume essa definição ao serem consideradas três óticas: produção, demanda ou despesa e renda.

Pela ótica do produto (BÊRNI; LAUTERT, 2011, p. 111), assume-se:

P ≡ VP - CCI ≡ PAgric + PInd + PServ (1)

Em que, P: Produto Interno Bruto pela ótica do Produto; VP: Receita Total; CCI: Compras de bens de consumo intermediário; PAgric: PIB da agricultura; PInd: PIB da indústria; e, PServ: PIB dos serviços.

Pela ótica da renda tem-se (2):

Y ≡ RE + EO (2)

Em que: Y: Produto Interno Bruto pela ótica da Renda; RE: Remuneração dos empregados; e, EO: Excedente Operacional.

Por essa ótica descreve-se o fluxo circular de renda pelas instituições envolvidas no mercado de bens e serviços de uso final (BÊRNI; LAUTERT, 2011). Ao medir o PIB por todos os fatores de produção de todas as unidades produtivas da economia, de forma simplificada o trabalho e o capital, descreve-se o PIB pela ótica da renda (FEIJÓ; RAMOS, 2004).

No fluxo circular de renda (Figura 1) são identificados três mercados: mercado de bens e serviços, mercado de serviços dos fatores de produção e de arranjos institucionais. No mercado de bens, os produtores são responsáveis pela oferta às instituições. Entende-se por instituições as famílias, o governo entre outros que se caracterizam como demandantes. No mercado dos fatores de produção, são as instituições que ofertam fatores de produção e que prestam serviços aos produtores, considerados os demandantes. Pelos arranjos institucionais, são ofertados contratos e os locatários são os demandantes (BÊRNI; LAUTERT, 2011).

Figura 1 – Fluxo circular de renda.




Fonte: Bêrni e Lautert (2011, p. 47).

Segundo a ótica da despesa tem-se

D ≡ VP - VCI ≡ C + DIS (3)

Em que D: Produto Interno Bruto pela ótica da Despesa; VP: Receita total; VCI: Venda de bens de consumo intermediário; C: Consumo das instituições familiares; e, DIS: Absorção pelas demais instituições.

Essa ótica originou-se juntamente com a do produto, pelas noções de equilíbrio parcial em que a oferta tende a ser igual à demanda. A demanda pode então ser determinada de acordo com Blanchard (2007) pelo equilíbrio no mercado de bens:

Z ≡ C + I + G + X - IM (4)

Em que: Z: Demanda total de bens;C: Consumo, dependente da renda disponível, descontados os impostos e recebidas as transferências do governo (Yd);I: Investimento;G: Gastos do governo;X: Exportações; e, IM: Importações.

E pelo equilíbrio no mercado financeiro:

Md = $YL(i) (5)

Em que: Md: Demanda por moeda;$Y: Renda nominal; e, L(i): Função taxa de juros.

O ponto de equilíbrio entre os dois mercados forma a demanda agregada. A oferta nessas circunstâncias pode ser expressa por:

P = Pe(1+μ)F(1- Y , Z) (6)

Em que: μ: taxa de desemprego; Pe: Nível esperado de preços; Z: Variável abrangente; L: Força de trabalho; Y: Nível de produto. O Preço (P) é fixado pelas empresas e determinado pelo salário nominal (W) em (7), sendo μ a taxa de desemprego:

P = (1+μ)W. (7)

Com base nessas noções, o modelo insumo-produto considerando a demanda final, de acordo com Miller e Blair (2009), compõe-se pelo consumo das famílias, investimentos e exportações, separando-se no geral a procura interna final (consumo, investimento interno e gastos do governo) da externa (exportações líquidas, ou seja, descontadas as importações), algebricamente representada por:

f = c +i+g+e (8)

Em que, f: demanda final do setor; c: consumo das famílias do setor; i: investimentos do setor; e, e: exportações líquidas do setor.

Além da demanda final admite-se a composição dos pagamentos que incluem a remuneração da mão-de-obra, pagamento de serviços públicos como impostos, capital pelo pagamento da dívida, terra pelo pagamento de aluguel e lucro, onde:

V = i + n (9)

Em que: V: valor agregado dos pagamentos do setor; e, n: pagamentos do setor.

Logo, segundo Feijó e Ramos (2004), a matriz de transações demonstra as três identidades do PIB a partir das relações fundamentais de insumo-produto. Nessas relações, Guilhoto (2008) descreve, na Figura 2, a relação entre compradores e vendedores a partir do consumo intermediário. Na demanda final, estão presentes: o consumo das famílias, os investimentos, os gastos do governo e as exportações líquidas. Ainda pagam Impostos Indiretos líquidos (IIL) (ICMS, IPI e outros impostos indiretos, descontados os subsídios) e as importações (M). No Valor adicionado se concentram as remunerações. O produto total, portanto, pode ser obtido da soma das linhas dos setores vendedores ou das colunas dos setores compradores.


Figura 2 –
Relações Fundamentais de Insumo Produto
Fonte: Guilhoto (2004, p. 14).

3 METODOLOGIA

Com base nos objetivos preestabelecidos para esta pesquisa, definiu-se a natureza quantitativa da pesquisa (CRESWELL, 2007). Neste contexto, foi utilizada a base de dados secundária da Matriz Insumo-Produto elaborada pela UFMS (FAGUNDES, 2015), para o ano de 2010, e realizada a análise com foco na agropecuária do Estado de Mato Grosso do Sul.

Com relação ao consumo intermediário, dividiu-se a agropecuária em duas categorias destacadas pelos grupos de compra e venda de insumos: a) agricultura, silvicultura, exploração florestal; e b) pecuária e pesca. Calcularam-se as participações relativas da agropecuária consideradas sobre a somatória das vendas e compras nos 32 setores da economia (Quadro 1).

Para melhor entendimento, considere r como os setores analisados (setor 1 Agricultura, Silvicultura e Exploração vegetal; e setor 2 Pecuária e Pesca) e os i setores da matriz insumo- produto conforme Quadro 1.

Quadro 1 – Setores descritos na matriz-insumo-produto




Fonte: Elaboração própria (2015).

Para as compras assumiu-se (10):




Em que: Zr: Demanda total de bens do setor r; Cr: Consumo das famílias do setor r, dependente da renda disponível, descontados os impostos e recebidas as transferências do governo (Yd); Ir: Investimento ou formação bruta de capital fixo do setor r (para simplificar, omitiu-se aqui a variação de estoque na expressão); Gr: Gastos do governo com o setor r; Xr: Exportações do setor r para o resto do mundo e para o resto do país; e, IMr: Importações do setor r do resto do mundo e do resto do país.

Demanda total de bens da pecuária e pesca: Consumo da pecuária e pesca, dependente da renda disponível, descontados os impostos e recebidas as transferências do governo (Y: Investimento na pecuária e pesca; Gastos do governo com pecuária e pesca; Exportações da pecuária e pesca; Importações da pecuária e pesca. Em que se admitiu, para cada componente da demanda final (DFd):




Em que, para d igual a Cr, Ir, Gr, Xr, e IMr:

PRr,d: Participação relativa (%) dos componentes da demanda final (DFd) para o setor r; DFd: Componente de demanda final da agricultura, silvicultura e exploração vegetal; e DFT: Somatório da demanda final total do setor r.

Quanto às importações também se admitiu a participação relativa com o ordenamento decrescente, demonstrando a participação dos setores 1 e 2 analisados, conforme (13).




Em que PRr,IM: Participação relativa (%) das importações do setor r; IMr: Importações do setor r do resto do país e do resto do mundo; IMT: Importações totais da economia, provenientes do resto do país e do resto do mundo. De forma semelhante para as remunerações ou valor adicionado em (14):




Em que PRr,VA: Participação relativa (%) do valor adicionado do setor r; VAr: Valor Adicionado do setor r; e, VAT: Valor adicionado total da economia.

Tais valores permitiram estabelecer a composição do PIB pelas três óticas, caracterizando e indicando as principais participações, juntamente com o cruzamento de explicações teóricas para os resultados auferidos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na Figura 3, observa-se que a agricultura, silvicultura e exploração florestal, compram de si mesmos 40,02% dos insumos necessários à produção. Apesar de vender para o próprio setor 18,10% dessa produção, a dinâmica de vendas cabe ao setor de alimentos e bebidas, 54,04%. Assim a agricultura, silvicultura e exploração florestal possuem interdependência a montante, antes da porteira, dos insumos necessários do próprio setor e a jusante, depois da porteira, ao vender maior parte da produção ao setor de alimentos e bebidas.

Figura 3 – Relações de compra e venda da agricultura, silvicultura e exploração florestal.




Fonte: Elaboração própria (2015)

A pecuária e a pesca também compram do próprio setor 18,88% e 50,15% do setor de alimentos e bebidas de insumos, utilizados no consumo intermediário (Figura 4). Esse percentual significativo sobre o setor de alimentos e bebidas pode ser explicado pela compra de ração, ou pela matéria-prima triturada necessária para a produção de ração.

Observa-se que 85,24% da produção final da pecuária e pesca é destinada a esse mesmo setor, de alimentos e bebidas. Ao considerar os dados do IAGRO (2015), em Mato Grosso do Sul concentram-se os frigoríficos responsáveis pelo abate e alguns pelo processamento de produtos da carne, o que pode explicar essa participação na indústria de alimentos e bebidas. Somente os frigoríficos do grupo JBS detém 61% da capacidade de mercado instalada para abate de bovinos no estado (MASCARENHAS et al, 2015). No caso de aves destacam-se JBS e BRF Foods e, para suínos, AURORA e SEARA (também integrado ao grupo JBS).

Figura 4 – Relações de compra e venda da pecuária e pesca.




Fonte: Elaboração própria (2015).

Dos produtos originados da agricultura, silvicultura e exploração florestal e voltados diretamente a demanda final (Gráfico 1), 78,31% são destinados a outras regiões ou estados brasileiros e 15,28% ao resto do mundo. O consumo interno das famílias aparece com 4,55% e a formação bruta de capital fixo com 2,71%.

Gráfico 1 – Composição da demanda final da agricultura, silvicultura e exploração vegetal.




Fonte: Elaboração própria (2015).

Para a pecuária e pesca (Gráfico 2), as exportações para o resto do país são: 86,72% da demanda final;11,66% para a formação bruta de capital fixo; 1,03% consumo das famílias; 0,56% variação de estoque; e 0,03% para as exportações para o resto do mundo.

Gráfico 2 – Composição da demanda final da pecuária e pesca.




Fonte: Elaboração própria (2015).

Esse percentual destinado ao restante do Brasil pode ser explicado pela intermediação de estados como São Paulo, nas exportações para o resto do mundo, ou mesmo no fornecimento de matéria-prima necessária para viabilizar a produção de setores econômicos de outros estados. Essas estão entre as hipóteses mais plausíveis, ao considerar os dados da SEFAZ/MS (2010) sobre exportações por vias internas, cuja participação mais significativa volta-se ao Estado de São Paulo.

Sobre a demanda final da pecuária e pesca, o percentual para outros estados torna-se ainda mais representativo que na agricultura, silvicultura e exploração vegetal. Percebe-se diante desse contexto que o percentual de exportações para o resto do mundo ainda são inferiores a 1%, mesmo quando considerado de acordo com dados da SECEX (2014), a participação do estado entre os principais exportadores de carne bovina do Brasil. Fato que permite observar a concentração dos produtos agropecuários do estado voltados ao cenário interno.

Apesar de exportar a um percentual superior a 50% para o restante do país, o setor da pecuária e pesca também importa de outros estados brasileiros, um percentual de 6% da economia total para atender ao próprio setor. Cenário esse semelhante para a agricultura, silvicultura e exploração florestal, em que esse percentual foi de 17%. Pode-se dizer que essas importações seriam principalmente de tecnologia e insumos necessários a produção, ao considerar que o estado caracteriza-se pela produção agropecuária, mas quanto ao fornecimento de insumos, maior parte é importada diretamente do resto do mundo ou indiretamente por meio de outros estados.

Dentre esses destaques estão os fertilizantes, cujas importações do resto do mundo correspondem a aproximadamente 70% da demanda doméstica, de acordo com o parâmetro nacional FIESP (2012). Acrescenta-se a isso também a importação de alguns medicamentos veterinários, que inclusive, em 2010 teve reduzida a burocracia para possibilitar essas compras e reduzir os custos de produção do pecuarista (CARDOSO, 2010). A compra desses insumos, neste contexto se torna dependente tanto de fatores internos relacionados à oferta e demanda dos produtos derivados da agropecuária, aos recursos e crédito disponível, quanto de fatores externos como o câmbio e do fornecedor estrangeiro.

Pela ótica da remuneração, há a percepção de que a agropecuária possui participação mais discreta na arrecadação de impostos sobre a economia de Mato Grosso Sul. Isto ao seguir a tendência brasileira de que, ao reconhecer a importância da agropecuária sobre as demais atividades da economia, o setor se beneficia com isenções e diferimentos de alíquotas de impostos.

Cabe destacar a arrecadação do ICMS, principal tributo brasileiro, mas que para a agropecuária o comportamento geral não se torna aplicável (BACHA, 2014). Um desses exemplos refere-se à Lei Kandir de 1996, que isentou o ICMS das exportações brasileiras de produtos in natura e semimanufaturados da agropecuária, como fomento a participação no mercado externo (BRASIL, 1996).

Nesse sentido, a média de impostos indiretos, pelo qual a agricultura, silvicultura e exploração vegetal (ASE) contribuem para a arrecadação do estado representa em média 9%, impostos de importação 1%, ICMS 12% e outros impostos e subsídios descontados 4%. No caso da pecuária e pesca (PP) esses percentuais foram de 4% para os impostos indiretos, 5% para o ICMS e de 1% de outros impostos (subtraídos os subsídios).

Dentro da agropecuária, o maior percentual de participação do ICMS da agricultura em relação à pecuária, pode ser explicado pelo fornecimento de insumos que ocorre na agricultura, entre estados, da mesma forma que em Pinazza (2007a; 2007b).

Ao considerar a ótica da remuneração (Gráfico 3), observa-se que a agropecuária não se destaca como a mais significativa na geração de renda da economia sul mato-grossense. O percentual para a agricultura, silvicultura e exploração vegetal representa 4%, e 8%para a pecuária e pesca.

No que tangem as contribuições sociais efetivas, as participações percentuais são de 4% e 7%, respectivamente, para ASE e PP. Para a Previdência, correspondem a 4% e 7% respectivamente, para ASE e PP. Para o Excedente operacional bruto e rendimento médio bruto, 11% e 10%, respectivamente, para ASE e PP. Para o Valor da produção, 8% para os dois setores. Quanto à geração de emprego, 6% e 9%respectivamente, para ASE e PP.


Gráfico 3 –
Participação da renda e geração de emprego da agropecuária na economia de MS.
Fonte: Elaboração própria (2015).

As maiores participações dos salários presentes na pecuária na comparação à agricultura podem ser explicadas, pelo processo de mecanização agrícola que possibilitou o aumento da capacidade de produção da mão-de-obra, de modo que para exercer uma determinada função seria necessária menor quantidade de trabalhadores. Neste contexto Oliveira (2016) complementa dizendo que a tecnologia, comporta-se como fundamental no papel de alimentar o mundo, onde cada agricultor terá que alimentar cada vez mais um maior número de semelhantes que vivem na cidade e são incapazes de produzir o próprio alimento.

Nota-se assim, neste cenário, que de acordo com a Figura 5, o dinamismo das interligações setoriais da agropecuária ocorre, principalmente, com o próprio setor e o setor de alimentos e bebidas, tanto na aquisição de insumos, quanto como fornecedor de produtos para consumo intermediário da indústria de transformação.

Apesar do destaque no cenário internacional dos produtos agropecuários de Mato Grosso do Sul, parcela significativa ainda destina-se ao mercado interno. Dada a importância do setor, ocorrem inúmeras isenções e diferimentos de alíquota de impostos, fato que permite confirmar que a agropecuária não tem como característica a arrecadação significativa de tributos. Quanto à geração de renda e emprego também não detém parcela significativa do mercado, apesar disso, essa geração de emprego, renda e tributos, pode ser suprida pela promoção do dinamismo de outros setores da economia como da indústria de abate e processamento.

Figura 5 – Produto, rendimento, demanda e interligação setorial da agropecuária.




Fonte: Elaboração própria (2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da atualização da matriz insumo-produto para o Estado de Mato Grosso do Sul, para 2010, este artigo investigou a importância da agropecuária, considerando a composição do produto, demanda, renda e interligações setoriais para o estado. As três óticas do PIB foram abordadas: produto, renda e despesa.

Pelo consumo intermediário, percebeu-se que os setores da ‘agricultura, silvicultura e exploração florestal’, bem como da ‘pecuária e pesca’ fornecem e vendem insumos, principalmente, ao próprio setor e ao setor de alimentos e bebidas. Não somente para esses setores, mas a agropecuária também é responsável pela dinâmica de compra e venda de outros.

Pela ótica da despesa, o principal percentual de composição tanto para a ‘agricultura, silvicultura e exploração florestal’, quanto para a ‘pecuária e pesca’ volta-se às exportações para o restante do Brasil, fato que pode ser explicado pelo abastecimento do consumo intermediário entre as regiões do Brasil, ao servir de insumo, por exemplo, para a suinocultura, avicultura e indústria de transformação. Além do consumo intermediário, também parte da produção de Mato Grosso do Sul pode ser exportada para outros estados brasileiros, para então serem destinados ao restante do mundo.

No PIB pela ótica da renda, as tributações se estenderam em pequenas proporções de representatividade sobre a economia como um todo, uma vez que o setor apresenta alguns incentivos tributários. Outro destaque coube aos salários registrados em menores proporções para a ‘agricultura, silvicultura e exploração florestal’ quando comparados à ‘pecuária e pesca’, o que pode ser explicado pelo processo de mecanização do campo.

Quando considerado o valor de produção, a ‘agricultura, silvicultura e exploração florestal’ e a ‘pecuária e pesca’ ocupam, respectivamente, o quarto e quinto lugar entre os setores econômicos.

Sugerem-se trabalhos futuros de mensuração dos impactos sobre a composição do PIB pelas três óticas e, também sobre o consumo intermediário, representando possibilidades para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento e crescimento dos setores e do estado.

REFERÊNCIAS

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