NIETZSCHE: O NIILISMO E O RISO DA TRANSVALORAÇÃO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30611/2023n31id92697

Palavras-chave:

Nietzsche, perspectivismo, humor, riso, gaia ciência

Resumo

O presente artigo parte da relação do riso com o conceito do dionisíaco, no que concerne à “consolação metafísica” em uma existência contraditória e sem sentido, para daí conduzir o problema do niilismo (desvalorização) e da transvaloração a uma conexão com a alegria. Em O Nascimento da tragédia, Dioniso era o deus consolador, que redimia o sofrimento da existência no fenômeno estético; a partir de 1886, ele será o deus cruel, que desejará os seres humanos “mais fortes, mais malvados, mais profundos”. Este Dioniso cruel trará a consolação “aqui em baixo”, ensinando a rir e redimindo a existência nela mesma, sem deus e sem metafísica. Este riso, síntese da alegria trágica, supera toda metafísica de artista, afirma a crueldade do acaso e da necessidade, e estabelece um princípio avaliador imanente ao corpo. É com relação à alegria trágica que será possível compreender, assim, a gaia ciência e a relação que ela estabelece com o pessimismo – ou melhor, com a superação do pessimismo. O desenvolvimento do presente texto defende que, sendo o riso o efeito de uma virada axiológica na qual o sofrimento é transmutado em alegria e a existência inteira é redimida nela mesma, sem qualquer referência exterior ou metafísica, então ele se torna também um dispositivo de transvaloração, na medida em que mobiliza a avaliação na inversão, ou seja, na medida em que dispõe de inversões perspectivistas dos valores que colocam em suspenso não apenas as venerações entusiásticas e dogmáticas da moral, mas sobretudo abala toda estima e valorização de inspiração niilista que permeia o pensamento.

Biografia do Autor

Thiago Leite

Professor de Filosofia

Referências

Os fragmentos citados seguem a edição Colli/Montinari – tal como se encontra no site (Digital Kritische Gesamtausgabe) –, e são referenciados pela notação do ano, seguido pelo número do fragmento: por exemplo, eKGWB/NF-1887, 11[100].

ARALDI, C. L. A vontade de potência e a naturalização da moral. In: Cadernos Nietzsche, n. 30, São Paulo: Discurso Editorial, 2012.

____. Niilismo, criação, aniquilamento: Nietzsche e a filosofia dos extremos. São Paulo: Discurso Editorial; Ijuí, RS: Editora Unijuí, 2004.

DELEUZE, G. Nietzsche et la Philosophie. Presses Universitaires de France. 6ª Edition, « Quadriege » : 2010.

HAAR, M. Nietzsche et la métaphysique. Paris: Gallimard, 1993.

KESSLER, M. L’esthétique de Nietzsche. Paris. Presses Universitaires de France,. 1re éd. 1998.

KOSSOVITCH, L. Signos e poderes em Nietzsche. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2004.

LIMA, M. As máscaras de Dioniso: filosofia e tragédia em Nietzsche. São Paulo: Discurso Editorial; Ijuí, RS: Editora UNIJUÍ, 2006. p. 41.

MARTON, S. Extravagâncias: ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. 3. ed., São Paulo: Discurso editorial; Editora Barcarolla, 2009.

MÜLLER-LAUTER, W. Nietzsche: sua filosofia dos antagonismos e os antagonismos de sua filosofia. Tradução de Clademir Araldi. São Paulo: Editora Unifesp, 2009.

NABAIS, N. Metafísica do trágico: estudos sobre Nietzsche. Relógio D’água Editores. 1997.

NIETZSCHE, F. W. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. – São Paulo: Companhia das letras, 2005.

____. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. – São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

____. Aurora: reflexões sobre os preconceitos morais. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. – São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

____. O Crepúsculos dos Ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. – São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

____. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. – São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Downloads

Publicado

2023-12-29

Edição

Seção

Dossiê Niilismo (III)