Decifrando os “maus costumes”
os xamãs tupis e a disputa pelo protagonismo face à ação missionária da Companhia de Jesus (1549-1610)
Palavras-chave:
Companhia de Jesus, Xamanismo, TupisResumo
Entre o período de 1549 e 1610 os jesuítas foram categóricos ao eleger os “maus costumes” como um dos principais motivos que dificultava a conversão dos indígenas em meio às transformações do projeto missionário na América portuguesa. Em oposição aos missionários, os índios xamãs apareciam como contraponto à evangelização dos Tupis. Este trabalho apresenta uma análise da relação entre os jesuítas e os xamãs tupis, utilizando as correspondências internas da Companhia de Jesus como fonte principal. Será investigado o processo de escrita epistolar a partir das categorias de pensamento dos jesuítas e da noção inaciana de “consolação” que tinha como função incentivar os irmãos da ordem perante os dilemas com a experiência missionária. A abordagem desse estudo se desenrola considerando as análises antropológicas de Viveiros de Castro sobre o “perspectivismo ameríndio” e sobre o que a antropóloga Maria Cristina Pompa chama de “processo de tradução recíproca” do “encontro” entre a religião ocidental e o mundo indígena. Aqui será levado em conta não apenas um campo simbólico abstrato, mas um encontro real entre pessoas com táticas na luta por sobrevivência ou por interesses concretos do convívio cotidiano. Esse trabalho observou com mais clareza a agência e o poder de influência dos xamãs no cotidiano colonial, concluindo que a luta pelo protagonismo social face às mudanças provocadas pelo colonialismo, constituiu-se como o principal vetor das disputas e conflitos na interação desses personagens, significando para os xamãs uma luta concreta pela própria existência.
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