A prática da alteridade no pensamento de Davi Kopenawa Yanomami e seu tornar incomum para falar a um povo que não sabe ser outro
Resumen
Neste artigo proponho que o livro A queda do céu: palavras de um xamã yanomami (2015), de Davi Kopenawa e Bruce Albert nos mostra uma relação de alteridade, um modo de se relacionar com o outro, bastante único, pois é conhecido, praticado e transmitido por meio do xamanismo. Faço uma exposição do que significa “devir outro” ou “virar outro” no pensamento de Kopenawa, tal como elaborado no livro, e em seu escopo. De modo complementar, trago algumas contribuições de Joseca Yanomami a respeito do xamanismo, as quais enfatizam características de sua prática, particularmente, o que notei como um jeito de lidar com a estrangeiridade. Em um segundo momento, discutirei por que, apesar de ser um aprendizado tão fundamental para os xamãs yanomami, há uma recusa de Kopenawa a “virar” um certo outro. Por fim, faço esses dois pontos de minha leitura convergirem na compreensão da imagem de Në roperi, a lógica da floresta que Kopenawa quer nos fazer ver, sentir e conhecer, e que sintetiza o tenaz “fazer incomum” do trabalho de diálogo do xamã e os fundamentos de sua defesa da floresta e seus habitantes.