A CERTEZA SENSÍVEL: PRIMEIRA FIGURA DA CONSCIÊNCIA E PARADIGMA DA FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO

Resumo

Nosso objetivo é compreender a Certeza Sensível tendo como pressuposto o método fenomenológico proposto por Hegel na introdução da Fenomenologia do Espírito. A Fenomenologia do Espírito é uma teoria das figuras (formas de aparência) da consciência em que se mostra: que existem várias figuras; que tais figuras são verdadeiras ou falsas; e que há apenas uma figura verdadeira. Seu método é um procedimento capaz de apurar contradições internas de formas da aparência do saber, isto é, capaz de falseá-las sem recorrer a comparações com a realidade. Isso só é possível porque é próprio da consciência diferenciar sujeito e objeto, porque ela sempre se relaciona com seu objeto ao mesmo tempo em que se distingue dele. Nesse sentido, existe uma epistemologia implícita – o que é relação, o para-ela – e uma ontologia implícita – o que é diferente dela, o em-si. Desse modo, a cada etapa, a consciência deve comparar seus dois lados a fim de ver se concordam categorialmente entre si. A primeira figura do itinerário descrito na Fenomenologia é a Certeza Sensível, que, tomada como amostra, permitirá explicar a aplicação do método da Fenomenologia e a estrutura imanente a essa etapa, a fim de compreender sua relevância, validade e implicações. Além de figurar como paradigma de toda a Fenomenologia, a Certeza Sensível consiste numa crítica ao saber imediato, sendo o seu ponto de partida aquele momento em que a consciência mais ingênua se torna capaz de distinguir entre si mesma e seu objeto. Divide-se em três momentos: primeiramente, quando o objeto é posto como o essencial, em que os conteúdos sensíveis da consciência são tomados como o mais verdadeiro e imediato; depois, o momento em que o sujeito é posto como essencial, em que a opinião é o mais verdadeiro e imediato; e por último, o momento em que a certeza sensível é posta em sua unidade concreta, em sua totalidade relacional.