FOME E VERGONHA DE SI: VULNERABILIDADES NA HISTÓRIA DA CULTURA E CLÍNICA PSICANALÍTICA (PARTE 1)

Autores

  • Aime Parente de Sousa
  • Karla Patricia Holanda Martins

Resumo

Este trabalho é o resultado da pesquisa PIBIC “Fome e Vergonha de si: vulnerabilidades na história da cultura e clínica psicanalítica” (parte 1), orientado pela Profa. Karla Martins. A perspectiva da fome como experiência tabu, velada no cerne da cultura foi trazida inicialmente por Josué de Castro, anos de 1940, ao afirmar que, apesar de sua incidência, ela permanecia exclusa dos ambientes sociais e dificilmente reconhecida nos meios acadêmicos. Tendo em vista a relevância atual do fenômeno da fome e os efeitos psíquicos correlatos ao silenciamento de uma experiência-limite, objetivou-se promover uma análise das obras literárias e históricas que, contrariamente, testemunham a experiência da fome e possibilitam que esta encontre vazão e reconhecimento, destacando os efeitos subjetivos desse processo. Desse modo, foram lidos os livros “A fome” de Rodolfo Teófilo e “O quinze” de Raquel de Queiroz, dois representantes da literatura regionalista cearense, bem como os trabalhos historiográficos de Frederico Neves e Kênia Rios, que discorrem sobre a experiência da fome e das secas na história de nossa cultura. O diálogo com as obras foi realizado a partir da teoria psicanalítica em consonância com as produções de Selligmann-Silva, Agamben, Certeau e Gaulejac. Nesse percurso obteve-se que a fome é narrada como correlata às secas, à desapropriação (material e subjetiva) e à morte e relacionada a uma privação real do alimento, bem como a uma dor psíquica singular que não deixa de possuir interfaces com sofrimentos sociais, vivenciados frente à fragilidade dos laços sociais. Nas narrativas destacam-se ainda o comparecimento da vergonha como afeto social diante da desautorização subjetiva da humilhação e do assujeitamento. A descrição da experiência segregacionista em algumas cidades do Ceará durante as grandes secas dos séculos XIX e XX emergem como elemento metafórico interposto sob o soterramento da experiência da fome.

Publicado

2019-01-14

Edição

Seção

XXXVII Encontro de Iniciação Científica