A VOZ DA MINHA PELE GRITA - TEATRO, ESCREVIVÊNCIA E RESISTÊNCIA NEGRA

Autores

  • Iasmin Dantas de Souza
  • Juliana Maria Girao Carvalho Nascimento

Resumo

Não somos só miséria, crime, um cabelo black. O mundo é diferente da ponte pra cá. Este trabalho se dá com o desejo do Coletivo Cabeça em criar o espetáculo de TCC de uma de suas integrantes. O trabalho nasce da improvisação, de diários de afetação, relatos pessoais da diretora e elenco, tendo como referência a obra “Becos da Memória” de Conceição Evaristo (2006). O processo propôs uma metodologia de criação baseada na brincadeira, na memória e no improviso. Em cena, atuantes tecem suas próprias histórias friccionadas com o diário pessoal da diretora, em esquetes que se unem sem depender da anterior ou da que vem a seguir, estando, mesmo assim, entrelaçadas entre si. Na composição, a experimentação antecede o texto teatral, que por sua vez é construído na ação física, na memória psicológica e corporal. “A voz da minha pele” nasce nas escrevivências (EVARISTO, 2006) de atores e atrizes oriundos da periferia da cidade, negros e não brancos. Brincando de pega-pega, travinha, esconde-esconde, brincadeiras de nossa infância, visitamos memórias esquecidas pela vida adulta, pelas longas horas em transportes públicos rumo a empregos que nos sugam e aprisionam nossos corpos. A peça tem como disparador nossas escrevivências periféricas e a dura realidade que afeta os negros. Falamos do lugar de onde viemos e vivemos, de quem somos e não do que falam de nós. Então, como abrir fissuras nos muros de segregação, onde encontrar forças para resistir? Estar junto no processo com pessoas que dividem a mesma realidade nos fortalece. Entender o que é ser negro no Brasil, descobrir um teatrocasa, revisitar feridas não cicatrizadas, criar cena brincando transformam nossa noção do que é fazer teatro quando se vive à margem. A (r)existência de corpos negros nas universidades rompe com essa lógica que nos foi e é imposta desde os navios negreiros e seus contemporâneos: os camburões. Um diploma abre uma fissura nessa mesma lógica. O espetáculo é feito por nós e para nós.

Publicado

2019-01-01

Edição

Seção

VI Encontro de Cultura Artística