ALÉM DE MIM

Resumo

O projeto Areia: invenções interculturais em dança tem como proposta favorecer que estudantes e docentes adquiram ferramentas para assumir posições fronteiriças em termos culturais, no âmbito da criação artística em dança. De acordo com Katherine Walsh, “o enfoque e a prática que se desprende da interculturalidade crítica [...] parte do problema do poder, seu padrão de racialização e da diferença (colonial, não simplesmente cultural) que foi construída em função disso” (2009, p. 21–22). Aliada ao conceito de invenção – no sentido que propõe Virgínia Kastrup, como colocação de problemas, visando à criação –, tal noção pode nos levar a aprender como nos tornar com quem/que se difere de nós, mas que se conecta, mesmo que parcialmente, a nós, está em nós e muitas vezes foi/é apartado, marginalizado, apagado. Durante todos os encontros do coletivo foram abordadas temáticas sobre modos de se pensar e fazer não hegemônicos. O processo de criação da videoperformance "Além de mim" surgiu de diversos questionamentos meus: como experimentar posições culturais fronteiriças, sendo eu um homem branco que não tem a mesma vivência de corpos negros e indígenas, em uma sociedade onde a colonialidade ainda é tão operante em nossas vidas? No entanto, percebi que a dominação humana – patriarcal, heteronormativa, capistalista, eurocentrada etc. – sobre os “outros” também pode ser problematizada se acompanharmos a ação dos não/humanos no mundo e desestabilizarmos hierarquias de valor entre humanos e não/humanos, como algumas culturas não dominantes o fazem. Diante disso, surgiu a vontade de trabalhar com elementos da natureza, os quais figuram não como objetos cênicos, mas como parceiros e coautores de corpos, danças e cena. “Que formas têm? Que sons emitem? Que sensações projetam em mim?” “Como me fazem agir/dançar?” A partir desses questionamentos, realizei algumas investigações inspiradas principalmente pelas sonoridades geradas por e com meus parceiros de dança não/humanos.