RÉPTEIS TRAUMATIZADOS: FAUNA ACIDENTADA NO CAMPUS DO PICI

Resumo

Traumas físicos estão entre as principais ameaças à fauna livre mundo afora, especialmente a animais terrestres. Nos EUA, as principais categorias de traumas físicos em répteis e anfíbios são atropelamentos, acidentes de pesca ou jardinagem e predação por carnívoros domésticos. Ações antrópicas têm o potencial de aumentar a morbimortalidade em répteis, devido a incidentes traumáticos, e pressionar o isolamento das populações nos resquícios florestais urbanos, como parques e reservas. Fortaleza é uma metrópole do nordeste brasileiro que vem perdendo progressivamente sua cobertura vegetal à medida que aumenta a densidade populacional. Dentre as manchas verdes urbanas que ainda resistem na capital, a ARIE Matinha do Pici se destaca como um ponto de refúgio e conservação de biodiversidade local. O objetivo deste trabalho foi relatar e caracterizar uma amostra de répteis traumatizados recebidos e examinados pelo Laboratório Acadêmico de Patologia Silvestre (LAPS) do NUROF-UFC, entre 2010 e 2020. Após uma análise retrospectiva das fichas de atendimento veterinário e necrópsia, 34 casos foram incluídos no trabalho, a maioria de lagartos da Matinha do Pici, com diversos traumas contundentes, especialmente por predação por cães e gatos, atropelamentos e agressão por humanos. A circulação permanente de veículos automotores, pessoas e animais domésticos abandonados figuram como ameaças antrópicas à fauna. Embora a maioria dos usuários do Campus do Pici seja de indivíduos de educação superior, cuja consciência ecológica costuma ser mais evoluída, comunidades adjacentes, com baixo índice de desenvolvimento humano integram outro fator de conflito, pois o medo irracional ainda faz de serpentes e lagartos grandes vítimas de agressões humanas. Os répteis traumatizados constituíram quase 30% dos casos registrados no LAPS entre 2010-2020. A publicação e divulgação desses dados é de extrema importância para a elaboração do Plano de Manejo da ARIE da Matinha do Pici.