INTERSECCIONALIDADE E SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O CUIDADO A GESTAÇÃO E PUERPÉRIO DE MULHERES USUÁRIAS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ASSISTIDAS PELA ESTRATÉGIA TREVO DE QUATRO FOLHAS

Autores

  • Janaína Chagas de Sousa
  • Deborah Leite de Abreu Souza, Dimas Sampaio Cavalcante, Francisca Graziele Costa Calixto, Carla Ribeiro de Sousa
  • Paulo Henrique Dias Quinderé

Resumo

Pensar saúde pública no contexto brasileiro é pensar, sobretudo, em práticas que visem à superação das desigualdades existentes. O conceito de interseccionalidade auxilia na compreensão das repercussões dessas disparidades socioculturais nas estratégias de promoção de saúde. Considerando os marcadores sociais como classe, raça/etnia e gênero, a mulher pobre e negra encontra-se em uma posição de maior vulnerabilidade, que a coloca em um patamar de inferioridade tríplice na realidade nacional. Por isso a urgência em se construir políticas de saúde considerando os diferentes eixos de subordinação. Este trabalho visa traçar compreensões acerca da produção de cuidado a mulheres gestantes e puérperas usuárias de substâncias psicoativas e os atravessamentos das questões de gênero. Trata-se de um relato de experiência construído a partir do estágio em psicologia, realizado entre agosto e dezembro de 2019, na Estratégia Trevo de Quatro Folhas, política de saúde que visa oferecer suporte a rede de atenção materno-infantil de Sobral. O público atendido é marcadamente advindo da periferia, são mulheres em grande parte negras e que carregam filhos de genitores ausentes. Concernentes às ferramentas de cuidado destacam-se as visitas domiciliares que objetivam a constituição de vínculos, a obtenção de informações pertinentes ao caso, orientação sobre os cuidados com a gestação e o seu monitoramento. O serviço articula-se em rede, garantindo acesso a assistência ao pré-natal e puerpério, porém, identificam-se práticas que se alinham ao modelo biomédico, com ações centradas nos aspectos biológicos e reprodutivos ligados ao corpo feminino. Ademais, evidencia-se a centralidade do cuidado nos efeitos das drogas, priorizando a abstinência do uso como fator principal para garantir o desempenho da maternidade. Tais perspectivas anulam as experiências existenciais dessas mulheres, além de excluir do campo de investigação e prática os contextos sociopolíticos produtores de desigualdades.

Publicado

2021-01-01

Edição

Seção

XXXIX Encontro de Iniciação Científica