O FUNCIONAMENTO DO INCONSCIENTE E AS QUERELAS DO DIAGNÓSTICO DO AUTISMO: INDICAÇÕES EM FREUD SOBRE OS RESULTADOS DO TRABALHO PSICANALÍTICO.

Autores

  • Frederico Santos Alencar
  • David de Oliveira Sousa
  • Luis Achilles Rodrigues Furtado

Resumo

As discussões científicas atuais sobre o autismo tendem, no destaque do fator de eficácia, a escamotear o que neste orbitam: convenções forçadas pela metodologia. Impõe-se a priori o que, da clínica, é aceitável (Maleval, 2017). Nossa contribuição a essa problemática parte de um comentário em que Freud, analisando o paradoxo da sugestão, trata da confirmação de resultados das investigações do inconsciente nas neuroses de transferência: “nossas testemunhas neste caso são os dementes e paranoicos” (Freud, 1916-17, p. 413). Com o que Lacan (1955-56) evidencia sobre a diferença entre o testemunho das neuroses e psicoses, podemos dizer que a ausência do disfarce simbólico nesta última substancializa resultados da psicanálise. Na conferência citada, Freud não comenta sobre o autismo; emprega a palavra demência em uma época em que estava estabelecida a categoria dementia praecox, esquizofrenia, de Bleuler: é nela que surge o autismo, como sintoma, um mal-entendido da dimensão pulsional (Furtado, 2014). Ainda das indicações no comentário de Freud, extraímos que, em psicanálise, os ditos dementes, anormais, não configuram o alvo para testagens de eficácia, pois, suas próprias experiências subjetivas, recusadoras da norma, são o que nutrem os resultados. A partir disso, defendemos o valor da consideração do funcionamento do inconsciente na experiência de estabilização do sofrimento dos sujeitos nomeados autistas e o que nos ensinam de um funcionamento apagado nas batalhas científicas. Todavia, o ataque à psicanálise também se fundamenta no testemunho de pessoas autistas, ou ainda, associações de pais que discursam em nome de todos, degradando, na pólis, a psicanálise (Laurent, 2014). Cabe a esta continuar seu trabalho, legitimando a experiência das psicoses em sua sanção singular (Lacan, 1955-56), quer dizer, trabalhando na responsabilidade do posicionamento de cada sujeito no mundo da linguagem, com efeito, transformando o sofrimento e furando as imposições totalizantes.

Publicado

2021-01-01

Edição

Seção

XXXIX Encontro de Iniciação Científica