A relação entre trabalho docente, trabalho reprodutivo e gênero na pandemia de Covid-19: um estudo de caso de uma mulher professora.

Resumo

Em tempos de pandemia de Covid-19, um dos desafios para as professoras é conciliar o ensino remoto, imposto pela necessidade de isolamento social, e o trabalho reprodutivo, atribuído socialmente ao sexo feminino. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais em 2020, 79% dos docentes do ensino básico eram mulheres. Principalmente nos níveis iniciais de ensino, constata-se que a relação entre trabalho docente e gênero baseia-se na pressuposição de que mulheres nasceriam com um dom para a maternagem e para o cuidado, sendo assim imprescindível suas contribuições na educação de crianças nas redes de ensino. Este estudo de caso tem como objetivo analisar como o ensino remoto incidiu sobre as atividades de uma professora de ensino fundamental. Os dados foram coletados por meio de entrevistas realizadas em uma plataforma de vídeo chamada, a partir de uma pesquisa com docentes de ensino básico da rede pública de um município no interior do Ceará. Em resultado, na fala da entrevistada a presença de sobreposição de atividades em um mesmo período de tempo e o cansaço resultante era evidente. Pela falta de divisão entre espaço de trabalho e casa, a coexistência de atribuições diferentes ficaram mais extenuantes. Demonstra-se isso quando a professora diz que frequentemente realizou o seu trabalho no mesmo instante em que alguma atividade doméstica também era executada. Em seu relato diz sentir-se mais cansada e que seu horário de sono diminuiu devido à intensificação da sua jornada de trabalho, que se divide em ser professora e ser ‘dona de casa’. Portanto, é preciso analisar a qualidade de vida de mulheres professoras que são responsáveis pelo cuidado com o seu ambiente domiciliar. Além de estudar sobre como trabalhar nesse ambiente repercute numa jornada de trabalho intensificada pelas demandas simultâneas recorrentes desse modelo. Agradecemos o apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico na realização deste estudo.