O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DE LÍDERES RELIGIOSOS EM BELO
HORIZONTE
THE INFORMATION BEHAVIOR OF RELIGIOUS LEADERS IN BELO HORIZONTE
Gilmara de Cássia Machado¹
Ricardo Rodrigues Barbosa
2
¹ Doutoranda em Ciência da Informação pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: gilmaramachadoju@hotmail.com
2
Professor do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG).
E-mail: ricardobarbosa@eci.ufmg.br
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
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Internacional.
Conflito de interesses: Os autores declaram que
não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
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os dados relevantes estão disponíveis neste artigo.
Recebido em: 24/10/2018.
Aceito em: 17/12/2018.
Revisado em: 22/12/2018.
Como citar este artigo:
MACHADO, Gilmara de Cássia; BARBOSA, Ricardo
Rodrigues. O comportamento informacional de
líderes religiosos em Belo Horizonte. Informação
em Pauta, Fortaleza, v. 3, n. 2, p. 10-30, jul./dez.
2018. DOI: https://doi.org/10.32810/2525-
3468.ip.v3i2.2018.36583.10-30 .
RESUMO
A informação é a base da dinâmica dos processos
produtivos e organizacionais e seu uso está
vinculado à capacidade de interpretação,
compreensão, inovação e gestão visando à tomada de
decisão. Considerando o valor da informação esta
pesquisa teve como objetivo analisar como ocorre o
processo de busca e uso da informação por líderes
religiosos para embasar o processo de tomada de
decisão em seu dia a dia. A metodologia adotada foi a
pesquisa qualitativa, descritiva com base em estudo
de caso em que a coleta de dados se deu por meio de
entrevista. A partir dos dados coletados foi possível
perceber que as necessidades informacionais dos
líderes religiosos estão pautadas, sobretudo por
questões religiosas que visam auxiliar no exercício
do sacerdócio. Além do mais, os líderes religiosos
estão preocupados com o sentido da informação,
condições, padrões e regras de uso visando orientar
espiritualmente bem como trazer informações
diversas que visam o conhecimento e aprendizado
dos fiéis. as decisões visam atender as diretrizes
da organização por meio de regras formais o que
leva a um comportamento regulado por normas e
rotinas, de forma que a organização possa atuar de
uma maneira procedimental e intencional.
Palavras-chave: Líderes Religiosos. Informação.
Necessidade, busca e uso da Informação. Tomada de
Decisão.
ABSTRACT
Information is the basis of the dynamics of
productive and organizational processes and its use
is linked to the capacity for interpretation,
understanding, innovation and management for
decision making. Considering the value of the
information, this research had as objective to analyze
how the process of search and use of information by
religious leaders to support the process of decision
making in their day to day occurs. The methodology
adopted was the qualitative, descriptive research
based on a case study in which the data collection
was done through an interview. From the collected
data it was possible to perceive that the
informational needs of the religious leaders are
based, mainly by religious questions that aim to
Inf. Pauta Fortaleza, CE v. 3 n. 2 jul./dez. 2018 ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v3i2.2018.36583.10-30
ARTIGO
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assist in the exercise of the priesthood. Moreover,
religious leaders are concerned with the sense of
information, conditions, standards and rules of use
aimed at spiritually orienting as well as bringing
diverse information that aim at the knowledge and
learning of the faithful. The decisions are aimed at
meeting the organization's guidelines through formal
rules, which leads to behavior regulated by norms
and routines, so that the organization can act in a
procedural and intentional way.
Keywords: Religious Leaders. Information. Need,
search and use of information. Decision Making.
1 INTRODUÇÃO
A informação é uma ferramenta indispensável para as organizações visto que ela
assume posição de destaque devido à sua ação transformadora no sentido de
oportunizar o desempenho organizacional e auxiliar os gestores na tomada de decisão e
na elaboração de ações estratégicas, táticas e operacionais. Segundo Barbosa (2008, p.
2):
[...] à medida que os ambientes profissionais e de negócios se tornam mais
complexos e mutantes, a informação se transforma, indiscutivelmente, em uma
arma capaz de garantir a devida antecipação e análise de tendências, bem como
a capacidade de adaptação, de aprendizagem e de inovação.
A informação é o alicerce da dinâmica dos processos produtivos e
organizacionais, sendo ao mesmo tempo derivado destes. Seu uso está relacionado à
capacidade de interpretação, compreensão, inovação e gerenciamento visando à tomada
de decisão.
Com base nisso podemos destacar a religião, esta tem sido reconhecida pela sua
importância social na influência do comportamento humano. Para Vitell (2005), a
religião exerce determinadas atitudes e crenças, além de influenciar crenças e o
comportamento do indivíduo em diversas situações. Observa-se também um grande
movimento em torno da religião e da religiosidade, sobretudo porque esta é guiada pela
discussão de atribuição de sentido, de valores e de propósito pessoal da vida (BERGER,
1985).
Embora sejam tradicionalmente conhecidos por seus aspectos sagrados, em
contraste com as empresas e/ou organizações, que visam ao lucro financeiro, os
sistemas religiosos vêm se modificando a fim de competir com outros sistemas de
significação existencial (BERGER, 1985).
Para Silva (2007), a estrutura organizacional das igrejas admite certa liberdade
de atuação, o que colabora para o exercício da criatividade, da intuição e da autonomia.
Ademais, o forte sentido que o trabalho assume para seus líderes - principalmente no
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que tange à questão vocacional do trabalho, vinculando os valores pessoais aos
organizacionais, a possibilidade de se sentir útil e elemento da organização e também de
servir à comunidade - permite uma forte transcendência da questão comercial e/ou
profissional. Silva (2007) aponta ainda que o prazer percebido no trabalho dos líderes
religiosos está ligado a dois aspectos importantes: gerenciamento e o significado dessa
atividade.
Além disso, que se destacar que para que o sistema religioso funcione é
necessário que seus líderes se atentem para além da gestão, ou seja, é de fundamental
importância que o líder religioso pense também na gestão da informação e do
conhecimento que este administra para si, para sua instituição e para seus seguidores.
Tendo em vista o valor da informação e com base no exposto, esta pesquisa teve
como objetivo analisar como ocorre o processo de busca e uso da informação pelos
líderes religiosos para embasar o processo de tomada de decisão em seu dia a dia.
Cabe ressaltar que para melhorar o desempenho organizacional, o conhecimento
é o principal recurso estratégico que, se gerido adequadamente, permite a criação de
valor à organização, promovendo a aprendizagem organizacional, a competitividade e a
inovação.
2 A GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
Informação é um conceito complexo uma vez que possui múltiplos sentidos nos
diversos campos do conhecimento. Em algumas linhas de pesquisa da Ciência da
Informação esse fenômeno é entendido como algo concreto, sendo conferido a este a
objetividade, que pode ser sinônimo do conhecimento, o que o torna passível de ser
mensurado; ou, em outras linhas de pesquisa, a informação pode ser vista como algo
simbólico, concebida a partir da interação cotidiana dos indivíduos em seu contexto de
ação. Para Le Coadic (2004, p. 4):
[...] a informação é um conhecimento inscrito (registrado) em forma escrita
(impressa ou digital), oral ou audiovisual, em um suporte. A informação
comporta um elemento de sentido. É um significado transmitido a um ser
consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-
temporal.
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Esta concepção independe do usuário, ainda que se encontre inscrita em uma
conduta social de comunicação, pois os contextos, os conhecimentos, as vivências dos
indivíduos têm pouca influência no processo de recepção e no sentido da informação.
Pacheco (1995, p.21) trabalha com a concepção da informação enquanto
artefato. Para a autora, artefato pode ser entendido como “qualquer objeto
confeccionado pelo homem”.
Se a informação é um artefato ela foi criada num tempo, espaço e forma
específicos, que formam um dos contextos pelo qual deve ser interpretada, o
contexto de sua geração. Sendo artefato ela pode ser utilizada num contexto
distinto daquele para o qual e no qual foi produzida, sendo, portanto, passível de
recontextualização (PACHECO, 1995, p. 21).
Pacheco (1995) afirma que existem no artefato informação pelo menos dois
significados: a produção e a recepção. O significado atribuído pelo usuário independe da
vontade e do significado atribuído pelo produtor, ainda que este possa influenciar
aquele. Ainda assim, o significado do artefato informação pode ir além das barreiras
espaciais e temporais que separam seus contextos de produção e uso.
Para Cardoso (1996), o termo informação está carregado de ambiguidade,
confundindo-se com comunicação, dado, instrução e conhecimento. Para a autora, a
informação possui duas dimensões associadas: a pessoal e a coletiva.
A dimensão pessoal da informação manifesta-se pelo acervo de soluções e
interpretações que acumulamos no desenrolar de nossa biografia, através
daquilo que experenciamos e que nos fornece pistas para lidarmos com novas
experiências. A dimensão coletiva identifica-se com fragmentos do
conhecimento produzido desde que o mundo é mundo, ou seja, as
sistematizações e interpretações de experiências disponibilizadas socialmente,
ainda que não se possa deixar de destacar que tal disponibilização ocorre
diversamente entre os indivíduos em função dos diferentes lugares que ocupam
na estrutura social (CARDOSO, 1996, p. 72).
Ainda que exista uma diversidade de significados sobre o termo informação,
busca-se aqui uma abordagem que destaque o contexto da produção, mediação e
recepção, e o papel dos usuários, ou receptores, na construção do sentido da informação.
Assim, de acordo com Marteleto (1995), a informação estará sempre atrelada a
uma possibilidade de sentido e se refere à relação dos indivíduos com a realidade, bem
como aos artefatos elaborados pelas relações e práticas sociais, formando relações
estreitas com o conceito de cultura. Marteleto (1995) afirma ainda que a informação é
tudo que circunda o indivíduo e faz sentido para ele. Ela não é apenas um significado
disseminado, uma vez que quem define seu sentido são os indivíduos inseridos em um
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contexto, e o conhecimento é construído nas interações cotidianas dos indivíduos entre
si e com os objetos do seu mundo. Este conhecimento é a convergência de diversos tipos
de conhecimento, como o conhecimento tácito, que é o conhecimento internalizado do
indivíduo; o conhecimento científico, que é o conhecimento referente às práticas
científicas e o conhecimento prático, que diz respeito à execução de uma ação; dentre
outros.
Deste modo, as práticas informacionais de um grupo são fruto de suas demandas
concretas e carregam consigo forte componente ideológico, o que para Lopes e Valentim
(2008) tanto a relevância quanto a importância de uma dada informação, são qualidades
dadas pelo usuário da informação, visto que é este usuário que busca se informar a
partir de incertezas, curiosidade, lacuna ou necessidade. Em razão disso, as autoras
afirmam que um trabalho informacional é realizado à luz da mediação, pois medeia o
contexto da necessidade do usuário com as informações existentes. Destacam ainda que
a informação está situada no segmento não estruturado, ou seja, quem trabalhar essa
informação antes dela ser comunicada, deverá desenvolver as atividades informacionais
a fim de disseminá-las da melhor forma ao seu público alvo, promovendo a mediação
antes mesmo que o usuário tenha uma determinada necessidade informacional.
Para Choo (2002, p.21), “a busca da informação é o processo pelo qual o
indivíduo procura obter informações com um propósito definido, de modo a mudar seu
nível de conhecimento”, ou seja, a informação é o meio para extrair e construir o
conhecimento. “A informação é um fluxo de mensagens, enquanto o conhecimento é
criado pelo mesmo fluxo de informação, ancorado nas crenças e no compromisso de seu
portador” (NONAKA; TAKEUCHI, 2008, p.56). Para estes autores, tanto a informação
quanto o conhecimento são específicos ao contexto e relacionais por dependerem da
situação, sendo criados dinamicamente na interação social entre as pessoas” (NONAKA,
TAKEUCHI, 2008, p.57). “a inteligência pode ser vista como o conhecimento que foi
sintetizado e aplicado à determinada situação”. “[...] é uma habilidade puramente
humana baseada em experiência e intuição. [...] e a experiência é uma agregação de valor
ao processo decisório de uma organização” (MORESI, 2001, p.119-120).
Com base no exposto, a informação, entendida como um bem pode e deve ser
gerenciada, uma vez que esta se torna a base da administração dos recursos de
informação, que “consiste na visão integrada de todos os recursos envolvidos no ciclo de
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informação, incluindo a informação propriamente dita (conteúdo), os recursos
tecnológicos e também os recursos humanos” (TARAPANOFF, 2001, p. 44).
o conhecimento, segundo Nonaka e Takeuchi (1997) pode ser entendido como
um processo contínuo para as organizações:
[...] criação do conhecimento é um processo contínuo, direcionado pela intenção
organizacional, que é definida como uma aspiração, de uma organização, às
suas metas. A sua vantagem é a criação de um ‘ambiente de conhecimento’,
voltado para o compartilhamento, que gera mais competitividade e melhores
decisões (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).
Para Barbosa (2008), a informação e o conhecimento são fenômenos
indissociáveis e complementares da vida organizacional. A informação se transforma em
uma arma capaz de garantir a devida antecipação e análise de tendências, bem como a
capacidade de argumentação, de aprendizagem e de inovação.
Administrar ou gerenciar o conhecimento não implica exercer controle direto
sobre o conhecimento pessoal. Significa sim, o planejamento e controle do
contexto, enfim, das situações nas quais esse conhecimento possa ser
produzido, registrado, organizado, compartilhado, disseminado e utilizado de
forma a possibilitar melhores decisões, melhor acompanhamento de eventos e
tendências externas e uma contínua adaptação da empresa a condições sempre
mutáveis e desafiadoras do ambiente onde atua (BARBOSA, 2008, p. 11).
Logo, o conhecimento, uma vez registrado, se transforma em informação e esta,
uma vez internalizada, se torna conhecimento. Dessa forma, “o principal objetivo da
gestão da informação é identificar e potencializar os recursos informacionais de uma
organização e sua capacidade de informação, ensiná-la a aprender e adaptar-se às
mudanças ambientais” (TARAPANOFF, 2001, p. 44).
A gestão do conhecimento se efetua num imbricado contexto de cultura e práticas
organizacionais. Tendo em vista que a cultura organizacional diz respeito ao conjunto de
pressupostos e valores compartilhados pelas pessoas da organização (BARBOSA, 2008),
as práticas organizacionais são estabelecidas, por sua vez, pelo conjunto de atividades e
serviços desenvolvidos pelas pessoas que constituem uma organização.
Barbosa (2008) esclarece que uma organização do conhecimento diz respeito
àquela em que o conjunto de saberes individuais e coletivos compartilhados pelo grupo
é tratado como um ativo valioso, que permite a compreensão e superação de
contingências ambientais. Para este autor, um ambiente organizacional propício à gestão
da informação e do conhecimento se apresenta como aquele em que os sujeitos que
compõem a organização se constituem em verdadeiros construtores, compartilhadores e
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consumidores de informação e conhecimento. Portanto, é necessário compreender o
conhecimento como principal ativo das organizações, visto que este se apresenta como o
principal elemento na competitividade sustentável.
3 O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL
Todo comportamento implica em uma escolha, seja consciente ou inconsciente.
Esta escolha é continuamente motivada pelas alternativas que se tem, pelas restrições
que o tempo estabelece ao processo, pelo domínio da situação ou pelo conhecimento que
se tem do cenário onde se desenrola o comportamento, pelas expectativas de sucesso
das escolhas alcançadas e pelas características do grupo envolvido na situação que
gerou o comportamento em questão, caso exista (SIMON, 1979).
Nesta perspectiva, o comportamento informacional abarca todo comportamento
humano referente à identificação de necessidades informacionais e sobre a forma como
se exploram essas informações apontadas como necessárias. Abrange também, a busca
por elas, seja de forma ativa ou passiva, por qualquer fonte ou canal de informação, além
da sua utilização. Neste comportamento, não se pode deixar levar em consideração os
fatores que podem dificultar ou impulsionar estes processos (WILSON, 1999; WILSON,
2000).
Para Ginman (1988, p. 93), a cultura da informação pode ser vista como a cultura
em que “a transformação dos recursos intelectuais é mantida ao lado da transformação
dos recursos materiais”. Os recursos preliminares para este tipo de transformação são
oriundos dos diferentes tipos de conhecimento e informação. O resultado alcançado é
um produto intelectual processado que é necessário para que as atividades materiais
funcionem e se desenvolvam de forma positiva, ou seja, a cultura da informação é um
objetivo estratégico e deve ser planejada tanto quanto a transformação dos recursos
físicos.
Choo (2003) analisa a cultura da informação como os padrões socialmente
compartilhados de comportamentos, normas e valores que definem o significado e o uso
da informação em uma organização. Os valores são as crenças fundamentadas sobre o
papel e a contribuição da informação para a organização. As normas são regras ou
padrões aceitos e que definem quais comportamentos são esperados na organização. As
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práticas são padrões de comportamento repetidos que envolvem funções
organizacionais, estruturas e formas de interação.
Cabe destacar que as organizações desenvolvem sua própria cultura de busca e
uso de informações, estabelecendo valores e normas. Assim, para entender o
comportamento da informação nas organizações é necessário entender como as
organizações são simultaneamente sistemas de busca de informação e de criação de
crenças, onde a informação é moldada pelas práticas epistêmicas, tanto quanto as
crenças que são os resultados da busca e do uso da informação. Além do mais, a
informação está condicionada às dimensões situacionais próprias, gerada de maneira
dinâmica e harmônica na interação entre o meio e o sujeito, uma vez que “a busca da
informação é o processo pelo qual o indivíduo procura obter informações com um
propósito definido, de modo a mudar o seu nível de conhecimento” (CHOO, 2003, p. 21).
“Conceitualmente, a busca da informação ocorre em três estágios: o
reconhecimento das necessidades de informação, que leva à busca e depois ao uso da
informação” (CHOO, 2003, p. 96). Segundo Barbosa (1997), o comportamento humano
relacionado à busca de informação nas organizações é um processo complexo e
necessita de vários fatores individuais ou coletivos, como estilo cognitivo, área de
atuação, nível hierárquico, existência de procedimentos padronizados para lidar com a
informação, custos dentre outros. Para o autor, um dos aspectos mais importantes desse
fenômeno é o uso de fontes de informação.
Por comportamento informacional podemos entender que se trata de todo
comportamento humano relacionado às fontes e canais de informação,
incluindo a busca ativa e passiva de informação e o uso da informação. Isso
inclui a comunicação pessoal e presencial, assim como a recepção passiva de
informação, como a que é transmitida ao público quando este assiste aos
comerciais da televisão sem qualquer intenção específica em relação à
informação fornecida (WILSON, 2000, p. 49).
Destaca-se que o comportamento é algo próprio dos indivíduos ao longo de sua
vida. Para a sua compreensão, é essencial compreender o espaço e o tempo do acesso, o
uso e o compartilhamento da informação, além do mais os processos cognitivos são
cruciais para se buscar a informação necessária.
A competência em informação está associada ao comportamento informacional,
tendo em vista que considera as atitudes do sujeito como parte de seu conceito. A
competência considera as capacidades e experiências dos indivíduos como elementos
impactantes em sua percepção. Desta forma, a competência em informação completa os
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estudos voltados para o comportamento informacional (OTTONICAR; NASCIMENTO;
BASSETTO, 2018).
as necessidades informacionais, segundo Silveira e Oddone (2007) advêm de
situações referentes às atividades profissionais de cada indivíduo. Influenciadas,
sobretudo por fatores pessoais, neste caso as necessidades informacionais apresentam
características mais gerais quando analisadas por grupos de usuários, uma vez que as
particularidades e o contexto de cada grupo podem motivar certo padrão.
Para Choo (2003, p. 99), “as necessidades de informação são muitas vezes
entendidas como as necessidades cognitivas de uma pessoa: falhas ou deficiências de
conhecimento ou compreensão que podem ser expressas em perguntas ou tópicos
colocados perante um sistema ou fonte de informação”. “A necessidade informacional
seria então a condição na qual certa informação contribui para atender a um propósito
de informação genuíno ou legítimo” (SILVEIRA; ODDONE, 2007, p. 119).
Segundo Choo (2003, p. 99), “a busca da informação é o processo humano e social
por meio do qual a informação se torna útil para um indivíduo ou grupo”. “o resultado
do uso da informação é uma mudança no estado de conhecimento do indivíduo ou de
sua capacidade de agir” (CHOO, 2003, p. 99). Para ele “envolve a seleção e o
processamento da informação, de modo a responder a uma pergunta, resolver um
problema, tomar uma decisão, negociar uma posição ou entender uma situação(CHOO,
2003, p. 99).
As necessidades informacionais exprimem um estado de conhecimento no qual
alguém se depara quando se relaciona com a imposição de uma informação que lhe falta
e lhe é necessária para continuar um trabalho. Ela surge de um impulso de ordem
cognitiva, seguido pela existência de um dado contexto e pela percepção de um estado
de conhecimento insuficiente ou inadequado. Ela é evolutiva e extensiva tendo em vista
que esta muda com o tempo sob o efeito da exposição às diferentes informações iniciais
e é produzida dinamicamente motivando novas necessidades. A necessidade
informacional não pode estar separada do contexto, da situação, do ambiente, que são
essenciais para estabelecer o seu diagnóstico (LE COADIC, 2004).
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4 O PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO
A tomada de decisões é intrínseca ao ser humano e ocorre nas mais diversas
circunstâncias, idades e posições sociais. Em uma organização as decisões são
frequentemente tomadas e é este processo que continuamente reorienta seus objetivos.
Para Choo (2003, p. 247),
[...] a tomada de decisão formal nas organizações é estruturada por
procedimentos e regras que especificam papeis, métodos e normas. A ideia é
que as regras e rotinas esclareçam o necessário processamento de informação
diante de problemas complexos, incorporem técnicas eficientes e confiáveis
aprendidas com a experiência e coordenem ações e resultados dos diferentes
grupos organizacionais.
Acrescenta ainda que:
[...] seguir rotinas e procedimentos pode institucionalizar certas visões de
mundo, formar bitos de aquisição e transmissão de informações, e
estabelecer valores e normas capazes de influenciar a maneira como a
organização lida com a escolha e a incerteza. O resultado que se espera dessa
combinação de cultura, comunicação e consenso é uma maior eficiência das
decisões e um comportamento decisório mais racional (CHOO, 2003, p. 247-
248).
No processo de tomada de decisão, é fundamental ter disponíveis dados,
informações e conhecimentos, mas esses geralmente estão dispersos, fragmentados e
armazenados na cabeça dos indivíduos e experimentam influência de seus modelos
mentais. A tomada de decisão precisa ser fruto de um processo estruturado, que abarca
o estudo do problema a partir de um levantamento de dados, produção de informação,
estabelecimento de propostas de soluções, escolha da decisão, viabilização e
implementação da decisão e análise dos resultados obtidos.
No que tange a tomada de decisões nas organizações é importante salientar que
esta requer informações que sejam capazes de reduzir a incerteza de pelo menos três
formas: a informação é fundamental para estruturar uma situação de escolha; a
informação é imprescindível para definir preferências e selecionar regras; são
fundamentais no que se refere a alternativas viáveis e suas possíveis consequências. O
que se pode afirmar é que “grande parte da busca de informação visa identificar,
desenvolver e avaliar diversos cursos de ação” (CHOO, 2003, p. 295). Isto posto é
fundamental conhecer as premissas da informação para a tomada de decisão frente às
necessidades cognitivas, reações emocionais e dimensões situacionais.
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Cabe destacar que a tomada de decisões na organização demanda informações
capazes de minimizar a incerteza de no mínimo três maneiras: a informação é necessária
para compor uma situação de escolha; a informação é necessária para determinar
preferências e eleger regras e, são necessárias informações sobre alternativas viáveis e
suas possíveis implicações. Além do mais, durante o processo de tomada de decisões, a
busca de informação é guiada pelos hábitos e princípios que o indivíduo conquistou em
consequência de treinamento, educação ou experiência. Ao mesmo tempo, as
organizações criam e legitimam regras e rotinas para compor os comportamentos de
busca e de escolha com base nos objetivos organizacionais. Por conseguinte, a busca da
informação é produto das preferências individuais, dos valores institucionais e dos
atributos da situação de escolha (CHOO, 2003).
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
As pesquisas podem ser classificadas quanto à abordagem, quanto aos fins e
quanto aos meios. Quanto à abordagem, este estudo se caracteriza como uma pesquisa
qualitativa. Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que o podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis.
Quanto aos fins, a pesquisa desenvolvida neste trabalho é descritiva, o que
significa que ela busca identificar as características de uma determinada população e as
relações entre diferentes variáveis (GIL, 2010). No caso, o estudo se detém na descrição
do comportamento informacional de líderes de igrejas cristãs e, como tal, busca
descrever o comportamento destes sujeitos.
Quanto aos meios, a pesquisa constitui um estudo de caso que, segundo Godoy
(1995) diz respeito a um tipo de pesquisa que objetiva realizar uma análise profunda do
tema e do objeto de estudo, visando o exame detalhado do ambiente, sujeito ou situação
específica.
Na presente pesquisa, os casos estudados se referem a duas modalidades de
igrejas cristãs, as quais, devido à sua forma de organização, definem tarefas diferentes
para as pessoas que as administram e que, exercem papeis de líderes religiosos.
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Portanto, trata-se de um estudo de caso exploratório descritivo, havendo duas unidades
de análise e diferentes sujeitos de pesquisa, os quais representam as referidas unidades.
A unidade de análise objeto deste trabalho são igrejas cristãs, portanto
representantes de uma postura religiosa única - o Cristianismo, mas que ao longo dos
anos ganharam diferenças significativas, as quais passaram a determinar ações
diferenciadas dos líderes e administradores ligados a cada uma delas.
No caso desta pesquisa, a unidade definida como Igreja Católica é representada
por seis padres, cujo trabalho se desenvolve na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte.
A outra unidade de pesquisa, representada pelas Igrejas Evangélicas, é representada por
seis pastores dessas igrejas evangélicas que atuam em Belo Horizonte. Trata-se,
portanto, de uma amostra não-probabilística, intencional, por acessibilidade. O acesso a
esses sujeitos de pesquisa foi feito mediante um contato individual via telefone aos
sujeitos envolvidos.
A palavra Igreja, adotada nesta pesquisa, faz alusão à congregação dos fiéis
cristãos, ao conjunto do clero e ao povo de um determinado território onde o
cristianismo possui adeptos. No caso da Igreja Católica, a administração tem diferentes
níveis, havendo arcebispados, dioceses e outras subdivisões, cada uma delas
responsável por um conjunto de paróquias, sendo cada paróquia entregue à
administração de um vigário (FALCÃO, 2004). no caso da Igreja Evangélica existem
diferentes orientações religiosas e cada uma delas tem uma liderança central que
orienta um conjunto de igrejas que partilham esta orientação. Embora todos os cristãos
aceitem as palavras da Bíblia, seus seguidores ligados às duas principais orientações as
interpretam de maneiras diferentes e no caso das igrejas evangélicas se formam grupos
distintos que possuem diferenças entre si (NOLL, 2011).
Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de entrevista, constituído de
questões que permitem identificar o exercício da gestão pelo entrevistado e, sobretudo
seu comportamento informacional. Nesta pesquisa foram realizadas entrevistas com 12
participantes, destes, 6 são padres e 6 são pastores. Essas entrevistas objetivaram
analisar como ocorre o processo de busca e uso da informação por líderes religiosos
para embasar o processo de tomada de decisão em seu dia a dia. Por fim, os dados
coletados foram analisados por meio da análise de conteúdo em que foram feitas as
inferências pela pesquisadora.
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6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
As informações que seguem foram fruto de entrevistas realizadas entre os meses
de junho a setembro de 2018, objetivando analisar como ocorre o processo de busca e
uso da informação por deres religiosos para embasar o processo de tomada de decisão
em seu dia a dia. Foram entrevistados 12 líderes religiosos, sendo 6 padres e 6 pastores.
Dos 12 entrevistados apenas 1 é do gênero feminino e a faixa etária dos
entrevistados situa-se entre 37 e 69 anos. Destaca-se ainda que somente a respondente
do gênero feminino não possui curso superior e dos 12 participantes 6 possuem outra
atuação profissional além da liderança religiosa. Outro dado importante diz respeito ao
número de fiéis das Igrejas, notamos um número elevado de fiéis nas Igrejas citadas,
média de 14.000 fiéis mensalmente, tal fato pode estar associado à importância da
religião na vida das pessoas tendo em vista que esta é responsável por conduzir seus
fiéis a determinados valores, rituais, princípios e ensinamentos que dão sentido à vida
das pessoas.
Iniciando as perguntas buscamos compreender qual é a atribuição dos padres e
dos pastores. Com base nos dados coletados é possível destacar alguns componentes
fundamentais para se pensar em relação ao papel do líder religioso. Primeiro, sua
importância em relação ao conjunto de crenças e práticas desenvolvidas por este que
são capazes de aglutinar um número de indivíduos, criando, a partir de então, práticas e
crenças comuns entre as pessoas que os seguem. Segundo a importância deste líder na
condução e administração dos bens da Igreja e de toda a estrutura vinculada a ela,
entretanto, é importante destacar que em se tratando dos templos cristãos, os líderes
religiosos não são os únicos na tomada de decisões, estes fazem parte de uma estrutura
mais ampla responsável pela gestão da Igreja.
Outro ponto importante a ressaltar diz respeito à existência de uma estrutura
hierárquica em todas as igrejas participantes, seguida de uma estrutura técnico-
administrativa que condiz com a quantidade de fiéis que recebe mensalmente. Assim,
com base em tal fato podemos identificar em tais igrejas um ambiente organizacional
que, diferente das organizações comuns, promove a experiência de transcendência.
Embora, a rigor, as Igrejas sejam reconhecidas por seus aspectos sagrados, “a religião
pode ser considerada como uma mercadoria, estabelecendo uma estrutura
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transnacional para viabilizar da melhor forma possível a exposição e a expansão de seu
produto” (FONSECA, 2014, p. 49).
Dando sequência à pesquisa destacamos as necessidades informacionais dos
líderes religiosos pesquisados. Notamos que as necessidades informacionais destes
estão pautadas principalmente por questões religiosas que visam auxiliar o exercício do
sacerdócio e em seguida por conhecimentos gerais com o intuito de auxiliar sobre as
questões da atualidade. Alguns citam em menor proporção questões institucionais e de
gestão.
De acordo com Choo (2003), as necessidades de informação frequentemente são
entendidas como as necessidades cognitivas de determinada pessoa, isto é, aquelas
relacionadas às falhas ou deficiências de conhecimento. Ou seja, a necessidade de
informação origina-se do momento em que o indivíduo identifica lacunas em seu
conhecimento e em sua habilidade de dar significado a uma experiência. Pautado nisso,
a busca da informação é a maneira na qual o indivíduo dedica-se em busca de
informações a fim de mudar seu estado de conhecimento.
Com base nos conceitos de necessidade, busca e uso da informação, perguntamos
aos líderes religiosos que tipo de fontes (documentais e eletrônicas) eles usam para se
informar diariamente. A partir das respostas destacamos: jornais impressos e
eletrônicos, e-mails, WhatsApp, rádios, sites diversos, televisão, informativos
institucionais, boletins internos da instituição, arquivos da Igreja, a Bíblia, periódicos
seculares, redes sociais e o contato com a comunidade.
Em relação ao acesso às fontes de informação em termos de tempo e de custo os
líderes religiosos mencionam que o tempo despendido gira em torno da necessidade do
momento. em relação ao custo mencionam ter gastos com o pacote de internet, com a
compra de jornais e revistas impressos e com a manutenção esporádica dos
equipamentos.
No que concerne à disseminação de informação por parte dos líderes religiosos
notamos que uma preocupação com a divulgação de informações de cunho religioso
ligadas às celebrações e aos sacramentos. Há também a divulgação de eventos, pastorais,
campanhas, obras de recuperação, ou seja, informações voltadas para a vida cotidiana da
Igreja que sejam úteis aos fiéis. Além de informações religiosas, a preocupação na
divulgação de questões políticas, sociais, educacionais ou atualidades diversas, todas
pautadas na evangelização da comunidade.
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Sobre o objetivo da divulgação das informações percebemos que se fundamenta
na necessidade de orientação espiritual e orientações diversas, estas visam o
conhecimento e aprendizado dos fiéis, no sentido de fortalecer, encorajar e engajar os
fiéis na participação ativa das atividades da Igreja. Para Choo (2003, p. 405), “o objetivo
da distribuição da informação é promover e facilitar a partilha de informações, que é
fundamental para a criação de significados, a construção de conhecimento e a tomada de
decisões”.
Em relação à qualidade e à confiabilidade das informações divulgadas pelos
líderes religiosos eles afirmam que qualidade nas informações tendo em vista que
buscam ser precisos, pontuais, direcionados e específicos garantindo assim 100% de
confiabilidade, pois as informações divulgadas são pautadas na veracidade e na
imparcialidade, além do mais buscam difundir apenas aquilo que será útil ao público.
Em se tratando da qualidade e da confiabilidade das informações é importante
compreender o valor da informação, assim, perguntamos aos líderes religiosos se as
informações divulgadas podem ser consideradas relevantes. Notamos, de acordo com a
percepção dos líderes religiosos, que as informações divulgadas por eles são relevantes,
tendo em vista que estas ajudam os fiéis na reflexão de questões que permeiam sua vida.
Aqui, podemos afirmar que o valor de uso de uma informação ou sua relevância baseia-
se na utilização final que se fará dela. Por ser um bem abstrato e intangível, o seu valor
estará associado a um contexto. O ponto importante é que a informação precisa atender
às necessidades de uma pessoa ou de um grupo, podendo ser usada como um insumo
para a tomada de decisão, se for necessário.
que se destacar que qualquer que seja o método de decisão é fundamental ter
em mente a estrutura e a clareza dos objetivos organizacionais. Baseado nisso,
perguntamos aos líderes religiosos quais decisões estão atreladas a eles em sua Igreja.
Os entrevistados deixam clara a existência de uma estrutura hierárquica dentro de suas
respectivas Igrejas, limitando suas decisões. Segundo os respondentes é necessário
atender as diretrizes da organização por meio de regras formais o que leva a um
comportamento regulado por normas e rotinas, de forma que a organização possa atuar
de uma maneira procedimental e intencional em relação às decisões a serem tomadas.
Dando prosseguimento à coleta de dados buscamos compreender quais são os
meios de comunicação e de obtenção de informação utilizados pelos líderes religiosos
para a tomada de decisões relacionadas à sua instituição. É possível perceber que as
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decisões são baseadas em diversos fatores: nas diretrizes institucionais, em documentos
internos, nos princípios bíblicos, em reuniões, no bem-estar dos envolvidos e na
experiência de cada um. É possível afirmar que “a busca da informação é fruto das
preferências individuais, dos valores institucionais e dos atributos da situação de
escolha” (CHOO, 2003, p. 303).
O uso da informação é a seleção e o processamento das informações, que
resultam em novos conhecimentos ou ões. A informação é usada para
responder a uma questão, solucionar um problema, tomar uma decisão,
negociar uma posição ou dar sentido a uma situação (CHOO, 2003, p. 115-116).
Choo (2003) afirma que a busca e o uso da informação se caracterizam por um
processo dinâmico e socialmente desordenado que se divide em níveis de contingências
cognitivas, emocionais e situacionais. A informação reproduzida responde a aspectos
sobre os atributos das pessoas, objetos e fatos, sobre a forma como eles se relacionam, e
sobre as implicações e razões de ações ou acontecimentos.
Ainda sobre os meios de comunicação e de obtenção de informação utilizados
pelos líderes religiosos perguntamos se as informações acessadas e utilizadas
diariamente contribuem para a tomada de decisão junto à instituição em que atuam. Os
líderes afirmam que as informações acessadas por eles contribuem sim para a tomada
de decisão, uma vez que geram a compreensão maior sobre determinado problema,
esclarecem dúvidas, servem de atualização, orientam e dão segurança na realização de
seu trabalho, afirmam ainda que mesmo em situações rotineiras permitem a correção de
percursos, além de possibilitarem novas decisões.
A tomada de decisão é uma prática constante dentro das organizações. Todavia,
por vezes, ela está imersa em um ambiente de vasta complexidade, em que a
necessidade de informação advém de problemas, incertezas e ambiguidades ligadas a
experiências e situações específicas de uma organização e que exigem a compreensão de
como tecnologias, cultura, valores e habilidades podem auxiliar para transformá-las em
oportunidades. São experiências e fatores que se relacionam a aspectos contextuais,
sociais e pessoais que frequentemente criam dificuldades para a tomada de decisão, mas
que precisam ser transformados em ação para que se atinja um desempenho adequado.
Para satisfazer as necessidades de informação, é necessário retomar as
informações que respondam aos questionamentos elaborados. O planejamento e a
tomada de decisão correspondem aos principais geradores de necessidades cognitivas
de informação. Nesse sentido, torna-se necessário que a informação satisfaça tanto às
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necessidades cognitivas, quanto às afetivas e situacionais. Tendo atendido tais
necessidades, torna-se possível, por meio do planejamento, determinar de forma clara
os objetivos organizacionais e se tomar decisões sobre as alternativas mais viáveis para
se alcançar tais objetivos (CHOO, 2003, CHOO; JOHNSTON, 2004).
7 CONCLUSÃO
A informação é um dos elementos mais importantes no cotidiano do ser humano.
Um líder que perceba tal importância terá em suas mãos a possibilidade de gerar
conhecimento e aperfeiçoar o curso das informações dentro da organização, sendo
assim, esta pesquisa visou analisar como ocorre o processo de busca e uso da
informação por líderes religiosos para embasar o processo de tomada de decisão em seu
dia a dia.
A criação de significado vincula-se com a assimilação das mensagens sobre o
ambiente. Primeiro é necessário identificar o que ocorre neste ambiente, em seguida é
preciso dar sentido a estes acontecimentos para posteriormente interpretá-los, visando
direcionar a ação para uma decisão.
A construção do conhecimento representa o cerne do processo de uso da
informação dentro de uma organização. Ela é motivada por uma situação que evidencia
lacunas no conhecimento atual. A construção do conhecimento é alcançada quando
sinergia entre o conhecimento cito e o conhecimento explícito gerando assim novos
conhecimentos.
Já a tomada de decisão ocorre de forma natural após a criação de significados e da
construção de conhecimento. Ela é provocada pela necessidade de escolher o curso de
uma ação.
Sendo assim, foi possível perceber que as organizações religiosas necessitam de
legitimação para seu funcionamento. Disso resulta a importância da liderança religiosa
como figura central, pois o líder, além de legítimo, precisa ter domínio sobre o grupo que
lidera. Este líder produz a coesão interna do grupo tanto na esfera das representações
como também nas práticas religiosas. Este possui grande importância no que diz
respeito ao conjunto de crenças e práticas desenvolvidas que são capazes de agregar um
número de indivíduos, criando práticas e crenças comuns entre as pessoas que os
seguem. Além do mais, este líder é fundamental na condução e gestão dos bens da Igreja
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e de toda a estrutura vinculada a ela, entretanto, como demonstrado nesta pesquisa, os
padres e pastores não são os únicos na tomada de decisões, estes fazem parte de uma
estrutura mais ampla responsável pela gestão da Igreja.
No que diz respeito à necessidade informacional, esta é motivada pela
necessidade de se corresponder a uma lacuna de conhecimento em uma dada situação
que demanda uma escolha ou decisão por parte de um indivíduo. Podemos perceber que
as necessidades informacionais dos líderes religiosos investigados estão pautadas,
sobretudo por questões religiosas que visam auxiliar o exercício do sacerdócio,
entretanto, uma necessidade de acesso a conhecimentos gerais que visam auxiliar
estes líderes em questões sobre a atualidade. ainda em menor proporção a
necessidade por questões institucionais e de gestão.
Em relação à busca de informação, esta surge para satisfazer uma dada
necessidade de conhecimento com o intuito de minimizar um estado de incerteza ou
ambiguidade que permeia uma situação em que uma decisão é necessária. o uso da
informação ocorre quando uma pessoa elege e processa informações visando uma
mudança no estado de conhecimento ou em sua capacidade de agir.
a divulgação da informação diz respeito à forma como a informação é
disseminada pela organização e tem o objetivo de promover e facilitar o
compartilhamento de informações que facilitam a criação, a construção de
conhecimento e a tomada de decisões. A distribuição da informação é o método pelo
qual as informações se disseminam pela organização de forma que a informação
adequada alcance a pessoa certa no momento, lugar e forma adequados.
Com base nisso, é possível perceber que os líderes religiosos estão preocupados
com o sentido da informação, as condições, padrões e regras de uso. Aqui a organização,
por meio dos líderes, cria suas regras e estruturas com foco em suas intenções
estratégicas. Ou seja, a geração e transformação da informação são adaptadas com base
na cultura organizacional, seus propósitos, suas regras, rotinas e papeis, ou seja, nesta
pesquisa percebemos que os líderes se preocupam em se ater a informações de cunho
religioso com o objetivo de difundir a fé, tendo em vista que estas informações são
direcionadas aos fiéis, além de informações religiosas, a preocupação na divulgação
de questões políticas, sociais, educacionais ou atualidades diversas, todas pautadas na
evangelização da comunidade.
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A partir dos relatos dos líderes religiosos percebemos que o objetivo de se
divulgar determinada informação aos fiéis se baseiam na necessidade de orientação
espiritual e orientações diversas, estas visam o conhecimento e aprendizado, no sentido
de fortalecer, encorajar e engajar os fiéis na participação ativa das atividades da Igreja.
No que tange à tomada de decisões esta está voltada para objetivos e orientada
por problemas, e o comportamento de escolha é regido por normas e rotinas, de forma
que a organização seja capaz de agir de forma procedimental e intencionalmente
racional. Percebemos que os entrevistados deixam clara a existência de uma estrutura
hierárquica em suas respectivas Igrejas, o que limita suas decisões dentro de sua
instituição. Uma questão fundamental para as organizações é definir as premissas que
orientam a tomada de decisões. A organização deve idealizar esse ambiente do qual o
indivíduo se aproximará cada vez mais da racionalidade e dos objetivos da organização
em suas decisões.
É possível verificar que as decisões são baseadas nas diretrizes institucionais, em
documentos internos, nos princípios bíblicos, em reuniões, no bem-estar dos envolvidos
e na experiência de cada um. Destacamos aqui que a busca e o uso da informação são
processos dinâmicos e se dividem em níveis de contingências cognitivas, emocionais e
situacionais. A informação reproduzida pelos líderes responde a aspectos sobre os
atributos das pessoas, objetos e fatos, sobre a forma como eles se relacionam, e sobre as
implicações e razões de ações ou acontecimentos.
Com base na análise observamos que as informações acessadas e utilizadas pelos
líderes religiosos possibilitam a compreensão de determinado problema, esclarecem
dúvidas, servem de atualização, orientam e dão segurança na realização de seu trabalho,
e, mesmo em situações rotineiras permitem a correção de percursos, além de
possibilitarem novas decisões.
Cabe destacar que a prática da tomada de decisão esimersa em um ambiente
de extensa complexidade, em que a necessidade de informação decorre de problemas,
incertezas e ambiguidades vinculadas a experiências e situações próprias de uma
organização e que exigem a percepção de como os diversos fatores envolvidos podem
colaborar para transformá-las em oportunidades. o experiências e fatores que se
relacionam a aspectos sociais, contextuais e pessoais que precisam ser transformados
em ação para que se alcance um desempenho adequado e, segundo os líderes
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entrevistados, o cumprimento dos objetivos estabelecidos, alcançando os resultados
desejados.
Assim, a partir da análise realizada no que concerne ao alcance dos objetivos é
possível afirmar que estes foram cumpridos, uma vez que a discussão contemplou cada
ponto delimitado.
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