PROTAGONISMO SÓCIO-INFORMACIONAL NA SAÚDE COLETIVA
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SOCIO-INFORMATIONAL PROTAGONISM IN COLLECTIVE HEALTH
Henriette Ferreira Gomes¹
¹ Doutora em Educação pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
E-mail: henriettefgomes@gmail.com
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Conflito de interesses: A autora declara que
não há conflito de interesses.
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Recebido em: 20/09/2018.
Revisado em: 01/10/2018.
Aceito em: 10/10/2018.
Como citar este artigo:
GOMES, Henriette Ferreira. Protagonismo socio-
informacional na saúde coletiva. Informação
em Pauta, Fortaleza, v. 3, número especial, p.
47-61, nov. 2018. DOI:
https://doi.org/10.32810/2525-
3468.ip.v3iEspecial.2018.39713.47-61.
RESUMO
Aborda o protagonismo cio-informacional na
saúde coletiva tratando do conceito de
informação, da natureza da saúde coletiva e do
potencial de ambas para a conscientização
quanto à necessidade de humanização do
mundo. Trata ainda do desenvolvimento do
protagonismo sócio-informacional em saúde
coletiva, na condição de ação mediadora,
refletindo acerca das características e dimensões
da mediação da mediação da informação,
objetivando contribuir para o estabelecimento
de articulações entre os campos da Saúde
Coletiva e Ciência da Informação para a
mediação consciente da informação,
favorecedora do processo de apropriação da
informação em saúde enquanto lastro ao
desenvolvimento do protagonismo social.
Palavras-chave: Protagonismo social. Mediação
da Informação. Mediação da informação em
saúde coletiva.
ABSTRACT
Approach the social-informational protagonism
in collective health presenting the concept of
information, the nature of collective health and
the potential of both to raise awareness about
the need to humanize the world. It also discusses
the development of socio-informational
protagonism in collective health, in the condition
of mediating action, reflecting on the
characteristics and dimensions of mediation of
information and the aiming to contribute to the
establishment os articulations between the
Collective Health and Information Science to the
conscious mediation of information, favoring the
processo of appropriation of health information
as a means to the development of social
protagonism.
Keywords: Social protagonism. Mediation of
information. Mediation of information in
Collective Health.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 3
número especial
nov. 2018
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v3iEspecial.2018.39713.47-61
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1 INTRODUÇÃO
A concretização do protagonismo sócio-informacional na saúde coletiva convida
a importantes reflexões acerca do conceito de protagonismo, do conceito de informação
e a condição de conhecimento que esta última contém, da natureza da saúde coletiva e
do seu potencial conscientizador da necessidade de humanização do mundo. Em outra
perspectiva, observa-se que o desenvolvimento do protagonismo sócio-informacional
em saúde coletiva, como em qualquer campo do conhecimento, do saber ou da cultura,
se realiza por meio de atividades de mediação.
Nesse sentido, com base em estudo da literatura desses campos, apresentam-se
reflexões acerca do arcabouço conceitual para compreensão do protagonismo, da
relação entre a produção e disseminação da informação com o protagonismo, a base
protagonista da saúde coletiva e das próprias atividades informacionais, assim como a
imprescindível mediação consciente da informação em saúde coletiva.
Assim, este texto se desdobra na abordagem acerca do que vem a ser
protagonismo; do desenvolvimento do protagonismo sócio-informacional em saúde
coletiva; sobre a mediação da informação e suas contribuições ao protagonismo,
finalizando com a tentativa de delinear as articulações necessárias ao alcance do direito
coletivo à saúde, como condição humanizadora do mundo.
2 O QUE VEM A SER PROTAGONISMO?
Ao abordar o protagonismo sócio-informacional na saúde coletiva percebe-se a
necessidade de iniciar a discussão acerca do significado de protagonismo. Tomando
como referência os estudos de Perrotti (2017), ressalta-se que é em Antígona de Sófocles
(496-409 a.C.) que se pode observar a gênese do conceito de protagonismo.
Na obra de Sófocles, ao receber a notícia de que seus dois irmãos morreram em
batalhas, sendo que um deles, por ter se colocado em campo oposto, foi alvo da decisão
do rei de Tebas, Creonte, de não permitir seu sepultamento, ordenando a exposição do
seu corpo ao ataque de aves de rapina, Antígona reagiu, se erguendo e indo a luta
reivindicatória do sepultamento do irmão, argumentando diante do rei Creonte que sua
reação se pautava nas leis dos deuses regentes da vida na pólis, para os quais o
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sepultamento é um direito de todos independente de seus atos. Mas Creonte não aceita
os argumentos de Antígona, condenando-a ao sepultamento em uma caverna
subterrânea, ainda com vida, desconsiderando as leis de Tebas, e, assim, colocando a
esfera do privado (das suas paixões) acima da esfera pública, gerando um período de
violência que passou a comprometer a vida coletiva, o compartilhamento e a relação
entre os diferentes, comprometendo, enfim, o respeito à alteridade, que é a base
sustentadora da vida social. Ao contrário da conduta de Creonte, Antígona representa a
esfera pública que se ergue contra a extrema valorização do privado.
Desse modo, observa-se que na sua origem, o conceito de protagonismo se
relaciona com a valorização da vida cidadã, na qual o outro e o diferente são respeitados
e compreendidos como sujeitos ativos na constituição de todos.
Conforme Perrotti (2017), o termo protagonismo tem sido empregado em
diferentes campos da ação social, em especial no âmbito das lutas por direitos de
diferentes naturezas. No entanto, o autor chama atenção para certa perda do sentido
originariamente concebido por Sófocles, em sua obra, onde o protagonista é o principal
lutador (proto = primeiro, principal associado à agonistes, o que luta, lutador). Nessa
perspectiva, protagonismo se relaciona à conduta de resistência e combate, de
enfrentamento de antagonismos (que lutam contra) que afetam a todos na sociedade.
Protagonismo implica em tomada de posição, o que coloca os protagonistas em
posição de liderança na luta contra os obstáculos que representam ameaças, assumindo
embates pela construção de um mundo comum. Ser protagonista significa assumir a
condição de sujeito social que age com e em relação ao outro, estando este outro
presente na cena da ação ou presente apenas simbolicamente.
O sujeito protagonista é aquele que age, que se ergue, que se coloca em relação
ao “mundo comum”. Conforme Perrotti (2017), para o protagonista, mais importante
que vencer uma luta, derrotando o adversário, é a afirmação dos princípios básicos do
viver junto. Para o protagonista importa reagir, lutar e superar o fazer vazio, sem
significação.
Na mitologia grega, em razão da sua vida pouco convencional, sifo foi
condenado pelos deuses a carregar uma pedra até o topo de uma montanha, para ali
equilibrá-la, o que tornava o castigo permanente, já que ao atingir o topo, a pedra
acabava por se soltar, descendo montanha abaixo. Nesse mito, identifica-se a
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representação do trabalho inútil, ao qual não reconhecimento social, nem tampouco
retorno compensatório. No entanto, Sísifo, no seu esforço de retornar com a pedra ao
topo, encontra-se com sua consciência e sente sua própria força, uma força superior à do
rochedo que tenta vencer, que, apesar da dor, do cansaço, da infelicidade, ele resiste e
ergue novamente a pedra em direção ao topo da montanha, tornando essa capacidade de
resistir, essa força do insistir, na sua própria razão de viver. Sísifo encontra em si a
essência da resistência, encontra a sua felicidade, já que dá significado ao trabalho inútil,
ao castigo imposto, o que o torna no âmbito da sua consciência um forte, um ser
resiliente, rebelando-se contra o destino imposto, erguendo-se, portanto, como
protagonista e abandonando a posição de vítima.
Nesta linha reflexiva acerca do conceito de protagonismo, pode-se iniciar a
focalização do protagonismo sócio-informacional, no qual a informação é resultante do
compartilhamento do conhecimento produzido socialmente.
Conceituando informação como conhecimento em estado de compartilhamento,
Gomes (2016, 2017) ressalta a natureza social da informação, fruto do processo
dialógico que sustenta e subsidia a geração do conhecimento, por potencializar a
capacidade humana de interpelar, de interferir, de criar e recriar o próprio
conhecimento anteriormente instituído e o próprio mundo. Os sujeitos sociais se
constituem e constituem o mundo no processo de socialização, no qual a interação é
elemento essencial de construção de sentido, se caracterizando como um fenômeno
sócio-cultural com características lingüísticas e discursivas, por meio da qual as falas
produzidas pelas “vozes” são organizadas para que ocorra compreensão, debate,
dissenso e consenso entre interlocutores. (BRAIT, 2001).
Vários são os dispositivos concebidos e articulados ao processo de interação,
que atuam como elementos mediadores, nos desafiando a desconstruir a visão
reducionista de oposição entre os homens e seus objetos, assim como a expandir a
concepção de dispositivos, compreendendo-os enquanto os próprios processos, técnicas
e ambientes produzidos pelo humano, que com eles estabelece uma relação dialética e
produtora de sentidos.
A informação é resultante e promotora da ação de compartilhamento, situando-
se enquanto ação dependente da interação, por ser produzida, organizada, acessada e
apropriada no processo de encontro com o outro, o que lhe um caráter alteritário. O
outro que produz, o outro que organiza, disponibiliza, possibilita o acesso e uso, mas que
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também constrói e oferta dispositivos facilitadores do encontro e do debate com os
outros, ampliando as possibilidades de novas interpretações.
Nesse sentido, Gomes (2016, 2017), ao compreender a informação como
conhecimento em estado de compartilhamento, a está caracterizando, ao mesmo tempo,
como produto gerado no esforço de colocar em comum e produto movente da ação de
comunicar, já que permite o acesso ao conhecimento (que encontra-se nesse estado
materializado), guardando a potência promotora de novas ações de comunicação, a
partir das quais podem emergir revisões, novas perspectivas e até a geração de novos
conhecimentos.
Nesta linha reflexiva, revela-se o caráter social da informação, que resulta da
ação humana de colocar em comum, de compartilhamento, de busca do encontro com o
outro, que a retomará em outro agir, em outra ação e reação, indicando esse movimento
como germe do protagonismo. O agir encontra-se na centralidade do protagonismo por
exigir a tomada de posição. Para Arendt (2007) o agir significa tomada de posição, de
iniciativa, de imprimir movimento a algo, sinalizando que na ação o protagonismo é
colocado em cena.
Arendt (2007) assinala ainda que a ação é a condição capaz de preservar o
espaço político, no qual a intersubjetividade favorece o exercício da crítica, ampliando a
possibilidade de interação e negociação, de articulação e acordo entre os sujeitos sociais.
Em outra perspectiva observa-se também que o agir comunicativo permite o
compartilhamento social dos conhecimentos e saberes. Informação guarda, portanto,
uma propriedade material, por meio da qual, a condição abstrata do conhecimento
torna-se passível de ser visualizada, refletida, revisitada, no movimento recursivo que
assegura o pensamento crítico sustentador da tomada de posição por parte do sujeito
leitor, qualificando esse compartilhamento como uma atitude consciente da
comunicação que viabiliza o olhar crítico, o debate e possivelmente, o estabelecimento
do estado de consenso social, defendido por Habermas na sua teoria da ação
comunicativa.
Para Habermas (1987), a interação é uma esfera do social, por meio da qual os
sujeitos convivem, agem e se comunicam, buscando o caminho do entendimento e do
consenso possível para as decisões em torno das coisas do mundo do sistema e do
mundo da vida. Na interação se pode, por meio da intersubjetividade, reconhecer e
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questionar as pretensões de validade das manifestações, construindo o estabelecimento,
sempre provisório, do que seja verdade. Mas, para que a ação comunicativa alcance
efetividade é preciso assegurar socialmente que a todos seja garantido:
a) o espaço de voz, necessário aos questionamentos, argumentações e
respostas às questões formuladas a partir de suas falas;
b) o exercício do debate problematizador da validade dos discursos, no
combate às ideias preconcebidas, preconceitos, estigmas, enfim a tudo que
limite o respeito à alteridade;
c) a expressão dos sentimentos, atitudes e desejos (subjetividades);
d) a contestação, a exigência ou permissão para que explicações sejam
manifestadas em réplicas e tréplicas que estabeleçam atos reguladores da
própria interação, da vida ativa, do mundo do sistema e do mundo da vida.
Na concepção de Habermas (1987), a ação comunicativa emerge enquanto
interação entre sujeitos que agem e se expressam, capazes de estabelecer relações
interpessoais, buscando a compreensão quanto às motivações da discussão em foco e a
situação na qual ocorre a interação, assim como quanto aos planos de ações
coordenadas pela via do entendimento.
A partir do conceito de informação de Gomes (2016, 2017), passando pelas
abordagens de Arendt (2017) que ressalta o valor da ação, da tomada de posição, e de
Habermas (1987) que assinala o valor social da ação comunicativa, tentou-se aqui
apontar as conexões entre Protagonismo e Informação, compreendendo o protagonismo
como ação de luta, do embate necessário à construção e consolidação do espaço público,
realizada por sujeitos conscientes da necessária superação dos interesses privados que
colocam em risco ou em situação de ameaça os interesses públicos, sujeitos que
assumem a luta entre o público e o privado, em favor da pólis. Desse modo, acredita-se
ter contornado o que se poderia denominar de protagonismo sócio-informacional,
compreendendo-se que a luta em favor do interesse público pode ser assumida no
âmbito social, na expansão da ação coletiva, para a qual a informação é elemento central
e potencializador do debate que engendra o exercício do espaço crítico, do qual
emergem os sentidos e decisões. Mas, cumprindo o objetivo deste texto, a seguir se
busca abordar o protagonismo sócio-informacional no contexto da saúde coletiva.
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3 DESENVOLVIMENTO DO PROTAGONISMO SÓCIO-INFORMACIONAL EM SAÚDE
COLETIVA
Refletindo sobre o protagonismo sócio-informacional no contexto da saúde
coletiva, deve-se rememorar que esta, se volta aos interesses públicos, no debate e na
produção de conhecimentos e ações concretas em favor da saúde no âmbito do social,
dos coletivos sociais.
A saúde coletiva representa a saúde vivida na coletividade, decorrente dos
impactos das posições e decisões sócio-econômicas de uma sociedade, podendo,
portanto, ser planejada, evitando o desenvolvimento e alastramento social de patologias
e outros problemas que repercutam sobre a saúde da população.
Normalmente confunde-se saúde pública com saúde coletiva, ainda que exista
certa diferença entre elas. A saúde pública se ocupa da prevenção de patologias ou
problemas que afetam a saúde de uma população, portanto, está vinculada a políticas,
ações e serviços realizados pelo estado, que visam alcançar as condições sanitárias
adequadas à promoção da saúde da população.
Por seu lado, a saúde coletiva se caracteriza como movimento social em favor
das condições sanitárias, que consiste da realização de estudos para identificação da
realidade social, econômica e ambiental, do qual participam pesquisadores do campo da
saúde articulados a outros das ciências sociais. A partir desses estudos cooperativos são
produzidos resultados capazes de subsidiar o estabelecimento das políticas públicas que
visam à eliminação ou controle de cenários epidêmicos.
Desse modo, verifica-se que a saúde pública é derivativa dos estudos realizados
no âmbito do campo científico da saúde coletiva. A saúde pública pode e deve ser
estabelecida a partir da saúde coletiva, visando o estabelecimento de políticas públicas e
ações do estado voltadas a toda população.
A saúde coletiva se caracteriza como um campo científico. Conforme Paim e
Almeida Filho (1999, 2000) trata-se de um campo interdisciplinar que articula
pesquisadores, teorias e estudos das ciências da saúde, da administração e das ciências
sociais.
Nesta diferenciação, pode-se observar a estreita ligação entre saúde coletiva e
protagonismo. A própria saúde coletiva resulta da ação protagonista de pesquisadores e
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estudiosos que se articularam pela democratização da medicina, pela aproximação da
medicina e com as ações da saúde voltadas ao interesse da coletividade.
Conforme Paim e Almeida Filho (1998) e Schraiber (2008), a saúde coletiva no
Brasil emerge dos movimentos pela democratização do país, focalizando a necessidade
de uma reforma sanitária capaz de democratizar a saúde, assegurando-a ao conjunto da
população. Assim, o movimento pela saúde coletiva ergueu-se no cenário do
autoritarismo, na luta pelos direitos sociais, em ações protagonistas.
Enquanto campo científico que parte do movimento social para compreendê-lo
em termos de suas condições e necessidades de saúde e que se propõe ao estudo dessas
condições para proposição de políticas públicas, assim como de disseminar na sociedade
conhecimentos que alterem positivamente suas condições de saúde, a saúde coletiva
m no campo da Ciência da Informação um parceiro na geração de serviços e produtos
que, ao mesmo tempo, possam auxiliar na obtenção das informações para análise e
estudos, como também na mediação da informação em saúde que potencialize a tomada
da posição protagonista por parte da sociedade, através dos movimentos sociais que
lutam pela igualdade de direitos e pelo respeito à alteridade, enfim, na luta pela
democratização da saúde.
Na prospecção de informações destinadas aos estudos, os ambientes públicos de
informação podem colaborar, assim como no processo de disseminação, acesso, uso e
apropriação social das informações produzidas pelo campo científico da saúde coletiva.
Os dispositivos de mediação da informação e os mediadores da informação
(profissionais da informação) são parceiros potenciais da saúde coletiva para o
desenvolvimento do protagonismo sócio-informacional.
Progressivamente os sujeitos sociais entendem a informação em saúde como
um direito universal e buscam obter informações que lhes possibilitem ter contato com
o conhecimento especializado dessa área, para refletir e adotar condutas que imprimam
qualidade às suas condições de vida. Por outro lado, os pesquisadores da saúde coletiva
buscam obter informações a partir das quais possam diagnosticar e propor políticas em
favor da saúde da coletividade. Essa realidade coloca os campos da Ciência da
Informação e da Saúde Coletiva em articulação.
Segundo Campal García e Pastor Morán (2008), pesquisas m indicado que o
tema da saúde representa o maior interesse informacional deste século, em especial
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porque a maior parte das populações busca ir além dos diagnósticos e tenta se municiar
de informações para melhor dialogar com as equipes médicas.
Em todo o mundo são realizadas atividades por profissionais e ambientes
informacionais para disseminar informações especializadas e desenvolver competências
em saúde, preparando os cidadãos a manejarem fontes confiáveis de informação,
habilitando-os na compreensão das recomendações básicas de saúde, a exemplo de
prospectos ou formulários sanitários da American Medical Association AMA (2004),
desenvolvendo suas competências para ler, entender e trabalhar com informação em
saúde. (ANDRUS; ROTH, 2002).
Para a American Library Association (ALA), competência em informação se
caracteriza como o conjunto de competências e habilidades ligadas ao “[…] reconhecer
quando se necessita da informação e possuir a capacidade de localizar, avaliar e utilizar
eficazmente a informação requerida.” (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1989, p. 1).
Estendendo o conceito para a informação em saúde, teve-se um movimento inicial no
contexto clínico, considerando as dificuldades de interlocução entre médicos e
pacientes. Mas, em paralelo, os ambientes e profissionais da informação incorporaram o
conceito na disseminação da informação em saúde, tomando como referência a Carta de
Ottawa de 1986, que firmou as bases teóricas e práticas da promoção da saúde. (UNIÓN
INTERNACIONAL DE PROMOCIÓN DE LA SALUD Y EDUCACIÓN PARA LA SALUD, 2007).
Diversos ambientes informacionais têm desenvolvido atividades dessa
natureza, em especial bibliotecas públicas como as bibliotecas de Iowa, Denver, Toronto,
Colorado, Kansas, Missouri, Nebraska, Wyoming, sempre em articulação com bibliotecas
especializadas em Medicina. Destacam-se ainda bibliotecas que atuam em projetos como
da National Network PF Libraries of Medicine, cujo objetivo é o de desenvolver as bases
do trabalho conjunto com as bibliotecas públicas. (CAMPAL GARCÍA; PASTOR MORÀN,
2008).
Por outro lado, é importante ponderar que o desenvolvimento de competências
em informação sobre saúde visa não apenas o acesso à informação, mas também o
processo de apropriação da informação sobre saúde por parte dos sujeitos que, com tal
domínio, poderão agir em favor a ampliação das condições de vida e na adoção de
medidas e comportamentos individuais e coletivos promotores de novas atitudes e
estilos de viver. Assim, o desenvolvimento de competências em informação, em
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quaisquer domínios do conhecimento, sempre se caracterizará como atividade de
mediação da informação, sobre a qual também se deve refletir, visando a efetividade do
processo de apropriação da informação.
4 SOBRE A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES AO
PROTAGONISMO
A mediação da informação se caracteriza como uma ação ligada ao processo de
construção de sentidos que emergem das interações sociais e mediações simbólicas,
entre as quais a mediação linguística ocupa lugar central. Conforme Orozco Gómez
(2000), a mediação é o locus de geração do sentido imanente do processo da
comunicação que se no âmbito de determinada cultura. Por seu lado, lembrando-nos
Bakhtin (1981) de que é exatamente no âmbito da cultura que os signos são construídos,
em especial a partir da tomada de consciência e da capacidade do sujeito desenvolver
sua compreensão com base no substrato semiótico gerado nas relações sociais, na intra
e na intersubjetividade resultantes das relações interpessoais. Mas, o processo de
mediação também se na interrelação de elementos técnicos, humanos, ambientais e
semiológicos que, em articulação, possibilitam a produção e o compartilhamento do
conhecimento. Todos esses elementos também atuam na mediação da informação, que
segundo Gomes (2014, 2016) possui cinco dimensões que precisam nortear esse
processo: dialógica, estética, formativa, ética e política.
A partir de seus estudos Gomes (2014, 2016) formulou essas cinco dimensões
da mediação da informação, defendendo que articuladas e alcançadas tornam a
mediação efetiva e propulsora do protagonismo social. Somente na conjunção das cinco
dimensões a mediação da informação favorece o processo de apropriação da
informação, sem o qual o desenvolvimento do protagonismo pode se retardar,
compreendendo-se que a tomada de posição acerca de qualquer problema ou luta
depende do processo de apropriação da informação, que carrega em si um importante
sustentáculo do processo de conscientização, que é o domínio do conhecimento
associado ao exercício da crítica, por meio do qual teoria e prática se irmanam,
desvendando as particularidades da realidade local, a qual pertence o sujeito que se
pretende protagonista.
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Por ser dependente das práticas de comunicação, por se ocupar da transmissão
cultural, envolvendo os processos de compartilhamento por meio dos quais os sujeitos
podem gerar significações, a mediação da informação envolve uma dimensão dialógica.
O processo dialógico possibilita o encontro e a manifestação entre diferentes
interlocutores. Na mediação consciente, o processo dialógico favorece o exercício da
crítica e a observação mais clara das incompletudes e lacunas dos conhecimentos
estabilizados.
Do exercício da crítica surge a possibilidade do desenvolvimento do
autoconhecimento, que permite o alcance da consciência quanto aos limites e
potencialidades, aumentando a probabilidade do desenvolvimento de estratégias bem
sucedidas de superação e, consequentemente, do encontro com o prazer estético, no
reconhecimento da beleza do conhecimento, da apropriação e da geração do
conhecimento, o que evidencia a dimensão estética da mediação da informação.
Na base desse processo criador localiza-se a ação consciente da busca do
autoconhecimento e da disponibilidade para o encontro com a diversidade e o respeito à
alteridade, o que implica na disposição para conhecer o outro, conhecer o meio e o
contexto, evidenciando a dimensão da ética da mediação da informação.
Por outro lado, considerando que a mediação da informação pode também
representar uma ação de interferência, conforme assinala Almeida Júnior (2009),
observam-se os riscos da relação tênue entre interferência e manipulação. Nesse
sentido, Almeida Júnior (2008, 2009) destaca que a ação mediadora consciente acerca
desses riscos, ainda que não assegure a plena eliminação deles, pode reduzi-los.
A consciência e a competência para interferir evitando a manipulação são
dependentes da conduta ética associada à busca de identificação de sinais que
indiquem o grau de conforto, confiança, cumplicidade e cooperação que se pode
gerar na ação mediadora. (GOMES, 2016, p. 103).
Observando a dimensão ética da mediação da informação, o profissional que a
realiza precisa estar aberto a acolher, ouvir e dialogar com o outro, o implica na sua
capacidade de escuta e observação sensíveis, assim como na adoção de princípios que
inibam a censura e o acesso à informação, em desrespeito à igualdade de direitos e
liberdade de pensamento.
Nas atividades de formação do usuário se evidencia com maior clareza a
dimensão estética, formativa e ética, que devem ser analisadas no planejamento,
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execução e avaliação da mediação da informação. No entanto, de um modo geral as
atividades de mediação da informação guardam um caráter formativo pela forte relação
da mediação com a estética e a ética. Em essência, toda atividade humana acaba por ter
um caráter formativo porque no fazer, no movimento, na ação, em certa medida acaba-
se por inventar ou reinventar as ações e os próprios sujeitos dessas ações.
Toda ação é motivada por experiências e se concretiza na experiência. De
acordo com Larrosa (2002), a experiência é tudo que se vivência, tudo que acontece ao
sujeito, tudo que o toca e o afeta, enfim, o que mobiliza o sujeito. Na experiência o sujeito
se recria e recria o mundo no movimento inerente ao comportamento protagonista,
ressaltando a relevância da dimensão formativa da mediação da informação.
Analisando-se dimensão formativa da mediação da informação com maior
cuidado, observa-se como objetivo implícito dessa mediação o desenvolvimento do
protagonismo social. O processo dialógico torna possível a aproximação entre agentes e
dispositivos de informação, o que coloca ainda em relevo a própria condição de
protagonista do mediador. Este age, constrói e interfere no meio, se caracterizando
como um protagonista social. O mediador da informação também se constitui em sujeito
da estética, da ética e da produção humanizadora do mundo, o que o coloca na condição
de um agente político, cuja ação mediadora também tem, portanto, uma dimensão
política. Assim, na mediação da informação torna-se fundamental a reflexão e a
consciência acerca das dimensões dialógica, estética, formativa, política e ética da
mediação da informação.
A despeito de qualquer tipo de experiência neste sentido, torna-se relevante
observar que nesses contextos, os profissionais da informação e os ambientes
informacionais para atuarem de modo qualificado no desenvolvimento do protagonismo
sócio-informacional em saúde coletiva e os pesquisadores e agentes da saúde coletiva
precisam do estabelecimento de ações cooperativas, considerando também as cinco
dimensões da mediação nomeadas por Gomes (2014, 2016 e 2017) e segundo a autora,
se alcançadas tornam mais efetiva e intensa a medição da informação com condições
promissoras ao desenvolvimento do protagonismo social.
Na concepção, planejamento e execução das atividades de mediação da
informação em saúde a compreensão e consideração do espectro conceitual e das
dimensões da mediação, ampliam a possibilidade de se alcançar resultados de qualidade
ao desenvolvimento do protagonismo social em favor da saúde coletiva.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O protagonismo sócio-informacional na saúde coletiva significa a reação e ação
consciente dos agentes de informação e de saúde, em articulação com os sujeitos sociais
que têm o direito do viver com saúde. Desse modo, pode-se concluir que o protagonismo
sócio-informacional em saúde coletiva se caracteriza como elemento fundante do
processo democrático de construção das bases de humanização do mundo.
O efetivo desenvolvimento desse protagonismo se dá por meio das atividades de
mediação consciente da informação, o que implica no conhecimento do que seja
informação, da sua missão social, das dimensões da mediação e da força dessa ação
também protagonista. A informação, na condição de conhecimento em estado de
compartilhamento, situa-se na base da construção de todos os saberes e culturas, se
caracteriza como substrato e, ao mesmo tempo, produto das partilhas que se efetivam
nas relações sociais, o que a caracteriza como elemento social. Para a saúde coletiva ela é
elemento que, interpretado e significado, torna possível a compreensão da realidade em
saúde de uma população e de suas necessidades, como também, e de modo qualificado,
indica o caminho promissor da saúde assegurada e disseminada democraticamente e em
respeito à alteridade.
Experiências no campo da Ciência da Informação e das Ciências da Saúde têm
sido realizadas em nível mundial, contando com as expertises desses campos, dos
contextos sociais locais e sob a orientação de organizações internacionais e nacionais
comprometidas com a humanização do mundo. No entanto, torna-se relevante o avanço
na compreensão dos pontos de convergência entre essas especialidades, da necessária
articulação e cooperação, considerando as bases conceituais, teóricas e práticas que
envolvem as ações em torno da saúde coletiva e da informação, norteadas especialmente
para o protagonismo social.
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Gomes| Protagonismo sócio-informacional na saúde coletiva
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 3, número especial, nov. 2018 | ISSN 2525-3468
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NOTAS
i
A revisão ortográfica, gramatical e em Língua Portuguesa é de responsabilidade da autora.