DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA E CONTEXTUALIZAÇÃO: experiência com o acervo de
Sebastião Salgado
ARCHIVAL DESCRIPTION AND ITS CONTEXTUALIZATION: experience with the
Sebastião Salgado’s collection
Luciane Paula Vital¹
Jônatas Edison da Silva²
Camilla Pietra Otto³
Sibelly Maria Cavalheiro
4
¹ Doutora em Ciência da Informação (UFSC).
E-mail: luciane.vital@ufsc.br.
² Graduando em Arquivologia (UFSC).
E-mail: jonatasedison97@gmail.com.
³ Graduanda em Arquivologia (UFSC).
E-mail: camillaotto12@gmail.com.
4
Graduanda em Arquivologia (UFSC).
E-mail: sibellym17@gmail.com.
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma
Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional.
Conflito de interesses: Os autores declaram
que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados:
Todos os dados relevantes estão disponíveis
neste artigo.
Recebido em: 12/12/2018.
Aceito em: 06/02/2019.
Revisado em: 06/05/2019.
Como citar este artigo:
VITAL, Luciane Paula; SILVA, Jônatas Edison da;
OTTO, Camilla Pietra; CAVALHEIRO, Sibelly
Maria. Descrição arquivística e contextualização:
experiência com o acervo de Sebastião Salgado.
Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 1, p.
29-47, jan./jun. 2019. DOI:
https://doi.org/10.32810/2525-
3468.ip.v4i1.2019.39919.29-47.
RESUMO
A organização do conhecimento em arquivos
está centrada, especialmente, nas atividades de
classificação e descrição arquivísticas. Esse é um
processo que consiste na análise, síntese e
representação dos conjuntos documentais,
objetivando controle e acesso. Esse relato de
experiência discute a importância da
contextualização nesse processo. Partindo de
exercícios práticos realizados no âmbito da
disciplina de Descrição Arquivística, são
apresentadas as pesquisas necessárias para que
a documentação fosse compreendida e
permitisse que a representação fosse feita.
Configura-se em um relato de experiência
desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica
e documental. Os documentos analisados e
descritos constituem o acervo digital do
fotógrafo Sebastião Salgado, o qual desenvolve
um trabalho fotográfico que busca suscitar
inquietações, com notório reconhecimento
internacional. Conclui que a pesquisa, visando à
contextualização, é fundamental no processo de
descrição arquivística, essa necessidade é
potencializada quando tratamos de fotografias,
que apresentam um grau mais elevado de
subjetividade.
Palavras-chave: Descrição Arquivística.
Fotografia. Sebastião Salgado. Relato de
experiência.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 1
jan./jun. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i1.2019.39919.29-47
30
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
ABSTRACT
The knowledge organization in archives is
centered, especially, in the activities of
classification and archival description. This is a
process that consists of the analysis, synthesis
and representation of the documentary sets
aiming at control and access. This experience
report discusses the importance of
contextualization in this process. Starting from
practical exercises carried out within the
discipline of Archival Description, the necessary
research is presented so that the documentation
is understood and allows the representation to
be made. It is configured in an experience report
developed through bibliographical and
documentary research. The documents analyzed
and described constitute the digital collection of
the photographer called Sebastião Salgado, who
develops a photographic work that seeks to
arouse concern, with international recognition.
It concludes that research, aiming at
contextualization, is fundamental in the process
of archival description, this need is potentialized
when we deal with photographs, which present
a higher degree of subjectivity.
Keywords: Archival Description. Photographs.
Sebastião Salgado. Experience account.
1 INTRODUÇÃO
A organização e a representação da informação se constituem em atividades
nucleares nas profissões que tratam da informação. A análise e a síntese da informação
são atividades intelectuais que, para serem desenvolvidas, necessitam que o conteúdo e
a área do conhecimento sejam compreendidos. É a partir dessas atividades que se torna
possível a construção de um fio condutor na representação e classificação da
informação, com vistas à recuperação. Os arquivos m como objeto de análise os
documentos, agrupados em fundos, que preservam a autenticidade e o valor de prova da
documentação. Nesse contexto, os processos de organização e representação da
informação centram-se nas atividades de descrição e classificação arquivística. Partindo
da Classificação Arquivística, estrutura-se a organização física e lógica dos conjuntos
documentais, que permitem que a descrição ocorra, esta entendida como um processo
de análise, síntese e representação da informação, compartilha bases teóricas e
metodológicas com outras áreas do conhecimento, como a Biblioteconomia, por
exemplo. Porém, os documentos arquivísticos apresentam características específicas,
como a proveniência e organicidade, que precisam ser consideradas nesses processos.
Proveniência refere-se à origem do documento (órgão produtor), a organicidade é a
relação que os documentos mantêm com as atividades e funções que os geraram.
Partimos do pressuposto de que os documentos são derivados de ações humanas
contextualizadas no tempo e espaço, logo, a sua representação também precisa
explicitar essa contextualização.
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
31
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
A produção documental é uma criação humana, sua representação também o é, e
o arquivista a desenvolve partindo do conhecimento de contexto e desenvolve um
enredo que corresponda aos objetivos pelos quais está sendo criado. Thomassen (2006,
p. 10) identifica diferentes contextos que influenciam esse processo:
Os fatores ambientais que determinam diretamente os conteúdos, formas e
estrutura dos registros, podem ser diferenciados em contexto de proveniência,
contexto administrativo e contexto de uso. Esses fatores são, cada um a seu
tempo, determinados pelos contextos sociopolítico, cultural e econômico.
Ou seja, esses fatores permeiam e interferem nas representações desenvolvidas,
criando possibilidades limitadas, que podem e devem ser continuamente ampliadas para
abranger diferentes vozes.
Assim, a organização e a representação da informação precisam considerar os
fatores ambientais e, consequentemente, seus contextos ao desenvolver seus processos,
para, na medida do possível, não descontextualizar e/ou ocultar informações essenciais
para o entendimento da documentação. Desse modo, este trabalho tem como objetivo
evidenciar a importância da contextualização na descrição arquivística, por meio de
relato de experiência. A caracterização desse processo será pautada na descrição dos
documentos produzidos pelo fotógrafo Sebastião Salgado no curso de sua trajetória
profissional, utilizados neste estudo para fins didáticos e considerados componentes de
seu arquivo pessoal.
2 DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA
A descrição arquivística, em seu sentido mais amplo, caracteriza-se por ser uma
atividade que visa representar conjuntos documentais em arquivos, identificando e
explicando o contexto de produção, conteúdo e características inerentes aos
documentos, a fim de facilitar a localização e o acesso. Heredia Herrera (1991, p. 299-
300) afirma que a descrição “es el análisis realizado por el archivero sobre los fondos y
los documentos de archivo agrupados natural o artificialmente, a fin de sintetizar y
condensar la información en ellos contenida para oferecerla a los interesados.” O
conceito de descrição arquivística também é dado pelo Conselho Internacional de
Arquivos (2000, p. 4) como:
32
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
A elaboração de uma acurada representação de uma unidade de descrição e
suas partes componentes, caso existam, por meio da extração, análise,
organização e registro de informação que sirva para identificar, gerir, localizar
e explicar documentos de arquivo e o contexto e o sistema de arquivo que os
produziu.
Por ser uma função arquivística, ao ser aplicada, deve respeitar princípios
amplamente aceitos pela área, como o princípio da proveniência, no qual “o arquivo
produzido por uma entidade coletiva, pessoa ou família não deve ser misturado aos de
outras entidades produtoras” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 136), ou seja, documentos
de um mesmo produtor devem ser mantidos agrupados. Além da proveniência, outro
princípio que precisa ser considerado na descrição é o da organicidade, que trata da
“relação natural entre documentos de um arquivo em decorrência das atividades da
entidade produtora.” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 127).
A descrição arquivística segue algumas regras que foram definidas no
desenvolvimento da Norma Internacional - ISAD (G) - e que foram adotadas, também, na
Norma Brasileira (NOBRADE), conforme seguem:
(1) Descrição do geral para o particular com o objetivo de representar o
contexto e a estrutura hierárquica do fundo e suas partes componentes; (2)
Informação relevante para o nível de descrição com o objetivo de representar
com rigor o contexto e o conteúdo da unidade de descrição; (3) Relação entre
descrições com o objetivo de explicitar a posição da unidade de descrição na
hierarquia; (4) o repetição da informação com o objetivo de evitar
redundância de informação em descrições hierarquicamente relacionadas.
(NOBRADE, 2006, p. 10-11).
Essas regras buscam atender aos princípios da área citados anteriormente,
criando os níveis, que são definidos pelo contexto da instituição e têm como base o plano
de classificação, que se relacionam entre si demonstrando a organicidade do conjunto
documental.
Para que a função de descrição seja desenvolvida, é necessário um trabalho de
pesquisa, realizado pelo arquivista, para reunir informações que podem ir além das
registradas e reconhecidas nos documentos. Oliveira (2012) desenvolveu uma tese em
que argumenta que a descrição é uma função de pesquisa, ou seja, para que se criem
representações dos conjuntos documentais é preciso buscar respaldo em fontes de
informações diversas. A autora trata do contexto de um arquivo pessoal, que também é o
deste estudo, documentos produzidos por uma pessoa física, mas demonstrando que a
pesquisa pode ser aplicada a outros contextos. Assim, para que seja possível
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
33
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
compreender a produção e o conteúdo dos documentos, é preciso compreender,
também, o contexto político, histórico, social e econômico nos quais estavam e estão
inseridos.
A descrição arquivística é regida por normas que orientam e facilitam seu
desenvolvimento. As normas, em geral, propõem-se a atender as necessidades díspares
dos diferentes usuários” (FOX, 2007, p. 27), por meio delas é possível obter uma
padronização na execução dessa atividade a fim de melhorar a eficiência do trabalho.
A primeira norma de descrição, a Norma Geral Internacional (ISAD (g)), aprovada
em 2000, estabelece diretrizes gerais para o desenvolvimento de descrições
arquivísticas. Deve ser usada em conjunção com as normas nacionais existentes ou como
base para a sua criação (ISAD (G), 2000, p. 11). Baseia-se por princípios teóricos aceitos
e possui regras para aplicação da descrição. A descrição deve ser feita a partir de níveis,
e os citados nas normas são: fundo, seção, série, dossiê e item documental, podendo
estes serem subdivididos dependendo das características do acervo em questão. A
norma estrutura-se em sete áreas que englobam as informações consideradas
fundamentais na elaboração das descrições, são elas:
1. Área de identificação (destinada à informação essencial para identificar a
unidade de descrição); 2. Área de contextualização (destinada à informação
sobre a origem e custódia da unidade de descrição); 3. Área de conteúdo e
estrutura (destinada à informação sobre o assunto e organização da unidade de
descrição); 4. Área de condições de acesso e de uso (destinada à informação
sobre a acessibilidade da unidade de descrição); 5. Área de fontes relacionadas
(destinada à informação sobre fontes com uma relação importante com a
unidade de descrição); 6. Área de notas (destinada à informação especializada
ou a qualquer outra informação que não possa ser incluída em nenhuma das
outras áreas); 7. Área de controle da descrição (destinada à informação sobre
como, quando e por quem a descrição arquivística foi elaborada). (ISAD (g),
2000, p. 12-13).
A NOBRADE - Norma Brasileira de Descrição Arquivística -, que atende às
necessidades descritivas brasileiras, consiste na adaptação da ISAD (G):
Estabelece diretivas para a descrição no Brasil de documentos arquivísticos,
compatíveis com as normas internacionais em vigor ISAD (G) e ISAAR (CPF), e
tem em vista facilitar o acesso e o intercâmbio de informações em âmbito
nacional e internacional. Embora voltada preferencialmente para a descrição de
documentos em fase permanente, pode também ser aplicada à descrição em
fases corrente e intermediária. (NOBRADE, 2006, p. 10).
34
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
A norma estrutura-se também em oito áreas, sete delas são as apresentadas na
ISAD (G), porém, com a inclusão da oitava, destinada a pontos de acesso e indexação de
assuntos.
As normas de descrição criam importantes elementos e padrões a serem
considerados na atividade, porém, seu desenvolvimento não fica dependendo
exclusivamente das normas técnicas. A representação de documentos arquivísticos
pressupõe o conhecimento do contexto de proveniência dos conjuntos documentais,
como citamos, para que o processo tenha uma significação mais completa. Segundo
Oliveira (2012, p. 45), “o contexto de proveniência explicita a estrutura do arquivo, as
funções exercidas pelo produtor do arquivo e as atividades desenvolvidas pelo mesmo”,
assim como desenvolvido neste trabalho. Além disso, a autora traz também dois outros
tipos de contextos: o administrativo, que trata da acumulação dos documentos pelo
titular do arquivo, e o contexto de uso, que trata do usuário e da utilização dos
documentos de arquivo. Assim, o trabalho de pesquisa do contexto arquivístico mostra-
se fundamental para “decisões metodológicas quanto ao arranjo e sua estrutura interna;
ao programa descritivo a ser adotado; às políticas de acesso e de reprodução; à política
de preservação; e, inclusive, assegura a autenticidade dos documentos de arquivo.
(OLIVEIRA, 2012, p. 46).
3 METODOLOGIA
Este trabalho configura-se em um relato de experiência. Para atingir o objetivo
proposto, a saber, evidenciar a importância da contextualização na descrição
arquivística, foram realizadas pesquisas bibliográfica e documental em seu
desenvolvimento.
A pesquisa bibliográfica compreendeu textos, artigos e livros que tratavam da
vida e obra de Sebastião Salgado. Foi realizada uma busca na base de dados do Google e
Google Acadêmico visando identificar materiais sobre a vida e obra do produtor. Foi
escolhida a base do Google pelo fato das pesquisas sobre Sebastião serem desenvolvidas
em diferentes áreas do conhecimento; a delimitação de uma área fecharia outras
possibilidades. Da mesma forma, para essa contextualização, que dará a base para a
descrição arquivística, foram importantes livros biográficos e/ou reportagens
jornalísticas que tratavam da vida e obra do autor.
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
35
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
a pesquisa documental foi realizada na base de dados disponibilizada no site
oficial do fotógrafo
1
, aqui considerada, para fins didáticos, o arquivo pessoal digital
analisado e descrito, de acordo com a NOBRADE.
A descrição arquivística é desenvolvida a partir da classificação, assim,
consideramos a estrutura da figura 1 para o desenvolvimento da representação deste
fundo documental:
Figura 1 Exemplificação dos níveis de descrição desenvolvidos.
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).
A estrutura do fundo documental Sebastião Salgado foi dividida em duas séries:
Trabalhos e Livros. Será especificada a série ‘Trabalhos’, composta por oito dossiês:
Gênesis, Retratos, Café, Pólio, Êxodos, Trabalhadores, Sahel e América Latina. Em cada
um dos dossiês, inúmeras fotografias foram produzidas que, no contexto da descrição,
constituem-se em itens documentais.
Na próxima seção, serão apresentadas as análises divididas em duas partes:
biografia do fotógrafo, resultado da pesquisa bibliográfica realizada, e as descrições do
1
Disponível em: https://www.amazonasimages.com. Acesso em: 02 out. 2018.
36
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
fundo Sebastião Salgado e de um item documental pertencente ao dossiê ‘Café’, que
ilustram a importância da contextualização.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
A análise e discussão estão divididas em biografia e descrições arquivísticas do
fundo e do item documental. A biografia possibilita a compreensão do contexto de
produção da documentação, possibilitando o desenvolvimento da segunda parte: as
descrições.
4.1 Sebastião Salgado: Breve Biografia
A partir da pesquisa realizada no Google, e com informações do site oficial do
fotógrafo, foi possível remontar sua trajetória, que é apresentada aqui. Em 04 de março
de 1944 nasceu um dos mais renomados fotógrafos brasileiros, Sebastião Ribeiro
Salgado Júnior ou, como é mais conhecido, Sebastião Salgado. O fotógrafo nasceu no
município de Aimoré, Estado de Minas Gerais, na fazenda de sua família, situada no Vale
do Rio Doce. Sebastião passou boa parte da infância junto da família, o pai era
farmacêutico antes de se dedicar à vida na fazenda (VERAS; LABOREIRO; PEREIRA,
2016). O fotógrafo viveu no Estado mineiro até os 15 anos, mudou-se para Vitória,
Espírito Santo, onde concluiu o ensino médio. Nesse mesmo Estado se formou, em 1967,
em Economia, pela Universidade Federal do Espírito Santo, casando-se, em seguida, com
sua esposa Lélia Deluiz Wanick (FORMOLO, 2018). Fez uma pós-graduação em 1968 na
Universidade de São Paulo (USP).
Sebastião e Lélia Salgado sempre foram atuantes na política, principalmente nos
partidos de esquerda. Juntos participaram de movimentos contra a Ditadura Militar, por
exemplo. Foi no meio da repressão política que o país estava vivendo, sem liberdade de
expressão, que os dois decidiram se mudar para Paris. Lá, Sebastião passa a se dedicar
ao doutorado em Ciências Econômicas na Université Paris, e sua esposa se matricula no
curso de Arquitetura e Urbanismo na École Nationale Superieure des Beaux Arts, na
Universidade de Paris VIII. Na França tiveram dois filhos, Juliano Ribeiro Salgado, que
nasceu em 1974, e em 1979, Rodrigo Salgado. É importante mencionar que Juliano
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
37
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
participou da direção do documentário Sal da Terra”, que conta a história de vida de
seu pai (FORMOLO, 2018).
No ano de 1970, Sebastião começa a ter as suas primeiras aproximações com a
fotografia quando, em um passeio por Menthonnex-sous-Clermont, próximo de Annecy,
localizado no sudeste da França, compra uma máquina fotográfica para ser usada nos
trabalhos de faculdade de Lélia, pois precisava registrar algumas edificações. Essa
viagem promoveu o contato maior de Sebastião com a fotografia, que, na época, tinha 29
anos, e o levou, em comum acordo com a sua esposa, a iniciar sua carreira como
fotógrafo profissional.
No início da carreira, passou por duas agências: em 1973 na agência Sygma, onde
ficou por um ano, e em 1974 ingressou na Gamma, agência fotográfica francesa, onde
permaneceu por cinco anos. Em 1979, com experiências nessas duas agências, Salgado
trabalhou na agência Magnun, na qual permaneceu por 15 anos (ALMEIDA; DURO;
LOGIUDICE, 2016). Sua primeira sessão fotográfica foi com a sua esposa Lélia; contudo, a
fotografia que deu visibilidade ao artista foi a da campanha “La terre est à tous(A terra
é de todos), de 1973, e essa obra ficou exposta em igrejas na França, ganhando
visibilidade.
Sebastião se interessa pelo lado humano e os aspectos que norteiam o homem,
principalmente as desigualdades e as minorias, e isso se reflete na sua produção
fotográfica (LUTZ, 2010). Na África, fotografou o sofrimento causado pela fome, bem
como os conflitos regionais, de forma real e impactante. Dedicou-se ao continente
europeu, mas também à América Latina, que é registrada por suas lentes, inicialmente,
em 1977. Suas fotografias são em preto e branco, pois, segundo o fotógrafo, é uma
técnica para atrair o real objetivo do retrato, no sentido de que a ausência de cor
permite sua abstração. Assim, a fotografia leva uma mensagem de ausência de
informação, ou seja, o ponto da foto é o impacto daquele contexto que está sendo
fotografado (ALBORNOZ, 2005). Em 1981, enquanto trabalhava no The New York Times,
Salgado teve um grande destaque fazendo o registro em posição privilegiada do
atentado sofrido pelo presidente americano Ronald Reagan, em Washington. As fotos
tiradas nesse atentado foram vendidas para diversos meios de comunicação do mundo
inteiro, tornando o trabalho de Sebastião Salgado mundialmente conhecido.
A partir disso, sua carreira deslanchou e, em 1986, com o trabalho Sahel, na
África, que ilustra as consequências da seca na vida daquela população, Salgado ganhou
38
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
o prêmio de melhor reportagem humanitária do ano: o Oskar Barnack, da World Press
Photo, na Holanda. Ainda em 1986 lançou uma obra com o tema ‘Outras Américas’, que
engloba México, Peru, Brasil, Equador e Bolívia, retratando os povos indígenas da
América Latina, a qual levou sete anos para ser concluída (ALBORNOZ, 2005). Em
meados de 1993, na Europa e nos Estados Unidos, lançou mais um trabalho, nomeado
‘Trabalhadores: uma arqueologia da era industrial’, refletindo sobre o trabalho manual.
Em 1994, juntamente com a sua esposa, lançou o site Amazonas Images, que apresenta
os principais fatos de sua trajetória profissional e amostras de suas obras (MARIUZZO,
2014).
Sebastião e Lélia estão atentos, também, às questões ambientais. Em decorrência
disso, em 1998, criaram o Instituto Terra. O instituto foi fundado na região de Aimorés,
Minas Gerais, essa região tem um valor sentimental ao fotógrafo, pois foi o local onde
nasceu a Fazenda Bulcão, na qual o Instituto Terra está localizado. São as terras que o
pai deixou a ele. Quando iniciaram esse projeto, as terras da fazenda estavam em uma
situação crítica, com uma grande degradação ambiental. A proposta foi de promover a
regeneração da mata original, assegurando um desenvolvimento sustentável e
promovendo um monitoramento da floresta (CLAUDIO, 2008). Em 2012 concluiu seu
trabalho nomeado ‘Gênese’, que mostra uma nova face do trabalho de Salgado, em um
processo que ele idealizou para a região brasileira onde nasceu, em que retrata
diferentes lugares do mundo praticamente intocáveis e homens em conexão com a
natureza.
4.2 Descrições Arquivísticas: Fundo e Item Documental
As descrições foram realizadas tendo como base a NOBRADE, que atua como um
instrumento normativo e fornece orientações e recomendações para o desenvolvimento
da atividade de descrição arquivística no contexto brasileiro. A norma é composta por
oito áreas, apresentadas na seção 2 deste artigo, quais sejam: área de identificação;
área de contextualização; área de conteúdo e estrutura; área de condições de acesso e
uso; área de fontes relacionadas; área de notas; área de controle da descrição; e, por fim,
área de pontos de acesso e indexação de assuntos.
A segunda área (contextualização) torna-se fundamental para o desenvolvimento
das demais. Essa área é dividida em quatro elementos: nome(s) do(s) produtor(s);
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
39
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
história administrativa/biografia; história arquivística; e procedência. É especialmente
nessa área que o responsável pela descrição precisa entender o conjunto documental,
buscando informações e referências que auxiliem na compreensão do contexto mais
amplo de produção documental. Ainda nessa área pode-se fazer uma analogia da
atividade de descrição com a atividade de pesquisa, pois é preciso investigar, buscando
elementos que permitam a compreensão do contexto que levou o produtor ao
desenvolvimento e registro das informações.
No desenvolvimento da descrição do arquivo pessoal de Sebastião Salgado, a
pesquisa foi fundamental para compreendermos a sua obra, haja vista que a vida
profissional e pessoal do fotógrafo estão imbricadas, não sendo possível uma clara
distinção entre ambas.
A descrição do fundo denominado Sebastião Salgado (Descrição 1), a seguir, é o
nível de descrição em que a contextualização é fundamental e, nesse nível, são
apresentadas informações referentes ao contexto do produtor e da criação dos
documentos. Assim, a área 2, contextualização, foi desenvolvida com base na pesquisa
bibliográfica, reconstruindo a biografia do fotógrafo e possibilitando entender como,
quando e por que os dossiês foram produzidos. Os elementos em branco indicam que
não se apresentavam informações pertinentes nas fontes utilizadas.
Descrição 1: Fundo Sebastião Salgado
Nível Fundo
1 Área de identificação
1.1 Código de referência: BR SCUFSC SS
1.2 Título: Sebastião Salgado
1.3 Data (s): 1944
1.4 Nível de descrição: (1) Fundo
1.5 Dimensão e suporte: Bibliográficos e Iconográficos
2 Área de contextualização
2.1 Nome(s) do(s) produtor(es): Sebastião Ribeiro Salgado Júnior
40
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
2.2 História administrativa/biografia: Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 8 de
fevereiro de 1944, no município de Aimorés, Minas Gerais (Brasil), filho de pecuaristas, é
o único homem de sete irmãs. Passou parte de sua juventude em Vitória, Espírito Santo.
Formou, em 1967, em Economia, pela Universidade Federal do Espírito Santos, no dia
seguinte da sua graduação se casou com sua esposa e Lélia Deluiz Wanick, que é
arquiteta e pianista. Sebastião e Lélia se engajaram no movimento de esquerda contra a
Ditadura Militar e eram amigos de amigos do líder estudantil e revolucionário Carlos
Marighella. Como economista, ele trabalhou no Ministério da Economia no Brasil, em
1968. Devido às perseguições políticas empreendidas pela Ditadura Militar, ele foi
obrigado a buscar exílio político em Paris, em 1969. Em Paris, Sebastião passa a se
dedicar ao doutorado em Ciências Econômicas na Université Paris, e sua esposa ao curso
de Arquitetura e Urbanismo na École Nationale Superieure des Beaux Arts, na
Universidade de Paris VIII. Sebastião Salgado possui dupla nacionalidade: brasileira e
francesa. De 1971 a 1973, o casal troca a capital francesa por Londres, onde Sebastião
Ribeiro Salgado trabalhou como secretário da Organização Internacional do Café e, por
meio deste trabalho, decidiu se dedicar à fotografia, quando coordenava um projeto
sobre a cultura do café, em Angola. Em 1973, com 29 anos, em uma viagem à África,
levando consigo uma máquina fotográfica de sua esposa, ele teve seu encontro definitivo
com a fotografia. Sebastião descobre no trabalho fotográfico a melhor forma de
enfrentar os acontecimentos planetários, principalmente em seus aspectos econômicos.
Salgado e sua esposa Lélia Wanick Salgado, autora do projeto gráfico da maioria de seus
livros, vivem atualmente em Paris. Em 1975 transferiu-se para a agência Gamma, com
sede na França, iniciando a documentação que o tornaria mundialmente conhecido:
sobre as condições de vida dos camponeses e índios latino-americanos. Em 1994,
juntamente com sua esposa, fundou a agência de imprensa fotográfica Amazonas
Images, exclusivamente devotada ao seu trabalho (que abrange viagens a mais de 100
países para projetos fotográficos). Em 1998 criaram o Instituto Terra, que tem como
missão a restauração da floresta, pesquisa e monitoramento, educação ambiental e
desenvolvimento sustentável. Em 2004 começou o projeto Gênesis, série de fotografias
de paisagens, da fauna, da flora e de comunidades humanas vivendo exclusivamente
dentro de suas tradições e culturas ancestrais. Este trabalho é concebido como uma
pesquisa sobre a natureza ainda em seu estado original. Livros publicados: Outras
Américas (1986); Sahel, l’Homme en détresse (1986); Trabalhadores (1993); Terra
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
41
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
(1997); Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo (2000); e África (2007). Exposições
itinerantes destes trabalhos foram e continuam a ser apresentadas internacionalmente.
Sebastião Salgado recebeu inúmeros prêmios, dentre os quais se destaca o de
Embaixador de Boa-Vontade para o UNICEF, e é membro honorário da Academy of Arts
and Science dos Estados Unidos.
2.3 História arquivística: Produtor: Sebastião Salgado;
Natureza jurídica: privada;
Forma de acumulação: fundo;
A plataforma fotográfica Amazonas Images é a custodiadora do acervo desde 1994, o
qual foi criado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa Lélia Wanick Salgado.
2.4 Procedência: Os documentos foram organizados pelo produtor e sua família. A partir
de 1994 a agência Amazonas Images passou a organizar e estruturar as fotografias com
o intuito de disponibilizá-las ao público.
3 Área de conteúdo e estrutura
3.1 Âmbito e conteúdo: A documentação é composta por fotografias tiradas por
Sebastião Salgado no decorrer de sua carreira como fotógrafo. Seu trabalho busca
apresentar as imagens sob uma perspectiva crítica, que visa provocar o público, dar-lhe
matéria-prima para pensar e repensar questões sociais. Busca que suas obras causem
impacto, comovendo o público e o convidando para sair da zona de conforto, pois, para
ele, a arte tem que levar a engajamentos e lutas. As fotografias podem e devem ajudar a
transformar o mundo em um lugar mais conectado.
3.2 Avaliação, eliminação e temporalidade: Documentação Permanente.
3.3 Incorporações: Algumas subséries podem receber novos documentos de acordo com
a produção, encontram-se abertas.
3.4 Sistema de arranjo: O fundo apresenta a seguinte forma de organização: 2 (duas)
séries: trabalhos e livros, sendo que a série trabalho é dividida em 8 (oito) dossiês e 1
(um) item documental. Está organizado de forma cronológica.
4 Área de condições de acesso e uso
4.1 Condições de acesso: Sem restrições de acesso.
42
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
4.2 Condições de reprodução: Com restrições, documentos apresentam direitos autorais.
4.3 Idioma: Português, Inglês e Francês.
4.4 Características físicas e requisitos técnicos: A série ‘Fotografias’ é composta por
imagens que se encontram digitalizadas e disponibilizadas online. a série ‘Livros’ é
apresentada no meio digital somente com as capas das publicações, sem acesso na
íntegra, respeitando os direitos autorais.
4.5 Instrumentos de pesquisa:
5 Área de fontes relacionadas
5.1 Existência e localização dos originais:
5.2 Existência e localização de cópias:
5.3 Unidades de descrição relacionadas:
5.4 Nota sobre publicação: LUTZ, Mayara Santos. A imagem fotográfica como
instrumento de pesquisa. 2010. 94 f. Trabalho de Conclusão de curso (Bacharelado em
Serviço Social) Departamento de Serviço Social, Centro Socioeconômico, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.
6 Área de notas
6.1 Notas sobre conservação: Documentos fotográficos em bom estado de conservação
6.2 Notas gerais:
7 Área de controle da descrição
7.1 Nota do arquivista: Arranjo: Amazonas Imagens.
Responsável pela descrição: Estudantes do curso de graduação em Arquivologia.
Fontes consultadas para descrição: AMAZONAS IMAGENS. Disponível em:
https://www.amazonasimagens.com. Acesso em: 02 out. 2018.
7.2 Regras ou convenções:
BRASIL. Conselho Nacional de Arquivos. NOBRADE: Norma Brasileira de Descrição
Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2006. 123 p.
7.3 Data(s) da(s) descrição(es): Setembro de 2018.
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
43
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
8 Área de pontos de acesso e indexação de assunto
8.1 Pontos de acesso e indexação de assunto: Sebastião Salgado. Sebastião Ribeiro
Salgado Junior. Lélia Wanick Salgado. Fotografia.
Após a descrição do fundo, seguindo a regra de descrição do geral para o
específico, foram descritos os níveis Série (Trabalhos) e Dossiê (Café), para então
chegarmos ao item documental, que será apresentado a seguir.
Na descrição do item documental, no caso do fundo Sebastião Salgado, por se
tratar de fotografia, foi fundamental entender o contexto antes de representá-la. As
informações fornecidas pela imagem, por si só, não foram suficientes para uma
descrição completa.
Figura 2 Item documental.
Fonte: Amazonas Images (2018).
O dossiê intitulado ‘Café’ é um dos trabalhos mais expressivos de Sebastião
Salgado. Para a sua realização, o autor conheceu diferentes regiões, dentro e fora do
Brasil, ligadas à produção desse grão. Este trabalho foi realizado entre os anos de 2002 a
2007. A figura 2 mostra uma fotografia que compõe o dossiê, tirada no Estado de Minas
Gerais - Brasil no começo do trabalho -, em seguida, esteve em países como Índia e
Etiópia e na América do Sul, na Colômbia. No site Amazonas Images o portfólio conta
com onze imagens que retratam não somente as regiões que Sebastião esteve, mas
também a produção de café, o trabalho, os instrumentos e o ser humano nesse contexto.
A seguir, a descrição 2 apresenta um item documental (figura 2), de acordo com
as áreas da NOBRADE:
44
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
Descrição 2: Descrição do item documental
Nível item documental
1 Área de identificação
1.1 Código de referência: BR SCUFSC SS T CF 1
1.2 Título: Cultivo do café
1.3 Data(s): 2002, Minas Gerais
1.4 Nível de descrição: (5) item documental
1.5 Dimensão e suporte: Iconográfico, fotografia digital, preto e branco, JPEG.
2 Área de contextualização
2.1 Nome(s) do(s) produtor(es): Sebastião Ribeiro Salgado Junior
2.2 História administrativa/biografia:
2.3 História arquivística:
2.4 Procedência:
3 Área de conteúdo e estrutura
3.1 Âmbito e conteúdo: De 2002 a 2007 o autor realizou um trabalho em diversas
regiões, retratando a produção de café. A fotografia foi tirada no ano de 2002, na Região
de Congresso, localizada em Minas Gerais, Brasil. A foto faz parte do portfólio Café, no
qual mostra a forma de produção e cultivo do café. A foto reflete uma região rural de
Minas Gerais, com bastantes plantações e montanhas, na qual, ao centro, um
cafeicultor peneirando o café, ao lado se encontra um homem colhendo o café, e a foto
apresenta três homens, sendo um no café e outro peneirando.
3.2 Avaliação, eliminação e temporalidade:
3.3 Incorporações:
3.4 Sistema de arranjo:
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
45
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
4 Área de condições de acesso e uso
4.1 Condições de acesso:
4.2 Condições de reprodução:
4.3 Idioma:
4.4 Características físicas e requisitos técnicos:
4.5 Instrumentos de pesquisa:
5 Área de fontes relacionadas
5.1 Existência e localização dos originais:
5.2 Existência e localização de cópias:
5.3 Unidades de descrição relacionadas:
5.4 Nota sobre publicação:
REVERTE, Javier. As voltas ao mundo do café com o fotógrafo Sebastião Salgado. El País,
São Paulo, 6 set. 2015. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/03/cultura/1441291038_235734.html.
Acesso em: 19 out. 2018.
6 Área de notas
6.1 Notas sobre conservação:
6.2 Notas gerais:
7 Área de controle da descrição
7.1 Nota do arquivista: Estudantes do curso de graduação em Arquivologia.
7.2 Regras ou convenções:
BRASIL. Conselho Nacional de Arquivos. NOBRADE: Norma Brasileira de Descrição
Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2006. 123 p.
7.3 Data(s) da(s) descrição(es): 16 de outubro de 2018.
46
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
8 Área de pontos de acesso e indexação de assunto
8.1 Pontos de acesso e indexação de assunto: Brasil. Minas Gerais. Café. Plantação de
café. Cafeicultores. Fazenda de Café.
As áreas e elementos deixados em branco dizem respeito a informações que não
são pertinentes a esse nível de descrição e/ou foram descritos em veis anteriores
(fundo, série, dossiê, por exemplo).
5 CONCLUSÃO
Este relato de experiência objetivou demonstrar a importância da
contextualização no processo de descrição arquivística. Para isso, foi realizada uma
experiência com o denominado Fundo Sebastião Salgado, a partir do site da agência
Amazonas Images, mantida pelo fotógrafo e, nessa prática, considerada seu arquivo
pessoal. Verificou-se que a pesquisa bibliográfica e documental realizada antes da
descrição do conjunto documental foi primordial para fornecer elementos de análise,
que possibilitaram compreender a construção desses documentos. Especialmente em
fotografias, a explicitação do contexto de criação fornece elementos de significação, que
interferem, qualificando, a representação da informação. O trabalho do fotógrafo
Sebastião Salgado é imbricado com os eventos de sua vida pessoal, deixando explícita a
necessidade de conhecer sua vida para compreender a sua obra.
A descrição arquivística, por ser desenvolvida em níveis, do geral para o
específico, apresenta a necessidade de construção do contexto para a representação
dos itens documentais. Porém, quanto melhor e mais profunda forem a pesquisa e a
análise, mais significativa será a representação da informação.
Frisamos, por fim, que este trabalho se constitui em um exercício prático no
contexto da disciplina de Descrição Arquivística, em que foram feitas adaptações para a
realização da representação com o conjunto de documentos escolhidos.
REFERÊNCIAS
ALBORNOZ, Carla Victoria. Sebastião Salgado:
o problema da ética e da estética na
Fotografia Humanista. Contemporânea:
Revista de Comunicação e Cultura, Rio de
Janeiro, n. 4, p.93-103, 2005. Disponível em:
http://www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_
Vital; Silva; Otto; Cavalheiro | Descrição arquivística e contextualização
47
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. 1, jan./jun. 2019 | ISSN 2525-3468
04/contemporanea_n04_09_CarlaVictoria.pd
f. Acesso em: 13 nov. 2018.
ALMEIDA, Débora Sagrado de; DURO,
Lethicia Placco; LOGIUDICE, Rafael Furlan.
Por trás da fotografia de Sebastião Salgado:
Uma análise semiótica. Conexão
Eletrônica, Três Lagos, MS, v. 13, n. 1, p.1-9,
2016.
ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário
Brasileiro de Terminologia Arquivística.
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.
Disponível em:
http://www.arquivonacional.gov.br/image
s/pdf/Dicion_Term_Arquiv.pdf. Acesso em:
13 nov. 2018
CLÁUDIO, Ana Luiza de Abreu. Êxodos e as
migrações contemporâneas: um estudo
sobre o discurso fotográfico de Sebastião
Salgado. 2008. 114 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências Sociais Aplicadas) -
Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Seropédica, 2008.
CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS.
ISAD(G): Norma Internacional de Descrição
Arquivística. 2. ed. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 2000. (Publicações técnicas, n. 49).
Disponível em:
http://conarq.arquivonacional.gov.br/image
s/publicacoes_textos/isad_g_2001.pdf.
Acesso em: 09 nov. 2018.
CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS
(Brasil). NOBRADE: Norma Brasileira de
Descrição Arquivística. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional, 2006. Disponível em:
http://conarq.arquivonacional.gov.br/image
s/publicacoes_textos/nobrade.pdf. Acesso
em: 09 nov. 2018.
FORMOLO, Deise. Uma história visual da
luta pela terra: Porto Alegre, Praça da
Matriz, 1990. 2018. 279 f. Dissertação
(Mestrado) Programa de Pós-Graduação
em História, Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2018.
FOX, Michael. Por que precisamos de normas.
Acervo, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1-2, p. 23-30,
jan./dez. 2007. Disponível em:
http://revista.arquivonacional.gov.br/index.
php/revistaacervo/article/view/68/68.
Acesso em: 10 out. 2018.
HEREDIA HERRERA, Antonia. Archivística
general: teoría y práctica. 5. ed. Sevilla:
Gráficas del Sur, 1991.
LUTZ, Mayara Santos. A imagem
fotográfica como instrumento de
pesquisa. 2010. 94 f. Trabalho de conclusão
de curso (Bacharelado em Serviço Social).
Departamento de Serviço Social, Centro
Socioeconômico, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2010.
Disponível em:
http://tcc.bu.ufsc.br/Ssocial283455.PDF.
Acesso em: 15 out. 2018.
MARIUZZO, Patrícia et al. Sebastião Salgado
em cores e movimento. Ciência e Cultura,
São Paulo, v. 66, n. 3, p. 58-59, 2014.
OLIVEIRA, L. M. V. Descrição e pesquisa:
reflexões em torno dos arquivos pessoais.
Rio de Janeiro: Móbile, 2012.
THOMASSEM, Theo. Uma primeira
introdução à Arquivologia. Arquivo &
Administração, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p.
5-16, jan./jun. 2006.
VERAS, Mariana Lopes; LABOREIRO, Tábata
Isis Silva; PEREIRA, Caciana Linhares. A obra
de Sebastião Salgado e o desvelamento do
olhar. Extensão em Ação, Fortaleza, v. 3, n.
12, p. 58-66, 2016.