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INTERDISCIPLINARIDADE E ESTUDOS MÉTRICOS DA INFORMAÇÃO: contribuição
para a análise nas Ciências Ambientais
INTERDISCIPLINARITY AND INFORMATION METRICS STUDIES: a contribution to
analyze the Environmental Science
Daniele Belmont de Farias Cavalcanti¹
Breno Ricardo de Araújo Leite²
¹ Bibliotecária Mestra (UFERSA).
E-mail: daniele.cavalcanti@ufersa.edu.br.
² Engenheiro Mestre (UFSC).
E-mail: guardiao78@gmail.com.
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que não há conflito de interesses.
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Recebido em: 04/06/2019.
Aceito em: 10/06/2019.
Revisado em: 12/06/2019.
Como citar este artigo:
CAVALCANTI, Daniele Belmont de Farias; LEITE,
Breno Ricardo de Araújo. Interdisciplinaridade e
estudos métricos da informação: contribuição
para a análise nas Ciências Ambientais.
Informação em Pauta, Fortaleza, v. 4, n. 1, p.
68-81, jan./jun. 2019. DOI:
https://doi.org/10.32810/2525-
3468.ip.v4i1.2019.41319.68-81.
RESUMO
A institucionalização das Ciências Ambientais
(CiAMB) no Brasil foi pautada pela busca de
soluções em relação às problemáticas
ambientais emergentes na sociedade. Sua
criação baseia-se na necessidade de uma nova
visão na construção do conhecimento,
fundamentada na interação dos saberes, o que
faz dessa área ter como característica intrínseca
a interdisciplinaridade. Portanto, deve estar
presente em todos os processos, desde a
proposta dos cursos, corpo docente e discente
de formação diversificada e projetos de pesquisa
provenientes de diferentes campos disciplinares.
Embora o termo Interdisciplinaridade’ não
possua uma definição consensual na literatura
especializada, o ‘Documento da Área da CAPES’
apresenta características básicas que os
programas inseridos nessa subárea devem
possuir; porém, não descreve os indicadores
para verificar se a ‘Interdisciplinaridade’ está
realmente se fazendo presente na CiAmb. Esse
artigo apresenta, por meio de uma revisão da
literatura, como os estudos métricos da
Informação, inseridos no campo da
Biblioteconomia e Ciência da Informação,
quando bem definidos e aplicados à produção
científica, apontam potencialidades para analisar
a interdisciplinaridade, de acordo com as
definições estabelecidas no Documento da Área.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Métodos
bibliométricos. Meio ambiente. Ciências
Ambientais.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 4
n. 1
jan./jun. 2019
ISSN 2525-3468
DOI: https://doi.org/10.32810/2525-3468.ip.v4i1.2019.41319.68-81
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ABSTRACT
The institutionalization of the Environmental
Science in Brazil was based on the search for
solutions in relation to emerging environmental
problems in society. Its creation is based on the
need for a new vision in the construction of
knowledge based on the interaction of
knowledge, which makes this area intrinsic to
interdisciplinarity. Therefore, it must be present
in all processes, from the proposal of the
courses, faculty and students of diversified
training and research projects coming from
different disciplinary fields. Although the term
“Interdisciplinarity' does not have a consensual
definition in the specialized literature, the
'CAPES Area Document' presents basic
characteristics that the programs inserted in this
subarea must possess, but does not describe the
indicators to verify if 'Interdisciplinarity' is
really making present in the Environmental
Science. This article presents through a
literature review such as the metric Information
Studies inserted in the field of Librarianship and
Information Sciences when well defined and
applied to the scientific production point to the
potentialities to analyze the interdisciplinarity
according to the definitions established in the
Area Document.
Keywords: Interdisciplinarity. Bibliometrics.
Environment. Environmental Science.
1 INTRODUÇÃO
A área de Ciências Ambientais (CiAmb) é uma das mais novas no contexto da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Considerada
uma subárea da grande área Multidisciplinar, sua origem ocorreu apenas em 2011. Sua
criação sucedeu como resposta para a complexidade dos problemas ambientais, face à
indissociabilidade entre sistemas antrópicos e naturais, visto que envolve a análise de
processos biológicos, físicos, químicos, de hidrologia, entre outros, que estão
relacionados a problemas econômicos e sociais mediados pela ciência e tecnologia.
Devido à sua complexidade, pode-se afirmar que se constitui um campo de
pesquisa aglutinador de inúmeras disciplinas, implicando em pesquisas
interdisciplinares. A CAPES, ao descrever a interdisciplinaridade dentro dos programas,
afirma que, de forma prioritária, a interdisciplinaridade deve estar inserida em todos os
seus processos, desde as propostas dos cursos até os projetos de pesquisa. Nesse
contexto, observa-se que a interdisciplinaridade é muito mais do que uma marca da
CiAmb, pois é a base sobre a qual essa área foi alicerçada, dando significado à sua
existência.
Embora o termo ‘Interdisciplinaridade’ não possua uma definição consensual na
literatura especializada, o ‘Documento da Área da CAPES’ (BRASIL, 2016) apresenta
características básicas que os programas inseridos nessa subárea devem possuir, porém
não descreve os indicadores para verificar se a ‘Interdisciplinaridade’ está realmente se
fazendo presente na CiAmb.
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A contribuição deste artigo reside, então, em apresentar, por meio de uma revisão
de literatura, como o estudo métrico da informação inserido no campo da
Biblioteconomia e Ciência da Informação, quando bem definido e aplicado à produção
científica, torna-se ferramenta potencial para analisar a interdisciplinaridade de acordo
com as definições estabelecidas no Documento da Área.
2 ESTUDOS MÉTRICOS DA INFORMAÇÃO
A partir do momento em que a ciência passou a ser percebida como elemento
para o desenvolvimento econômico e social, verificou-se um interesse maior a respeito
das atividades provenientes da Ciência e Tecnologia (C&T), objetivando a coleta de
informações sobre as atividades científicas, a fim de planejá-las, monitorá-las, avaliá-las
e acompanhar a sua evolução (NORONHA; MARICATO, 2008). Dessa forma, os estudos
métricos da ciência originaram-se pela necessidade de avaliar as atividades oriundas das
produções e comunicações científicas. Os estudos métricos da informação encontram-se
estabelecidos nos campos da Biblioteconomia e Ciência da Informação, entre eles
destaca-se a Bibliometria e a Cienciometria, esta considerada um subcampo da
Bibliometria.
Os termos Bibliometria e Cienciometria foram introduzidos quase
simultaneamente por Pritchard e por Nalimov e Mulchenko, em 1969. Enquanto
Pritchard explicava o termo Bibliometria como a aplicação de métodos matemáticos e
estatísticos a livros e a outros meios de comunicação, Nalimov e Mulchenko definiram a
Cienciometria como a aplicação de métodos quantitativos que lidam com a análise da
ciência vista como um processo de informação. De acordo com essas interpretações, a
Cienciometria é restrita à medição da comunicação científica, enquanto que a
Bibliometria é projetada para lidar com processos de informação mais gerais (WILLIAM;
CONCEPCIÓN, 2001).
Autores como Rostaing (1996), Macias-Chapulas (1998), Araújo (2006), Silva et
al. (2011) e Medeiros et al. (2011) definem os termos como um método estatístico, que
visa quantificar e analisar, por meio de padrões e modelos matemáticos, a evolução da
produção científica e tecnológica de um determinado país, instituição, área do
conhecimento ou disciplina, mediante a construção de indicadores.
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De maneira elementar, os indicadores podem ser definidos como dados
estatísticos que representam aspectos da realidade e que subsidiam análises, tomadas
de decisão, planejamentos e ações (KOBASHI; SANTOS, 2006; SILVA; HAYASHI, 2011).
Além disso, representam a dinâmica e a evolução do conhecimento científico e são
utilizados como meio para fins específicos, contribuindo através de respostas a
perguntas específicas e servindo como parâmetro nas avaliações. Desse modo, a
auxiliam no planejamento e demonstram vantagens ao serem utilizados na avaliação
científica (IGAMI, 2011).
Alguns dos principais indicadores extraídos desses estudos podem ser
apresentados de modo genérico, conforme apresentado no quadro 1:
Quadro 1 - Principais indicadores métricos.
Indicadores de Noronha e Maricato (2008)
Indicadores de Hayashi (2013)
Evolução quantitativa e qualitativa da
literatura;
Obsolescência da informação e dos
paradigmas científicos;
Dinâmica e estrutura da comunicação
científica (principalmente formal);
Características e funções de diversos tipos
documentais (literatura branca e
cinzenta);
Ranking de publicações, autores,
instituições, países etc.;
Estudos de citação, fator de impacto;
Relações interdisciplinares,
intradisciplinares e multidisciplinares na
ciência;
Estudos de colaboração científica
(principalmente baseados em coautoria);
Comportamentos de uso e crescimento do
acervo em bibliotecas;
Evolução de disciplinas, subdisciplinas e
novos conceitos;
Características de frequência de
ocorrência de palavras em textos;
Mapeamento da literatura de uma área
específica de conhecimento;
Modelagem matemática de aspectos
dinâmicos da literatura científica;
Identificação de áreas de excelência,
associações temáticas,
interdisciplinaridade, redes de
colaboração científica, temas emergentes e
lacunas na produção do conhecimento
científico, e
Produção de indicadores bibliométricos.
Fonte: Noronha e Maricato (2008, p. 123); Hayashi (2013, p. 89).
No Brasil, os estudos métricos da informação originaram-se na década de 70,
tendo como propulsor o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), hoje
denominado Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).
Entretanto, foi na década de 90, com a popularização dos computadores, que estudos
dessa natureza tomaram força nacionalmente (ARAÚJO, 2006). Noronha e Maricato
(2008, p. 118) corroboram essa realidade:
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A partir da metade dos anos 90, verifica-se um crescer contínuo na produção de
estudos envolvendo metodologias quantitativas graças, principalmente, aos
novos recursos tecnológicos disponíveis, que facilitaram não a coleta dos
dados nas fontes de origem, como o tratamento dos mesmos, segundo as
variáveis estudadas, pelos softwares específicos, que cada vez mais auxiliam a
“trabalhosa” tarefa na lida com grande quantidade de números.
O crescimento exponencial da literatura científica e dos diversos tipos de
informação divulgada em meios físicos e virtuais tornaram os estudos bibliométricos
mais atraentes, propiciando, assim, o crescimento do seu uso e viabilizando o
surgimento de novas técnicas e métodos como subcampos da Bibliometria, tais são
como: Cienciometria ou Cientometria, Infometria, Webmetria e Patentometria. De forma
objetiva, a Cienciometria mede aspectos relacionados à atividade científica, como o seu
desenvolvimento e crescimento (SANTOS; KOBASHI, 2009), já a Infometria detém-se aos
estudos da recuperação de informação nas diversas fontes documentais ou
bibliográficas, sejam físicas ou virtuais (BUFREM; PRATES, 2005). Por sua vez, a
Webmetria relaciona-se com a organização e uso de sites na internet (NORONHA;
MARICATO, 2008), e a Patentometria é o estudo métrico das características e do uso dos
documentos de patentes (GUZMÁN SÁNCHEZ, 1999). Esses estudos se nivelam por
serem métodos quantitativos e se distinguem quanto ao objeto de estudo (NORONHA;
MARICATO, 2008).
Os estudos métricos da informação têm sido amplamente utilizados para
quantificação, avaliação, análise e criação de indicadores relacionados à produção
científica, demonstrando a sua consolidação e aprovação em pesquisas dessa natureza.
Assim, é possível afirmar que métodos métricos, quando bem definidos e aplicados à
produção científica, apontam potencialidades para analisar a interdisciplinaridade de
acordo com as definições estabelecidas no Documento da Área em CiAmb (BRASIL,
2016).
3 INTERDISCIPLINARIDADE: conceitos e características
Nos últimos anos, a interdisciplinaridade tem se intensificado nas universidades
brasileiras, sendo percebida no crescente número de Programas de Pós-Graduação
Stricto Sensu com abordagem interdisciplinar. Embora não represente um conceito
pacificado na literatura, tampouco totalmente compreendido, apresenta uma realidade e
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um desafio que caracteriza uma abordagem científica, cultural e epistemológica
diferenciada (HARGREAVES, 2004).
Sua principal origem foi na França e na Itália, em meados da década de 60,
ocasião em que os movimentos estudantis pleiteavam mudanças no estatuto das
universidades e escolas, visando romper com o ensino fragmentado, justificando a
importância da interação e transformação recíproca entre as diferentes áreas do
conhecimento. Contudo, foi no período de 1970 a 1990 que os movimentos da
interdisciplinaridade repercutiram com mais intensidade. Pesquisadores buscavam
formular os aspectos epistemológicos da interdisciplinaridade, conceituando-a filosófica,
antropológica e sociologicamente (SILVA, 2000; LEFF, 2002).
No Brasil, os estudos pioneiros sobre a interdisciplinaridade foram elaborados
por Japiassu (1976) e Fazenda (2003), influenciados em suas formações acadêmicas
pelo viés das experiências europeias, e tinham como referencial George Gusdorf, o
primeiro em sistematizar uma proposta de trabalho interdisciplinar (SILVA, 2000).
Ao explicar a interdisciplinaridade, Japiassu (1976) afirma que a ação
interdisciplinar ocorre pela troca intensa de conhecimento entre os especialistas e pelo
nível de integração existente das disciplinas no interior de um mesmo projeto. Por sua
vez, Fazenda (1996, p. 14), comenta que “perceber-se interdisciplinar é o primeiro
movimento em direção a um fazer interdisciplinar e a um pensar interdisciplinar”.
Pombo, Guimarães e Levy (1994, p. 5) descrevem que:
A interdisciplinaridade se assentaria na possibilidade de tradução das várias
linguagens científicas, na constituição de uma linguagem partilhada tendo como
base o confronto dialogante dos discursos em presença.
Em outra definição, Magalhães (2005) explica a interdisciplinaridade como uma
forma de buscar um conhecimento universal, que não seja desfragmentado em vários
campos ou fechado apenas em uma área, abstraindo, dessa forma, seu objeto de estudo.
Considera-se pertinente, no entanto, apontar a definição do Documento da Área
Interdisciplinar (BRASIL, 2013) pela CAPES, outra subárea da grande área
Multidisciplinar, assim como a CiAmb:
A interdisciplinaridade pressupõe uma forma de produção do conhecimento
que implica trocas teóricas e metodológicas, gerações de novos conceitos e
metodologias, onde ocorra a convergência de duas ou mais áreas do
conhecimento, que não se estabeleçam na mesma classe, que contribua nos
avanços das fronteiras da ciência e tecnologias, transfira método de uma área
para outra objetivando a geração de novos conhecimentos, disciplinas e de um
novo profissional (BRASIL, 2013, p. 2).
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A respeito da interdisciplinaridade na construção do conhecimento ambiental,
Leff (2002) afirma que é um processo constante na construção do saber, o
caracterizado pela homogeneidade e exigindo dos pesquisadores a necessidade de
conhecer as especificidades das diferentes ciências que foram historicamente
construídas, ideologicamente legitimadas e socialmente institucionalizadas. Dessa
forma, implica na integração interdisciplinar do conhecimento, com o propósito de
explicar e resolver os complexos sistemas socioambientais. Conforme o autor
supracitado,
A interdisciplinaridade ambiental estabelece a transformação dos paradigmas
estabelecidos do conhecimento para internalizar um saber ambiental. (...) a
complexidade se abre para um diálogo de saberes que acarreta uma abertura à
racionalidade que vai da solidariedade e complementaridade entre disciplinas
ao antagonismo de saberes; onde se relacionam processos significativos, mais
que posições científicas, interesses disciplinares e verdades objetivas (LEFF,
2002, p. 30).
Diante desses conceitos relacionados às características da interdisciplinaridade,
pode-se concluir que basicamente duas ações-chave” ao fazer interdisciplinar:
integração e colaboração, atitudes fundamentais para a construção de um saber capaz de
resolver situações complexas advindas de um mundo cada vez mais conectado e
integrado.
4 CIÊNCIAS AMBIENTAIS
A sociedade contemporânea acreditava, no início do século XX, que os recursos
naturais eram inesgotáveis e deviam ser usados, a todo custo, para impulsionar o
desenvolvimento econômico dos países. Essa realidade começou a mudar a partir da
década de 60, que marcou os primeiros debates acerca dos problemas ambientais. Uma
das primeiras iniciativas para trazer esse assunto ao conhecimento público foi o
chamado Clube de Roma, fundado em 1968, no qual se reuniam personalidades de
diversas áreas, como acadêmicos, cientistas, políticos, empresários e membros da
sociedade civil, visando avaliar questões de ordem política, econômica e social com
relação ao meio ambiente (FRANCO, 2008).
A grande contribuição do Clube de Roma à época foi o relatório intitulado Os
Limites do Crescimento, trabalho solicitado em 1972 junto ao Massachusetts Institute of
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Technology (MIT). Esse relatório teve grande repercussão, mas também recebeu muitas
críticas, pois diziam que o seu objetivo era frear o crescimento econômico. Apesar dessa
resistência, muitos outros estudos se seguiram ao trabalho supracitado, e a maioria deles
apontou para o mesmo alerta dado pelo seu antecessor, destacando um rápido
crescimento demográfico, resultado de industrialização acelerada, e prevendo o
esgotamento dos recursos naturais não renováveis, a escassez de alimentos e a
deterioração do meio ambiente (PÁDUA, 2010).
No meio político, também houve grande articulação em prol da causa ambiental.
Prova disso foram os eventos ocorridos, sendo eles: a primeira Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo), na Suécia, em 1972,
que ficou amplamente reconhecida como um marco nas tentativas de melhorar as
relações do homem com o meio ambiente e também por ter inaugurado a busca por
equilíbrio entre desenvolvimento econômico e redução da degradação ambiental, por
meio de metas ambientais e sociais, centrando a sua atenção nos países em vias de
desenvolvimento. O principal resultado dessa conferência foi a criação do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente. Após a Conferência de Estocolmo, a segunda
conferência mundial, intitulada ‘Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
o Desenvolvimento, ou simplesmente ‘ECO 92’ ou ‘Cúpula da Terra, ocorreu no Rio de
Janeiro, Brasil, em 1992.
A ‘ECO 92’ teve a presença maciça de chefes de Estado, além de representantes de
178 países, o que traduz uma grande evolução em relação à Conferência de Estocolmo. A
intenção do encontro foi introduzir a ideia do desenvolvimento sustentável, em um
modelo de crescimento econômico menos consumista e mais adequado ao equilíbrio
ecológico. Além disso, teve como um de seus principais resultados a produção de um
documento oficial fundamental, chamado Agenda 21”, que sensibiliza a sociedade a um
novo padrão de desenvolvimento, respeitando o meio ambiente, a justiça social e a
eficiência econômica (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1992; FRANCO, 2008).
Posteriormente, outras conferências da Organização das Nações Unidas (ONU)
foram realizadas, com a intenção de rever o progresso das ações e princípios
estabelecidos pela Agenda 21”, dentre as quais se destacam os eventos de Nova Iorque
(1997), Johanesburgo (2002) e, novamente, Rio de Janeiro (2012). Este último evento
ficou conhecido como “RIO+20” e teve como objetivo inicial renovar o compromisso
firmado na Agenda 21, mas os resultados alcançados foram bem maiores.
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O principal tema debatido no evento foi como construir uma economia verde para
alcançar o desenvolvimento sustentável e como melhorar a coordenação internacional
para possibilitar esse desenvolvimento, ao se estabelecerem linhas de ação focadas em
sete áreas prioritárias: energia; alimentação e agricultura; emprego e sociedade
inclusiva; cidades sustentáveis; água; oceanos; e desastres naturais, que foram
traduzidas na publicação de um documento final intitulado “O futuro que queremos”,
reafirmando, assim, compromissos já firmados anteriormente em outras conferências e
acrescentando termos futuros a ações para um desenvolvimento sustentável
(ORGANIZAÇÃO DAS NÕES UNIDAS, 2012).
Todo esse movimento em prol da sustentabilidade teve reflexos diretos no Brasil,
inclusive quanto aos aspectos institucionais, com a criação de um amplo aparato
institucional e arcabouço legal ambiental. A comunidade acadêmica também foi afetada
pela questão ambiental, de forma que, no âmbito da educação, as disciplinas ambientais
estavam presentes em vários cursos de diversas áreas, como Biologia, Ecologia,
Engenharia Ambiental, Biodiversidade e Ciências Ambientais (PHILIPPI JR. et al., 2000).
Ainda no meio acadêmico, as conferências e os fóruns foram responsáveis por
oxigenar o tema, a ponto de conferir a este a legitimidade necessária para tornar o meio
ambiente e a questão ambiental campos de pesquisa. A problemática ambiental surge
como realidade social, política e institucional, impulsionando e sendo impulsionada pela
pesquisa científica, pelo contexto internacional e por instituições supranacionais,
movimentos sociais e ambientalistas (PHILIPPI JR. et al., 2013).
Do ponto de vista da abrangência do conceito de problemática ambiental,
incluem-se desde problemas locais, que podem ser traduzidos em uma problemática
econômica, tecnológica, social, institucional e cultural (FERNANDES; SAMPAIO, 2008),
emergindo como uma problemática socioambiental resultante da forma como a
sociedade, nos seus vários setores, relaciona-se com a natureza.
Por isso, pode-se afirmar que a CiAmb se constitui em um campo de pesquisa
aglutinador de inúmeras disciplinas, implicando em pesquisas interdisciplinares. A
pesquisa ambiental revela-se não como um tema novo, mas como a aglutinação de temas
antigos já abordados amplamente pelas disciplinas especializadas, envolvendo análise de
processos biológicos, físicos, químicos, de hidrologia, entre outros, que estão
relacionados a problemas econômicos e sociais mediados pela ciência e tecnologia.
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4.1 A Interdisciplinaridade na Área de Ciências Ambientais
Os Programas de Pós-Graduação (PPG) que se encontram na área de CiAmb
compõem a grande área Multidisciplinar da CAPES. Sabe-se que a CAPES é o órgão
responsável por avaliar os programas em vel de mestrado e doutorado, conceituando-
os com notas que vão de três a sete. Essa avaliação serve como instrumento para que a
comunidade universitária se empenhe em busca de um alto padrão de excelência nos
cursos stricto sensu. Entende-se que os PPG inseridos na grande área Multidisciplinar
devem compor a interdisciplinaridade em suas estruturas acadêmicas (disciplinas,
corpo docente, discentes, projetos etc.); desta forma, é certo que, para conquistar um
conceito de excelência, os cursos devem apresentar características interdisciplinares.
No contexto dos PPG em CiAmb, a interdisciplinaridade advém de uma
necessidade proveniente dos grandes problemas contemporâneos, dentre os quais as
questões ambientais” (BRASIL, 2016, p. 8). A área busca assimilar o conhecimento
interdisciplinar, demandado pelos problemas reais, no próprio processo de avaliação
dos programas. A interdisciplinaridade não é entendida como um novo campo
disciplinar, mas como uma proposta que busca aproximação entre as ciências da
natureza e as sociais, dando flexibilidade para a análise das questões relevantes na
interface ambiente e sociedade (BRASIL, 2016).
Conforme rege o Documento da Área, a interdisciplinaridade no contexto da
CiAmb,
[...] agrega diferentes áreas do conhecimento em torno de um ou mais temas em
busca de um entendimento comum com o envolvimento direto dos
interlocutores. Significa efetivamente a interação entre saberes. [...] um método
de construção do conhecimento que se sustenta na compreensão da
complexidade ambiental e na resolução de suas problemáticas, promovendo a
interação entre instituições e entre países. Sua prática é parte integrante da
dinâmica que incorpora as demandas socioambientais na perspectiva do
desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2016, p. 2).
Desse modo, a interdisciplinaridade passa a ser entendida como um fator
necessário para provocar mudanças na organização do conhecimento, pressupondo a
reestruturação nos formatos de pesquisa e ensino, que se encontram respaldados em
uma perspectiva sistêmica. Propõe, então, nova forma de produzir o saber científico
fundamentado na relação entre diversas áreas da ciência. Nesse sentido, a CAPES afirma
que:
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A adoção de enfoques interdisciplinares potencializa, por exemplo, a percepção
de lacunas em interpretações disciplinares, que requerem do pensamento
racional e científico a compreensão, o planejamento e a intervenção no meio
ambiente, tornando possíveis análises e construções inovadoras (BRASIL, 2011,
p. 2).
Dentro dos PPG em CiAmb, a interdisciplinaridade é considerada uma abordagem
que envolve distintas áreas capazes de trabalhar temas que proporcionam uma
compreensão comum de todas as pessoas envolvidas, no intuito de solucionarem as
problemáticas ambientais mediante a interação dos saberes.
Nesse contexto, o objeto das CiAmb é multidisciplinar e exige o direcionamento
dos vários conhecimentos em um único sentido, tornando possível a reflexão observada
por diferentes perspectivas. Sendo assim, os PPG que se enquadram nessa área, em
linhas gerais, devem, de forma prioritária, conter a interdisciplinaridade em todos os
seus processos, desde as propostas dos cursos até os projetos de pesquisas,
caracterizando-se por:
a. Oferecer uma proposta de curso interdisciplinar que contemple as
relações socioambientais;
b. Ser composto por corpo docente que contemple formação em diversas
áreas do conhecimento;
c. Deve compor discentes com formações diversificadas e de campos
disciplinares diferenciados;
d. Abordar nos projetos de pesquisas a interdisciplinaridade que
relaciona as questões ambientais, sociais e tecnológicas;
e. Apresentar interdisciplinaridade entre a equipe da pesquisa
(orientador, co-orientador e discente). (BRASIL, 2016, p. 9).
Os atributos interdisciplinares descritos acima são fatores essenciais para o
sucesso nas avaliações dos Programas de Pós-Graduação; entretanto, para constatar os
atributos da ‘Interdisciplinaridade’, é necessário evidenciar os indicadores presentes na
CiAmb, daí a contribuição do estudo métrico da informação enquanto subsídio para a
construção de indicadores como ferramenta de avaliação da interdisciplinaridade nos
programas inseridos nessa subárea.
5 CONCLUSÃO
A institucionalização das Ciências Ambientais (CiAMB) no Brasil foi pautada pela
busca de soluções em relação às problemáticas ambientais emergentes na sociedade.
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Sua criação baseia-se da necessidade de uma nova visão na construção do conhecimento,
fundamentada na interação dos saberes, o que faz dessa área ter como característica
intrínseca a interdisciplinaridade, devendo estar presente nas propostas dos cursos, no
corpo docente e discente de formação diversificada e nos projetos de pesquisa
provenientes de diferentes campos disciplinares.
Por meio da revisão de literatura, foi possível constatar que a
‘Interdisciplinaridade’ não possui uma definição consensual; porém, o ‘Documento da
Área’ da CAPES para CiAmb apresenta atributos interdisciplinares que os programas
inseridos nesta subárea devem possuir, embora o tenha estabelecido como estes
fatores devem ser verificados no processo de avaliação desses programas.
Evidenciamos que a Biblioteconomia e Ciência da Informação, por serem áreas do
conhecimento que estão relacionadas aos fenômenos informacionais, somadas à
aplicação de métodos matemáticos e estatísticos, resultando nos estudos métricos da
informação, m sido amplamente utilizadas para quantificação, avaliação, análise e
criação de indicadores relacionados à produção científica, demonstrando a sua
consolidação e aprovação em pesquisas dessa natureza.
Conclui-se, portanto, que os métodos métricos, quando bem definidos e aplicados
à produção científica, apontam potencialidades para a construção de indicadores como
ferramenta de avaliação da interdisciplinaridade nos programas inseridos nessa
subárea.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, C. A. A. Bibliometria: evolução
histórica e questões atuais. Em Questão,
Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 11-32, jan./jun.
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95. Acesso em: 10 maio 2017.
BRASIL. Ministério da Educação.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior. Documento de avaliação
da área: ciências ambientais. Brasília: MEC,
2016.
BRASIL. Ministério da educação.
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