Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 4, n. especial, nov. 2019 | ISSN 2525-3468
a visão, eu gostava muito de ler, mas depois que eu perdi a visão, sei lá, perdi tipo
aquele interesse. (Kelly)
Eu sempre gostei de ler, antes de perder a visão eu aprendi a ler, eu gostava de ler,
forçando o restante de visão que eu tinha. Quando eu perdi a visão, eu sempre
pedia para os colegas lerem para mim, eu sempre gostei de leitura, essas coisas
assim [...] o braile passou a ser “entre aspas” uma segunda leitura na minha vida
porque imagina só o que é você pegar uma apostila de 39 páginas e ao ser
convertida em braile e se transformar em 174? Então imagina livros? Seriam um
absurdo. Aí eu utilizo mesmo o computador. Leio muito, gosto de ler muito, escuto
muito vídeo aula, gosto muito mesmo de estudar. (Robson)
Eu gosto muito de ler, eu gosto de ler coisas sobre matemática álgebra, sobre a
Índia, a história da Índia, também do Egito porque foi onde a matemática surgiu
então é uma coisa que me emociona, eu gosto. Esse meu gosto pela leitura vem
desde a infância, só que por exemplo, por eu ser surda, era tudo diferente pra
mim. Eu lembro que eu procurava um livro mais fácil, que tivesse uma palavra
mais fácil, o português mais acessível, mas aí quando eu pegava um livro era
muito formal, o português era muito formal, a ficava difícil pra mim. (Hozana)
Através dessas memórias, muitos demonstram o gosto pela leitura desde criança,
mesmo com todas as limitações.
No entanto, percebe-se que alguns perderam um pouco o gosto pela leitura, com
destaque para o caso de Kelly, em função da perda da visão. Também há o caso de
Fabrícia, que, pelo esgotamento de leitura, devido à estrutura curricular de seu curso, foi
perdendo um pouco do prazer por essa atividade já na vida acadêmica. Enquanto isso,
outros revelam que permanecem gostando muito de ler.
Muitos deles consideram que esse gosto e o acesso à leitura foram muito
importantes para entrar na Universidade e para permanecer nela. Podemos visualizar
isso, mais uma vez, recorrendo-se à leitura das narrativas abaixo:
[...] Então é por isso que um pouco da capacidade que eu tenho hoje, apesar deu
não ler muito hoje, é muito pelo fato de eu ter tido isso na infância. [...] Eu
considero que o acesso à leitura, o acesso à informação, é um fator importante
que me ajudou a entrar na Universidade e para eu concluir também. (Paulo)
[...] eu acho que a leitura foi muito importante, tanto para eu entrar na
Universidade como para me manter nela. [...]foi muito importante, pra eu
conseguir chegar aqui, pra eu conseguir ter um bom desempenho tanto nas
questões acadêmicas mesmo, na questão da escrita. Eu percebo que tem algumas
pessoas aqui que não foram alfabetizadas em braile, mas que foram alfabetizadas
tarde, não tiveram muito acesso à leitura em braile e eles sentem bastante
dificuldade, quando vão fazer as correções aqui no NEDESP a gente vê que a
questão da ortografia pesa muito pra quem não conseguiu ter esse acesso.
(Fabrícia)
Eu acho esse acesso à leitura, à informação bastante importante, você querendo
ou não, você vai precisar bastante da leitura, tanto que a leitura envolve também
escrita. Você lendo bastante, vai aprender a escrever bem, melhorar a questão da
ortografia, essas coisas. Então eu acredito que foi importante esse acesso à
leitura, esse acesso à informação para estar aqui na Universidade hoje e também
que a informação me auxiliará para eu concluir meu curso. (Kelly)
O acesso à leitura, esse acesso à informação que eu tive durante toda a minha
vida, facilitou a minha entrada na Universidade e também a quase conclusão dele.
Facilitou principalmente a minha força de vontade, através da leitura ela faz