MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA PARA TOMADA DE DECISÃO EM SERVIÇOS DE
SAÚDE: o papel do bibliotecário clínico
EVIDENCE-BASED MEDICINE FOR DECISION-MAKING ON HEALTH SERVICES: the role of the
clinical librarian
Mariana Ribeiro Fernandes¹
Amanda Damasceno de Souza
2
¹ Mestre em Ciência da Informação pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: maryfernandes@ufmg.br
2
Mestre em Ciência da Informação pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: amanda@ufmg.br
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Recebido em: 20/09/2019.
Revisado em: 01/11/2019.
Aceito em: 31/01/2020.
Como citar este artigo:
FERNANDES, Mariana Ribeiro; SOUZA, Amanda
Damasceno.Medicina baseada em evidência para
tomada de decisão em serviços de saúde: o papel
do bibliotecário clínico. Informação em Pauta,
Fortaleza, v. 5, n. especial, p. 36-51, março 2020.
DOI: https://doi.org/ 10.36517/2525-
3468.ip.v5iespecial1.2020.43511.36-51.
RESUMO
Aborda atuação do Bibliotecário Clínico ao
apresentar uma reflexão teórico-histórica sobre
o papel deste profissional no contexto da tomada
de decisão em saúde para suporte a Medicina
Baseada em Evidência no âmbito hospitalar.
Descreve como surgiu a Medicina Baseada em
Evidência, seu desenvolvimento no Brasil, os
tipos de estudos e a atuação do Bibliotecário
neste contexto. Traz um relato histórico do
surgimento do Bibliotecário Clínico nos Estados
Unidos e iniciativas de atuação no Brasil em
Hospitais e na Avaliação de Tecnologias em
Saúde. No Brasil ainda é necessário ampliar a
discussão sobre este tema devido escassez de
relatos de práticas na literatura. As Escolas de
Biblioteconomia necessitam adequar seus
currículos com disciplinas que propiciem a
formação para atuação dos Bibliotecários em
Hospitais.
Palavras-chave:Medicina Baseada em
Evidência. Bibliotecário Clínico. Tomada de
decisão em saúde.
ABSTRACT
It addresses performance of clinical librarian,
presenting a historical-theoretical reflection on
the role of this professional in the context of
health decision-making to support Evidence-
Based Medicine in the hospital environment. It
describes how Evidence-Based Medicine
emerged, its development in Brazil, the types of
studies, and the Librarian's role in this context. It
brings a historical account of the emergence of
the Clinical Librarian in the United States and
initiatives in Brazil in Hospitals and also Health
Technology Assessment. In Brazil, it is still
necessary to broaden the discussion on this
Inf. Pauta Fortaleza, CE
v.5 n. especial
março 2020
ISSN 2525-3468
DOI: 10.36517/2525-3468.ip.v5iespecial1.2020.43511.36-51
ARTIGO
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subject due to the lack of reports of practices in
the literature. Library and Information Science
schools need to adapt their curricula to new
disciplines that provide the necessary training
for librarians in hospitals.
Keywords:Evidence Based Medicine. Clinical
Medical Librarian. Health Decision Making.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma reflexão teórico-histórica
sobre o papel do Bibliotecário clínico no contexto da tomada de decisão em saúde para
suporte à Medicina Baseada em Evidência. O artigo faz parte de revisão da literatura de
pesquisa de mestrado desenvolvida no âmbito da Ciência da Informação a respeito do
tema Bibliotecário Clínico (BC).
Com o crescimento de inúmeras inovações na área da saúde, a tomada de decisão
dos profissionais necessita estar embasada em princípios científicos, com o intuito de
selecionar a intervenção mais adequada para a situação específica de cuidado, uma vez
que existem divergências entre esperar que esses avanços tenham resultados positivos e
saber se eles verdadeiramente funcionam. (SCHMIDT; DUNCAN, 2003).
Os principais instrumentos de apoio às decisões são baseados em modelos
estatísticos que visam reduzir ao máximo a incerteza sobre o diagnóstico e instrumentos
de apoio à atualização e memória do médico. Esses modelos estatísticos são os
chamados métodos quantitativos (sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo,
valor preditivo negativo, valor pré-teste, valor pós-teste) (SCHMIDT; DUNCAN, 2003).
os modelos baseados em atualização e memória do médico são os métodos qualitativos
(livros textos, artigos científicos, consensos, pareceres, sistemas de rememoração
inorgânicos e os sistemas de inteligência inorgânica). (SILVA,2013).
Profissionais de saúde na sua tomada de decisão clínica utilizam tanto sua
vivência clínica quanto as melhores evidências disponíveis. (BOSI, 2012) É importante
ressaltar que saber analisar o tipo de evidência a ser usada não é algo comum. Todas as
evidências devem ser originadas a partir de pesquisas científicas cujos resultados foram
veiculados na forma de artigos e publicados em periódicos da área. Estes artigos irão
compor uma análise estatística sobre a qual os especialistas concluíram como evidências
em determinado assunto médico e a partir disso, suas decisões podem ser tomadas.
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2 MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA
A prática clínica consiste em fazer escolhas. Qual exame seria mais indicado para
diagnosticar melhor aquela doença? Qual tratamento seria o mais efetivo para este
paciente? As respostas para essas questões dependem do conhecimento, da habilidade e
da atitude do médico, dos recursos disponíveis e das preocupações, expectativas e
preferências do paciente. (BOSI, 2012) Para Humpris (apud BOSI, 2012, p. 4):
O termo “baseado em evidência” se aplica à utilização de pesquisas como base
para a tomada de decisões sobre a assistência à saúde. A qualidade da evidência
é um aspecto crucial na prática baseada em evidências. O profissional de saúde
deve ser capaz de fazer julgamentos reconhecendo o bom e o ruim, as forças e
as fraquezas, para poder generalizar a evidência, avaliar e utilizá-la
criticamente, e não tomá-la com absoluta confiança.
Assim que o tratamento é abordado e fala-se em evidências, o mesmo é
relacionado à efetividade, eficiência, eficácia e segurança. A efetividade é voltada ao
tratamento que funciona em condições do mundo real. A eficiência retrata o tratamento
de melhor custo e acessível para que os pacientes possam dele usufruir. A eficácia
quando o tratamento funciona em condições de mundo ideal. E, por último, a segurança
significa que uma intervenção possui características confiáveis que tornam improvável a
ocorrência de algum efeito indesejável para o paciente. (EL DIB, 2007)
Neste contexto apresenta-se a Medicina Baseada em Evidências - MBE é um
movimento na prática da clínica médica. A MBE surge, no início da década de 90, por
iniciativa de um grupo de pesquisadores da Universidade MacMaster, no Canadá,
visando ao ensino e à prática médica. É uma estratégia pioneira na área da Medicina e,
segundo Sackett et al. (2003, p. 19) “a medicina baseada em evidências consiste no uso
consciente, explícito e criterioso da melhor evidência contemporânea disponível para
tomar decisões relativas ao cuidado de pacientes individuais.” Adota técnicas oriundas
da ciência, engenharia e estatística tais como: meta-revisões da literatura existente
(também conhecidas como meta-análises), análise de risco-benefício, experimentos
clínicos aleatorizados e controlados (um tipo de pesquisa que utiliza a metodologia de
acompanhar a amostra durante toda a intervenção medicamentosa), e estudos
naturalísticos populacionais, dentre outras. (ATALLAH, 1997). A prática da Medicina
Baseada em Evidências busca promover a integração da experiência clínica às melhores
evidências disponíveis, considerando a segurança nas intervenções e a ética na
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totalidade das ações. Medicina Baseada em Evidências é a “arte de avaliar e reduzir a
incerteza na tomada de decisão em Saúde.” (CENTRO COCHRANE DO BRASIL, 2014).
Trata-se de um processo sequencial, constituído pelas seguintes etapas:
“1ª Levantamento do problema e formulação da questão
2ª Pesquisa da literatura correspondente
Avaliação e interpretação dos trabalhos coletados mediante critérios bem
definidos,
4ª Utilização das evidências encontradas, em termos assistenciais de ensino
e\ou de elaboração científica”. (DRUMMOND,1998).
Entre os criadores do movimento da MBE apresenta-se o professor Archie
Cochrane, pesquisador britânico autor do livro Effectiveness and Efficiency: Random
Reflections on Health Services em 1972. Tendo sido homenageado com a criação dos
centros de pesquisa de medicina baseada em evidências os Cochrane Centres
Cochrane Collaboration. (ATALLAH, 1997)
Esta prática é constituída em um mecanismo de busca, avaliação e uso de novos
métodos em medicina como base para a prática médica. Esta prática é de extrema
importância para o trabalho médico, pois além de contribuir dando valor ao
atendimento médico, pode ser a solução final para o diagnóstico e análises clínicas
difíceis de serem diagnosticadas. (SANTOS; PIMENTA; NOBRE, 2007)
O arcabouço deste método, segundo as autoras citadas, consiste em:
Criação da questão clínica;
Recuperação de artigos relevantes sobre o assunto;
Avaliação de sua validade e utilidade;
Aplicação essa descoberta na prática clínica.
Segundo Bosi (2002, p. 5) “As práticas clínicas baseadas [...] visam contribuir para
a qualidade do atendimento clínico por meio de ações de formação continuada desses
profissionais, tais como”:
Identificar e compilar os melhores estudos;
Aprender como fazer a avaliação crítica da literatura disponível;
Disponibilizar essas evidências em bases de dados eletrônicas”.
A partir disso Bosi (2012, p. 5), apresenta que a MBE é o elo entre a boa pesquisa
científica e a prática clínica, busca a redução da incerteza por meio da melhoria e do
rigor da metodologia para prevenção dos vieses , do aumento do tamanho amostral
em cada estudo ou da realização de metanálises, para diminuição dos efeitos do acaso”.
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Essa redução pode ser obtida pela realização de revisões sistemáticas e diretrizes
baseadas em evidências, para utilização na prática dos profissionais da saúde.
(ATALLAH, 2004; ELDIB; ATALLAH, 2006)
A MBE consiste em tentar melhorar a qualidade da informação na qual se
baseiam as decisões em cuidados de saúde. Ela ajuda o médico a evitar sobrecarga de
informação e, ao mesmo tempo, a encontrar e aplicar a informação mais útil. Neste
momento o bibliotecário tem a participação essencial de formar o elo entre a busca da
melhor evidência para o tratamento e situação clínica proposta (SILVA, 2005). A partir
do momento que é formulado o problema/situação clínica, o próximo passo é a
formulação do PICO. Para Santos et al. (2007, p. 2):
PICO representa os componentes para uma questão clínica para Paciente,
Intervenção, Comparação e Outcomes” (desfecho). Dentro da MBE esses
quatro componentes são os elementos fundamentais da questão de pesquisa e
da construção da pergunta para a busca bibliográfica de evidências.
A estratégia PICO pode ser utilizada para construir questões de pesquisa de
naturezas diversas, oriundas da clínica, do gerenciamento de recursos humanos e
materiais, da busca de instrumentos para avaliação de sintomas entre outras.
(BOSI,2012). Pergunta de pesquisa adequada (bem construída) possibilita a definição
correta de que informações (evidências) são necessárias para a resolução da questão
clínica de pesquisa, maximiza a recuperação de evidências nas bases de dados e foca o
escopo da pesquisa. (SANTOS et al., 2007)
Os quatro componentes (PICO) são os elementos essenciais da questão de
pesquisa e da construção da pergunta para a busca bibliográfica de evidências. É a partir
dela, por exemplo, que o bibliotecário em questão inicia o seu processo de busca da
informação clínica. (CIOL; BERAQUET, 2009; BOSI, 2012)
2.1 MBE no Brasil
A MBE foi introduzida no Brasil pelo Prof. Dr. Álvaro Nagib professor titular e
chefe da disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da
Universidade Federal de São Paulo e Diretor do Centro Cochrane do Brasil. Em outubro
de 1996, o Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah funda o Centro Cochrane do Brasil, um dos 14
centros da Colaboração Cochrane ao redor do mundo. O Centro Cochrane do Brasil é a
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principal organização não governamental e sem fins lucrativos a promover o ensino,
pesquisa e extensão em MBE, prática baseada em evidências e saúde baseada em
evidências do Brasil. O Centro Cochrane do Brasil apresenta a atividade de elaborar,
manter e divulgar revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados, o melhor
nível de evidência para as decisões em Saúde. (CENTRO COCHRANE DO BRASIL, 2014)
O Ministério da Saúde em 2013 em parceria com a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, 2019), criou o programa do
Governo Saúde Baseada em Evidência, o qual promove acesso a base de dados da área
da saúde de forma gratuita. Tem como objetivo fornecer acesso rápido ao conhecimento
científico por meio de publicações atuais e sistematicamente revisadas. As informações,
providas de evidências científicas, são utilizadas para apoiar a prática clínica, como
também a tomada de decisão para a gestão em saúde e qualificação do cuidado,
auxiliando assim os profissionais da saúde.
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) também é
um programa criado pelo governo Lei 12.401 de 28 de abril de 2011, que dispõe
sobre a assistência terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS).
2.2 Tipos de Estudos
Os níveis de evidência são utilizados para orientar e classificar a qualidade dos
estudos científicos realizados na área da saúde. Os estudos clínicos apresentam quatro
diretrizes principais: questões sobre diagnóstico, tratamento, prognóstico ou
prevenção. (BOSI, 2012)
Para embasar e responder aos questionamentos e estudos clínicos, existem
desenhos de estudos
1
adequados. Para questões sobre diagnóstico, o estudo mais
adequado é o de acurácia
2
; para questões sobre tratamento, a opção é pelo ensaio
clínico controlado randomizado; para prognóstico, os estudos de coorte são os mais
1
Um desenho de estudo é um plano e estrutura do trabalho de investigação que tem como objetivo
responder a uma questão científica. Disponível em:
http://stat2.med.up.pt/cursop/print_script.php3?capitulo=desenhos_estudo&numero=2&titulo=Desenho
s%20de%20estudo
2
Proximidade de um determinado valor de uma dimensão física ao valor real. Disponível em:
http://decs.bvsalud.org/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/
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adequados; e para prevenção, a recomendação é por ensaios clínicos controlados
randomizados. (BOSI, 2012; CIOL; BERAQUET, 2009)
Para os profissionais da área médica e bibliotecários é necessário identificar as
vantagens e desvantagens de cada tipo de estudo, bem como avaliar os instrumentos
necessários para realização dos mesmos. Para Marques e Peccin (2005, p. 45):
O tipo de estudo está intimamente relacionado à pergunta de pesquisa. Os tipos
podem ser divididos em descritivos e analíticos. Os descritivos indicam a
possibilidade da existência de determinadas associações da doença ou da piora
com características temporais, espaciais e atributos pessoais. os analíticos
são utilizados quando existe uma hipótese a ser testada.
Figura 1 - Hierarquização dos estudos de intervenção.
Fonte: BOSI, 2012.
a) Descritivos
Um estudo descritivo indica a possibilidade de existência de determinadas
associações da doença ou condições que podem causar prejuízos à saúde, com as
características temporais, espaciais ou pessoais, levando os pesquisadores a formularem
hipóteses para novas investigações a serem realizadas. (SACKETT, 2003; MARQUES;
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PECCIN,2005). É descrita a ocorrência de doenças segundo variáveis individuais,
geográficas e temporais
b) Analíticos
São divididos em experimentais e observacionais. Há necessidade de analisar dois
grupos: o grupo de estudo e o grupo controle.
Os experimentais ou de intervenção, são também denominados de ensaio clínico.
Neste, o examinador controla a exposição a determinado fator nos dois grupos e analisa
o efeito de interesse. Caracteriza-se pelo fato de o pesquisador ser o responsável pela
exposição dos indivíduos, ou seja, ele decide qual a melhor intervenção. A exposição
pode ser uma medida terapêutica uma dieta, um medicamento, a fisioterapia ou uma
medida preventiva, como vacina, processo educativo, redução de fatores de risco,etc.
(BOSI, 2012; SACKETT, 1996). Dos estudos de modelos experimentais, o ensaio clínico
controlado randomizado é o que es no topo da pirâmide de evidência, sendo
considerado o mais confiável, devido ao rigor metodológico requerido. Constitui um dos
principais avanços científicos entre os métodos de pesquisa durante o século XX.
(AKOBENG, 2005)
Já nos estudos observacionais, o investigador apenas observa o curso natural dos
eventos, analisando a associação entre exposição e doença. São os estudos de coorte e os
casos controle. (AKOBENG, 2005)
3 PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO CLINICO: O QUE É E ONDE ATUA?
A história do Bibliotecário Clínico (BC)
3
remota a 1917, devido à necessidade e
busca por profissionais especializados nas 174 bibliotecas da área médica nos Estados
Unidos contribuindo para o surgimento do profissional: o bibliotecário médico.
(SCHACHER, 2001). Em meados dos anos de 1920, bibliotecas em hospitais comuns e
psiquiátricos eram usadas principalmente para recreação de pacientes, e
posteriormente para um repositório de pesquisas clínicas e estudos de caso. Em 1939, a
função de bibliotecário médico tornou-se uma profissão reconhecida oficialmente
naquele país.
Em 1943, a quantidade de bibliotecas médicas passava do dobro do número
inicial. Em consequência disso, em 1947, a Medical Library Association (MLA), criou uma
3
Em inglês chamado por Acari e Lamb (1977) de Clinical Medical Librarian(CML)
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espécie de programa de treinamento especial para bibliotecários médicos, e em 1948
surgiu o primeiro curso de biblioteconomia médica, oferecido em Nova Iorque, na
Columbia University School of Library Service. (SCHACHER, 2001).Naquele mesmo ano,
no intuito de criar um sistema automatizado de recuperação de informação e fazer um
controle da literatura, a fim de facilitar as pesquisas, a National Library of Medicine
(NLM) cria o banco de dados e sistema de computador MEDLARS (Medical Literature
Analysis and Retrieval System) e, posteriormente em 1969, cria o MeSH (Medical Subject
Headings), que tornou-se oficialmente uma lista de descritores em ciências da saúde,
usado pela comunidade daquela época. (SCHACHER, 2001)
Em consequência disso, nos Estados Unidos, os currículos de escolas de
biblioteconomia e o treinamento para bibliotecários tiveram um crescimento
considerável, substitui-se o enfoque voltado às práticas e rotinas meramente técnicas,
para um enfoque voltado para busca de informações e tomada de decisão. (SCHACHER,
2001)
Os primeiros registros do primeiro programa envolvendo bibliotecários da área
da saúde, surgiram com o Literature Attached to Charts (LATCH), no ano de 1967 do
Washington Hospital Center em Washington, EUA. Este programa envolvia a solicitação
de pedidos de pesquisa e investigações por parte de médicos para bibliotecários. Tais
pedidos se relacionavam artigos sobre determinados assuntos da área médica. (STEVEN,
1978)
Após observar a crescente demanda por parte dos profissionais médicos e traçar
o envolvimento atual de bibliotecários na assistência ao paciente. A bibliotecária
Gertrud Lamb cria em 1971 o primeiro programa de bibliotecários pesquisadores da
área médica, na Universidade de Missouri-Kansas City (UMKC) (STEVEN, 1978). Neste
programa mostrou que o profissional é treinado para participar de equipes e rondas
médicas, reuniões, assembleias e grupos de estudos, atribuindo informações médicas e
disseminando-as. E assim contribuindo para o melhor atendimento ao paciente.
(STEVEN, 1978)
Os BCs são integrados às equipes multidisciplinares de saúde em locais
específicos nos quais possuem todos os mecanismos necessários para a recuperação de
informações úteis, como reuniões de equipe e discussão de casos, sistemas de tecnologia
de informação. Tudo aonde podem localizar e sistematizar recursos informacionais para
otimizar e viabilizar respostas mais rápidas e adequadas. É nesse momento que o termo
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Bibliotecário Clínico (BC) começa a ser utilizado com mais frequência. (CIOL, 2001;
ACARI; LAMB, 1977)
Desde a década de 1970 a a década de 1990, várias outras instituições
estabeleceram programas com Bibliotecários Clínicos. A prática destes profissionais e
gestores de equipes de saúde, avaliaram o quanto seus serviços contribuíram e
agregaram valor para as equipes médicas relacionadas ao atendimento dos pacientes.
Vários estudos foram publicados desde então, apresentando todas as atribuições do
bibliotecário clínico. (ACARI; LAMB, 1977)
Em estudos publicados nos anos 1980 e 1990 as informações fornecidas por
Bibliotecários Clínicos (BCs) renderam benefícios, tais como o aumento da assistência ao
paciente e economia de tempo para os médicos e equipes de saúde. Além disso, alguns
relataram que as informações prestadas pelo bibliotecário clínico podem custar menos
do que a informação de exames dicos, como radiografias de tórax, e de outras fontes
tradicionais de informação médica. (CIMPL, 1985)
na década de 90 depois de quase 20 anos do surgimento deste profissional,
autores como Demas e Ludwing (1991) e Veenstra (1992) ressaltam que a atuação do
Bibliotecário Clínico agiliza em até 59% do tempo em recuperação da informação.
Demas e Ludwing (1991) ainda titulam o seu artigo como "O bibliotecário e o seu último
unicornónio?" Mostrando que o profissional surge em meio às necessidades, mas que
sua atuação já foi reconhecida e consolidada.
Giuse et al. (1998) referenciou que bibliotecários devem permanecer em
hospitais pois é uma necessidade premente e afirma que a formação para Bibliotecários
Clínicos é voltada para o desenvolvimento de um alto nível de conhecimento clínico
altamente capaz de interpretar a literatura médica.
Frank Davidoff e Valerie Florance (2000), abordaram a importância dos
Bibliotecários Clínicos na assistência clínica, entretanto eles relataram que a profissão
não tinha conseguido prosperar porque faltou nos Estado Unidos da América (EUA) um
programa nacional credenciado dedicado à formação de especialistas em informação
para cuidados clínicos.
A partir dos anos 2000, começaram a surgir mudanças no modo de trabalho do
Bibliotecário Clínico. O avanço da internet, softwares e banco de dados, facilitaram ainda
mais o modo de recuperar as informações. Recuperar artigos e realizar o download, por
exemplo, foi se tornando algo mais eficiente e que passou a ser realizado para um
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número maior de bibliotecários. Assim, conhecimento de tecnologias de informação
passou a ser crucial. (CIOL; BERAQUET, 2009; WINNING, BEVERLEY, 2003; LAPPA,
2005)
3.1 Bibliotecário Clínico no Brasil
A busca por estudos que relatassem a BC no Brasil demostrou ser uma tarefa
árdua, porém estudos sobre prática da BC na década de 80. No Brasil, os
bibliotecários da área médica desempenham suas atividades nas bibliotecas médicas de
instituições de ensino ou de saúde e seus clientes são geralmente, além da comunidade
externa, estudantes, professores, pesquisadores, e profissionais da saúde. (CIOL, 2001)
Entre os relatos da prática do BC no Brasil apresenta-se o estudo de Silva (1986)
sobre a experiência do Hospital Sarah Kubitschek. O objetivo do estudo era analisar a
prática da BC no hospital, as vantagens e benefícios para a comunidade médica
brasileira. Com o intuito de detectar as necessidades reais de informação do corpo
clínico, melhorar o atendimento ao paciente e propiciar a interação entre profissionais
da saúde e profissionais da informação.
O programa do Hospital Sarah Kubitschek tinha atividades de reunir pequenos
grupos de médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e residentes para discutir as
necessidades de informação, junto com a equipe de bibliotecários afim de obterem
respostas cnico-cientificas de questões clínicas. No início do programa houve
dificuldade por parte do bibliotecário em se tornar membro da equipe clínica, o que foi
rapidamente sanado pela própria interação, que envolvia a necessidade de informação
da equipe clínica e a competência em buscar informação pelo bibliotecário. (SILVA,
1986)
A participação do bibliotecário envolvia reuniões clínicas, pesquisas para
prontuários de pacientes internados e ainda participação de discussão, e não
observação. a ida aos leitos (rondas médicas) foi uma atividade sugerida pelos
próprios médicos que assistiam os pacientes e que perceberam a integração dos
profissionais de saúde aos serviços oferecidos pelos bibliotecários. A atividade consistia
em visitas à enfermaria e que era realizada semanalmente, contando com participação
de uma equipe constituída de médicos, residentes e bibliotecários clínicos. A visita
compreendia em duas etapas, constituindo-se a primeira do relato de dados da patologia
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junto ao leito do paciente, e a segunda de debates visando definir condutas para o
tratamento. O bibliotecário em questão anotava dados gerais sobre paciente e patologia,
além das dúvidas quanto ao tipo de tratamento a ser adotado. Essas informações
subsidiavam os bibliotecários e que em seguida realizam a pesquisa no Index Medicus e
nos documentos do acervo na seleção do material bibliográfico pertinente e circulação
entre os profissionais da equipe. As cópias dos artigos selecionados eram anexadas ao
prontuário do paciente e ainda através do arquivo médico eram analisados e divulgados
os prontuários similares ao caso em questão. (SILVA, 2006)
No estudo de Pereira (2005) que atuava como bibliotecária na área da saúde em
Santa Catarina, ela apresentou uma dissertação a respeito do perfil do bibliotecário da
área de ciências da saúde em Santa Catarina. Os objetivos que nortearam o seu estudo
eram identificar o perfil e competências dos bibliotecários participantes do grupo de
Informação em Ciências da Saúde em Santa Catarina (GBICS-SC). A autora buscou, ainda,
verificar se as instituições em que trabalham estes bibliotecários favorecem e/ou
fornecem programas de atualização. O método utilizado por Pereira (2005) foi quanti-
qualitativo e a coleta de dados ocorreu através de 21 questionários, dos quais 18 foram
respondidos. A análise das respostas indicou as competências mais requeridas aos
bibliotecários que atuam na área da saúde em Santa Catarina: pleno domínio das
tecnologias de informação; bom relacionamento com o usuário; e ser capaz de avaliar a
qualidade da informação.Em relação à atualização do profissional, notou-se que os
mesmos têm buscado cursos de especialização e eventos na área, porém, por iniciativa
própria. Na conclusão do estudo, a autora admitiu não ter conseguido identificar o perfil
do bibliotecário na área da saúde em seu estado. (PEREIRA, 2005)
Já a atuação dos BCs em Hospitais universitários, visa à recuperação, manutenção
e incremento de informação em saúde para as pessoas, além das responsabilidades
relacionadas ao ensino e à pesquisa científica. Para tanto, estes profissionais precisam
realizar um conjunto altamente complexo de atividades, envolvendo desde a realização
de atendimentos, e outras atividades de prestação de serviços informacionais em saúde
à comunidade, até as ações de capacitação de recursos humanos. Uma vez que hospitais
universitários são unidades de saúde consideradas capazes de prestarem serviços
altamente especializados e com qualidade à população dando suporte técnico necessário
aos programas mantidos por diversos centros de referência e à gestão de sistemas de
saúde pública, de alta complexidade e de elevados riscos e custos operacionais. O
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bibliotecário neste cenário também atua firmemente na tomada de decisão e
disseminação de informação médica, participando também do corpo clínico. (CIOL,
2001)
A atuação do BC em operadoras de saúde também é um fator extremamente
novo, participando na tomada de decisão auxiliando na avaliação de tecnologias em
saúde (ATS). A ATS surge nos países desenvolvidos, com o objetivo de subsidiar e
auxiliar as decisões políticas quanto ao impacto da tecnologia em saúde. (CIOL, 2001)
Em virtude dos fatos e os custos crescentes em saúde, o reconhecimento da
existência de desperdício de recursos, o desejo de consolidar direitos constitucionais do
cidadão e a crescente intervenção do poder judiciário no setor de saúde, fizeram com
que o governo produzisse meios mais formais de aprimorar o processo de decisão
quanto à incorporação e ao uso das tecnologias em saúde (CIOL, 2001). Assim, em 26 de
novembro de 2003, foi criado o Grupo de Trabalho de Avaliação de Tecnologias em
Saúde na II Reunião Ordinária da plenária do Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação
do Ministério da Saúde. A partir daí, uma série de ações passam a ser desenvolvidas pelo
Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde - Decit/MS em
colaboração com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para fomentar a pesquisa
em saúde no sentido de subsidiar o processo de incorporação e monitorização de
tecnologias em uso no SUS. E mais uma vez a atuação do Bibliotecário Clínico (BC) é
fundamental para realização das pesquisas que irão subsidiar o processo de tomada de
decisão. (BRASIL, 2015)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A MBE é fundamental para a tomada de decisão em saúde na busca da melhor
atenção ao paciente. Se configura com uma prática em expansão e com isso reforça a
necessidade de profissionais capazes de lidar com complexidade da informação em
saúde. Neste contexto, o Bibliotecário Clínico (BC) é o profissional que pode atuar junto
a equipe na busca pela melhor evidência devido a sua expertise em organizar e
manusear as fontes na recuperação da informação. No Brasil, a atuação do BC ainda é
modesta e a literatura sobre o tema escassa, o que ressalta a necessidade de ampliar a
discussão nas Escolas de Biblioteconomia e nos Hospitais, sobre a importância deste
profissional. As Escolas de Biblioteconomia necessitam adequar seus currículos com
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disciplinas que propiciem a formação dos bacharéis em Biblioteconomia para atuação
em Bibliotecas Hospitalares. Além disso, faz-se necessário tornar obrigatório por lei, a
presença da biblioteca nos hospitais que possuem atividade de ensino de residência e
especialização médica. Enquanto isso não acontece, cabe aos BCs atuantes no país, criar
grupos de discussão, eventos e projeto para divulgar a Biblioteconomia Clínica e
possibilitar a expansão de bibliotecas Hospitalares nos Hospitais que ainda não possuem
um serviço de informação em saúde sistematizado por meio da Biblioteca para suporte a
MBE.
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