Fortaleza, CE |
v.5, n.2 |
jul./dez. 2020 |
ISSN 2525-3468 |
DOI: https://doi.org/10.36517/2525-3468.ip.v5i2.2020.44047.155-177 |
ARTIGO
MAPEAMENTO DA MEMÓRIA AUDIOVISUAL ONLINE DOS CURSOS DE JORNALISMO ORIGINADOS DO PROGRAMA REUNI
MAPPING THE ONLINE AUDIOVISUAL MEMORY OF THE JOURNALISM COURSES FROM THE REUNI PROGRAM IN BRAZIL
José Jullian Gomes de Souza¹
¹ Mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: jullianjose64@gmail.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Conflito de interesses: O autor declara que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados: Todos os dados relevantes estão disponíveis neste artigo.
Recebido em: 10/05/2020.
Aceito em: 22/06/2020.
Revisado em: 03/11/2020.
Como citar este artigo:
SOUZA, José Jullian Gomes de. Mapeamento da memória audiovisual online dos cursos de Jornalismo originados do Programa Reuni. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 5, n. 2, p. 155-177, jul./dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.36517/2525-3468.ip.v5i2.2020.44047.155-177.
RESUMO
Este artigo objetiva investigar o processo de armazenamento da memória audiovisual em plataformas online, a partir dos cursos de Jornalismo criados pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Como objetivo geral busca-se investigar se e como os 15 (quinze) novos cursos de Jornalismo criados pelo Reuni estão arquivando e disponibilizando esses documentos na plataforma online. E os objetivos específicos: a) mapear os novos cursos de Jornalismo criados pelo Reuni e as disciplinas vinculadas ao telejornalismo/audiovisual; e b) discorrer sobre os novos lugares de memória, como aporte para o arquivamento online. Como embasamento metodológico, parte-se da abordagem quanti-qualitativa e estratégia de pesquisa exploratório-descritiva, cujo intuito é identificar a ausência ou a presença de acervos audiovisuais online dos cursos selecionados. As considerações sobre esse mapeamento apontam para a visualização de poucas práticas de preservação digital e a necessidade da criação de diretrizes e políticas institucionais para intensificar essa prática, ou que ela seja aderida por essas instituições.
Palavras-chave: Documento telejornalístico. Informação audiovisual. Memória digital.
ABSTRACT
This article aims to investigate the process of storing audiovisual memory on online platforms, based on the Journalism courses created by the Program to Support Federal University Restructuring and Expansion Plans (Reuni). The general objective is to investigate whether and how the (15) fifteen new Journalism courses created by Reuni are archiving and making these documents available on the online platform. And the specifics objectives: a) to map the new Journalism courses created by Reuni and the disciplines linked to telejournalism / audiovisual and b) to talk about the new places of memory, as a contribution to the online filing. As a methodological contribution, it starts with the quantitative-qualitative approach and exploratory-descriptive research strategy, whose aim is to identify the absence or presence of audiovisual collections online in these selected courses. The considerations on this mapping point to the visualization of few digital preservation practices and the need to create guidelines and institutional policies to intensify this practice or for it to be adhered to by these institutions.
Keywords: Television news document. Audiovisual information. Digital memory.
1 APONTAMENTOS INTRODUTÓRIOS
Nos cursos de Jornalismo, as disciplinas de telejornalismo ou jornalismo audiovisual estabelecem bases teórico-práticas para que os estudantes conheçam a linguagem, a produção e os processos de construção desse campo de atuação profissional. Assim, a quantidade de disciplinas ofertadas, nomenclaturas e semestres onde se visualiza a prática dessas disciplinas depende da ementa curricular de cada curso e instituição. Mas, de modo geral, em algum momento da graduação o estudante conhecerá e manterá contato com a linguagem audiovisual com abordagem jornalística.
Nestas disciplinas observa-se a produção de diversos produtos audiovisuais, como: boletins, reportagens de TV, telejornais universitários, documentários e grandes reportagens de TV e outros formatos telejornalísticos, transformando-se, posteriormente, em documentos audiovisuais. Todavia, alguns questionamentos perpassam o momento de pós-produção desses produtos: o que as instituições e/ou cursos de Jornalismo têm feito com esses documentos, que são produzidos nestas disciplinas? Visualiza-se alguma ação que objetiva a salvaguarda, a recuperação e a disseminação dessa memória audiovisual? Essas instituições fazem uso de plataformas digitais enquanto recursos e estratégias de preservação?
As questões elencadas perpassam o diálogo entre o arquivamento e a disponibilização dos documentos audiovisuais universitários, concentrada na interdisciplinaridade do campo de pesquisa e atuação da Biblioteconomia, Ciência da Informação (BCI) e Ciências da Comunicação, cujo foco perpassa o processo de arquivamento da memória audiovisual universitária. Este cenário é compreendido como um novo campo de investigação sobre os documentos audiovisuais, necessitando de maiores discussões e um aprofundamento, sobretudo, no âmbito acadêmico.
Nesta perspectiva, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: os cursos de jornalismo criados pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) têm demonstrado preocupação e interesse em salvaguardar, recuperar e disseminar os documentos telejornalísticos produzidos nas disciplinas de telejornalismo/audiovisual? Como objetivo principal, almeja-se investigar se e como os quinze (15) novos cursos de Jornalismo criados pelo Reuni estão arquivando e disponibilizando esses documentos na plataforma online. Enquanto objetivos específicos: a) mapear os cursos de Jornalismo criados pelo Reuni e as disciplinas vinculadas ao telejornalismo/audiovisual; e b) discorrer sobre os novos lugares de memória, como aporte para o arquivamento online.
Enquanto procedimentos metodológicos, o presente estudo faz uso da abordagem quanti-qualitativa e uso da estratégia de pesquisa exploratório-descritiva, cujo intuito é identificar a ausência ou a presença de acervos audiovisuais nestes cursos selecionados. Deste modo, a pesquisa exploratória proporcionará uma familiarização com o objeto, e a pesquisa descritiva permitirá a descrição dos fatos e fenômenos acerca do objeto.
Neste sentido, a partir da realização deste estudo e mapeamento, será possível identificar a realidade, ainda que parcialmente, acerca da preservação no âmbito online dos documentos telejornalísticos e universitários das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), com recorte para os cursos de Jornalismo.
2 O DOCUMENTO TELEJORNALÍSTICO UNIVERSITÁRIO
O documento telejornalístico é caracterizado a partir da realidade da produção do telejornalismo, jornalismo audiovisual ou com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), visto que alguns cursos ofertam ao estudante a possibilidade de construir um produto jornalístico audiovisual, como, por exemplo, um documentário ou grande reportagem de televisão. Este formato documental apresenta características multimidiáticas formadas pela imbricação textual, iconográfica e sonora, pois a informação audiovisual é construída a partir de múltiplos sentidos e sendo transformada com o decorrer do tempo (SANTOS et al., 2018).
O surgimento do documento audiovisual perpassa a construção da informação audiovisual presente na sociedade, sobretudo, pela televisão e, atualmente, também pela cultura digital, uma vez que a informação em seu caráter audiovisual se apresenta como uma “grande propulsora de informação, através de recursos imagéticos nos mais diversos ambientes de informação e comunicação como as bibliotecas, centros de pesquisa, organizações jornalísticas dentre tantos outros” (SOUZA, 2020, p. 45). Ou seja, mais do que em outras épocas, hoje, o audiovisual está acoplado na vida cotidiana seja no telejornal, na telenovela, nas séries de TV ou serviços de streaming e no cinema.
Assim, a produção do documento audiovisual nos cursos de Jornalismo estabelece um caminho para a reflexão deste objeto de estudo, pois, numa análise inicial, é possível considerar não somente a falta de um referencial teórico mais robusto e aprofundado sobre a temática, sendo possível, também, fazer alguns apontamentos para fortalecer o campo, dentre os quais se destacam: o reconhecimento enquanto documento histórico e memorialístico de forma consciente e prática; o aumento exponencial de informação audiovisual circulando pelos diversos veículos de comunicação, redes sociais digitais e dispositivos móveis; e o volume e a acumulação da produção audiovisual universitária produzida em cursos de Jornalismo, que, ao não receber um tratamento adequado, pode ser danificada ou mesmo esquecida nas salas de edição e tratamento documental.
Nesta perspectiva, os documentos telejornalísticos podem ser vistos sob a necessidade de uma organização e tratamento documental, além do processo de arquivamento (físico e online) adequados, pois
[...] tem como objetivo propiciar a preservação, mas também a disponibilização visando o acesso, uso, consumo e a recuperação da informação audiovisual, que pode ocorrer tanto em sua forma física quanto sua forma digital, como este artigo objetiva explicitar. Assim, dialoga-se com o surgimento e potencialização das TICs para o acesso a esses documentos audiovisuais jornalísticos, especialmente em ambientes digitais de informação (CAJAZEIRA; SOUZA, 2020, p. 42).
Uma vez que as organizações jornalísticas mantêm o seu acervo audiovisual organizado, tratado e arquivado, verifica-se a existência de um corpus de investigação científica sobre esse modelo de acervo: por que os acervos audiovisuais universitários não são contemplados sob o viés organizacional, memorialístico? De acordo com López-Yepes et al. (2017, p. 401, grifo nosso):
[...] as universidades e seus diversos serviços têm um patrimônio audiovisual apreciável sobre sua criação, evolução histórica e realizações, que não são acessíveis ou são pouco referenciadas. Apesar disso, é um tema pouco levantado e discutido nos campos e fóruns profissionais da área de Biblioteconomia e Documentação: a bibliografia existente é muito escassa existente.
Dessa forma, torna-se fundamental o estabelecimento de uma movimentação e reflexão no campo histórico e epistemológico sobre o arquivo audiovisual nas áreas da BCI e da Comunicação, tanto de forma geral quanto específica dos ambientes de informação, isto é, centros de documentação e memória, para que, assim, seja construída uma literatura científica emergente e se possa instigar as instituições de ensino na valorização desses documentos, bem como outros pesquisadores a repercutirem as temáticas em seus estudos. Sobretudo, essa preservação pode ocorrer com o auxílio e as potencialidades da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC), corroborando para a intensificação do fluxo informacional e a operacionalização remota de uso e acesso dos documentos audiovisuais universitários pela internet.
3 DOS LUGARES DE MEMÓRIA PARA OS NOVOS LUGARES DE MEMÓRIA
No conceito de ‘lugares de memória’, Nora (1993) compreende a imprensa no papel de atuação de salvaguarda da memória, uma memória dos acontecimentos. Esta concepção também é visualizada por Musse e Thomé (2016), destacando o jornalismo como um lugar de memória, pois os registros jornalísticos de épocas passadas permitem o acesso à lembrança do que ocorreu no passado.
Para Ribeiro e Barbosa (2007), o conceito de lugares de memória pode ser compreendido a partir de um boom contemporâneo, acerca dos estudos de memória, visto que há uma intensificação pelo arquivamento da memória, e esse fato relaciona-se à volatilidade do presente e seus acontecimentos (NORA, 1984). Com isso, “[...] a consequência mais imediata deste fenômeno seria a perda das características particulares do homem, daí a necessidade de se criar em profusão os ‘santuários de memória’” (RIBEIRO; BARBOSA, 2007, p. 103, grifo nosso), cujo objetivo é manter essa memória viva e acessível no tempo presente.
É interessante dialogar a ideia de “santuários de memória” com o que Barbosa (1995) compreende por “construtor de memória”, ao se referir sobre a atuação jornalística na transformação da história em memória. A partir do exposto pela autora, entende-se o papel do Jornalismo e do fazer jornalístico na construção de uma tessitura midiática no campo da memória, sendo necessária uma reflexão e significação desse caráter particular de visualização do passado, que é produzido pela mídia.
Dessa forma, essas concepções estão entrelaçadas na ideia do jornalismo como um lugar de memória, construindo esses “santuários” e no qual os seus “senhores” (os jornalistas) são os mantenedores dessa memória midiática. Contudo, a memória midiática necessita ser vista com cautela, pois perpassa por etapas de construção de acordo com o veículo midiático, o recorte do assunto, os interesses e ideologias da empresa e os elementos de edição da reportagem, criando e recriando os acontecimentos e, logo, a memória, o que carece de um aprofundamento em outra pesquisa, que objetiva tal investigação.
Assim, o que seriam esses lugares de memória? De acordo com Barbosa (1995), eles partem da proposição de que não há mais lugares para memorizar, pois a mente humana não possui a capacidade de tudo lembrar e nada esquecer. Dessa forma, a sociedade cria esses lugares físicos (museus, arquivos, centros de memória) para a manutenção de um contato com o passado. Ou seja, são lugares propositalmente estabelecidos, que têm como missão assegurar a preservação da memória ou, ao menos, o seu prolongamento, tentando evitar um possível esquecimento.
Vislumbra-se que a concepção deste conceito reside nos restos das lembranças e representa “[...] a forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a gente chama, porque ela [a memória] a ignora. É a desritualização de nosso mundo que faz aparecer a nação” (NORA, 1993, p. 12-13). Esses lugares são criados a partir da condição de que não há memória espontânea, sendo necessária a criação de lugares de memória artificiais, representando os marcos testemunhais de outros tempos e épocas.
Com isso, o passado pode ser visto como uma utopia que busca a reconstrução do que já se passou (BARBOSA, 2017), tanto por quem já o vivenciou ou para quem deseja ser revelado pela primeira vez. Nesta perspectiva, os lugares de memória funcionam como esse portal para se conectar, transportar para o passado. Eles são “caixas” que resguardam informações e lembranças, podendo ser acessadas para uma rememoração quando e como o sujeito quiser e desejar.
Diante do conceito de lugares de memória, Cajazeira (2019) e Souza e Cajazeira (2019) têm buscado dialogar com a concepção de novos lugares de memória, problematizando o armazenamento e o arquivamento da memória, sobretudo a audiovisual, em ambientes online. O uso deste conceito ancora-se no próprio fluxo de transformações sociais e nas transformações, ferramentas e artefatos digitais advindos com o processo de digitalização da informação, acarretando numa forma de arquivar o passado, bem como de acessá-lo.
Mas o que seriam esses novos lugares de memória? Conforme explicam os autores, eles estão situados na realidade da comunicação digital, tornando as trocas e as interações mais instantâneas; com isso, a memória é vislumbrada sob as potencialidades do uso e acesso remoto e online. A ideia parte da proposição da digitalização da memória ou sendo o documento nativo digital da sua disponibilização em um sistema de memória, frente às novas formas de preservação e disseminação da informação na sociedade contemporânea, visto que objetivam uma reorganização do sistema de troca simbólica de informação, conteúdo e contato entre os sujeitos. Nesta sociedade, tudo ocorre de forma rápida e intensa, onde a informação transita a uma velocidade ilimitada, onde novos lugares, como as redes sociais digitais, estabelecem formas de armazenamento e interação com os documentos audiovisuais na rede digital.
Assim, é a “[...] Memória que mantém viva os diversos atores (desde o discente até a IES), acarretando no desenvolvimento de novos lugares da memória sob as potencialidades das mídias digitais e dos sistemas modernos de recuperação da informação” (SOUZA; CAJAZEIRA, 2019, não paginado). São os lugares que aumentam a capacidade de armazenamento e processamento da expansão da memória para além do espaço físico, pois o espaço digital é um “espaço virtualmente ilimitado para o armazenamento de informação que pode ser produzida, recuperada e associada à disponibilização dos públicos alvos visados” (PALACIOS, 2014, p. 95).
Nesta perspectiva, identifica-se um aumento da necessidade humana de guardar os registros e uma profusão de objetos que foram e estão sendo desenvolvidos com o intuito de tudo armazenar. Acerca desse movimento, Ribeiro e Barbosa (2007, p. 102, grifo nosso) explicam que existe uma
[...] ânsia pelo arquivamento – a vontade de tudo guardar, de tudo armazenar, de nada perder – é reforçada na contemporaneidade pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, sobretudo a informática, que criam a possibilidade de um arquivo total, infinito.
No cenário dessa “ânsia pelo arquivamento”, ressalta-se a necessidade de uma reflexão sobre como ocorre essa prática do arquivamento, em especial nas IFES. O que dialoga com a preservação da memória telejornalística e uma construção da identidade dessas instituições, dos seus atores internos e externos, possibilitando, assim, o fortalecimento do laço universidade e sociedade.
4 A INTERIORIZAÇÃO DOS CURSOS DE JORNALISMO
O Reuni foi iniciado em 24 de abril de 2007 e funciona como uma das políticas públicas que integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Sendo instituído pelo Decreto n° 6.094, de 24 de abril de 2007, com o lema “Todos pela Educação”, o Reuni tem um papel estratégico em conjunto com as universidades federais, visando ao desenvolvimento socioeconômico e à expansão da educação para os interiores do Brasil.
De acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2010), esse processo ocorreu em duas etapas: a primeira com o Programa de Expansão, denominada de Fase I, e a segunda etapa com a implantação do Programa Reuni, chamada de Fase II. A partir dessa expansão, observa-se tanto uma ampliação de vagas para os estudantes, quanto a criação de novos cursos de graduação e pós-graduação situados em regiões do interior brasileiro.
Em pesquisa realizada junto ao site do e-MEC (sistema eletrônico de acompanhamento, que regimenta a Educação Superior no Brasil), verifica-se a existência de um total de 38 cursos de Jornalismo apenas no âmbito federal. Com o Reuni, 15 (quinze) novos cursos de Jornalismo foram criados, contemplando as cinco regiões brasileiras, passando de 23 para 38 cursos. Assim, a tabulação dos dados, no quadro 1 (a seguir), explicita a quantidade de cursos por região, o campus e o ano de criação desses novos cursos:
Quadro 1 – Cursos de Jornalismo criados pelo Reuni
Região |
Universidade/Campus |
Sigla |
Ano de criação |
Norte |
Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins |
UFAM |
2007 |
Universidade Federal do Amapá – Campus Macapá |
UNIFAP |
2011 |
|
Universidade Federal do Sul e Sudoeste do Pará – Campus Rondon do Pará |
UNIFESSPA |
2018 |
|
Universidade Federal do Rondônia – Campus Vilhena |
UNIR |
2002 |
|
Nordeste |
Universidade Federal do Maranhão – Campus Imperatriz |
UFMA |
2006 |
Universidade Federal do Cariri – Campus Juazeiro do Norte |
UFCA |
2013 |
|
Universidade Federal do Recôncavo Baiano – Campus Barreiras |
UFRB |
2006 |
|
Centro-Oeste |
Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Araguaia |
UFMT |
2009 |
Sudeste |
Universidade Federal de Ouro Preto – Campus Mariana |
UFOP |
2008 |
Universidade Federal de São João del-Rei – Campus São João del-Rei |
UFSJ |
2009 |
|
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Campus Seropédica) |
UFFRJ |
2010 |
|
Universidade Federal de Viçosa – Campus Viçosa |
UFV |
2001 |
|
Sul |
Universidade Federal de Santa Maria – Campus Frederico Westphalen |
UFSM |
2006 |
Universidade Federal do Pampa – Campus São Borja |
UNIPAMPA |
2010 |
|
Universidade Federal de Pelotas – Campus Pelotas |
UFPEL |
2006 |
Fonte: Elaborado pelo autor (2020), baseado em Cajazeira (2019).
O mapeamento apresenta os cursos de Jornalismo dentro do processo de interiorização da educação nas cinco regiões do Brasil. Destacam-se as regiões Norte (4 cursos) e Sudeste (4 cursos) com a maior porcentagem de novos cursos. Em seguida, aparecem as regiões Nordeste e Sul (3 cursos em cada uma) e, por último, a região Centro-Oeste na última posição (1 curso).
Nesse sentido, as disciplinas de telejornalismo/audiovisual também foram quantificadas para visualizar como e quando ocorre o contato com a produção audiovisual pelo estudante. Os dados estão tabulados no quadro a seguir:
Quadro 2 – Quantidade de disciplinas de telejornalismo/audiovisual por instituição
Região |
Universidade |
Nº de disciplinas |
Período |
Norte |
UFAM |
2 |
6º e 7º (telejornalismo) |
UNIFESSPA |
2 |
4º e 5º (telejornalismo) |
|
UNIFAP |
3 |
4º, 5º, 6º (laboratório) |
|
UNIR |
2 |
5º e 6º (telejornalismo) |
|
Nordeste |
UFCA |
3 |
4º, 5º, 6º (laboratório) |
UFMA |
1 |
5º (laboratório de telejornalismo) |
|
UFRB |
2 |
4º e 5º (oficina de telejornalismo) |
|
Centro-Oeste |
UFMT |
1 |
6º (Produção e edição em TV) |
Sudeste |
UFV |
1 |
6º (laboratório de telejornalismo) |
UFOP |
2 |
4º (linguagem audiovisual) e 5º (telejornalismo) |
|
UFSJ |
3 |
4º, 5º (oficinas) e 6º (laboratório) |
|
UFRRJ |
2 |
5º (telejornalismo) e 6º (criação audiovisual) |
|
Sul |
UFSM |
2 |
4º (Introdução ao audiovisual) e 5º (reportagem audiovisual) |
UFPEL |
2 |
3º (televisão) e 4º (telejornalismo) |
|
UNIPAMPA |
3 |
4º, 5º e 6º (telejornalismo) |
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
De modo geral, percebe-se a existência de 1 (uma) a 3 (três) disciplinas por instituição/curso, não sendo possível visualizar uma integração no sentido de aplicação dessas disciplinas por semestres específicos, já que cada instituição oferta as disciplinas em período diferentes. Porém, essa quantificação demonstra a relevância dessas disciplinas para refletir sobre a importância da preservação da memória como uma ação social, histórica e necessária, ainda mais, na contemporaneidade.
5 QUADRO METODOLÓGICO
O quadro metodológico perpassa a abordagem quanti-qualitativa, propiciando a compreensão do objeto de estudo tanto de forma subjetiva quanto objetivamente. De acordo com Minayo e Sanches (1993, p. 247), “[...] a relação entre quantitativo e qualitativo, entre objetividade e subjetividade não se reduz a um continuum, ela não pode ser pensada como oposição contraditória”. Deste modo, o mapeamento da memória telejornalística universitária perpassa a construção de algumas etapas: a) mapear os cursos das IFES que pertencem ao projeto de desenvolvimento do Reuni; b) quantificar as disciplinas de telejornalismo/audiovisual para demonstrar que esta disciplina perpassa por diversos e diferentes momentos da graduação; e c) identificar as plataformas online que estão sendo utilizadas.
Em relação às estratégias, adotam-se a pesquisa exploratória e a descritiva. Para Mattar (1999), a utilização da pesquisa exploratória fornece ao pesquisador um maior conhecimento sobre a temática ou problema de pesquisa a ser investigado. Ela é apropriada para os primeiros estágios da investigação quando a familiaridade, o conhecimento e a compreensão do fenômeno ainda estão em processo de construção. Em conjunto, a pesquisa descritiva propõe uma sistematização de determinado fenômeno ou área do saber, a qual se deseja investigar, de modo objetivo e detalhado (RICHARDSON, 2011).
A coleta de dados para o mapeamento das instituições e cursos ocorreu junto ao site do e-MEC, que detém tais informações sobre as instituições de ensino, verificando as datas de abertura de cada curso e o status atual de funcionamento. Com a listagem desses cursos, procurou-se, junto aos sites oficiais das instituições e dos cursos de Jornalismo, as ementas curriculares, com o objetivo de quantificar as disciplinas de telejornalismo/audiovisual.
Numa segunda etapa, já com a listagem disponível, buscou-se identificar se as produções audiovisuais estavam armazenadas em plataformas digitais. Essa verificação ocorreu nos sites das IFES, dos cursos que possuíam um site próprio e em redes sociais digitais, como o YouTube e o Facebook, que compreendem os novos lugares de memória. A coleta dos dados ocorreu no período de abril a maio de 2020, para uma posterior tabulação, categorização e análise das informações.
6 DISCUSSÃO
A partir dos dados disponibilizados no quadro 2, optou-se por apresentá-los graficamente (figura 1, a seguir) com o objetivo de proporcionar uma melhor visualização e comparação das quantidades de disciplinas em cada instituição/curso:
Figura 1 – Gráfico da quantidade de disciplinas de telejornalismo e audiovisual
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
Assim, os cursos com 3 (três) disciplinas encontram-se na UNIPAMPA (região Sul), UFSJ (região Sudeste), UFCA (região Nordeste) e UNIFAP (região Norte). Ou seja, quase todas as regiões do país possuem ao menos uma instituição com 1 (um) novo curso de Jornalismo criado pelo Reuni. Em seguida, com 2 (duas) disciplinas: a UFPEL e UFSM (região Sul); UFRRJ e UFOP (região Sudeste); UFRB (região Nordeste); UNIR, UNIFESSPA e UFAM (região Norte). Por fim, as instituições que apresentaram apenas 1 (uma) disciplina: UFV (região Sudeste); UFMT (região Centro-Oeste) e UFMA (região Nordeste).
Os cursos de Jornalismo da UFMA e UFSM não apresentam disciplinas que especifiquem, em seus títulos, a nomenclatura “telejornalismo”, como observado nas outras instituições, mas compreendem o campo do audiovisual (observado de forma mais geral). Em tais cursos, respectivamente, têm-se a disciplina de “Produção e edição em TV”, no 6º semestre na UFMA, e as disciplinas de “Introdução ao audiovisual”, no 4º semestre, e “Reportagem audiovisual”, no 5º semestre, na UFSM. E a disciplina “Criação audiovisual”, no 6º semestre, na UFRRJ.
Outro aspecto interessante a ser destacado são os laboratórios de telejornalismo/audiovisual. Os laboratórios objetivam, em suma, uma intensificação da prática de produção audiovisual, pois eles ocorrem após as disciplinas bases sobre o audiovisual – não adentrando neste escopo o curso da UFV e a UFMA, que só possuem 1 (uma) disciplina, e esta é o laboratório. Assim, o laboratório funciona como um projeto no qual o estudante se aprofunda em formatos, narrativas e modelos de jornalismo audiovisual incorporados com a prática profissional, como ocorre no cotidiano da profissão.
A existência desses laboratórios ocorre na UNIFAP, UFV, UFCA e UFSJ, todas no 6º semestre, e na UFMA, no 5º semestre, ou seja, uma porcentagem pequena (cerca de 33% do total de cursos) diante dos 15 (quinze) cursos analisados. Os cursos da UFSJ, UFCA e UNIFAP possuem 3 (três) disciplinas e, ao incorporarem o laboratório na última fase, propõem um aprofundamento da área pelo estudante e ressaltam a importância laboratorial da produção audiovisual telejornalística universitária.
Para além deste quadro de disciplinas, listaram-se as plataformas online de arquivamento e disponibilização da produção audiovisual universitária (como foco principal deste estudo), sendo possível compreender se e como os documentos audiovisuais estão disponíveis para acesso e uso online. Esta fase da pesquisa é fundamental, pois a reflexão da problemática inicialmente proposta neste artigo perpassa essa visualização. Diante disso, torna-se viável a apresentação dos processos de salvaguarda da memória audiovisual desses estudantes de Jornalismo. No quadro a seguir, estão listados os cursos e a existência ou não da disponibilização online:
Quadro 3 – Arquivamento online dos documentos telejornalísticos universitários
Universidade |
Arquivamento online |
UFAM |
Não encontrado |
UNIFESSPA |
Não encontrado |
UNIFAP |
Não encontrado |
UNIR |
Não encontrado |
UFCA |
Site da disciplina, YouTube e Facebook |
UFMA |
YouTube |
UFRB |
Não encontrado |
UFMT |
Não encontrado |
UFV |
Site das produções audiovisuais, YouTube |
UFOP |
Site das produções audiovisuais |
UFSJ |
Não encontrado |
UFRRJ |
YouTube |
UFSM |
Não encontrado |
UFPEL |
Não encontrado |
UNIPAMPA |
YouTube |
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
Dentre os 15 (quinze) cursos de Jornalismo criados pelo Reuni, apenas 6 (seis) apresentam uso de plataformas online para o arquivamento e a disponibilização dos documentos telejornalísticos, a saber: UFCA e UFMA (região Nordeste); UFV, UFOP e UFRRJ (região Sudeste); e UNIPAMPA (região Sul). Destaca-se que apenas as regiões Norte e Centro-Oeste não apresentaram informações sobre o uso de plataformas online, e dentre as instituições/cursos que possuem as plataformas o uso ocorre a partir dos seguintes canais: sites institucionais e redes sociais digitais, a exemplo do YouTube, Instagram e Facebook.
No primeiro caso analisado, tem-se a realidade do Curso de Jornalismo da UFCA. A instituição possui um canal na plataforma YouTube, uma fanpage no Facebook e um site da disciplina de telejornalismo. O canal do YouTube foi criado em 10 de outubro de 2012, onde as produções telejornalísticas das disciplinas são arquivadas e disponibilizadas, como os telejornais universitários, grandes reportagens, documentários de TV, boletins e demais documentos telejornalísticos.
Figura 2 – Canal do YouTube da disciplina de Telejornalismo
Fonte: https://www.youtube.com/user/TVComunicacaoCariri
Outra plataforma utilizada é a rede social Facebook. A fanpage foi criada em 14 de abril de 2015 e, assim como o canal do YouTube, também foi utilizada como plataforma de arquivamento e disponibilização. Na verificação do seu uso, constatou-se que atualmente o Facebook está desativado, e a última publicação ocorreu em 15 de setembro de 2017.
Figura 3 – Fanpage da disciplina de Telejornalismo
Fonte: https://www.facebook.com/telejornalismoufca
Posteriormente a essas duas plataformas, a disciplina de Telejornalismo criou um site institucional no ano de 2015, no qual todas as produções audiovisuais passaram a ser armazenadas, e seu uso ocorre em conjunto com o canal do YouTube. Os links são compartilhados no site, mas as produções são visualizadas diretamente no canal, através de um hiperlink.
Figura 4 – Site da disciplina de Telejornalismo da UFCA
Fonte: http://telejornalismo.ufca.edu.br
Além desses canais e plataformas, a disciplina de Telejornalismo da UFCA criou, em 10 de abril de 2018, um Instagram denominado ‘Repórter UFCA’, apresentando boletins noticiosos feitos pelos estudantes, e, com isso, funcionando como mais uma plataforma de arquivamento audiovisual online.
Figura 5 – Instagram da disciplina de telejornalismo da UFCA
Fonte: https://www.instagram.com/reporterufca
O Curso de Jornalismo da UFMA Campus Imperatriz é outro exemplo, que faz uso das plataformas online para o arquivamento e a disponibilização desses documentos. O canal do YouTube foi criado em 28 de novembro de 2015, mas, conforme foi verificado, a sua última postagem aconteceu em 8 de janeiro de 2018. Ou seja, não houve uma continuidade no processo de armazenamento.
Figura 6 – Canal do YouTube do curso de Jornalismo da UFMA
Fonte: https://www.youtube.com/channel/UCfAk_CHsO6t1m5QQI546ePg
Além do canal, foram visualizadas outras duas plataformas de arquivamento: um Instagram e um site. Porém, no acesso ao perfil do Instagram, encontrou-se apenas 1 (uma) publicação do dia 1º de abril de 2016 e, de lá para cá, o perfil entrou em desuso. Em relação ao site, o link disponibilizado no perfil do Instagram direciona o usuário para um site do wix.com, no qual contém a informação de que o domínio não está mais em uso. Com isso, infere-se a descontinuidade de tal processo.
Outro caso é o Curso de Jornalismo da UFV Campus Viçosa. Ele possui um site (sem informações sobre a data de criação) no qual apresenta as produções telejornalísticas laboratoriais; porém, apenas algumas produções estão disponíveis, como o caso do Programa Contrarregra. A plataforma também é baseada na relação de disponibilização do produto audiovisual através do canal do YouTube, por um hiperlink.
Figura 7 – Site das produções audiovisuais do curso de jornalismo da UFV
Fonte: http://www.jornalismo.ufv.br/audiovisual/category/inicio
As informações disponibilizadas no site estão desatualizadas, e as demais produções não podem ser acessadas, pois os vídeos não estão arquivados ou disponíveis via hiperlink. Mas, ao acessar o canal do YouTube, criado em 6 de outubro de 2014, o usuário pode visualizar a continuação da programação do Programa Contrarregra, tendo a sua última atualização em 6 de março de 2020. Pode-se creditar esta última atualização ao cenário da pandemia e à paralisação das atividades acadêmicas momentaneamente.
Figura 8 – Canal do YouTube do programa contrarregra do curso de jornalismo da UFV
Fonte: https://www.youtube.com/channel/UCCn9B7Y4sLJyK0EG9O7zqKQ/featured
Outra instituição analisada é a UFPO Campus Mariana. O site do Curso de Jornalismo encontra-se atualizado, não havendo informações exatas sobre a sua criação, mas, ao observar pela data da primeira postagem, abril de 2018, pode-se conjecturar que esta seja uma provável data inicial de criação do site ou ao menos do início do uso dessa plataforma digital. O conteúdo também está disponível no site através do hiperlink, redirecionando o usuário para um canal no YouTube. No site, encontram-se telejornais, documentários, reportagens e produtos ficcionais disponíveis para acesso remoto.
Figura 9 – Site do conteúdo audiovisual do curso de jornalismo da UFOP
Fonte: https://www.audiovisual.ufop.br
Dessa forma, o canal do YouTube, criado em 3 de fevereiro de 2017, funciona como outro lugar de memória para o arquivamento dos documentos telejornalísticos da instituição mineira. A criação e o uso da plataforma antecedem o desenvolvimento do site institucional, uma situação semelhante ao que ocorreu com o Curso de Jornalismo da UFCA e da UFV.
Figura 10 – Canal do YouTube do Curso de Jornalismo da UFOP
Fonte: https://www.youtube.com/channel/UC3OY2u-XSUxNxhZdlq21vhw/videos
Na mesma vertente, o Curso de Jornalismo da UFRRJ Campus Seropédica mantém o arquivamento da produção telejornalística em um canal criado na plataforma YouTube. O canal, criado em 17 de julho de 2014, contém poucas produções dos estudantes, e suas atividades estão paralisadas ou descontinuadas, tendo como última postagem um vídeo no início de 2019.
Figura 11 – Canal do YouTube do Curso de Jornalismo da UFRRJ
Fonte: https://www.youtube.com/channel/UCJ6ZdxsPFM5p4wxzw0JEJ0g/featured
Por fim, tem-se o Curso de Jornalismo da UNIPAMPA Campus São Borja. Foram encontradas 2 (duas) plataformas de uso para arquivamento sob o uso das redes sociais digitais. No primeiro caso, um canal no YouTube, criado em 11 de dezembro de 2012. Porém, houve uma descontinuidade do uso dessa plataforma, e sua última postagem ocorreu no ano de 2015.
Figura 12 – Canal do YouTube do Curso de Jornalismo da UNIPAMPA
Fonte: https://www.youtube.com/user/pampanewsunipampa/featured
O curso também utiliza como um novo lugar de memória a rede social Facebook. A criação da fanpage é anterior a do canal, sendo idealizada em março de 2012, e, diferentemente do canal no YouTube, continua em utilização para o armazenamento e a disponibilização da produção audiovisual dos estudantes. Na visualização das postagens, identificou-se que a última ocorreu em 11 de fevereiro de 2020.
Figura 13 – Fanpage do Curso de Jornalismo da UNIPAMPA
Fonte: https://www.facebook.com/PampaNewsUnipampa/videos/?ref=page_internal
Expostos os casos das instituições/cursos de Jornalismo das universidades federais criadas pelo Reuni – diante da realidade dos processos de armazenamento, disponibilização e, também, da recuperação da memória audiovisual – identifica-se que a maioria dessas instituições não demonstra uma preocupação com o arquivamento online, pois, das 15 (quinze) instituições analisadas, apenas 6 (seis) apresentaram alguma perspectiva de atenção com o armazenamento, ainda que algumas não tenham dado continuidade ao processo de digitalização, o que significa que menos de 50% dos casos estudados fazem uso das potencialidades das ferramentas e plataformas online.
Outra complexidade identificada é a questão da manutenção da atividade de preservação desses documentos audiovisuais universitários. Na maioria dos casos analisados neste artigo, mesmo havendo um inicial processo de arquivamento, não houve uma continuidade dessas atividades, mas sim uma descontinuidade. Essa visualização sugere o entendimento de que não há um plano de gestão, de preservação ou diretrizes institucionais para a salvaguarda desses documentos. Assim, ao término das disciplinas, os produtos audiovisuais jornalísticos universitários, de modo geral, permanecem nas salas de edição do material audiovisual das universidades, com os próprios estudantes ou professores que decidem criar um acervo próprio. Ou, numa visão mais pessimista, eles são produzidos para as disciplinas e esquecidos ao término delas.
Assim, dos 6 (seis) casos que apresentaram momentos de atenção à preservação da memória audiovisual no ambiente digital, somente 4 (quatro), de fato, permanecem com a continuidade do arquivamento – estando com a atividade paralisada devido à pandemia ocasionada pela COVID-19, que estacionou parte das atividades acadêmicas no ano de 2020 (sobretudo no primeiro semestre). Tais instituições são: UFCA, UFV, UFOP e UNIPAMPA.
A partir da investigação proposta nesta pesquisa, compreende-se que o cenário do arquivamento audiovisual ainda não é uma realidade tão presente e constante nas IFES. Ele não se configura como uma atividade básica, que objetiva não somente o cuidado com o documento, mas com questões de cunho social que perpassam a idealização dessas produções e a sua própria manutenção enquanto memória social de uma época, lugar e sujeitos envolvidos na construção desses documentos.
7 CONCLUSÃO
O mapeamento realizado a partir do estudo dos 15 (quinze) novos cursos de Jornalismo do Reuni é fruto de uma série de investigações que vêm sendo realizadas, com o objetivo de fortalecer o campo de pesquisa e a atuação profissional sobre o documento telejornalístico universitário. Ao percorrer em busca de referenciais teóricos, identificou-se um campo de investigação que pouco contempla o documento audiovisual produzido na universidade. Além disso, o percurso histórico e epistemológico, mesmo não sendo objeto de investigação deste artigo, demonstra uma carência sobre o escopo desse modelo documental nos campos da Biblioteconomia, Ciência da Informação e Ciências da Comunicação, um aspecto reflexivo que é posto em voga para melhorar este cenário nas áreas de atuação mencionadas.
O entrelaçamento dessas áreas e a sua interdisciplinaridade são indispensáveis para compreender as partes e, logo depois, o conjunto de atividades teórico-práticas que podem advir desses campos de pesquisa. Ademais, entende-se que o problema não está, diretamente, relacionado somente à falta de políticas e diretrizes de salvaguarda nestas instituições acerca desse modelo documental.
Pode-se atribuir, neste sentido, a falta do olhar histórico e cultural do presente acerca do passado vislumbrando um futuro, do uso imediato para um uso posterior, pois, ainda que esses documentos audiovisuais façam parte da memória histórica e cultural das sociedades, ao longo das transformações da humanidade, por serem documentos oriundos das disciplinas de telejornalismo/audiovisual e ligados ao aprendizado e prática dos estudantes, infere-se que os mesmos são renegados e esquecidos, seja em salas de tratamento, ilhas de edição ou em acervos particulares.
O arquivamento dessas memórias audiovisuais não pressupõe simplesmente uma questão tecnicista e tecnológica, com a utilização das ferramentas e plataformas digitais apresentadas com o surgimento das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC). Mas, antes, com a construção de uma perspectiva social de disponibilização, compartilhamento, acesso e uso remoto do conteúdo destes documentos, de um lado, e, de outro, da constituição de um acervo que remonta à construção histórica desses cursos de Jornalismo, dessas turmas e estudantes que se tornam egressos em algum momento, da evolução da própria produção audiovisual do curso e da participação da sociedade na colaboração para que essas produções aconteçam.
Neste sentido, este estudo apresentou a realidade de 15 (quinze) novos cursos de Jornalismo do Reuni como processo de interiorização da Educação Superior, deixando em aberto, para a realização de outras pesquisas, a investigação acerca do processo de arquivamento audiovisual em outros cursos de Jornalismo no Brasil, totalizando 38 (trinta oito) cursos em IFES. Deste modo, o uso dos novos lugares de memória objetiva a construção de um novo olhar para um ambiente não apenas tecnológico, mas mediador, um mantenedor dos arquivos e documentos a partir da relação máquina-homem, das relações comunicacionais, fluxos de informação e trocas de saberes e conhecimentos. Um dispositivo que possibilita a manutenção, digitalização e a preservação das memórias audiovisuais no e do espaço acadêmico na rede digital em constante movimento de construção.
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