Fortaleza, CE |
v.5, n.2 |
jul./dez. 2020 |
ISSN 2525-3468 |
DOI: https://doi.org/10.36517/2525-3468.ip.v5i2.2020.60391.107-131 |
ARTIGO
O FENÔMENO DESINFORMAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DOS ARQUIVISTAS BRASILEIROS: o papel da Competência em informação
THE PHENOMENON OF DISINFORMATION FROM THE PERSPECTIVE OF BRAZILIAN ARCHIVISTS: the role of Information literacy
Renata Lira Furtado¹
Jenifer Galdino de Oliveira²
¹ Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Docente no curso de Arquivologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Pará (UFPA). Líder do Grupo de Pesquisa Arquivologia e Competência em Informação (GpArqCoInfo).
E-mail: renatalira@ufpa.br
² Bacharel em Arquivologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Integrante do Grupo de Pesquisa Arquivologia e Competência em Informação (GpArqCoInfo).
E-mail: Jennifer.galdino@live.com
ACESSO ABERTO
Copyright: Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Conflito de interesses: As autoras declaram que não há conflito de interesses.
Financiamento: Não há.
Declaração de Disponibilidade dos dados: Todos os dados relevantes estão disponíveis neste artigo.
Recebido em: 11/08/2020.
Aceito em: 14/11/2020.
Revisado em: 14/11/2020.
Como citar este artigo:
FURTADO, Renata Lira; OLIVEIRA, Jenifer Galdino de. O fenômeno desinformação sob a perspectiva dos arquivistas brasileiros: o papel da competência em informação. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 5, n. 2, p. 107-131, jul./dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.36517/2525-3468.ip.v5i2.2020.60391.107-131.
RESUMO
Considerando o cenário contemporâneo, de revolução tecnológica, onde as informações, bem como seus canais e formas de disseminação, configuram-se como solo fértil para propagação de desinformação, a presente pesquisa tem como objetivo compreender a percepção dos arquivistas sobre o fenômeno desinformação e o papel da Competência em informação nessa interação. Para tanto, recorreu-se à pesquisa bibliográfica para sistematização e melhor compreensão dos temas abordados, e para coleta de evidências aplicou-se um questionário. A partir da análise dos dados foi possível ponderar a percepção dos arquivistas a respeito do fenômeno desinformação, além de identificar os efeitos que esse fenômeno pode causar em sua atuação. Observou-se que os arquivistas entendem a desinformação tanto quanto reconhecem que sua atuação pode ser afetada por esse fenômeno, bem como compreendem a importância de se desenvolver novas habilidades para lidar com os impactos da desinformação em suas práticas.
Palavras-chave: Arquivista. Desinformação. Competência em Informação.
ABSTRACT
Considering the contemporary scenario, of technological revolution, where information, as well as its channels and forms of dissemination, are configured as fertile soil for the spread of disinformation, this research aims to understand the perception of archivists about the phenomenon of disinformation and the role of Information literacy in this interaction. For this, bibliographic research was used to systematize and better understand the topics covered, and a questionnaire was applied to collect evidence. From the analysis of the data, it was possible to weigh the perception of the archivists regarding the phenomenon of disinformation, in addition to identifying the effects that this phenomenon can cause in their performance. It was observed that archivists understand disinformation as much as they recognize that their performance can be affected by this phenomenon, as well as understand the importance of developing new skills to deal with the impacts of disinformation on their practices.
Keywords: Archivist. Disinformation. Information literacy.
1 INTRODUÇÃO
O mundo está em constantes mudanças e a globalização, principalmente a tecnológica, nos leva a aprimorar novos conceitos de comunicação, bem como novas formas de produção e disseminação da informação. Nesse cenário, é evidente o aumento no volume de informações produzidas e disseminadas, cuja circulação ocorre de forma desenfreada, estabelecendo obstáculos para discernimento acerca da veracidade dos conteúdos, independente dos meios tecnológicos.
O filósofo coreano Byung-Chul Han (2017, 2018) reflete acerca desse cenário e indica que o volume de informações não leva necessariamente à tomada de decisões mais acertadas, a hiperinformação assim como a hipercomunicação não trazem luz à escuridão: mais informações e mais comunicação não clarificam o mundo. Para o autor, a partir de um determinado ponto, a informação não é mais informativa, mas sim deformadora (HAN, 2018).
Nesse contexto, faz-se necessária a reflexão acerca das mudanças provocadas pela revolução digital, a fim de identificar a percepção e o papel do arquivista, enquanto profissional da informação, nesse universo, considerando a necessidade de seu desenvolvimento e atuação diante de um contexto de imensurável circulação de informações, visto que essa constante tem possibilitado o consumo e disseminação da chamada desinformação, que, ainda que não seja um fenômeno recente, configura-se como um aspecto da desordem informacional que vem adquirindo novas nuances com os avanços tecnológicos (LEITE; MATOS, 2017; PASQUALINO, 2020).
Pasqualino (2020) faz um esclarecimento bastante relevante sobre o atual cenário desinformacional ao destacar a diferença entre os conceitos de desinformação e fake News, considerando que ambos os termos muitas vezes são empregados como sinônimos. A autora apresenta um recorte de Bezerra (2018) para quem a “desinformação é um fenômeno que vai além das discussões sobre fake news”, afirmativa corroborada por Jardim e Zaidan (2018) que compreendem que “as fake news cooperam para que haja desinformação”.
Segundo a Comissão Europeia (2018) a desinformação pode ser entendida como uma “informação comprovadamente falsa ou enganadora que é criada, apresentada e divulgada para obter vantagens econômicas ou para enganar deliberadamente o público, e que é suscetível de causar um prejuízo público”.
Para Leite e Matos (2017) a atual emergência do fenômeno desinformação sugere que a leitura e a interpretação perderam seu poder de criticidade, gerando uma mecanização no comportamento dos indivíduos acerca da informação, de modo que acabam se comportando como replicadores de uma “poluição informacional”.
Nesse contexto, a Comissão Europeia em seu relatório “Combater a Desinformação em linha: uma estratégia europeia” (2018) aponta a Competência em Informação (CoInfo) como uma das medidas de combate a desinformação. Considerando ser a CoInfo uma alternativa que prepara o indivíduo para entender de forma crítica e reflexiva a informação e desenvolver habilidades para distinguir entre as informações relevantes e irrelevantes, além de estar capacitado para buscar fontes seguras, hierarquizar e produzir novas informações (BRISOLA, 2017).
A Competência em Informação surgiu nos Estados Unidos, na década de 1970 e no Brasil, somente no ano 2000, associada ao processo de educação de usuários de bibliotecas e à orientação bibliográfica. A expressão consolidou-se na Ciência da informação e atualmente configura-se como uma pauta de interesse social, inclusive com a participação de órgãos como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) que tem promovido ações em torno da informação e do conhecimento, onde a CoInfo aparece como um fator relevante nos projetos que visam à construção de uma sociedade pluralista, equitativa e participativa, capacitando os cidadãos para tomar decisões críticas e proporcionando aos países sustentabilidade para o desenvolvimento político, econômico e social (DUDZIAK, 2001, 2008; FURTADO, 2019).
No contexto arquivístico brasileiro a inserção da CoInfo é recente, as pesquisas nesta seara iniciaram-se em 2016 e enfocam: a investigação acerca das habilidades de CoInfo dos arquivistas (em formação e profissionais), a inserção da CoInfo como disciplina e/ou como um elemento transversal nos cursos de graduação em Arquivologia, a importância dessa discussão no fazer profissional dos arquivistas, a relação da Competência em informação com os fenômenos informacionais, dentre outras discussões e relações.
Nas discussões acerca dos fenômenos informacionais, Moura (2018) pode ser considerada pioneira em sua pesquisa, ao relacionar a tríade Desinformação - Competência em Informação - Arquivologia, cujos resultados indicaram ausência de produção acerca das relações temáticas. A autora observou a relevância dessas discussões, considerando, por exemplo, o contexto atual de atuação do arquivista, onde a interferência das fake news – caracterizadas como uma forma de desinformação, o que indica a necessidade de desenvolvimento das habilidades de Competência em Informação para os processos de gestão da informação, tanto do usuário, produtor e disseminador da informação como para o arquivista (MOURA, 2018).
Nesse contexto, compreender o impacto do fenômeno desinformação na atuação do arquivista, configura-se como uma questão relevante, tanto para a Arquivologia como para a Ciência da Informação. Pasqualino (2020) destaca a importância de o profissional da informação estar atualizado e ciente do seu papel de mediador para auxiliar o usuário a identificar a desinformação e não praticar o seu compartilhamento, o que aumenta ainda mais o caos informacional. Assim, o presente artigo objetiva apresentar a percepção dos arquivistas sobre o fenômeno desinformação e o papel da Competência em informação nessa interação.
Para alcançar o objetivo proposto desenvolveu-se Pesquisa Bibliográfica para construção do referencial teórico e aplicou-se um questionário com questões objetivas e subjetivas, aos profissionais arquivistas formados em universidades brasileiras. O instrumento foi desenvolvido no Google Forms e a solicitação para colaboração com a pesquisa ocorreu por meio de canais on-line: Facebook, Linkedin e WhatsApp.
No contexto atual a desinformação está intimamente associada à web, especialmente ao ambiente das mídias sociais, espaço que possibilita a participação de múltiplos atores na produção e na disseminação de informações. No entanto, a desinformação e os fenômenos que a circundam sempre existiram e não são novidades típicas de uma organização social ou de um momento econômico específico (ZATTAR, 2017).
De acordo com Breton (1999, p. 53) o fenômeno desinformação, configura-se como:
[...] uma atividade de construção de sinais de verdades que são engodos para aqueles que os recebe. Só tem sentido como procedimento que visa convencer um público num contexto em que ele poderia duvidar da realidade de um fato dado. A intenção da desinformação é deliberadamente enganosa, ela é bem mais que simples deformação de uma informação.
O termo desinformação nasceu relacionado a projetos militares de contrainformação e espionagem, que extrapolou para os meios de comunicação e para aparelhos privados e estatais (BRISOLA; BEZERRA, 2018). Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, especialmente com o advento das redes e mídias sociais sua propagação encontrou solo fértil, tornando-se o principal foco de motivação contra o que hoje pode ser considerada uma ameaça ao conhecimento.
Conforme, Brisola e Bezerra (2018, p. 3323) “a desinformação é um sistema informacional que molda a opinião pública de acordo com seus interesses utilizando uma série de artifícios e mecanismos para manter a hegemonia”. Já a Comissão Europeia (2018, p. 5) em seu relatório aponta a desinformação como “um instrumento de influência poderoso [...]”.
Logo, é possível notar que estrategicamente a desinformação tende a ser imperceptível e se projeta em convencer um público a consentir com base em interpretações e opiniões discretamente formuladas uma informação como "verdadeira" e a partir disso adequar-se e propagar. Sobre isso, vale ressaltar que “a desinformação não é necessariamente falsa, muitas vezes, trata-se de distorções ou partes da verdade” (BRISOLA E BEZERRA, 2018, p. 3319).
Com a velocidade da demanda de informações no meio digital e a disseminação de informações com uma rapidez multiplicada, a desinformação ganha vulto com o fenômeno de circulação de fake news. Nesse contexto, é eminente ressaltar a distinção entre desinformação – fenômeno mais completo e com diversas facetas e artifícios e as Fakes news, que podem ser entendidas como informações fabricadas, com características jornalísticas, mas antecipadamente pensadas para a manipulação e descoladas da verdade (BRISOLA; BEZERRA, 2018).
Breton (1999, p. 53) destaca que toda a habilidade técnica da desinformação reside justamente no mecanismo que permite transformar uma informação falsa numa informação "verdadeira" que seja perfeitamente crível e que oriente a ação daquele que a recebe num sentido que lhe é desfavorável.
A desinformação consiste em fazer com que um público ou individuo identifique-se com uma informação que foi manipulada e criada com o objetivo de causar prejuízo. Em grande parte, essas “informações” tendem a gerar desordem, principalmente quando leva uma pessoa ou grupo, com ausência de habilidades para constatar a veracidade da informação, a acreditar, disseminar e aderir a uma desordem informacional.
Diante disso, ressalta-se que a dimensão que uma desinformação pode alcançar é tão ampla e antiga que esse fenômeno pode ser facilmente encontrado em “livros de história ou em discursos políticos, em histórias em quadrinhos ou em jornais de ampla circulação. Não se trata de uma simples ação, e sim de um complexo de ações que constroem um cenário intencionalmente determinado” (BRISOLA; BEZERRA, 2018).
Segundo o Relatório da Comissão Europeia (2018) a proliferação da desinformação tem causas econômicas, tecnológicas, políticas e ideológicas interligadas. Os mecanismos que permitem a criação, ampliação e divulgação da desinformação baseiam-se na falta de transparência e rastreabilidade do ecossistema de plataformas existente e no impacto dos algoritmos e dos modelos de publicidade em linha.
Além disso, consiste em uma prática estruturada em atender particularidades de um grupo ou pessoa especializada em manipulação de informações para que por meio da desvirtuação e desordem que irá proporcionar possa alcançar seu objetivo. É eminente ressaltar que “a desinformação não é necessariamente falsa; muitas vezes, trata-se de distorções ou partes da verdade” (BRISOLA; BEZERRA, 2018).
Numa tentativa de frear a desinformação, a Comissão Europeia (2018) desenvolveu como ação um Relatório indicando competências educacionais a serem desenvolvidas por educadores e estudantes:
O desenvolvimento vitalício de competências críticas e digitais, em especial para os jovens, é fator crucial para reforçar a resistência da sociedade à desinformação. O plano de ação para a educação digital, adotado pela Comissão em janeiro de 2018, salienta os riscos que a desinformação representa para os educadores e estudantes, e a premente necessidade de desenvolver as aptidões e competências digitais de todos os indivíduos, na educação formal e não formal. O quadro de competências digitais para os cidadãos, desenvolvido pela Comissão, apresenta o vasto conjunto de competências necessárias a todos, desde a Competência em informação, passando pela criação de conteúdos digitais, até à segurança e bem-estar nas redes (COMISSÃO EUROPEIA, 2018).
A desinformação é estrategicamente imperceptível e se projeta em convencer um público a consentir com base em interpretações e opiniões discretamente formuladas, uma informação como "verdadeira" e a partir disso adequar-se e propagar. Em geral essas informações não dispõem de clareza que informe origem ou contexto, mas estrategicamente estão bem elaboradas para atingir e causar os mais diversos tipos de reação.
Brisola e Bezerra (2018) entendem que o emocional e a linguagem, são armas utilizadas para alcançar seu objetivo. Além disso, uma das características da desinformação é a utilização da bandeira da opinião pública, pelos meios de comunicação, para propagar a opinião que lhe convém, incluindo em suas informações noções de generalização popular.
Mediante isso, destaca Breton (1999, p.54):
Múltiplos sinais indicam que essa técnica é frequentemente empregada em todos os níveis, do assunto mais banal ao contexto mais importante, nas relações profissionais ou no mundo do comércio. A grande dificuldade consiste em percebê-la. Sua própria natureza faz dela um instrumento poderoso, mas discreto. Aqueles que a ela recorrem raramente proclamam esse fato, pois esses métodos não têm boa reputação. Os que foram vítimas deles costumam silenciar sobre isso. A desinformação é a técnica de comunicação que corrompe de forma mais segura à causa que pretende defender.
A prática é ofensiva e inibidora, por isso o indivíduo precisa estar sempre antenado e atento, pois “a desinformação é um instrumento de influência poderoso [...]”. (COMISSÃO EUROPEIA, 2018). Logo, é importante compreender que [...] a competitividade entre os veículos de mídia e a concentração adequada de informação aos leitores ou usuários tendem a ser mais influentes na forma de divulgação das informações do que o compromisso com a verdade dos fatos e as múltiplas versões e olhares que se aproximam da verdade (BRISOLA; BEZERRA, 2018).
A informação que circula hoje nos meios de comunicação tradicionais e nas redes digitais parece não ser mais o produto a ser comprado, e sim um meio de atração de leitores. A competitividade entre os veículos de mídia e a concentração adequada de informação aos leitores ou usuários tendem a ser mais influentes na forma de divulgação das informações do que o compromisso com a verdade dos fatos e as múltiplas versões e olhares que se aproximam da verdade (BRISOLA; BEZERRA, 2018).
A Comissão Europeia aponta no já citado relatório que “não devemos esperar que uma solução única consiga resolver todos os desafios relacionados com a desinformação. Ao mesmo tempo, a inação não é uma opção” (COMISSÃO EUROPEIA, 2018, p.7). A sociedade sofre as consequências do aumento absurdo e incontrolável de produção e circulação de informações (BRISOLA; BEZERRA, 2018). Perante isso, acredita-se ser necessário o desenvolvimento de competências que auxilie o indivíduo na identificação desse fenômeno, buscando inibir suas maliciosas consequências e assim contribuir para o progresso do uso de informações que proporcione o desenvolvimento do conhecimento.
3 DESINFORMAÇÃO SOB O OLHAR DO ARQUIVISTA
A coleta de dados para construção desta pesquisa propôs apresentar a percepção dos arquivistas sobre o fenômeno desinformação. O objetivo foi alcançado por meio de um questionário contendo questões abertas e fechadas que foram encaminhadas aos profissionais arquivistas formados em universidades brasileiras. O instrumento foi elaborado e disponibilizado por meio da ferramenta online Google Forms e a divulgação e disseminação do link para acesso ao questionário se deu por meio das mídias e redes sociais: Facebook, Instagram, Linkedin e Whatsapp.
A solicitação para participação nesta pesquisa foi direcionada aos profissionais graduados em Arquivologia, porém verificou-se que nove graduandos em Arquivologia também colaboraram respondendo ao questionário, totalizando 69 respondentes. Destes, 56,5% são mulheres e 43,5% homens. Os dados referentes à faixa etária mostraram que 37,7% possuem entre 20 a 30 anos, 34,8% possuem entre 31 a 40 anos, 18,8% tem entre 41 a 50 anos e 8,7% possui entre 51 a 60 anos.
As informações sobre os estados onde esses respondentes estão localizados, indicaram que o maior número de arquivistas que responderam ao questionário foi do estado da Bahia totalizando 36,2% das respostas, seguido pelo da Paraíba com 21,7%, Pará com 14,5%, Paraná com 11,6%, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul somam 2,9% e Amazonas, Ceará e Pernambuco somam 1,4%. Os dados referentes à universidade de origem (onde esses profissionais se formaram) mostram que 34,8% se formaram na Universidade Federal da Bahia (UFBA), 15,9% na Universidade Federal do Pará (UFPA), 13% na Universidade Estadual de Londrina (UEL), 13% na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), 10,3% na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 2,9% Universidade Federal Fluminense (UFF), 2,9% Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2,9% Universidade de Brasília (UNB), 1,4% na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 1,4% na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e 1,4% não identificou sua instituição de graduação, respondendo apenas “Sim”.
Dos
69
respondentes
86,5% dos respondentes concluíram o curso nos últimos 17 anos e
13,5% ainda estão cursando a graduação em Arquivologia. As
informações referentes à instituição em que esses profissionais
estão atuando, revelam que 34,8% arquivistas atuam em Órgão
Público, 28,10% em Universidades Públicas, 20,3% não atuam na
área ou estão desempregados, 14,5% atuam em empresas privadas e
1,4%
não respondeu.
As
respostas referentes ao cargo atual revelam que 37,6% atuam
como
arquivistas, 5,8% como Auxiliar de Arquivo, 8,7% como
técnico de Arquivo,
36,2% atuam em outras áreas, 10,3% não
atuam ou estão desempregados e
1,4% não respondeu. Portanto, em
um total de 69 respondentes apenas 52,1%
atuam na área.
A etapa seguinte do instrumento apresentou questões cujo objetivo foi identificar a percepção dos arquivistas acerca do fenômeno desinformação. A análise das respostas obtidas foram identificados como R (respondentes) + numeração sequencial= R1, R2, ... R69.
A questão inicial do
instrumento
– “Você
já ouviu falar sobre Desinformação?”
– indicou
que dos 69 respondentes, 56 respondentes (81,2%)
já ouviram falar sobre o fenômeno desinformação e 13 sujeitos
(18,8%)
não reconhecem o termo, número significativo, considerando que a
desinformação é um assunto que está em evidência nos meios de
comunicação e o arquivista alocado no rol dos profissionais da
informação, precisa manter-se atualizado e inteirado sobre o mundo
informacional, bem como estar
capacitado para lidar também com
fenômenos informacionais.
Na sequência, solicitou-se uma resposta subjetiva: “Se a resposta a questão anterior for SIM, o que você entende como Desinformação?” Dessa questão, foram obtidas 56 respostas, ou seja, todos os respondentes que alegaram conhecer a o fenômeno desinformação responderam a essa pergunta, mesmo não sendo obrigatória. Dessas 56 respostas, 4 (7,2%) não apresentaram pertinência sobre o que foi questionado, sendo então excluídas das análises das categorias por apresentarem informações confusas que dificultaram o entendimento sobre o ponto de vista acerca da desinformação.
Para análise das respostas optou-se por elencar categorias com termos extraídos das próprias respostas. O critério utilizado para agrupar as respostas nas categorias foi a semelhança entre o conteúdo, assim apresenta-se para análise dessa questão cinco categorias:
Informações falsas
Ausência de habilidades, conhecimento e informação
Informação inconsistente, desestruturada e incompleta
Ações calculadas
Pensamento crítico
Informações falsas
Ao analisar as respostas desta categoria, constatou-se que os respondentes entendem a desinformação como uma informação falsa. Como pode ser observado nas respostas que seguem:
R14 - A propagação de inverdades, muito conhecido também como fake news, com o objetivo de manipular a sociedade a fim de obter algum proveito.
R33 - Informação falsa consolidada como verdadeira que visa enganar e ludibriar, acarretando sérias consequências negativas para a sociedade.
R35 - Num cenário atual, o fluxo enorme de dados e informações aleatórias, não estruturadas, sem qualidade induz ao erro, confunde e não provoca uma alteração do conhecimento já existente no indivíduo, dessa forma as informações falsas levam a desinformação.
Os respondentes nessa categoria entendem as fakes news como sinônimo de desinformação, suas respostas expressaram perfeita clareza e entendimento acerca disso. Porém é eminente ressaltar que fake news e desinformação possuem conceitos diferentes apesar de ser comum utilizar uma expressão para conceituar a outra. Cabe aqui ressaltar a distinção entre esses fenômenos utilizando como embasamento a percepção de Brisola e Bezerra (2018, p.3323):
A desinformação é um fenômeno mais completo e com diversas facetas e artifícios já as fakes news, podem ser entendidas como informações fabricadas, com características jornalísticas, mas antecipadamente pensadas para a manipulação e descoladas da verdade. [...] Contudo, com a velocidade da demanda de informações no meio digital e o espalhamento de informações com uma rapidez multiplicada, a desinformação ganha vulto com o fenômeno de circulação de fake news.
Diante dessa observação, pode-se entender que o fenômeno fake News é um estimulador da desinformação, além disso, o mesmo pode ser considerado uma espécie desse fenômeno, porém seu conceito não deve ser compreendido, nem confundido com o da mesma. No entanto, nessa discussão vale considerar as respostas que citam as fake news como justificativas, porém faz-se relevante atentar-se as características e distinção dos conceitos de cada fenômeno.
Ausência de competência, conhecimento e informação
Os respondentes dessa categoria concordam que a desinformação pode ser entendida como falta de habilidades, conhecimento e informação. Isso pode ser observado nas respostas que seguem:
R24 - De maneira sintética, falta de competência para avaliar a informação disponibilizada em qualquer meio de informação e comunicação.
R54 - Falta de informação ou entendimento errado de determinada informação.
R69 - Não conhecer a maneira de obter informações de fontes seguras, acreditando em tudo que se lê ou é disseminado na internet.
A partir da análise das respostas constatou-se carência de conhecimento sobre o assunto, pois as respostas são em maioria superficiais e não possuem consistências para serem compreendidas como Desinformação, uma vez que o conceito de desinformação ultrapassa a habilidade de reconhecer fontes seguras, assim como a falta de informação.
Informação inconsistente, desestruturada e incompleta
A partir da análise feita nessa categoria constatou-se que os respondentes entendem a desinformação como uma informação inconsistente, desestruturada e incompleta, conforme se apresenta nas respostas:
R49 - Informações desestruturadas onde você não sabe o que é a informação verdadeira ou falsa.
R65 - Necessidade informacional provida de informação incompleta, corrompida, distorcida etc., podendo impactar negativamente a percepção e a compreensão do usuário sobre objetos ou fenômenos por elas representados ou referenciados.
De
acordo com Breton (1999, p.53) a desinformação “é uma ação
que
consiste
em fazer validar, por um receptor que se quer
intencionalmente
enganar,
certa descrição do real favorável ao emissor, fazendo-a passar
uma
informação
segura e verificada”. Os respondentes dessa categoria
mostraram
que
entendem no que consiste a desinformação, suas respostas
apresentaram,
clareza
e conhecimento sobre o assunto.
Ações calculadas
Nessa categoria foram agrupadas as respostas que consideram a desinformação como uma ação, que tem por objetivo causar algum tipo de dano. O R13 define a desinformação da seguinte forma:
R13 - Desinformação são ações perfeitamente calculadas em vista de um fim, e que em noventa por cento dos casos esse fim não é influenciar as multidões, mas atingir alvos muito determinados.
R45 - Promoção e recepção de uma informação falsa, motivada por uma ação imparcial e antiética.
R17 - Falsear informações através de ações calculadas a fim de obter um ganho estrategicamente planejado.
As respostas reunidas nessa categoria remetem a desinformação à práticas maliciosas, calculadas, que apresentam destino certo, nesse sentido, pode-se dizer que o entendimento acerca da desinformação feito por esses arquivistas corrobora com o conceito de disinformation, expressão de língua inglesa que indica que a falsidade já seria de conhecimento do autor antes de veicular a informação em questão. Nesse contexto, o termo disinformation é utilizado de forma distinta da expressão misinformation utilizada para indicar informações incorretas ou enganosas (PASQUALINO, 2020).
A quinta categoria teve apenas uma resposta, que apresenta uma definição diferenciada das que já foram apresentadas, porém não deixa de ser pertinente, principalmente quando faz relação à construção crítica do pensamento, podendo ser considerada uma possível alternativa de amenização da desinformação:
R58 - Compreendo como um fenômeno em que as pessoas têm acesso a informações diversas, mas não transformam essa informação em conhecimento que lhes permitirá a construção e a crítica de pensamento.
Inserir o senso crítico nessa discussão é uma opção assertiva principalmente quando se entende o conceito e consequências que a desinformação pode causar. A ausência do pensamento crítico e reflexivo contribui para o aumento da desinformação, e segundo Pasqualino (2020) quanto maior a incidência de desinformação, menor a possibilidade efetiva de geração de conhecimento.
A análise revelou um considerável número de respondentes (34,8%) que não souberam ou tiveram dificuldade em apresentar seu entendimento acerca do fenômeno desinformação, porém a grande maioria (46,3%) apresentou respostas justificáveis, que apresentaram elementos característicos desse fenômeno, como as fake news, ações calculadas, informações manipuladas, etc. constatando com isso o entendimento desses profissionais acerca do fenômeno desinformação.
A pergunta seguinte indagou sobre a atualidade do fenômeno desinformação: “Você acha que a Desinformação é um fenômeno atual?” Foi possível observar que dos 69 respondentes, 30 (43,5%) consideram a desinformação um fenômeno atual, 31 (44,9%) não consideram e 8 (11,6%) não souberam responder. Diante do número de arquivistas que acreditam que a desinformação é um fenômeno emergente, cabe ressaltar que a desinformação é um fenômeno antigo, o que ocorre hoje é uma facilidade de gerar e propagar a desinformação devido ao surgimento e desenvolvimento de mecanismos que favorecem isso, como a tecnologia, os sistemas de informação, web etc., transmitindo a impressão de que o mesmo consiste em um fenômeno atual.
A questão seguinte interrogou sobre o impacto da desinformação na atuação profissional: “De acordo com seu entendimento, a desinformação pode causar algum impacto em sua atuação profissional como arquivista?”
Dos 69 respondentes, 61 (89,7%) declararam que sim, enquanto 7 (10,3%) discordaram e 1 (1,4%) não respondeu. Na sequência, solicitou-se aos respondentes que justificassem seu entendimento sobre os possíveis impactos da desinformação. Das 69 respostas, 7 (10,3%) respondentes discordaram que a desinformação pode causar impacto a atuação arquivística, 45 (65,2%) justificaram, 14 (20,2%) justificaram, porém não apresentaram pertinência e 5 (4,3%) não souberam justificar. As respostas foram analisadas e agrupadas em quatro categorias:
Desinformação pode afetar o ambiente de trabalho ou a sociedade
Profissional crítico e atualizado
Desinformação pode afetar ou tornar o profissional malvisto
Desinformação pode levar o profissional ao erro
As respostas nessa categoria ressaltam o impacto da desinformação na atuação do arquivista pode ocorrer quando esse profissional recolhe informações falsas para serem preservadas e custodiadas em arquivos permanentes:
R13 - O arquivista é o profissional responsável pela guarda, preservação e proteção das informações arquivísticas, que em sua essência devem ser autênticas e fidedignas. Se no momento do registro no suporte a informação for falsa, o documento ganhará legitimidade com a cadeia de custódia. E o arquivista indiretamente estará envolvido com a preservação da desinformação
R36 - Uma informação errada pode alterar o resultado final na classificação de um documento
Desinformação pode afetar o ambiente de trabalho ou a sociedade
As respostas dessa categoria indicam que são as instituições e a sociedade que sofrem com o impacto da desinformação, tanto pela propagação de informações falsas, como pela disseminação e acesso dessa informação.
R2 - Sim,
a desinformação atrapalha e prejudica o ambiente de trabalho,
pois
as pessoas acabam tomando um juízo de valor que não corresponde
com
a realidade.
R44 - A informação é um instrumento que faz parte da vida de todo cidadão comum. Então, uma instituição que não temos acesso à informação de maneira clara e objetiva tendemos a regredir na gestão do órgão público e particular.
R48 - Pois, a cada vez que esse fenômeno for se intensificando, os centros de informações irão perder um pouco mais de sua essência, pois os usuários estarão indo atrás de fontes falsas, esquecendo então das fontes originais que possuem informações que dizem respeito ao real motivo de tal assunto.
Identificou-se ao analisar as respostas dessa categoria que o profissional não é citado nem como propagador, nem como mediador, tão pouco como amenizador. Isso pode ser interpretado também como uma dificuldade de relacionar a desinformação com o profissional. Os respondentes dessa categoria, em geral, demonstraram conhecimento acerca da desarmonia que a desinformação pode proporcionar principalmente em relação ao seu ambiente de atuação e consequentemente a sociedade, porém é importante ressaltar que o impacto desse fenômeno sob sua atuação profissional ficou subentendido. No entanto, as justificativas são relevantes e com base nisso deve-se ter em mente que “a desinformação mina a confiança nas instituições e nos meios de comunicação tradicionais e digitais e prejudica as nossas democracias ao comprometer a capacidade dos cidadãos de tomarem decisões bem informadas”. (COMISSÃO EUROPEIA, 2018, p. 1).
Profissional crítico e atualizado
Nessa categoria constatou-se que os respondentes compreendem a necessidade de manter-se, capacitado, informado e atualizado para desenvolver conhecimentos e habilidades que o ajude a identificar e atuar no combate a desinformação.
R10 - Como
profissional preciso ter habilidades pra saber reconhecer
uma
desinformação, objetivando mantê-las longe do ambiente de
arquivo onde atuo,
dessa forma evitando possíveis impactos
causados pelo fenômeno.
R14 - Este fenômeno faz com que o arquivista tenha mais atenção e cautela nos seus afazeres, analisando criticamente as informações e selecionando o necessário.
R20 - Precisamos tentar nos manter informados para conseguir desempenhar de forma adequada o nosso trabalho, assim como prestar um melhor atendimento aos usuários.
R42 - o arquivista constrói seu conhecimento a partir de um exercício de uma cidadania participativa, e a informação é a sua maior ferramenta de trabalho, ele precisa reconhecer suas necessidades informacionais, buscar fontes seguras, acessar, analisar criticamente a informação utilizar e produzir novas informações.
Desinformação pode afetar ou tornar o profissional malvisto
Os respondentes dessa categoria entendem que o impacto da desinformação sobre as atribuições do arquivista pode torná-lo um profissional desmoralizado, já que esse disponibilizará informações falsas e consequentemente inibindo o desenvolvimento do conhecimento, visto que esse pode ser considerado um impacto irreversível, principalmente pelo fato do arquivista ser considerado um profissional da informação.
R53 - Quando se dissemina informações falsas, a profissão do arquivista pode ser mal interpretada e a importância de seus serviços ignorada.
R5 - Pois fazemos exatamente o oposto da desinformação, somos detentores das informações verídicas e diante de tantas fake news, ganhamos credibilidade para atuar.
R55 - Busco outras fontes quando a informação parece duvidosa ou absurda e não observo esse fenômeno no meu ambiente de trabalho.
Constataram-se, respostas pertinentes apesar das discordâncias. Porém, é eminente ressaltar que o profissional arquivista, precisa estar apto para lidar com as atuais implicações informacionais e também manter-se no cenário atual.
Em geral os respondentes não souberam pontuar o impacto que a desinformação pode causar, mas a partir das respostas foi possível verificar que eles entendem que o fenômeno pode afetar suas práticas, ambiente de trabalho e também a sociedade. A análise apresentou que os respondentes sabem que a desinformação é um fenômeno propício a causar impactos negativos e que devem manter-se capacitados e bem informados sobre esse fenômeno e sobre as formas de amenizar sua disseminação.
Quando questionados se a desinformação pode exigir novas habilidades profissionais, constatou-se que dos 69 respondentes, 61 (89,7%) afirmaram que sim, 7 (10,3%) discordaram e 1 (1,4%) não respondeu.
Na sequência questionou-se sobre o desenvolvimento de possíveis novas habilidades, a análise constatou que dos 69 respondentes, 56 (81%) justificaram suas respostas, que foram agrupadas em 7 categorias: Desenvolver habilidades tecnológicas (8,7%); Desenvolver mecanismo de comunicação(8,7%); Redefinir as habilidades que já existem (5,8%); Verificar a veracidade de informações e dados (17,4%); Manter-se atualizado, conhecer o fenômeno (23,1%); Competência em Informação(4,3%); Manter-se em contato com outro profissional (13%).
Dos 69 respondentes um único respondente (1,4%) deixou em branco e 12 (17,3%) concordam que a desinformação pode causar o desenvolvimento de novas habilidades, porém não souberam justificar, apresentaram pontos de vista vagos que demonstraram ausência de conhecimento para discursar sobre o assunto.
As respostas foram analisadas com base nas sete categorias que seguem:
Desenvolver habilidades tecnológicas
Desenvolver mecanismo de comunicação
Redefinir as habilidades que já existem
Verificar a veracidade de informações e dados
Manter-se atualizado, conhecer o fenômeno
Competência em Informação
Manter-se em contato com outro profissional
A análise dessas categorias indicou as possíveis habilidades que de acordo com os respondentes devem ser desenvolvidas para lidar ou evitar os impactos da desinformação.
Desenvolver habilidades tecnológicas
Nessa categoria os respondentes entendem que as habilidades a serem desenvolvidas devem estar atreladas ao saber lidar com a tecnologia e seus avanços.
R46 - Com a tecnologia cada vez mais avançada é importante que o Arquivista acompanhe o desenvolvimento.
R48 - A desinformação no contexto atual está direcionada as redes, pois as fake news surgiram nesse contexto, e foram disseminadas em massa nas redes sociais, portanto, os profissionais arquivistas irão ter que possuir certas habilidades tecnológicas que irão os auxiliar a identificar situações como essas de fake news.
R50 - O arquivista não pode ser só um guardador de papel, tem que ser gestor da informação e conhecer os avanços tecnológicos com o objetivo de interagir em conjunto com profissionais de outras áreas.
R58 - Precisamos
pesquisar como as novas tecnologias influenciam na
produção e
disponibilização de informações.
De fato, o arquivista precisa conhecer e entender o desenvolvimento e os avanços tecnológicos, afinal a intensificação do fenômeno desinformação é um resultado desse contexto, porém analisando as respostas agrupadas nessa categoria e considerando a questão, foi possível concluir que as respostas apresentadas são pertinentes, pois adquirir habilidades tecnológicas é importante para que o arquivista possa manter-se atuante no cenário atual. Contudo outras habilidades precisam ser desenvolvidas e/ou aprimoradas, considerando que a problemática que envolve o fenômeno desinformação não está atrelada apenas aos recursos tecnológicos.
Desenvolver mecanismo de comunicação
Constatou-se que os respondentes entendem que deve haver o desenvolvimento de mecanismos de comunicação para que o arquivista possa conscientizar a sociedade a acessar ou buscar fontes de informações confiáveis e a entender as consequências que a desinformação pode gerar.
R5 - Criando linhas de comunicações, meios de divulgações que explanem a nossa atuação e expliquem a importância do profissional Arquivista diante da sociedade, incentivando a população a sempre conferir se a fonte da notícia é confiável e quando precisar de informação, buscar de fontes confiáveis.
R14 - Como profissionais da informação deverão estar atentos e tentar criar mecanismos de conscientização voltados à sociedade, mostrando-lhes as consequências da desinformação.
R34 - Atividades voltadas a esclarecer o usuário.
A iniciativa seria interessante, pois é sempre importante que o arquivista esteja atento à sua função social. Buscar fortalecer a conscientização da sociedade pode contribuir com a amenização dos impactos, assim como diminuir a propagação da desinformação, porém não necessariamente pode ser considerada uma habilidade, mas sim uma iniciativa social.
Redefinir as habilidades que já existem
Nessa categoria os respondentes não concordaram com o desenvolvimento de novas habilidades, justificando que o arquivista é um profissional multifuncional, sendo assim o ideal seria direcionar-se para as habilidades que já existem, pois a partir do aprimoramento e adaptação das mesmas, será possível lidar com esse tipo de fenômeno.
R55 - Acredito que não seja necessário desenvolver habilidades, pois basta não acreditar em tudo que ouve ou lê sem antes conferir a informação.
R57 - Não seriam novas habilidades, seria apurar as que já temos: a investigação, a pesquisa mais a fundo.
R64 - O arquivista já é um profissional de multifunções, investigativo, pesquisador, historiador, empreendedor, creio que ele aprimore e desenvolva mais suas habilidades.
Vale destacar que, ainda que as respostas sejam pertinentes, cabe ao arquivista conscientizar-se sobre as mudanças que estão ocorrendo no atual cenário, principalmente quando o assunto é informação. É eminente que o profissional entenda que desenvolver as habilidades existentes pode contribuir, mas não necessariamente irá torná-lo apto para lidar com o fenômeno desinformação, levando em conta que suas atribuições estão enraizadas mais na gestão do suporte documental do que da informação. O profissional arquivista de hoje precisa ultrapassar limites se quiser permanecer atuante, ser crítico e entender o atual dinamismo informacional.
Verificar a veracidade de informações e dados
Nessa categoria os respondentes entendem que o profissional deve desenvolver habilidades que lhe possibilite verificar a veracidade e autenticidade de informações evitando a utilização ou propagação de informações falsas.
R21 - Há uma necessidade de busca por clareza na composição de dados e no processo de composição da informação pública, assim como a transparência de dados e o incentivo ao uso de tecnologia na captura, leitura e análise de dados públicos.
R32 - Temos que adquirir competências que nos permita discernir as informações falsas das verdadeiras
R36 - O profissional tem que buscar sempre estar atualizado quanto às informações e verificar a veracidade e autenticidade destas
R63 - Sim, saber lidar com o bombardeio de informações incorreta separando as verdadeiras das falsas.
A partir da análise,
foi possível notar respostas concisas e claras, além
disso,
observou-se que os respondentes dessa categoria possuem um grau
de
entendimento sobre possíveis medidas a serem desenvolvidas
para amenizar o
impacto da desinformação, de fato desenvolver
competências que possibilite
ao profissional verificar e
constatar a autenticidade e veracidade da informação
pode ser
considerada uma alternativa e atribuição significante para
habilitar o
arquivista a identificar a desinformação e lidar
com a mesma.
Manter-se atualizado, conhecer o fenômeno
Nessa categoria as respostas remetem ao desenvolvimento de habilidades que possibilite entender o fenômeno desinformação, para saber quais danos ela pode gerar, além disso, manter-se atualizado e capacitado.
R2 - O
arquivista pode desenvolver habilidades para atuar de maneira
a
combater
e ao mesmo tempo compreender a dinâmica desse fenômeno de
modo
que busque as evidências materiais para que possa atuar junto
à
sociedade
com transparência e verdade.
R6 - Buscar informações atualizadas e novos conhecimentos nos fará atender de forma mais eficiente os anseios do cidadão que busca a informação.
R12 - Estudar mais sobre o assunto.
R13 - O arquivista é um profissional que deve estar continuamente se educando, e antenado nas transformações sociais.
R53 - O
arquivista precisa estar à frente das situações e reverter o
surto de
desinformação
com a propagação de conhecimento e a disseminação da
importância
de sua profissão e de seus serviços.
As respostas são pertinentes e expressam clareza. Pode ser entendida como uma iniciativa que deve partir do profissional para desenvolver conhecimento sobre a desinformação e consequentemente gerar habilidades para lidar com a mesma. Porém, não pode ser considerada uma habilidade, mas sim uma proposta de interação que pode ser aderida por arquivistas que não conhecem o assunto e não sabem lidar.
Competência em Informação (CoInfo)
Nessa categoria apenas três respondentes ressaltam a CoInfo como uma nova habilidade que pode ser desenvolvida pelos arquivistas para lidar com a desinformação:
R10 - Habilidades essas que são desenvolvidas por meio da CoInfo onde o profissional saiba diferenciar e saiba como evitar o fenômeno.
R24 - A formação do arquivista em Competência em informação e comunicação é necessária para todo arquivista, de modo que auxilie no exercício do seu serviço.
R33 - Buscando fontes confiáveis e desenvolver recursos que agregam a gestão do conhecimento e competência da informação.
Ainda que os respondentes tenham apontado a CoInfo como uma habilidade para ser desenvolvida nessa circunstância, as respostas não reuniram informações que demonstrasse o entendimento dos respondentes e que justificasse o motivo por ter referenciado tal habilidade, portanto, as mesmas foram consideradas superficiais, porém conseguiram responder a pergunta sobre o desenvolvimento de novas habilidades para lidar com a desinformação ao citarem a CoInfo.
Interdisciplinaridade, novas técnicas de gestão, comportamento ético
Os respondentes dessa categoria consideram que a interdisciplinaridade, técnicas de gestão e comportamento ético podem ser entendidos como novas habilidades a serem desenvolvidas pelos arquivistas para lidar com a desinformação.
R19 - Temos que estar o tempo todo tendo contatos com profissionais de diversas áreas, justamente para entendermos melhor muitas atividades e demandas que surgem dentro de uma instituição.
R45 - Aprimoramento de um comportamento ético, tratamento de forma imparcial da informação.
R49 - Criar novas técnicas de como realizar a gestão documental destas informações.
R65 - Não
saberia definir se são exatamente novas as habilidades, mas
nesse
contexto conturbado o arquivista deve buscar a transversalidade
junto as
suas
áreas científicas parceiras, para citar algumas: biblioteconomia,
história,
administração,
direito e ciência da computação. Deve também desenvolver um
papel
mais atuante e sereno na definição dos processos de gestão
documental
e
do tratamento de acervos permanentes, demonstrando que essa área é
indispensável
para o tratamento da informação orgânica em toda a sua
existência,
desde a sua concepção.
Analisando as respostas dessa categoria, constatou-se que os respondentes referenciam habilidades que já fazem parte do leque de práticas dos arquivistas, com exceção e destaque para a R49, que ressalta uma proposta de habilidade interessante para ser levada em consideração, uma vez que, se uma desinformação for identificada em um arquivo histórico, por exemplo, essa não terá um gerenciamento diferenciado das demais informações.
Ao finalizar a presente análise, que teve como propósito compreender a percepção dos arquivistas sobre o fenômeno Desinformação e o papel da Competência em informação nessa interação, pode-se verificar que os mesmos possuem conhecimento sobre o fenômeno desinformação, 81% dos respondentes conhecem ou já ouviram falar sobre esse fenômeno. Estima-se que esse percentual seja o reflexo da “circulação de informações estimuladas pelas novas formas de acesso vem popularizando termos como ‘fake news’, ‘pós-verdade’ e ‘desinformação’” (LEITE et al., 2017, p. 2336).
Essa ressalva foi questionada na pergunta que solicitou aos respondentes apresentar o seu entendimento sobre a desinformação, a qual revelou por meio das respostas obtidas, se o contato desses arquivistas com a desinformação foi superficial ou não. As respostas apresentaram informações sucintas, porém ainda assim, observaram-se elementos característicos de identificação da desinformação constatando que há conhecimento desses arquivistas sobre o assunto, ainda que, em grande parte não foi possível identificar um grau de profundidade do entendimento acerca da desinformação.
Ainda com a intenção de buscar informações acerca do entendimento do arquivista sobre a desinformação, perguntou-se se esses profissionais consideram a desinformação um fenômeno atual ou não, os resultados possibilitaram concluir que 31 (44,9%) discordaram e 30 (43,5%) consideram a desinformação um fenômeno recente, o total de concordâncias deixa subentendido que os respondentes remetem a desinformação aos avanços tecnológicos, já que sua intensificação é notada nesse cenário.
Ao analisar a percepção dos arquivistas objetivando identificar se a desinformação pode causar impacto em sua atuação, constatou-se que 61 (89,7%) concordaram que pode causar impacto. Esse quantitativo esbarra em um ponto de interferência por parte dos mesmos em não saber apontar o impacto que pode ser gerado pela desinformação em sua atuação, quando solicitado. Esse impasse foi observado em maior parte das respostas e pode ser sanado por meio do desenvolvimento de habilidades atreladas a Competência em Informação, uma vez que seu campo de estudo envolve “conjuntos de ideias em relação ao conhecimento aplicado para interpretar e compreender situações ou fenômenos [...]” (BELLUZZO; FERES, 2016, p. 144).
Quando questionados sobre o desenvolvimento de novas habilidades profissionais, 61 (89,7%) respondentes concordam que devem ser desenvolvidas novas habilidades para que os mesmos possam lidar com a desinformação. Ao analisar as respostas verificou-se que são referenciadas múltiplas habilidades que quando reunidas podem ser facilmente notadas nas concepções da CoInfo resumidas no que se segue: “Digital - com ênfase na TIC; Informação propriamente dita - com ênfase nos processos cognitivos; Social - com ênfase na inclusão social, consistindo em uma visão integrada de aprendizagem ao longo da vida e o exercício da cidadania” (BELUZZO; FERES, 2015, p.16-17).
O papel da CoInfo na interação do profissional arquivista com a desinformação, faz-se necessário principalmente para que o arquivista desenvolva habilidades que lhe possibilite lidar com a desinformação e evite possíveis impactos que podem ser causados a sua atuação. Nesse sentido a Competência Crítica em informação entendida como uma vertente da CoInfo é uma habilidade que também pode ser desenvolvida pelo profissional arquivista como uma prática para lidar com a desinformação. Além disso, os profissionais arquivistas precisam desenvolver posturas centradas na crítica, uma vez que essa competência lhe proporcionará o devido discernimento em meio a sua interação com a desinformação.
Dentre as estratégias de enfretamento da desinformação, Pasqualino (2020) considera a Competência crítica em informação como uma estratégia necessária e relevante para o enfrentamento do processo de desordem informacional, considerando o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo
Moura (et al 2019) caracteriza a CoInfo como “um fator crucial para reforçar a resistência da sociedade à desinformação”, premissa pertinente ao fazer arquivístico se considerarmos a função social desempenhada tanto pelos profissionais quanto pelas instituições de promoção da reflexão sobre os direitos dos cidadãos, propiciando empoderamento e protagonismo diante de pautas sociais.
Acredita-se que a discussão que circunda o profissional arquivista e a desinformação, pode incentivar e estimular os arquivistas a reconhecer a Competência em Informação e a Competência Crítica em Informação como elementos que lhe garantam identificar desinformação e demais fenômenos informacionais, evitando que suas práticas sejam afetadas pelos seus impactos, e principalmente para que o mesmo saiba lidar com a desinformação em suas mais distintas apresentações.
O desenvolvimento da presente pesquisa objetivou compreender a percepção dos arquivistas sobre o fenômeno Desinformação e o papel da Competência em informação nessa interação. Constatou-se que os arquivistas entendem a desinformação tanto quanto reconhecem que sua atuação pode ser afetada por esse fenômeno, bem como compreendem a importância de se desenvolver novas habilidades para lidar com os impactos da desinformação em suas práticas.
Além disso, verificou-se que a Competência em Informação por meio de suas concepções poderá proporcionar aos arquivistas o desenvolvimento de habilidades que lhe favoreça e possibilite lidar com a desinformação, de modo que evite o impacto desse fenômeno em suas práticas. Sabe-se que a CoInfo possui diversas concepções fundamentadas em estabelecer preparo para que o indivíduo entenda sua realidade e possa conviver em meio a ela.
Nesse sentido a Competência Crítica em Informação, considerada uma vertente da CoInfo pode ser entendida como uma habilidade crucial a ser desenvolvida pelos arquivistas, uma vez que sua dimensão engloba habilidades que exigem questionamentos, conhecimento sobre o assunto que se aborda, uso da informação de maneira ética, interpretação, avaliação e utilização da informação embasado em critérios críticos e reflexivos.
Logo, os arquivistas precisam desenvolver posturas centradas na crítica, uma vez que essa habilidade lhe proporcionará o devido discernimento em meio a sua interação com a desinformação, além disso, pode se tornar uma garantira para manter-se atuante em um cenário de desinformação, afastando riscos, como a perda de seu reconhecimento como profissional da informação, pois terá habilidades e técnicas para expor seu entendimento acerca da necessidade de informação, de modo que irá favorecer as atividades em seu ambiente de trabalho, assim como a conscientização do usuário em meio ao exercício de seu direito de acesso a informação e conhecimento, bem como ao desenvolvimento de suas práticas e sua atuação profissional.
Portando, os resultados obtidos nessa pesquisa foram alcançados a partir da aplicação de questionário. As informações coletadas forneceram importantes informações sobre o quanto os arquivistas conhecem a desinformação, para identificar que suas práticas podem ser afetadas negativamente por esse fenômeno e que suas habilidades precisam acompanhar e atender as exigências informacionais. Observou-se que o instrumento utilizado na coleta de dados foi eficaz para responder os objetivos propostos neste trabalho, além disso, a análise das respostas proporcionou maior compreensão sobre a interação dos arquivistas acerca a desinformação e forneceu informação para identificar que a CoInfo pode proporcionar aos arquivistas as devidas habilidades para entender e saber lidar com o fenômeno desinformação.
Considerando a importância do tema, torna-se necessário entender que os arquivistas precisam estar sempre buscando novos conhecimentos, interagindo com o novo e se capacitando para lidar com as problemáticas informacionais que estão surgindo e que são consequências dos avanços tecnológicos, podendo ser entendido como uma estratégia para manter-se atuante no contexto atual.
Sabe-se que os resultados obtidos e apresentados nessa pesquisa não vão sanar todas as interrogações acerca das questões abordadas, porém acredita-se que o panorama apresentado pode contribuir como fonte de informação para o desenvolvimento de pesquisas futuras. Espera-se que esta pesquisa possa estimular o debate e conhecimento sobre os possíveis impactos do fenômeno desinformação e as contribuições da CoInfo em âmbito arquivístico, assim como contribuir com o desenvolvimento das temáticas na literatura arquivista.
REFERÊNCIAS
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