Fortaleza, CE |
v.5, n.2 |
jul./dez. 2020 |
ISSN 2525-3468 |
DOI: https://doi.org/10.36517/2525-3468.ip.v5i2.2020.61635.6-9 |
EDITORIAL
Estimados(as) leitores(as),
A natureza humana que lança mão das adversidades como processo para criar e fazer valer suas estratégias e artimanhas de luta tem encontrado na Ciência e nas suas demandas de pesquisa o porto seguro para os enfrentamentos e as mediações que o tempo atual exige dela. Ainda em crise – ou sempre nesse estado –, o atual contexto mundial vive a contradição das facilidades tecnológicas, ensejadas pelas culturas informacional e comunicacional, ao mesmo tempo em que se encontra emaranhado numa inextricável e complexa rede de caos informacional, de pandemias de desinformação, de incertezas de toda ordem e da necessidade inalienável de agir.
A capa desta edição – mais uma vez inspirada pelo esteta Gil Dicelli – traz em traços e riscos essas contradições. O mundo estilhaçado das e pelas adversidades, irrompendo fissuras e criando trilhas de destruição, rupturas e vários trincamentos, anuncia e põe na pauta de nossas vidas – e também das pesquisas – as impulsões para agir. Os cenários adversos, os fenômenos humanos e socioculturais assimétricos reclamam saída: das simbólicas e culturais às respostas científicas e de cunho investigativo.
Para não perder o foco das contradições desses tempos complexos, a capa em lide também revela, nas marcas deixadas por esse tempo, semioses e caminhos, ainda que tortuosos, difusos e entrecortados. A imagem da capa também indicia um labirinto de oportunidades, de perspectivas, de caminhos a percorrer, de críticas a serem feitas, de metodologias e métodos a serem testados e de fluxos informacionais e de conhecimento a serem compartilhados. Nas frestas entre esses caminhos, trilhas e nas suas fronteiras, o poder da Ciência, das pesquisas e o indelével papel da informação para a construção do conhecimento.
Um caleidoscópio de problemas e de saídas, de contradições e impulsões para as ações, de dúvidas e a certeza na Ciência como saída para muitas dessas incertezas é o que veremos nas muitas vozes deitadas nas escritas desta edição. Ainda que também, e por muitas vezes ultrajadas nesses tempos difusos, as pesquisas científicas recebem dos seus cientistas, professores, profissionais e pesquisadores a força viva de quem se alimenta das descobertas para as mediações de toda ordem. Nesse tocante, vale a pena seguir por essas trilhas mostradas na capa e nos conteúdos que saltam de cada uma das seções desta edição, sempre em sintonia com suas frestas, seus entroncamentos, suas fissuras e as muitas respostas e saídas que elas revelam ou sugerem.
As diferentes correntes teóricas, os sotaques e as dicções das escolas de pensamento científico da área, bem como as abordagens conceituais interdisciplinares que permeiam as investigações científicas da área, estão analisadas no artigo “Tendências contemporâneas da Ciência da Informação” e suas reverberações nas teses de pós-graduação no Brasil.
Na mesma linha dos estudos interdisciplinares e reafirmando a opção da Ciência da Informação pelos diálogos múltiplos, o artigo sobre uso da Metodologia de Sistemas Soft em teses da área mostra o olhar atento das pesquisas para os contextos organizacionais e as complexidades das situações socioculturais, humanas e o papel da informação e do conhecimento nesses contextos.
O foco sobre como a interdisciplinaridade é trabalhada na literatura científica brasileira está no artigo “A Comunicação científica das práticas interdisciplinares em processos de aprendizagem”. Um mapeamento e a análise de conteúdo das obras investigadas aproxima a CI da Educação, ainda que detecte que haja necessidade de mais pontos de intersecção entre as áreas.
O quarto artigo demonstra, sob a ótica das questões de gênero, que ainda existe uma supremacia masculina na chamada elite científica nacional. Essa assimetria, pouco recomendável para o mundo atual e para a ciência em particular, é demonstrada no artigo “Gênero na elite científica” e se configura como um dos grandes problemas contemporâneos das ciências sociais e da produção científica nacional, onde as mulheres precisam marcar presença, porquanto já atuam na ciência com capacidades comprovadas.
O tempo adverso da pandemia mundial de COVID-19 volta à Revista Informação em Pauta para ratificar o alto potencial de transmissão da patologia e da necessidade de decisões científicas que ajudem no mapeamento do perfil epidemiológico de caso da doença, da difusão de seus boletins informacionais para as consequentes medidas preventivas para os grupos de risco e população em geral.
Os cenários contemporâneos adversos, provocados pela onda de desinformação e fluxos informacionais caóticos e inseguros, são refletidos como uma consequência negativa da profusão de meios e ambiências tecnológicos. Assim, o artigo “O fenômeno da desinformação sob a perspectiva dos arquivistas brasileiros” toma o conceito de competência em informação como necessário às ações dos arquivistas no controle dos processos de desinformação e no desenvolvimento de novas habilidades para lidar com esse fenômeno.
A linguagem de indexação e o seu desenvolvimento científico são tratados no artigo “Análise de cocitação de trabalhos sobre linguagem de indexação na base da dados da BRAPCI” sob uma perspectiva bibliométrica. A pesquisa mapeia e analisa os autores com maior produtividade, seus índices de citação, os periódicos mais relevantes e apresenta uma rede de coautoria.
Num diálogo profícuo com a área da Comunicação, coirmã da CI, o oitavo artigo deste número apresenta um mapeamento da memória audiovisual dos cursos de Jornalismo, com foco nos arquivos telejornalísticos universitários. Na discussão, têm-se o papel do REUNI no processo de interiorização da educação e as formas, processos e meios de salvaguardar e recuperar os documentos telejornalísticos produzidos nas disciplinas dos cursos de Jornalismo e o papel dessa memória audiovisual na formação e história desses cursos.
A memória individual e as mediações arquivísticas são temas do nono artigo desta edição. A partir do acervo pessoal de Pedro Moacir Maia e seus retratos, são propostos arranjos e técnicas arquivísticas para a preservação e disseminação da memória do titular.
Os algoritmos como forma de controle são trabalhados no ensaio sobre Michel Foucault e Gilles Deleuze e o modo como eles analisam a chamada “sociedade de controle” nos ambientes digitais. Assim, delineiam-se as especificações e os usos de conhecimentos em rede e as estratégias como estes são usados.
A seção de resumos de teses e dissertações apresenta um trabalho de mestrado sobre “ciência aberta”, dados de pesquisa e a percepção de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará. Na análise em lide, a produção científica, o crivo dos pares de suas comunidades para o avanço do conhecimento, as necessidades informacionais dos pesquisadores da universidade, o gerenciamento de dados de pesquisa e a Ciência Aberta.
Na sequência, o resumo de uma tese que analisa a contribuição da biblioteca universitária na avaliação do ensino-aprendizagem no âmbito do Ensino Superior, demonstrando os protagonismos dessa instituição, de sua parceria com outros segmentos educacionais e das possibilidades de sua contribuição com os sistemas e processos avaliativos do ensino-aprendizagem.
Desejamos a todos uma boa leitura.
Editor-Chefe
Francisco Edvander Pires Santos
Editor-Adjunto
Informação em Pauta
Dezembro/2020