Usuários da informação:
perspectivas, demandas e ações
Encontro Internacional de Estudo
de Usos e Usuários da Informação
ENEU
realização
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA de EDUCAÇÃO em
CIÊNCIA da INFORMAÇÃO
Volume 2
Número Especial/2017
ISSN 2525-3468
Informação em Pauta
IP
Inf. Pauta
ISSN 2525-3468
Fortaleza
v. 2
Número especial
out. 2017
Ficha Catalográfica
Informação em Pauta : IP / Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Ciências da Informação, Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação. - v. 2, número especial (out. 2017)-- Fortaleza : UFC, 2017 - .
v. : il. ; 27 cm.
Semestral.
Descrição baseada em: v. 2, n. 1 (jan./jun. 2017).
Disponível no Portal de Periódicos da UFC em:
<http://www.periodicos.ufc.br/index.php/informacaoempauta/index>
1. Biblioteconomia Periódicos. 2. Ciência da Informação Periódicos. I.
Universidade Federal do Ceará. Departamento de Ciências da Informação. II.
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação.
CDD 020.5
Expediente volume 2, número especial (out. 2017)
Reitor
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Vice-reitor
Prof. Dr. Custódio Luís Silva de Almeida
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Editora (Número especial)
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Secretária Editorial
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© 2017 Informação em Pauta
ISSN 2525-3468
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Informação em Pauta (IP) é uma revista multidisciplinar da área de Ciências Sociais Aplicadas, tendo como
campos prioritários a Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia e áreas afins. É uma publicação de
acesso aberto, e sua periodicidade é semestral. A revista é ligada ao Departamento de Ciências da Informação e
ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Cea
(DECINF/PPGCI/UFC), em formato exclusivamente eletrônico. A revista publica pesquisas originais com elevado
mérito científico, contribuições inéditas em português, inglês e espanhol, visando contribuir para o
desenvolvimento de novos conhecimentos entre pesquisadores, docentes, discentes e profissionais em Ciência
da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia e áreas afins, desde que aprovados em revisão cega por pares
(Double Blind Peer Review) e pelo Comitê Editorial. A Informação em Pauta exige originalidade dos artigos
submetidos e que pelo menos um dos autores tenha titulação de Mestre ou de Doutor.
Editora
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Informação da Universidade Federal do Ceará.
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Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.
Acesso online
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Indexação e Diretórios
Editorial .................................................................................................................................................................
7
Artigos
Comportamento informacional dos idosos através dos meios de comunicação ....................
Vagner Ivan de Alencar Gomes; Silvana Souza da Silva; Solange Gomes Toscano de
Oliveira; Claudia Cristina Oliveira de Lima Barbosa; Pedro Alves Barbosa Neto
8
Necessidades informacionais de idosos em bibliotecas comunitárias: estudo realizado
em uma biblioteca no município de Fortaleza, Ceará .........................................................................
Ana Pricila Celedonio da Silva; Maria de Fátima Oliveira Costa; Lidia Eugenia Cavalcante
29
Usuários da informação: a produção científica no periódico ‘Perspectivas em Gestão &
Conhecimento’ .....................................................................................................................................................
Eliane Bezerra Paiva; Francisca Arruda Ramalho
47
Ensino e aprendizagem em estudos de usuários: interlocuções nas práticas docentes ......
Maria de Fátima Oliveira Costa
72
Comportamento, letramento Informacional e pesquisas sobre o cérebro: aplicações na
aprendizagem ......................................................................................................................................................
Kelley Cristine Gonçalves Dias Gasque
85
Práticas informacionais: desafios teóricos e empíricos de pesquisa ...........................................
Adriana Bogliolo Sirihal Duarte; Carlos Alberto Ávila Araújo; Claudio Paixão Anastácio
de Paula
111
Acessibilidade em biblioteca escolar: estudo de caso do Instituto Federal do Rio de
Janeiro - Campus ParacambiRJ ...................................................................................................................
Adriana Bogliolo Sirihal Duarte; Carlos Alberto Ávila Araújo; Claudio Paixão Anastácio
de Paula
136
Necessidades de informação de gestores públicos: o caso de um Centro Acadêmico
Universitário .......................................................................................................................................................
Niomar Christina Dantas, Luciana Moreira Carvalho
160
O fim do consumismo: uma reflexão sobre o consumo compartilhado na era digital ..........
José Wellithon Batista Zacarias, José Adailson de Albuquerque Pereira, Isabel Cristina
Gonçalves Santos Batista
181
Protagonismo midiático infantil: análise do comportamento informacional de
vlogueiros contadores de histórias .........................................................................................................
Rayara Bastos Barreto; Laiana Ferreira de Sousa
197
O que são “práticas informacionais”? ........................................................................................................
Rayara Bastos Barreto; Laiana Ferreira de Sousa
Acessibilidade informacional de PcD no contexto da lei de acesso à informação: desafios
para estudo de usuários ...................................................................................................................................
Asa Fujino
217
237
SUMÁRIO
Prezados leitores,
Celebramos com vocês, esta edição que nos foi presenteada por ocasião do I
ENCONTRO INTERNACIONAL DE ESTUDO DE USOS E USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO (ENEU),
ensejando a divulgação de trabalhos que foram apresentados e discutidos no referido evento.
Logo, inicialmente, queremos agradecer a editora da revista Informação em Pauta, da
Universidade Federal do Ceará, tal número especial, neste ano de 2017, dedicado aos
trabalhos que realçassem os estudos de usuários da informação, nos quais o Usuário se
constitui o protagonista mor.
Tais trabalhos corresponderam ao exposto nos eixos temáticos e nas respectivas
apresentações dos participantes: palestrantes ou apresentadores de resultados de pesquisas
na área. Estes escritos, no formato de artigos, transmitem percepções relevantes de aspectos
que possam ser pensados e repensados sobre a temática e compor complexa e significativa
fonte de informações. Elas podem se tornar importantes, a partir do interesse e dessa
colaboração ao crescimento da Ciência da Informação, dentro do contexto tratado pelo
encontro. Ademais, este volume, além de contemplar falas dos palestrantes do ENEU adiciona
as apresentações orais de participantes que obtiveram a melhor pontuação avaliativa, isto é,
aqueles trabalhos que foram premiados para publicação, conforme critérios obedecidos pela
comissão científica do evento.
A qualidade dos trabalhos mostra-se visível, principalmente se considerarmos que
pela primeira vez, no Estado do Ceará, e quiçá em todo o Brasil, se instala encontro
especializado, em nível internacional, com o foco nas discussões acerca de Usuários da
Informação, pertinentes a demandas, perspectivas e ações.
Enfatizemos que, a par das palestras realizadas por professores pesquisadores de
diversas universidades, as apresentações orais foram resultantes de pesquisa na forma de
artigos, produzidos também por profissionais que atuam no mercado, em parceria conjunta
com seus respectivos orientadores.
Dessa maneira, os trabalhos vêm permitindo disseminar e ampliar o conhecimento
na área, mostrando um panorama fruto de pesquisa científica e do empenho de cada
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Fortaleza, CE
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número especial
out. 2017
participante, ressaltando que docentes, pesquisadores, profissionais e educadores, estão
buscando mais ampla interdisciplinaridade, exercida por vários atores e múltiplos saberes,
em consonância com a complexidade temática.
A editora agradece a gentileza dessa contribuição que permitiu, com a maior
brevidade possível, a organização deste número especial que se constitui um marco
auspicioso à sucessão e promoção do próximo ENEU, que almejamos seguidamente profícuo.
Maria de Fátima Oliveira Costa
Editora do número especial
Informação em Pauta
Outubro/2017
COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DOS IDOSOS ATRAVÉS DOS
MEIOS DE COMUNICAÇÃO
INFORMATION BEHAVIOR OF THE ELDERLY THROUGH THE MEDIA
Vagner Ivan de Alencar Gomes
UFRN
Silvana Souza da Silva
UFRN
Solange Gomes Toscano de Oliveira
UFRN
Claudia Cristina Oliveira de Lima Barbosa
UFRN
Pedro Alves Barbosa Neto
UFRN
RESUMO
Aborda a relação entre os idosos e os meios de comunicação existentes, levando em consideração as
transformações advindas das evoluções tecnológicas, que cada vez mais são inseridas em seu
cotidiano. Destaca a necessidade de realizar estudos voltados para esse tipo de usuário, a fim de
apresentar dificuldades que eles enfrentam na utilização dos meios de comunicações atuais.
Objetiva identificar os meios de comunicações utilizados pelos idosos como forma de adquirir
informações e especificar quais suas preferências e dificuldades ao utilizá-los. Emprega como
metodologia a pesquisa exploratória e descritiva tendo em vista que se buscou informações através
da aplicação de questionários e a realização de entrevistas de forma aleatória, com idosos a partir
de 60 anos de idade, em diversas localidades da cidade do Natal/RN. Constatou-se que os meios de
comunicação mais utilizados pelos idosos são a Televisão e o Rádio e com relação à era digital, 77%
dos pesquisados possuem dificuldades em obter informações a partir da Internet. Percebe-se que
todos idosos entendem a necessidade das pessoas estarem bem informadas, utilizando todos os
meios que são disponibilizados, tais como: jornais, tvs, redes sociais, ou seja, os diversos meios de
comunicação.
Palavras-chave: Idosos. Meios de Comunicação. Informação. Natal-RN.
ABSTRACT
It addresses the relationship between the elderly and the existing means of communication, taking
into account the changes arising from technological developments, which are increasingly inserted
in their daily lives. It highlights the need to carry out studies aimed at this type of user, in order to
present difficulties that they face in the use of the current communications media. It aims to identify
the means of communication used by the elderly as a way of acquiring information and specifying
their preferences and difficulties in using them. The methodology used is exploratory and
descriptive research, considering that information was obtained through the application of
questionnaires and random interviews with elderly individuals from 60 years of age in various
locations in the city of Natal / RN. It was found that the media most used by the elderly are
television and radio and in relation to the digital age, 77% of respondents have difficulties in
obtaining information from the Internet, it is noticed that all elderly people understand the need of
people are well informed, using all the means that are available, such as: newspapers, TVs, social
networks, the various media.
Keywords: Elderly. Media. Information. Natal-RN.
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ARTIGO
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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1 INTRODUÇÃO
É notório que o número de idosos na sociedade contemporânea está cada vez maior e
isso se deve ao aumento da expectativa de vida. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação e
as tecnologias estão cada vez mais modernos, fazendo com que essas pessoas que fazem parte
da melhor idade tenham um grande desafio pela frente, que é acompanhar e obter informações
através desses meios de comunicação cada dia mais avançados.
Dessa forma, é necessária a realização de pesquisas relacionadas a diversos tipos de
usuários de informação, que segundo Carlos Alberto Ávila Araújo em seu estudo intitulado
Um mapa dos estudos de usuários da informação no Brasil [...] o ambiente acadêmico
(educacional, mas, principalmente, de pesquisa) ainda é o setor privilegiado no âmbito dos
estudos de usuários da informação, respondendo por ,% dos estudos ARAÚJO, 2009, p.
17). Sendo assim, o estudo justifica-se por abordar um tipo de usuário que é pouco abordado
nas pesquisas.
Para melhor entender os problemas que os idosos enfrentam quando vão utilizar esses
meios de comunicação para poder obter as informações desejadas e não ficarem
desatualizados, um grupo de alunos, da disciplina de Estudo do usuário em unidades de
informação, do curso de Biblioteconomia, da instituição de ensino da Universidade Federal do
Rio grande do Norte, elaborou um questionário descritivo e uma entrevista estruturada para
poder saber como esses usuários de informação estão fazendo para vencer essas barreiras
tecnológicas.
O presente trabalho foi realizado através de aplicação de questionários e a realização de
entrevistas de forma aleatória, com idosos a partir de 60 anos de idade, em diversas localidades
da cidade do Natal/ Rio Grande do Norte (RN) Brasil.
A pesquisa tem como objetivo geral identificar os meios de comunicação utilizados pelos
idosos como meio de adquirir informações e como objetivos específicos: Informar quais são os
meios de comunicação mais utilizados pelos idosos e verificar quais suas preferências e
dificuldades ao utilizarem esses meios de comunicação.
O presente trabalho será composto por três partes, no primeiro momento serão
apresentados à fundamentação e os procedimentos metodológicos usados na pesquisa, na
segunda parte exibiremos os resultados e suas análises e no terceiro momento falaremos sobre
as considerações finais.
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a construção desse trabalho foi necessário elencar alguns procedimentos
metodológicos, dessa maneira o estudo é de caráter exploratório e descritivo. Uma vez que se
buscaram informações referentes ao uso dos meios de comunicação pelos idosos da cidade do
Natal- RN.
De acordo com Gil (2008) a pesquisa exploratória tem como princípio o esclarecimento,
o desenvolvimento e a modificação de ideias e conceitos, a partir da construção de problemas
que sejam mais precisos ou hipóteses que sejam pesquisáveis e servirão para futuros estudos.
Ainda segundo o autor, pesquisa descritiva têm como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis GIL, , p. .
A presente pesquisa foi desenvolvida em dois momentos sendo no primeiro, de forma
quantitativa uma vez que ela lida com dados estatísticos, ou seja, [...] considera que tudo pode
ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las
e analisá-las SILVA; MENEZES, , p. 20). E no segundo momento de cunho qualitativo,
tendo em vista que ela não lida com dados estatísticos, ou seja, considera que uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo
e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números SILVA; MENEZES, ,
p. 20). Como técnica de coleta de dados foi utilizado um questionário contendo 19 perguntas e
uma entrevista contendo 12 questões e como técnica de pesquisa foi utilizada a análise de
conteúdo que Procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais debruça
(BARDIN, 2011, p. 50).
Quanto à população e amostra foram pesquisados idosos na cidade do Natal, levando em
consideração o critério da Lei No 10.741, de 1º de outubro de 2003 que dispõe sobre o Estatuto
do Idoso em seu diz Art. º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos. Dessa forma, optou-se em
pesquisar idosos que tinham idade igual ou superior a sessenta anos.
No que se refere ao tipo de amostra trata-se de amostra não probabilística por
conveniência que segundo Guimarães (2008, p.  [...] é obtida quando o acesso a informações
não é tão simples ou os recursos forem limitados, assim o pesquisador faz uso de dados que
estão mais a seu alcance, é a chamada amostragem por conveniência.
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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Na pesquisa quantitativa foi utilizado como instrumento de coleta de dados um
questionário contendo 19 questões. Foram aplicados 128 questionários, sendo que desses
apenas 96 foram considerados válidos, devido o preenchimento incorreto do instrumento. Já na
pesquisa qualitativa foi utilizado um roteiro para entrevista contendo 12 questões, abordando:
o Estatuto do Idoso; o que é uma pessoa bem informada; tipo de informação, sua veracidade e
qualidade; Televisão, rádio e internet. Foram aplicadas 12 entrevistas, sendo dessas sete
escritas e cinco gravadas em áudio, tendo sua descrição ipsis litteris. Ambas foram realizadas
em pontos estratégicos como shoppings, condomínios, evento de aposentados e locais
aleatórios.
Para tabulação dos dados do questionário foi utilizado o programa da Microsoft Excel
2010, do pacote Microsoft Office, e antes de iniciar efetivamente as entrevistas, realizou-se um
pré-teste, com quatro idosos, com a finalidade de identificar se o roteiro necessitaria de
alterações.
Para preservar a identidade dos entrevistados, eles serão apresentados como
Entrevistado 01, Entrevistado 02, Entrevistado 03, Entrevistado 04, Entrevistado 05,
Entrevistado 06, Entrevistado 07, Entrevistado 08, Entrevistado 09, Entrevistado 10,
Entrevistado 11 e Entrevistado 12. Toda a pesquisa foi realizada no período de 6 de outubro a
29 de novembro de 2016.
3 IDOSOS E INFORMAÇÃO
Ao longo dos anos percebe-se que cada vez mais cresce o número de pessoas
consideradas idosas, isso se confirma com as
Projeções das Nações Unidas (Fundo de Populações). Elas indicam que uma em cada
nove (9) pessoas no mundo tem 60 anos ou mais. O estudo aponta, ainda, que, em 2050,
pela primeira vez, haverá mais idosos que crianças menores de 15 anos. (BRASIL, 2017,
p. 1).
Com isso, pode-se dizer que [...] a população mundial vem envelhecendo rapidamente
em função da queda da taxa de fecundidade em diversas regiões do mundo e do aumento da
expectativa de vida HE; GOODKIND; KOWAL,  apud IBGE, 2016 p. 49).
No caso do Brasil não é diferente, entre os anos de 2005 a 2015,
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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[...] houve diminuição no percentual de crianças e adolescentes até 14 anos e também no
de jovens, aumentou o percentual de pessoas com 60 anos ou mais de idade [...] neste
período os idosos passaram de 9,8% para 14,3% da população brasileira IBGE, ,
p. 49-50).
Com isso, pode-se confirmar que tanto a população mundial, quanto a população
brasileira vem envelhecendo com o passar dos anos. Necessitando assim que se volte um olhar
em diversos aspectos, seja econômico, social e cultural para esse grupo de pessoas que são os
idosos.
Nota-se que a sociedade vem sofrendo diversas transformações de cunho social,
econômica, política, mas principalmente nas Tecnologias da informação e comunicação (TIC).
Pode-se dizer que vivemos na Sociedade da Informação [...] uma nova era em que a informação
flui a velocidades e em quantidades apenas poucos anos inimagináveis, assumindo valores
sociais e econômicos fundamentais. KATAHASHI, , p. 3).
Percebe-se que quem nasce na geração tecnológica tem facilidades em lidar com as
transformações presentes na tecnologia. Por outro lado, existe outra geração, a dos idosos, que
[...] tem revelado suas dificuldades em entender a nova linguagem e em lidar com avanços
tecnológicos até mesmo nas questões mais básicas como os eletrodomésticos, celulares e os
caixas eletrônicos instados nos bancos. KACHAR, , p. 53).
Os idosos vivem em uma [...] sociedade em que as informações e comunicações
trafegam, cada vez mais, através de recursos tecnológicos computacionais, também utilizados
para propor e resolver, inclusive, problemas do cotidiano. ARREVABENI, , p. .
Para Vechiato (2010, p. 92):
[...] a tecnologia pode facilitar a vida dos idosos, possibilitando novas alternativas para a
realização de atividades cotidianas. Fazer compras e pagar contas pela Internet, por
exemplo, pode ser mais confortável do que se deslocar para um determinado ambiente
físico, considerando que os idosos possuem limitações físicas e cognitivas decorrentes
do processo natural de envelhecimento humano.
Assim, nota-se que a tecnologia pode ajudar e facilitar as atividades do cotidiano dos
idosos. Desse modo percebe-se que [...] a sociedade como um todo está se tornando
informatizada. Os recursos da imprensa, rádio, TV, telefone, fax, vídeo, computador e Internet
são disseminadores de culturas, valores e padrões sociais de comportamento. KACHAR, ,
p. 53).
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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4 O USO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PELOS IDOSOS: pesquisa quantitativa
A seguir serão apresentados os dados referentes à pesquisa sobre os meios de
comunicação utilizados pelos idosos de 60 a 88 anos, como também suas preferências e
dificuldades com os mesmos. Esses dados foram obtidos através da aplicação de questionários.
Quanto aos gêneros dos entrevistados foi observado que 63% pertencem ao feminino,
37% ao masculino e a opção outros não obteve resposta.
A tabela 1 apresenta a faixa etária dos entrevistados.
Tabela 1 Idade dos entrevistados
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
Com relação à idade dos idosos a faixa etária pesquisada está compreendida entre 60 e
88 anos. Além disso, destacam-se aqueles com idades entre 60 e 66 anos que representam 45%
de toda amostra.
A tabela 2 refere-se à Escolaridade dos pesquisados.
Tabela 2 Grau de instrução
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
Com relação ao grau de instrução, pode-se observar que 33% dos idosos cursaram o
ensino médio, seguido por 22% que cursaram ensino superior, e apenas 2% o mestrado e
nenhum dos questionados possuem doutorado.
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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A tabela 3 mostra com quem os idosos residem.
Tabela 3 Com quem os idosos residem
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
Em relação à moradia, constatou-se que 42% dos idosos moram com seus cônjuges, 31%
residem com os seus filhos e 20% responderam a opção outros, por residirem, por exemplo,
com sobrinhos, netos, sozinhos ou com a mãe e apenas 7% com os irmãos.
Os entrevistados foram questionados quanto à prática de atividades sicas. Foi possível
notar que a maioria dos questionados praticam alguma atividade física, representando 56% e,
44% não praticam nenhum tipo de exercício.
Dos 56% que marcaram a opção sim, observamos que 46% praticam caminhadas, 18%
praticam hidroginástica, 11% faz dança de salão, 9% se movimentam com a ginástica e a opção
outras atividades (natação, muay thai, coral/teatro, pilates) e 7% fisioterapia.
A tabela 4 mostra como o idoso utiliza o seu tempo.
Tabela 4 Como o idoso utiliza o seu tempo
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
Percebe-se que o tempo usado pelos idosos nas atividades de assistir
à TV corresponde a
25%, realização de atividades domésticas 16%, viagens 14%, ouvir rádio/músicas, e realizar
trabalhos manuais 10% (para cada opção citada), leitura de livros revistas e jornais 9%, jogos
5% e dança e outras atividades (atividade sindical, doceira, confeitaria, internet, trabalho,
resolvo problemas da família e amigos) 3% (para cada opção citada).
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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A tabela 5 mostra a avaliação dos idosos quanto à sua saúde.
Tabela 5 Avaliação do idoso quanto à saúde
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
De acordo com a percepção dos idosos sobre avaliação da própria saúde, 47%
consideram boa, 39% regular, 12% muito boa e apenas 2% ruim.
O gráfico 1 mostra o meio de comunicação que o idoso tem mais acesso.
Gráfico 1 Meio de comunicação que o idoso tem mais acesso
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
O gráfico acima mostra que 42% dos entrevistados gostam mais de usar a TV como meio
de comunicação. E apenas 8% da amostra diz gostar de Jornais Impressos como principal meio
de comunicação.
Tabela 6 - Frequência de uso dos idosos dos Meios de comunicação para informação.
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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Na tabela acima fica claro que a maioria dos entrevistados sempre usa os meios de
comunicação para adquirir informações desejadas e apenas 1% deles nunca usam com
frequência.
O gráfico 3 mostra a classificação dos meios de comunicação na opinião dos idosos.
Gráfico 3 Classificação dos meios de comunicação na opinião
dos idosos
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
Pode-se perceber com esse gráfico que 56% dos entrevistados classificam como bom os
meios de comunicação que eles utilizam.
O gráfico 4 mostra as Dificuldades que os idosos enfrentam para obter as informações
desejadas, através dos meios de comunicação existentes atualmente.
Gráfico 4 Dificuldades do idoso em obter as informações desejadas, através desses meios de
comunicação existente atualmente.
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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Observa-se com esse gráfico que 54% dos pesquisados sempre têm dificuldades em obter
informações que desejam a partir dos meios de comunicação disponíveis e apenas 21%
disseram nunca ter encontrado dificuldades.
O gráfico 5 avalia os meios de comunicação de maior dificuldade.
Gráfico 5 Meios de comunicação de maior dificuldade
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
O gráfico acima demonstra que de acordo com a pesquisa feita com os idosos, 77% deles
sentem dificuldades ao utilizar a internet para obter informações, enquanto que 11% sentem
dificuldades em obter informações através da TV e 4% sentem dificuldades para obter
informações nos demais meios de comunicação.
O gráfico 6 refere-se à confirmação da veracidade das informações.
Gráfico 6 Confirmação da veracidade das informações
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
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ARTIGO
O gráfico acima mostra que 45% dos idosos sempre se certificam da veracidade das
informações que chegam até eles, enquanto que 31% apenas às vezes checam as informações,
17% raramente verificam se as informações são verdadeiras e 7% disseram que nunca
conferem se as informações são realmente verdadeiras.
A tabela 7 avalia a afirmação sobre algumas questões.
Tabela 7 Afirmação sobre as seguintes questões:
Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).
Na tabela acima pode-se observar que 78% dos entrevistados consideram-se pessoas
bem informadas, enquanto que 70% têm conhecimento do estatuto do idoso e 56% consideram
que as pessoas não estão bem informadas.
5 O USO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PELOS IDOSOS: pesquisa qualitativa
A seguir serão apresentados os dados referentes à pesquisa sobre os meios de
comunicação utilizados pelos idosos, como também suas preferências e dificuldades com os
mesmos. Os dados a seguir foram obtidos através da realização de entrevistas com 12
entrevistados.
5.1 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE A IMPORTÂNCIA E OS BENEFÍCIOS DO ESTATUTO (LEI Nº
10.741 DE 1º DE OUTUBRO DE 2003) PARA OS IDOSOS
Percebeu-se que a maioria dos idosos entrevistados reconhece que o Estatuto do Idoso os
beneficia em um modo geral, pois eles acreditam que a partir do momento que possuem uma
segurança através da lei que descrimina os direitos e deveres perante a sociedade, os mesmos
são favorecidos por ter esses direitos colocados em prática por todos os cidadãos. A fim de
embasamento para a afirmação acima, pode-se citar o que disse o Entrevistado 01:
19
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Sim, porque ele não existia e no momento que passou a existir veio implantar de forma
jurídica, direitos que os idosos têm e não eram reconhecidos e respeitados, na forma
prática, através de muito esclarecimento e tempo chegaremos ao reconhecimento
merecido (Informação verbal)
1
.
Porém é notável a preocupação deles em ressaltar que o Estatuto precisa ser mais
divulgado e esclarecido para seus maiores beneficiados, os Idosos. E ainda não se pode deixar
de citar que mesmo sendo pela menor parte dos entrevistados, foi relatado que alguns o
conhecem e Estatuto e que ele não ajuda muito na vida dos idosos por não ser colocado em
prática. Conforme disse o Entrevistado 08 "Não tenho muito conhecimento sobre o estatuto do
idoso Informação verbal
2
. E segundo o Entrevistado 03 "Em algumas coisas sim, em outras
não, porque têm coisas que só fica no papel e não é colocado em prática Informação verbal)
3
.
5.2 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE ESCLARECIMENTOS DAS PESSOAS SOBRE O ESTATUTO
Pode-se inferir que todos os entrevistados concordam que as pessoas deveriam
conhecer melhor o Estatuto do Idoso, e para que os direitos deles possam ser respeitados e
colocados em prática é de suma importância que toda a sociedade conheça o que diz o Estatuto,
constata-se a partir do depoimento do Entrevistado  Deveria, porque às vezes as pessoas
desconhecem o estatuto e isso também acontece com alguns idosos que muitas vezes ficam
prejudicados por desconhecer seus direitos Informação verbal
4
. Portanto ambos deveriam
conhecer o Estatuto do idoso.
Além disso, confirmou-se, com esse questionamento, que os idosos não se sentem
satisfeitos mesmo depois da aprovação da Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003, pois essa lei
vai ser efetiva quando todos adquirirem consciência, que isso será possível quando a
sociedade estiver devidamente esclarecida e sensibilizada sobre o assunto.
5.3 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DE UMA PESSOA BEM INFORMADA
Identificou-se, com as respostas dos entrevistados, que uma pessoa bem informada é
aquela que busca informações através dos meios de comunicação disponíveis (TV, rádio,
Internet e etc.) e ainda assim conseguem colocar em prática todo o conhecimento alcançado,
também foi pontuado como bem informado o indivíduo que consegue discutir e expor ideias
1
Informação fornecida pelo Entrevistado 01 em 2016.
2
Informação fornecida pelo Entrevistado 08 em 2016.
3
Informação fornecida pelo Entrevistado 03 em 2016.
4
Informação fornecida pelo Entrevistado 03 em 2016.
20
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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adquiridas a partir de suas buscas. Podemos observar no depoimento do Entrevistado  Uma
pessoa bem informada é uma pessoa desenrolada, que sabe responder qualquer coisa que uma
pessoa perguntar Informação verbal
5
.
Outro depoimento importante diz que uma pessoa bem informada consegue viver
melhor em uma sociedade como a nossa, que constantemente sofre mudanças. Foi o que o
Entrevistado 01 disse: o individuo que consegue se suprir de todos os conhecimentos
necessários para sua permanência de forma menos sofrida e prejudicial em uma sociedade o
cheia de leis, informações e mudanças repentinas" (Informação verbal)
6
.
Além disso, foi mostrado que as pessoas que possuem interesse em tomar conhecimento
do que ocorre no dia a dia sobre assuntos econômicos, políticos e sociais, possuem um alto grau
de informação perante as outras pessoas que não tem os hábitos acima mostrados.
5.4 PERCEPÇÕES DOS IDOSOS SOBRE O QUE AS PESSOAS DEVERIAM FAZER PARA SE
TORNAREM MAIS BEM INFORMADAS
Pode-se notar que em sua maioria os entrevistados acham que as pessoas precisam ler e
se informar através de jornais, dos diversos meios de comunicação, interagirem com outras
pessoas participando de cursos, redes sociais e ter vida social ativa. Conforme isso, podemos
citar o Entrevistado  que em sua percepção Se informarem através de jornais, noticiários,
leituras, redes sociais Informação verbal
7
. Além disso, podemos citar o Entrevistado 07 que
na sua percepção Assistir a jornais, interagir com outras pessoas, ter uma vida social ativa
(Informação verbal)
8
.
Ademais, houve um Entrevistado 09 que considerou que as pessoas precisam procurar
ter contato com os diversos meios de comunicação e fazer uma reflexão do que os mesmos
apresentam na mídia e procurar estudar para melhorar o seu senso crítico Informação
verbal)
9
.
5.5 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE O TIPO DE INFORMAÇÃO QUE CONSIDERAM MAIS
IMPORTANTE
5
Informação fornecida pelo Entrevistado 06 em 2016.
6
Informação fornecida pelo Entrevistado 01 em 2016.
7
Informação fornecida pelo Entrevistado 08 em 2016.
8
Informação fornecida pelo Entrevistado 07 em 2016.
9
Informação fornecida pelo Entrevistado 09 em 2016.
21
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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De acordo com as entrevistas realizadas notou-se que a maioria citou as informações
relacionadas à política, saúde e notícias de uma forma geral, as quais eles possam se informar, e
assim, considerando todas importantes. De acordo com o Entrevistado  Todas as
informações são importantes para a pessoa, uma pessoa tem que saber de tudo (Informação
verbal)
10
.
Percebe-se assim, que houve aqueles que se preocupam com a situação do país,
conforme o Entrevistado  Sobre a situação financeira do País Informação verbal
11
. E o
Entrevistado 03 que pensa em lazer e qualidade de vida e aproveitar melhor o tempo, ele diz:
Informações sobre a saúde, previdência, lazer e qualidade de vida, para poder aproveitar
melhor seu tempo com coisas importantes e para não ficar numa vida muito restrita de
dificuldades e doenças [...] (Informação verbal)
12
.
5.6 PERCEPÇÕES DOS IDOSOS SOBRE A CONFIRMAÇÃO DA VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES
QUE BUSCAM E DE QUE FORMA
Outro ponto que foi abordado na pesquisa foi com relação à veracidade das informações
que eles buscam e de que forma são confirmadas. Pode-se notar que a maioria dos idosos
respondeu que confirmam as informações conversando com outras pessoas e assistem a mais
de um meio de comunicação. Segundo o relato do Entrevistado , que na percepção dele Sim,
conversando com outras pessoas, assistindo e ouvindo mais de um meio de comunicação
(Informação verbal)
13
.
Por outro lado, o Entrevistado 04 não costuma confirmar todas as informações, apenas
algumas, quando relata Nem todas as informações a gente costuma verificar realmente,
algumas sim, ver uma informação em um canal da tv, procura ver em outro canal, se ler um
jornal, procura ler a mesma informação em outro jornal [...] (Informação verbal)
14
.
10
Informação fornecida pelo Entrevistado 05 em 2016.
11
Informação fornecida pelo Entrevistado 07 em 2016.
12
Informação fornecida pelo Entrevistado 03 em 2016.
13
Informação fornecida pelo Entrevistado 10 em 2016.
14
Informação fornecida pelo Entrevistado 04 em 2016.
22
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
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5.7 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE A QUALIDADE DAS INFORMAÇÔES QUE CHEGAM ATÉ OS
IDOSOS PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Sobre as informações que chegavam até eles através dos meios de comunicação (TV,
rádio, revistas, internet), identificou-se que dos doze entrevistados, cinco acham que são de boa
qualidade e cinco não consideram de boa qualidade e houve dois que consideram
que às vezes
são de boa qualidade.
Dessa forma pode citar o Entrevistado  que na percepção dele São de boa qualidade
sim, pois procuro informações de boa qualidade, notícias e jornais e não programas caricatos
(Informação verbal)
15
. Por outro lado o Entrevistado 02 acha que não são de boa qualidade
informações que chegam até ele (a):
Não, não acho que seja de boa qualidade não, porque nem todas as fontes fazem com
que as informações tenham boa qualidade, tem informações que chegam incompletas e
com dados diferentes de notícias mostradas por outros jornais, por exemplo
(Informação verbal)
16
.
Percebe-se assim, que houve aqueles que acham de boa qualidade as informações e os
que não acham e ainda aqueles como o Entrevistado  que acha que às vezes, porque muitas
das vezes também são mentirosas, depende muito da fonte, pois dependendo da fonte vai ter o
interesse por trás (Informação verbal)
17
.
5.8 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE OS TIPOS DE PROGRAMAS QUE ACHAM INTERESSANTES
NA TELEVISÃO E NO RÁDIO
Questionou-se ainda aos idosos quais os tipos de programas que acham interessantes na
televisão e rádio, notou-se que na opinião da maioria deles foram citados os jornais como
principal programa, houve os que mencionaram outros tipos como política, futebol, saúde,
programas culturais e entretenimento. Com relação ao dio, pode-se observar que são
programas religiosos e futebol os que despertam mais interesse nessa comunidade de usuários.
Ainda teve aqueles que não costuma ouvir conforme o Entrevistado  Na Televisão, os
jornais, e não costumo ouvir rádio (Informação verbal)
18
.
15
Informação fornecida pelo Entrevistado 11 em 2016.
16
Informação fornecida pelo Entrevistado 02 em 2016.
17
Informação fornecida pelo Entrevistado 03 em 2016.
18
Informação fornecida pelo Entrevistado 10 em 2016.
23
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
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ARTIGO
5.9 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE A INFLUÊNCIA DA TELEVISÃO NO MODO DE PENSAR DAS
PESSOAS
Outro ponto que foi abordado na pesquisa foi se os idosos achavam que a televisão
influencia o modo de pensar das pessoas e por quê. Das doze pessoas entrevistadas dez
consideram que influencia, sendo que duas não souberam responder. De acordo o Entrevistado
03:
Demais, influencia porque eles são direcionados para influenciar em algum sentido,
tudo depende do interesse que têm por trás, as propagandas são feitas de uma forma
para fazerem a cabeça das pessoas, ou seja, influenciar, uma novela influencia, uma
propaganda influencia e um comercial também influencia. E as pessoas que tem menos
cultura, que são sem noção da realidade são mais influenciáveis (Informação verbal)
19
.
Pode-se notar que a televisão influencia o modo de pensar das pessoas, em seus
programas, propagandas e novelas. Assim, acabando influenciando indivíduos como diz
Entrevistado 09 Sim, influencia. Devido à baixa qualidade intelectual de grande parte da
população, que por diversos motivos, não tiveram acesso a uma boa formação intelectual e não
têm o senso crítico para discernir o certo ou o errado (Informação verbal)
20
.
5. 10 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE SUAS DIFICULDADES AO UTILIZAR A INTERNET
Foram perguntados aos entrevistados quais eram suas dificuldades no momento de
utilizar a internet. Dentre os doze entrevistados onze afirmaram que tinham algum tipo de
dificuldades ao utilizar a internet. Como pode ser observado no depoimento do Entrevistado
: A internet sempre traz algum tipo de dificuldade para as pessoas, mas se você está
constantemente usando, você vai adquirindo uma maneira de se sair bem ao navegar
(Informação verbal)
21
.
Como também pode ser observado que apenas o Entrevistado  disse que não sabia
usar a internet (Informação verbal)
22
.
Com isso, percebe-se que os idosos mesmo sentindo algum tipo de dificuldade não
deixam de utilizar a internet para buscar mais informação e conhecimento.
19
Informação fornecida pelo Entrevistado 03 em 2016.
20
Informação fornecida pelo Entrevistado 09 em 2016.
21
Informação fornecida pelo Entrevistado 04 em 2016.
22
Informação fornecida pelo Entrevistado 05 em 2016.
24
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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5.11 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE COMO CONSEGUIR INFORMAÇÕES QUE PROCURA E
SABER UTILIZAR MELHOR A INTERNET
Quando questionados se conseguiam as informações que procuravam na internet, nove
responderam que sim, que realmente conseguiam tudo que procuravam, porém alguns
disseram que já sabiam o suficiente, enquanto que os restantes afirmaram que gostariam de
saber utilizar melhor a internet, um exemplo disso ocorre com Entrevistado 04 ao responder
Sim, eu já utilizo bem a internet, tudo o que eu preciso eu encontro (Informação verbal)
23
, já o
Entrevistado 09 que diz:
Quando acesso a Internet de forma geral consigo as informações, tipo as buscas no
YouTube. Gostaria de saber utilizar melhor as redes sociais e também os sites dos
diversos órgãos governamentais e de informações de Controle Social como, por
exemplo, o da Educação, Saúde e Segurança (Informação verbal)
24
.
Enquanto que apenas três disseram que não encontravam tudo o que estavam
procurando, porém todos eles responderam que gostariam de saber utilizar melhor a internet.
Como pode ser visto no relato do Entrevistado 02:
Não consigo todas as informações que preciso quando busco pela internet, porque não
sei ler bem, mas eu me esforço muito para conseguir, tem vezes que consigo e outras
que não acessar da maneira que gostaria. Mas eu gostaria de saber usar mais a internet
(Informação verbal)
25
.
Pode-se constar que os idosos em sua maioria consegue encontrar todas as informações
que procuram,
mesmo assim gostariam de saber utilizar melhor esse recurso informacional.
5.12 PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE COMO A INTERNET FAZ DIFERENÇA NA HORA DE
OBTER INFORMAÇÃO E POR QUE
Das doze pessoas que foram abordadas para saber se a internet fazia alguma diferença
na hora de obter informações e justificar o motivo de suas respostas, onze delas responderam
que sim e entre suas justificativas afirmaram que era porque tudo o que se procura se encontra
na internet, por exemplo, pode ser usado o caso do Entrevistado 02, quando diz:
23
Informação fornecida pelo Entrevistado 04 em 2016.
24
Informação fornecida pelo Entrevistado 09 em 2016.
25
Informação fornecida pelo Entrevistado 02 em 2016.
25
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Eu acho que sim, porque na internet tem tudo: Se você colocar a palavra 'caneta' vai
aparecer um mundo de informações sobre ela; quando nasce uma criança você também
posta na internet; quando tira uma foto posta também, em fim tudo hoje que você quer
ver ou saber, é só procurar na internet que vai encontrar (Informação verbal)
26
.
Enquanto que em uma das entrevistas, como é o caso do Entrevistado 07, em que fala
No meu caso não faz diferença, não utilizo este recurso (Informação verbal)
27
.
Através disso pode-se observar que a maioria dos entrevistados considera que a internet
faz realmente diferença quando vão buscar por informações de seus interesses, não importando
quais sejam.
6 CONCLUSÃO
Neste trabalho abordou-se o comportamento dos idosos referente ao uso dos meios de
comunicação com a finalidade de adquirir informações. Considerou-se relevante para a
compreensão e aprofundamento do tema, sobretudo, nos estimulou a observar e entender um
pouco mais sobre o comportamento informacional dos idosos.
No primeiro momento da pesquisa quantitativa, percebe-se que os meios de
comunicação mais utilizados pelos idosos são a Televisão e o Rádio e com relação à era digital,
77% dos pesquisados possuem dificuldades em obter informações a partir da Internet.
Notando-se assim, que eles ainda não conseguiram acompanhar o ritmo da evolução digital
para busca de informações, mas mesmo com essa deficiência eles não deixam de interagir e se
comunicar, visto que 78% sempre usam os meios de comunicação para esse fim.
No segundo momento, no estudo qualitativo, percebe-se que todos idosos entendem, de
uma forma geral, a necessidade das pessoas estarem bem informadas, utilizando todos os meios
que são disponibilizados, como exemplo, jornais, TV, redes sociais, ou seja, os diversos meios de
comunicação.
Com as entrevistas detectou-se que os idosos consideram importante o Estatuto do
Idoso e que o mesmo os beneficia por assegurar direitos antes desrespeitados. Porém, os
entrevistados disseram que o resultado dessa lei não é maior porque a maioria das pessoas a
desconhecem, e por isso, os direitos dos mais velhos e os deveres das outras pessoas perante
eles não são colocados em prática frequentemente.
26
Informação fornecida pelo Entrevistado 02 em 2016.
27
Informação fornecida pelo Entrevistado 07 em 2016.
26
Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
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ARTIGO
Além disso, para eles uma pessoa bem informada deve ser capaz de conversar sobre
qualquer tipo de assunto, e para isso ela tem que possuir conhecimentos sobre temas de cunho
econômico, político e social.
Notou-se ainda, que a qualidade das informações que chegam até os idosos pelos meios
de comunicação sofreu uma divisão entre as opiniões, pois teve aqueles que consideraram que
são de boa qualidade e outros consideraram que não, e uma pequena parcela consideraram que
às vezes as informações que chegam até a eles possuem qualidade.
Pode-se notar ainda que os tipos de programas que os idosos acham interessantes na
televisão são os jornais e no rádio são os programas referentes à religião e futebol. Constatou-se
ainda que na percepção da maioria dos pesquisados a televisão influencia no modo de pensar
das pessoas, seja em seus programas, propagandas e novelas, entre outros.
Para os entrevistados a interação com outras pessoas, participando de cursos,
interagindo nas redes sociais e ter vida social ativa é de suma importância para eles se
manterem bem informados. Eles também consideram como informações importantes as
relacionadas à política, saúde e notícias de uma forma geral. A maioria dos idosos procura
confirmar a veracidade das informações conversando com outras pessoas e tendo acesso a mais
de um meio de comunicação.
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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Gomes; Silva; Oliveira; Barbosa; Barbosa Neto| Comportamento informacional dos idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
Vagner Ivan de Alencar Gomes
Bacharel em turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
E-mail: vagnerivan@live.com
Silvana Souza da Silva
Tecnóloga em Recursos Humanos pela Universidade Potiguar (UNP).
Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
E-mail: silvana.ufrn@hotmail.com
Solange Gomes Toscano de Oliveira
Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
E-mail: sol.gto@gmail.com
Claudia Cristina Oliveira de Lima Barbosa
Bacharel em Ciências contábeis pela Faculdade de Ciências, Cultura e extensão do Rio Grande do Norte (FACEX).
Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
E-mail: clachrys@yahoo.com.br
Pedro Alves Barbosa Neto
Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: pedrocorone@hotmail.com
Recebido em: 06/03/2017; Revisado em: 03/04/2017; Aceito em: 08/05/2017.
Como citar este artigo
GOMES, Vagner Ivan de Alencar; SILVA, Silvana Souza da; OLIVEIRA, Solange Gomes Toscano de; BARBOSA,
Claudia Cristina Oliveira de Lima; BARBOSA NETO, Pedro Alves. Comportamento informacional dos idosos através
dos meios de comunicação. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 8-28, out. 2017.
NECESSIDADES INFORMACIONAIS DE IDOSOS EM BIBLIOTECAS
COMUNITÁRIAS: estudo realizado em uma biblioteca no município de
Fortaleza, Ceará
INFORMATION NEEDS OF ELDERLY IN LIBRARIES COMMUNITIES: a
study carried out in a library in the municipality of Fortaleza, Ceará
Ana Pricila Celedônio da Silva
UFC
Maria de Fátima Oliveira Costa
UFC
Lídia Eugenia Cavalcante
UFC
RESUMO
Apresenta estudo acerca das necessidades informacionais de idosos em contextos locais, tendo
como objeto de estudo um grupo de idosos moradores do entorno da Biblioteca Comunitária
Criança Feliz, localizada no Bairro Jardim Iracema, na cidade de Fortaleza, Ceará. Foram realizadas
discussões teóricas acerca das temáticas: biblioteca comunitária, necessidades informacionais e,
ainda, sobre idosos. No que tange à metodologia, a pesquisa possui abordagem qualitativa,
exploratória e descritiva. Dentre os instrumentos de coleta de dados utilizados, valeu-se da
entrevista semiestruturada e da pesquisa participativa, por meio da realização de roda de conversa
e dinâmicas com os idosos. Para análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo e o modelo
Everyday Life Information Seeking (ELIS) concebido por Savolainen (1995). O estudo revelou que
as necessidades informacionais do grupo estudado estão relacionadas principalmente às questões
do cotidiano, como transportes e saúde. Constatou-se, ainda, a necessidade de que a biblioteca,
lócus desta pesquisa, realize estudos de usuários com periodicidade que contemplem todos os
públicos pertencentes à comunidade, inclusive os idosos, para assim atuar de forma inclusiva e
democrática.
Palavras-chave: Biblioteca Comunitária. Necessidades de Informação. Necessidades
Informacionais de Idosos. Biblioteca Comunitária Criança Feliz.
ABSTRACT
It presents a study about the informational needs of the elderly in local contexts, with the object of
study being a group of elderly people living near the Biblioteca ComunitáriaCriança Feliz, located in
Jardim Iracema neighborhood, in the city of Fortaleza, Ceará. Theoretical discussions about the
themes were: community library, informational needs and, also, about the elderly. Regarding the
methodology, the research has a qualitative, exploratory and descriptive approach. Among the data
collection instruments used, we used the semi-structured interview and the participatory research,
by means of a conversation wheel and dynamics with the elderly. To analyze the data, we used the
content analysis and the Everyday Life Information Seeking (ELIS) model conceived by Savolainen
(1995). The study revealed that the informational needs of the group studied are mainly related to
everyday issues such as transportation and health. It was also verified the need for the library,
locus of this research, to carry out studies of users with periodicity that contemplate all the public
belonging to the community, including the elderly, in order to act in an inclusive and democratic
way.
Keywords: Community Library. Information Needs. Information Needs of the elderly. Community
library Criança Feliz.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
30
Silva; Costa; Cavalcante | Necessidades informacionais de idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
1 INTRODUÇÃO
As bibliotecas comunitárias têm tido papel singular no que se refere à
democratização do acesso à leitura e à informação em contextos locais no Brasil. Esses
espaços são oriundos de inciativas populares, localizadas em zonas periféricas ou rurais
que, de modo geral, encontram-se distantes das bibliotecas públicas estaduais e
municipais ou de outros equipamentos públicos e culturais mantidos pelo governo.
Surgem, em muitos casos, justamente do desejo dessas comunidades de terem acesso à
biblioteca, à leitura, ao livro e à informação.
Para que a biblioteca comunitária possa cumprir seu objetivo de democratizar o
acesso à informação, no local onde está inserida, torna-se imperativo conhecer as
necessidades informacionais dos indivíduos da comunidade, incluindo os diversos
grupos que fazem parte da mesma, como por exemplo, os grupos da terceira idade.
Na literatura da área foram localizados muitos trabalhos voltados para estudos
de usuários em que suas temáticas concentram-se nas necessidades informacionais de
um determinado grupo. Entretanto, no âmbito dos estudos das bibliotecas comunitárias,
pesquisas sobre necessidades informacionais são, ainda, escassas.
No presente estudo, a preocupação recai sobre as necessidades informacionais de
idosos em contextos locais e sobre como as bibliotecas comunitárias têm se portado em
relação a esse público. Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo: identificar as
necessidades de informação de um grupo de idosos, moradores do entorno da Biblioteca
Comunitária Criança Feliz (BCCF), localizada no bairro Jardim Iracema, na cidade de
Fortaleza, Ceará.
As necessidades informacionais da população idosa encontram-se ligadas a
diversas possibilidades, especialmente relacionadas ao cotidiano, vida profissional, lazer
e saúde, dentre outras. Todavia, neste estudo, dá-se ênfase às demandas de informação
dos idosos com relação ao seu contexto cotidiano e, para isso, se recorreu ao modelo
Everyday Life Information Seeking (ELIS) concebido por Savolainen (1995).
2 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA: conceito e características
A biblioteca comunitária possui características que a diferenciam de outros tipos
de biblioteca. Essas singularidades são identificadas por Machado (2008) como: a forma
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
de constituição, visto que são formadas e criadas pela comunidade a que pertencem; o
combate conjunto à exclusão informacional como forma de possibilitar a igualdade e
justiça social; o processo de articulação dos indivíduos da comunidade; a localização
dentro de uma comunidade; e o fato de não estarem ligadas diretamente a órgãos
governamentais.
Machado (2008, p.64) sintetiza essas características ao definir a biblioteca
comunitária como:
Um projeto social que tem por objetivo estabelecer-se como uma entidade
autônoma, sem vínculo direto com instituições governamentais, articuladas
com as instâncias públicas e privadas locais, liderados por um grupo
organizado de pessoas, com o objetivo comum de ampliar o acesso da
comunidade à informação, a leitura e ao livro, com vistas a sua emancipação
social.
Assim, podem-se observar como características intrínsecas e indissociáveis da
biblioteca comunitária, a gestão autônoma e participativa e a democratização do acesso
à leitura e à informação. Esses espaços, segundo Alves, Salcedo e Correa (2016, p.41),
são [...] uma expressão nítida desse processo que busca por meio da leitura e ação
cultural fomentar a educação dos moradores da região como forma de incluí-los no
espaço social e oferecer a oportunidade de estabelecimento de sua cidadania. ”
É possível ver imbricada à concepção e aos objetivos que regem a biblioteca
comunitária uma forte função social, e a busca pela inclusão informacional reafirma essa
função. A biblioteca comunitária, quando torna-se efetiva nessa busca, pode contribuir
junto à comunidade na qual está inserida, em diversos aspectos, como no auxílio à
tomada de decisões relativas a solução de problemas do cotidiano; na colaboração
informacional à implantação de pequenos negócios; no fortalecimento de associações,
sindicatos e cooperativas; ajudando a resolver problemas jurídicos etc. de modo a
contribuir com o desenvolvimento local e a qualidade de vida das pessoas
(CAVALCANTE, 2014).
Os tipos de serviços oferecidos nesses espaços estão muitas vezes ligados a ações
de fomento à leitura e atividades culturais. Machado (2008) identifica algumas
atividades realizadas no âmbito dessas bibliotecas, sendo elas: a mediação de leitura,
saraus literários, cursos de capacitação e aperfeiçoamento, palestras, seminários,
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ARTIGO
concursos de poesia, oficinas de artesanatos, além de serviços como empréstimo de
livros, acesso à internet e pesquisa local.
No que se refere aos usuários, Machado (2008) indica que, em geral, as
bibliotecas comunitárias se mobilizam em esforço conjunto para atender às
necessidades educacionais e culturais da comunidade, o que envolve, então, crianças,
jovens, adultos e idosos. Entretanto, a autora chama a atenção que, em alguns casos,
essas bibliotecas podem desenvolver atividades focadas em um grupo específico, como
crianças ou idosos, devido a alguma particularidade da comunidade.
Para ir ao encontro das necessidades educacionais e culturais da comunidade,
torna-se necessário conhecer o que a comunidade como um todo (independente do ciclo
de vida em que seus indivíduos se encontram), necessita em termos de informação.
Além disso, é preciso ter em perspectiva que os fluxos informacionais presentes nesses
contextos podem possuir características bastante distintas, pois é importante ter em
mente que “pensar as demandas informacionais das comunidades locais é aferir a elas
novas formas de mediação. ” (CAVALCANTE, 2014, p. 261).
Um ponto a se destacar sobre os usuários de bibliotecas comunitárias é que estes
são “[...] tão híbridos em suas demandas quanto às informações que desejam receber e
às muitas que podem produzir sobre seus contextos, memórias e identidades
comunitárias.” (CAVALCANTE, 2014, p. 262). Ou seja, diferente de outros tipos de
bibliotecas, as necessidades e demandas desses usuários poderão ser bastante diversas,
podendo ir desde questões educacionais, como respostas para uma tarefa escolar, como
ao atendimento de demandas mais complexas e do cotidiano relacionadas a saúde,
trabalho, lazer, etc.
O caráter autônomo proporcionado pela gestão participativa comunitária desses
espaços informacionais, que é uma das principais características dessas bibliotecas,
auxilia e a torna mais livre para seguir esse processo dialógico. Diferente de bibliotecas
ligadas a órgãos governamentais, por exemplo, a biblioteca pública, as comunitárias
possuem a liberdade de seguir um projeto político social criado de forma dinâmica e
construído levando-se em consideração o seu contexto social e as necessidades de seus
indivíduos.
Sob essas circunstâncias, entende-se que os estudos de usuários em contextos
como o das bibliotecas comunitárias são imprescindíveis para que alcancem seu objetivo
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de inclusão, ressaltando que esses estudos contemplem também os grupos de terceira
idade.
3 AS NECESSIDADES INFORMACIONAIS E OS IDOSOS
Definir o que seria necessidade parece ser uma tarefa bastante complexa, visto
que o seu significado evoca diversos entendimentos. Porém, se acrescentarmos o termo
informacional, adotamos assim uma especificação do tipo de necessidade a qual nos
referimos, esclarecendo e delimitando a perspectiva que pretendemos estudar.
Cunha, Amaral e Dantas (2015) iniciam sua obra acerca dos estudos de usuários
da informação, refletindo que a informação faz parte do cotidiano de todas as pessoas.
Ela é necessária quando precisamos nos locomover, fazer compras, tomar uma decisão
nos ambientes de trabalho, de negócio, etc., ou seja, necessitamos de informação a todo
momento. Os autores, alertam, entretanto, que é certo que os indivíduos precisam de
informação, “[...] mas, cada ser humano é um universo único e vive de modo diverso o
seu ciclo de vida. Em cada idade, em cada profissão, em cada momento, as pessoas
podem precisar de informações diferentes. ”
Para Figueiredo (1994) as necessidades informacionais podem ser
compreendidas de duas maneiras, uma em função do conhecimento, que seria a
necessidade que resulta do desejo de saber. E a necessidade de informação em função da
ação, que pode ser entendida como a necessidade para a realização de atividades
humanas, profissionais e pessoais.
Le Coadic (2004) apresenta algumas tipologias de necessidades de informação, as
quais o autor divide em função: do conhecimento, que se origina no desejo de saber; da
ação, que surge devido a necessidades de ordem materiais, profissionais, de
necessidades básicas, como comer, dormir, dentre outras; de necessidade humana,
quando a informação é necessária para satisfazer uma necessidade específica; dos
desejos, aquilo que o indivíduo gostaria de ter, podendo ou não estar relacionada às suas
necessidades; das demandas, aquilo que o indivíduo expressa e pede, o que indica que o
uso daquilo que está a exigir; e do uso, aquilo que o indivíduos utiliza no tocante a
informação.
A Pirâmide das Necessidades (Figura 1) desenvolvida por Barreto (2002),
inspirada pela pirâmide das necessidades humanas e comportamentos desenvolvida por
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Maslow, representa os níveis de necessidades informacionais dos indivíduos e o tipo de
informação necessária em cada nível. Observa-se na figura abaixo, a existência de duas
pirâmides, na primeira delas, encontra-se os três níveis de necessidades informacionais,
onde cada nível representa um estágio das necessidades informacionais, e a passagem
para cada nível ocorre apenas quando as demandas do estágio forem alcançadas. Na
base da pirâmide, estariam as necessidades básicas, como alimentação, moradia, saúde e
educação, e esse primeiro estágio, demanda informações do tipo utilitária. No segundo
nível da pirâmide, encontram-se as necessidades dos indivíduos de participação e a
permanência destes nos grupos que participam, como no trabalho ou na comunidade.
Nesse nível, são necessárias informações ligadas ao âmbito profissional, por exemplo.
No topo da pirâmide, depois de passar pelos dois primeiros níveis, seriam necessárias
informações que conduza a reflexão, a realização pessoal e ao sucesso profissional,
demandando nesse último estágio, informações do tipo seletivas. Barreto (2002, p. 5-6),
comenta sobre os tipos de necessidades e os seus respectivos tipos de informação que,
A oferta de informação, ou seja, a estrutura dos estoques, relaciona-se à
demanda como uma pirâmide invertida, inversamente proporcional, em termos
quantitativos e qualitativos às posições da informação demandada,
configurando situações de racionamento e excedente de informação nos seus
extremos.
Figura 1 As necessidades informacionais e os estoques de informação
Fonte: Barreto (2002, p. 6).
Outra perspectiva acerca das necessidades informacionais é proposta por
Savolainen (1995), onde esse autor apresenta as necessidades e buscas informacionais a
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partir do contexto cotidiano, da vida diária. Em seu modelo Everyday Life Information
Seeking (ELIS), o autor dá ênfase à busca pela informação que acontece no dia a dia, que
é referente ao lazer, saúde, convívio social e locomoção, dentre outros aspectos. Se
relacionarmos à Pirâmide de Barreto (2002), poderíamos dizer que o tipo de informação
a qual Savolainen (1995) se refere seriam aquelas contidas na base, as necessidades
básicas que requerem informações do tipo utilitária. Segundo Savolainen (1995), os
estudos acerca deste tipo de necessidade informacional são muitas vezes ofuscados por
estudos voltados a informação para a área científica, profissional e de negócios. O
modelo de Savolainen (1995) pode ser visto na Figura 2.
No modelo de Savolainen (1995) são evidenciadas questões como ocupação do
tempo e vida diária, situações problemáticas relacionadas ao dia a dia dos indivíduos, e o
comportamento destes para solução desses problemas. O autor apresenta ainda, os
fatores situacionais que podem vir a influenciar nesses momentos, como o capital
financeiro, social, educacional e cultural dos indivíduos.
Figura 2 - Modelo Everyday Life Information Seeking (ELIS)
Fonte: Savolainen (1995).
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Diante dessas reflexões, como a população idosa se insere nesses estudos acerca
das necessidades informacionais? Será que o ciclo de vida em que os mesmos se
encontram influencia na forma como precisam de informação? Pires e Barreira (2015, p.
34) afirmam que em relação “à população idosa, as demandas de informação geralmente
estão relacionadas à obtenção de novos saberes e da necessidade de usar a informação
para realizar atividades do seu cotidiano.” Os autores refletem ainda que,
Torna-se importante destacar que o grupo social dos idosos, se encontra diante
de várias demandas informacionais no seu cotidiano, que nem sempre são
supridas, apesar de serem reconhecidas e que precisam de informação para a
solução de problemas de ordem pessoal, do conhecimento, de lazer, saúde e
voltadas para a sua interação social. (2015, p. 34).
Nessa mesma perspectiva, Costa e Silva (2011) discutem a importância de se
perceber que os grupos da terceira idade possuem demandas informacionais ligadas a
diversos contextos, e que é imperativo possibilitar à população idosa o acesso à
informação, para que possa estar apta a exercer sua cidadania de forma autônoma.
Com a aprovação do Estatuto do Idoso, em 2003, um novo olhar é dado com
relação a este grupo, que passa a ser visto como sujeito de direitos. Entretanto, os
preconceitos acerca do envelhecimento são ainda bastante presente em nossa
sociedade. Segundo Whitaker (2007, p. 180),
A sociedade precisa ser educada para compreender o envelhecimento sobre
esse novo prisma. Está na hora de repensar as atitudes que infantilizam o idoso
e o assistencialismo, que, principalmente nas camadas exploradas, trata-o como
indigente, transformando em esmola, ou favor, as poucas políticas públicas que
amenizam essa fase da existência, em relação às quais se configuram direitos
humanos estabelecidos como direitos sociais.
Lucca e Vitorino (2015, p. 7) observam que, por muito tempo “[...] o período da
velhice foi marcado pela decadência e incapacidade, porém atualmente percebemos que
esta camada da população tem conquistado qualidade de vida. Os autores afirmam
ainda que a denominação “idoso” tem sido rejeitada por esse grupo, pois a mesma é
muitas vezes carregada de significados que remetem a um sentido negativo. Segundo os
autores, a expressão “terceira idade” surge como reflexo de um desejo desses sujeitos de
serem vistos como indivíduos ativos, e que estão inseridos também em diversos círculos
e atividades sociais.
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Os idosos, assim como os demais cidadãos brasileiros, devem estar contemplados
nas políticas de acesso e inclusão educacional, informacional e digital. Porém, o
planejamento dessas ações muitas vezes segue formatos e padrões que desconsideram
fatores importantes como aspectos culturais, sociais e os interesses e necessidades
informacionais desses indivíduos.
Portanto, ao pensar as necessidades informacionais de indivíduos que se
encontram na chamada terceira idade, devemos levar em consideração que é necessário
evitar os estereótipos que envolvem esses grupos, que assim como os demais usuários
da informação, suas necessidades informacionais podem estar relacionadas, além do
quesito idade, também aos contextos e dinâmicas sociais nos quais estes indivíduos
estão envolvidos.
4 PERCURSOS METODOLÓGICOS
Os percursos metodológicos deste estudo tiveram como base a abordagem
qualitativa, tendo em vista uma reflexão crítica acerca da temática que envolve os
estudos das necessidades informacionais, como também pela intenção de uma análise
aprofundada do objeto de estudo.
Combinamos a utilização de dois tipos de pesquisa, a exploratória e a descritiva,
haja vista o imperativo de explorar conteúdos relacionados à temática aqui estudada e
pelo estudo das características de um grupo. Segundo Gil (2008, p. 44), as pesquisas
descritivas “juntamente com as pesquisas exploratórias, são as que habilmente realizam
os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. ”
Para coletar os dados necessários à pesquisa utilizamos dois instrumentos de
coleta de dados, o primeiro deles foi a entrevista do tipo semiestruturada, destinada à
gestora da biblioteca. As questões norteadoras da entrevista foram relacionadas
principalmente a aspectos como: o contexto histórico da unidade de informação, seus
serviços e, a caracterização do público que frequenta a biblioteca.
O segundo instrumento foi a pesquisa participativa através de roda de conversa e
dinâmicas. Este estudo de grupo aconteceu por meio de um encontro realizado na
biblioteca pesquisada, que contou com a participação de sete (7) idosos, moradores do
entorno da BCCF. Segundo Murani et al (2008, p. 114) [...] a utilização desse tipo de
técnica é bastante adequada à abordagem de grupos sociais atingidos coletivamente por
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fatos ou situações específicas. De acordo com os autores, oficinas, dinâmicas,
workshops, são exemplos de alguns tipos de estudos de grupos.
O planejamento, divulgação e aplicação dos instrumentos de coleta de dados
ocorreram no intervalo de tempo correspondente a um mês, envolvendo os meses de
outubro e novembro de 2016.
Tendo em vista os pressupostos da abordagem qualitativa, recorremos a técnica
da análise de conteúdo, para analisar os dados coletados na entrevista e na atividade
realizada na BCCF. Nessa metodologia de análise, deve-se ter por base uma definição
precisa dos objetivos da pesquisa realizada. Umas das técnicas mais utilizadas na análise
de conteúdo é a categorização, a qual se encontra entre as possibilidades [...] mais
rápida e eficaz, sempre que se aplique a conteúdos diretos (manifestos) e simples.
(RICHARDSON,1985, p. 243).
Como forma de analisar e apresentar a interpretação dos dados, utilizamos como
categorias as etapas do modelo Everyday Life Information Seeking (ELIS), concebido por
Savolainen (1995). As categorias observadas no modelo foram: ocupação do tempo e
vida diária, situações problemáticas, comportamento para solução dos problemas e os
fatores situacionais.
4.1 O LÓCUS DA PESQUISA: comunidade e biblioteca
O lócus de realização do estudo foi a Biblioteca Comunitária Criança Feliz (BCCF),
localizada no bairro Jardim Iracema, na cidade de Fortaleza-CE. De acordo com o
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), o bairro onde está
situada a biblioteca possui aproximadamente 23.184 habitantes, onde 7% destes são de
pessoas acima dos sessenta e cinco anos de idade (IPECE, 2012).
A BCCF foi criada no ano de 1994, estando articulada ao Projeto Criança Feliz
(PROCIF), do bairro Jardim Iracema e também à Rede de Bibliotecas do Polo de Leitura
Jangada Literária, criada em 2012. O principal objetivo da BCCF é a democratização do
acesso ao livro, à leitura e à informação. Nesse intuito, a biblioteca oferece serviços de
empréstimos, mediações de leitura e, ainda, atividades externas à biblioteca, como: o
projeto Quero mais Leitura, o na Rua, o Projeto Comu-Lê e o Projeto Quintais com
Letrinhas.
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Segundo informações fornecidas pela gestão da biblioteca, estão cadastrados
cerca de 1070 usuários, com idade entre cinco e setenta anos. A maior parte do público
que costuma frequentar e realizar empréstimo na biblioteca são as crianças e os
adolescentes. Em relação ao público idoso, observa-se que a frequência ainda é
considerada baixa.
5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS COLETADOS
De posse das informações colhidas junto a gestão da biblioteca e guiados pelo
objetivo de conhecer as necessidades informacionais dos idosos do entorno da BCCF,
organizamos e realizamos de forma conjunta a equipe gestora da instituição, a atividade
intitulada “Café com Leitura e Afeto”. A atividade contou com momentos de mediação de
leitura, roda de conversa e dinâmicas.
Durante a roda de conversa, buscamos, dentre outros aspectos, identificar em que
áreas da vida dos participantes, eles mais necessitam de informação. Solicitamos que
apresentassem exemplos de situações em que necessitaram de informação e como
costumam fazer para se informar. A maioria disse precisar de informações relacionadas
a saúde e para coisas específicas do cotidiano, como informações sobre locomoção e
transportes. Com relação a como eles fazem para se informar, alguns disseram que
quando necessitam de informação, perguntam às pessoas da família, outros que
assistem televisão, ouvem rádio ou procuram em algum livro.
Na dinâmica realizada, podemos identificar gostos e interesses dos participantes,
no intuito de compreender como a BCCF poderia trabalhar para realizar atividades e
serviços que atraiam o público idoso para a biblioteca. Nesse momento, foi possível
compreender que os principais interesses dos indivíduos do grupo envolvem atividades
com seus familiares, de cunho cultural e de leitura, e a participação em atividades do
Projeto Criança Feliz, como cursos de capacitação e atividades de grupo.
Os dados coletados nessa atividade em grupo nos possibilitaram perceber os
diversos aspectos envolvidos nas necessidades informacionais do grupo estudado. Para
analisar essas necessidades, seguimos os pontos estabelecidos no modelo de Savolainen
(1995), por meio dos quais identificamos quatro principais categorias de análise,
relacionadas a ocupação do tempo no cotidiano, situações problemáticas nas quais os
mesmos necessitaram de informação e de que forma solucionaram esses problemas, e
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ainda fatores que podem ter influenciado nesses processos. Logo a seguir,
apresentamos as categorias identificadas por meio da pesquisa.
Categoria 1 - Ocupação do tempo e vida diária
Acerca desse aspecto, identificamos que a maioria dos participantes da pesquisa
não possui ocupação profissional ou uma ocupação fixa de tempo referente ao trabalho.
Quanto ao cotidiano, compreendemos que os mesmos possuem atividades ligadas
principalmente ao ambiente familiar, e que alguns também costumam participar de
cursos e grupos de convivência do PROCIF. Muitos assumem também a responsabilidade
de cuidar dos netos, enquanto os pais das crianças encontram-se no trabalho, outros
dizem que assumem essa função em tempo integral, estes, se autodenominam muitas
vezes como pais desses netos.
Categoria 2 - Situações Problemáticas
No que se refere às situações-problemas apresentadas pelos participantes, os
mesmos recordaram situações ligadas à necessidade de informação para locomoção,
assim como outras ligadas a questões de saúde, como informações sobre medicamentos,
procedimentos médicos, dentre outros. Analisando, podemos inferir que o tipo de
informação necessária para o grupo em estudo seriam aquelas voltadas para as
necessidades básicas, que se encontram na base da Pirâmide de Barreto (2002),
correspondendo, segundo o autor, às informações de tipo utilitária.
Categoria 3 - Comportamento para solução dos problemas
Para solucionar os problemas, podemos identificar pela fala dos participantes e
das situações colocadas pelos mesmos, que a forma com que buscam se informar é
principalmente por meio de outras pessoas. A principal fonte de informação dos
mesmos é pelo diálogo com familiares, conhecidos ou pessoas ao seu redor. Entretanto,
podemos perceber o papel da televisão, rádio e livro sendo citados por eles como formas
de buscar e ter acesso à informação. Esse aspecto nos faz lembrar a reflexão de
Cavalcante (2014), de que a forma como o fluxo informacional acontece em contextos
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locais é diferente, muitas vezes, dos fluxos de outros âmbitos, como por exemplo, o
científico. Em contextos locais, a informação poderá estar imbricada em todo um
contexto dialógico, ela acontece também pelas trocas e interações cotidianas entre seus
moradores.
Categoria 4 - Fatores situacionais
Identificamos, ainda, alguns fatores que podem influenciar nas necessidades
informacionais e formas de busca da informação dos participantes do estudo. O primeiro
deles é o contexto social, a realidade em que vivem oferece muitas barreiras
informacionais para estes indivíduos. Por outro lado, podem também possibilitar
diálogos informacionais que oferecem também possibilidades de acesso à informação.
Evidenciamos a autoestima como outro fator, visto que percebemos na fala dos
participantes, que eles, muitas vezes, acreditaram que não conseguiriam aprender a
utilizar um dispositivo móvel ou a internet, por exemplo, porque, segundo os mesmos,
isto não estaria dentro de suas habilidades. Outro aspecto identificado na atividade foi a
barreira relacionada com a questão educacional. O fator da falta de tempo foi colocado
por um dos participantes. A rotina muitas vezes atribulada de cuidar dos netos e da
família exige tempo e dedicação, o que faz com que não tenham tempo para atividades
como leitura e lazer. O poder aquisitivo influencia também nesse processo, por exemplo,
um dos participantes do estudo afirma que se tivesse condições financeiras poderia
comprar dispositivos tecnológicos, como celular e computador para utilizá-lo quando
precisasse de informação.
Na tabela a seguir pode ser vista uma síntese dos resultados obtidos, segundo os
pontos do modelo de Savolainen (1995).
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Silva; Costa; Cavalcante | Necessidades informacionais de idosos
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ARTIGO
Quadro 1 Análise das necessidades e fluxos informacionais segundo o modelo ELIS de Savolainen
(1995)
Ocupação do Tempo e Cotidiano
Situações problemáticas
Sem ocupação fixa profissional;
Participação em cursos e grupos do
PROCIF
Atividade relacionadas a família
Locomoção (localização, ônibus)
Saúde (medicamentos, consultas e
exames médicos)
Outras situações cotidianas
Comportamento para solução dos
problemas
Fatores Situacionais
Busca de informação com outras pessoas,
como familiares, amigos, vizinhos etc.
Assistir televisão, ouvir rádio, ler livros
Fator Socioeconômico
Autoestima
Educação
Tempo
Fonte: dados da pesquisa.
Pelo exposto, podemos compreender que as necessidades informacionais do
grupo de idosos estudado partem principalmente do cotidiano dos mesmos. Esses
indivíduos precisam, sobretudo, de informação para resolver questões do dia a dia, ou
seja, informação do tipo utilitária. Vimos que no cotidiano desses indivíduos existem
fatores e barreiras que podem dificultar o acesso à informação. Entretanto, essas
barreiras são superadas muitas vezes pelos diálogos possibilitados pela comunidade,
família e ações desenvolvidas por projetos sociais como o PROCIF.
Considerando esses aspectos, é necessário que a BCCF busque contemplar esse
público da comunidade em seus serviços e produtos oferecidos. O caminho para que isto
ocorra demanda que a biblioteca esteja atenta a esses processos dialógicos existentes no
interior da comunidade. Segundo Cavalcante (2014, p. 263) essas redes simbólicas de
troca de informação também constroem e dão novos significados às demandas
informacionais, que “para além das especificidades e complexidades desses usuários, no
interior das comunidades locais eles são híbridos e plurais porque senhores dos papéis
sociais que desempenham no interior de seus grupos.”
Em suma, o grupo estudado nos fez perceber que a BCCF se encontra diante de
necessidades informacionais bastante diversas, onde algumas delas são muitas vezes
simples de resolver; outras, por sua vez, demandam maiores esforços por parte da
gestão da biblioteca. O processo de inclusão informacional, o qual é colocado como
sendo o principal objetivo da biblioteca, para se tornar efetivo precisará contemplar os
diversos grupos existentes na comunidade, e é preciso compreender que cada grupo
revelará diferentes tipos de necessidades informacionais.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A forma como os fluxos informacionais ocorrem nas comunidades revelam,
muitas vezes, a criatividade e a pluralidade de maneiras encontradas por seus
indivíduos para se informar. A própria existência da biblioteca comunitária denuncia
que os moradores buscam formas alternativas para ter acesso à informação e à leitura.
Isto acontece porque os equipamentos públicos, como por exemplo, a biblioteca pública,
encontram-se distante tanto na localização, quanto pelas formas como oferecem
informação, que são, de modo geral, padronizadas, e que nem sempre correspondem às
demandas e necessidades informacionais de certos indivíduos.
Por estas razões, podemos identificar que as atividades e serviços oferecidos pela
BCCF envolvem diversas atividades de cunho cultural e informacional. Entretanto, essas
atividades são na maioria direcionadas ao público infantil ou jovem, não sendo dada a
mesma relevância para o público adulto e idoso. A luta pela igualdade de oportunidade
no acesso à informação e à leitura às quais a biblioteca se propõe não pode deixar de
lado determinados grupos, ela precisa ser democrática e inclusiva.
Assim, a pesquisa nos possibilitou evidenciar que as necessidades de informação
dos participantes da pesquisa estão ligadas principalmente a questões do cotidiano,
como informações sobre saúde e locomoção. O intuito desta pesquisa foi o de por meio
da análise das informações fornecidas pelos participantes da atividade em grupo,
identificar a natureza das necessidades informacionais desses indivíduos, para ensejar
novas formas de estudo e atuação da biblioteca com relação ao público idoso da
comunidade.
O sentido dos estudos de usuários é justamente esse, o de descobrir o que os
usuários precisam no contexto informacional para, então, subsidiar o planejamento e
execução de ações que permitam a esses indivíduos o acesso à informação de que
precisam. Por meio do estudo realizado, acreditamos que ações como oficinas, palestras,
cursos e atividades culturais na BCCF podem fazer com que a população de moradores
adultos, em especial, os idosos, ampliem a visão que possuem acerca da biblioteca e do
seu papel junto à comunidade e, ao mesmo tempo, auxiliar para que a biblioteca possa
cumprir sua missão de democratizar o acesso à informação e à leitura.
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AGRADECIMENTOS
Prestamos aqui nosso agradecimento, a Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), pelo financiamento desta pesquisa
REFERÊNCIAS
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Coutinho. Um mapeamento da produção científica sobre Bibliotecas Comunitárias na
Ciência da Informação brasileira. InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 7, n. 2, p. 40-
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<www.revistas.usp.br/incid/article/download/107260/118485>. Acesso em: 15 out.
2016.
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CAVALCANTE, Lidia Eugênia; A Mediação da Informação sob a Perspectiva do Usuário
em Comunidades Locais. In: CASARIN, Helen de Castro Silva. Estudos de Usuários da
Informação. Brasília: Thesaurus, 2014.
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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Silva; Costa; Cavalcante | Necessidades informacionais de idosos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
Ana Pricila Caledônio da Silva
Mestranda em Ciência da Informação na Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: priceledonio@gmail.com
Maria de Fátima Oliveira Costa
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
E-mail: fatima12oliveiracosta@gmail.com
Lídia Eugenia Cavalcante
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: cavalcantelidiaeugenia@gmail.com
Recebido em: 07/03/2017; Revisado em: 04/04/2017; Aceito em: 09/05/2017.
Como citar este artigo
SILVA, Ana Pricila Celedonio; COSTA, Maria de Fátima Oliveira; CAVALCANTE, Lidia Eugenia. Necessidades
informacionais de idosos em bibliotecas comunitárias: estudo realizado em uma biblioteca no município
de Fortaleza, Ceará. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 29-46, out. 2017.
USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO: a produção científica no periódico ‘Perspectivas
em Gestão & Conhecimento’
INFORMATION USERS: scientific production in the journal Perspectivas em
Gestão & Conhecimento
Eliane Bezerra Paiva
UFPB
Francisca Arruda Ramalho
UFPB
RESUMO
O estudo da produção científica é um importante indicador das tendências de qualquer área do
conhecimento. Para entender como se configura a produção sobre Usuários da Informação no
periódico, Perspectivas em Gestão & Conhecimento, realizou-se uma pesquisa exploratória e
descritiva, com o objetivo de mapear e analisar a produção científica sobre Usuários da Informação
publicada no referido periódico, no período de 2011 a 2016. Justifica-se a realização da pesquisa
por se tratar de uma temática ainda pouco explorada na literatura da área e porque não se conhece
estudo semelhante apresentado no referido periódico. A metodologia pauta-se numa abordagem
quanti-qualitativa, utilizando-se a Análise de Conteúdo de Bardin para a análise qualitativa. Os
resultados da pesquisa apontam que, no período estudado, o periódico publicou 12 produções que
enfocam aspectos como Uso da Informação, Usabilidade, Comportamento Informacional e Usuários
da Informação. Conclui-se que, em termos quantitativos, o montante da produção sobre Usuários da
Informação ainda é pequeno, comparado com o da produção publicada no periódico no período
estudado. Entretanto, a produção é de qualidade relevante, principalmente para a temática
Comportamento Informacional.
Palavras-chave: Usuário da informação. Estudos de usuário. Produção científica. Periódico.
ABSTRACT
The study of scientific production is an important indicator of trends in any area of knowledge.
Seeking to understand how sets up the production on "Information Users" in the journal
"Perspectivas em Gestão & Conhecimento, an exploratory and descriptive research was carried out
with the objective to map and analyze the scientific production on Information Users published in
the aforementioned journal, in the period from 2011 to 2016. This research is justified because it is
a few explored theme in literature and, also, because it not known a similar study carried out in the
said journal. The methodology is guided in a quantitative and qualitative approach using Bardins
content analysis, for qualitative analysis. The results indicate that, in the period studied, the paper
published 12 productions that focus on the use of Information Use, Usability, Informational
Behavior and Information Users. It is concluded that, in quantitative terms, the level of production
on the Information Users is still small compared with the totality of production published in the
journal during the studied period. However, the production quality is relevant, especially to the
Informational Behavior theme.
Keywords: Information user. User studies. Scientific production. Periodical.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
Paiva; Ramalho | Usuários da informação
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1 INTRODUÇÃO
O estudo da produção científica é um importante indicador das tendências de
qualquer área do conhecimento. E, no âmbito da Ciência da Informação, um estudo dessa
natureza pode revelar as tendências e os rumos dessa área do conhecimento. Assim,
visando encontrar resposta para este questionamento: Como se configura a produção
sobre Usuários da Informação no periódico Perspectivas em Gestão & Conhecimento?,
realizou-se uma pesquisa com o objetivo de mapear e analisar a produção científica
sobre Usuários da Informação publicada no referido periódico, no período de 2011 a
2016, a fim de verificar o interesse de pesquisadores sobre a temática e as tendências
das pesquisas realizadas nessa área do conhecimento. Este texto é um relato da referida
pesquisa.
A pesquisa se justifica porque o tema ainda é pouco explorado na literatura da
área e por não se conhecer estudo semelhante realizado no periódico "Perspectivas em
Gestão & Conhecimento".
Depois de feito o levantamento em periódicos Qualis A1, A2 e B1, da área de
Ciência da Informação, para uma pesquisa mais abrangente sobre Estudos de Usuários,
foram identificados catorze títulos de periódicos, dentre eles, "Perspectivas em Gestão &
Conhecimento". Com base em tais informações, elegeu-se o referido periódico para esta
comunicação destinada ao I Encontro Internacional em Estudos de Uso e Usuários da
Informação, tendo em vista a oportunidade de estudar todos os fascículos do referido
periódico e porque a produção desse periódico é compartilhada com o Departamento de
Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, desde a criação até os dias
atuais, ao qual estamos vinculados.
2 USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO
múltiplas formas de estudar a relação entre o usuário e a informação, razão
por que é difícil entender os Usuários da Informação. Cunha, Amaral e Dantas (2015)
percebem que o usuário pode estar vinculado a vários contextos: àquele em que busca a
informação; o do receptor dos serviços de informação; o em que usa a informação etc.
Por isso é complexo categorizar os usuários, porquanto isso envolve aspectos relativos a
mudanças no próprio contexto e à diversidade das características pessoais de cada
indivíduo.
46
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ARTIGO
Sanz Casado (1994) define o usuário da informação como o indivíduo que
necessita de informação para fazer suas atividades. Nos sistemas de informação, o
usuário é o ator principal, sua razão de ser. É ele quem demanda, recebe e utiliza a
informação. Assim, visando atender às suas necessidades informacionais, as unidades de
informação realizam os processos de seleção, organização, gerenciamento e
disseminação da informação.
Para se conhecer o comportamento dos usuários em suas buscas por informação
ou averiguar como se processa o uso das unidades de informação, visando implantar
melhorias nessas organizações, é que se fazem as pesquisas denominadas de Estudos de
Usuários, cujos antecessores foram os "levantamentos bibliotecários" (library surveys) e
as enquetes sobre leitura (reading surveys) que, conforme Cunha, Amaral e Dantas
(2015), começaram nos séculos passados, no exterior. No Brasil, os Estudos de Usuários
originaram-se em meados do Século XX.
Tanus (2014) aponta que os Estudos de Usuários podem ser vistos conforme os
três paradigmas da Ciência da Informação defendidos por Capurro (2003). No
paradigma físico, a informação é vista como algo tangível, o que conduz à figura do
usuário como um sujeito passivo, um mero usuário dos sistemas de informação. Em
consonância com esse paradigma, os Estudos de Usuários desse período são
classificados como "estudos de uso" (system approach), centrados nas unidades de
informação, que correspondem à Abordagem Tradicional. No paradigma cognitivo, a
informação desloca-se do mundo externo à volta do usuário para a sua mente, o que
corresponde à visão cognitiva do conceito de informação. No paradigma cognitivo,
prevalece a Abordagem Alternativa dos Estudos de Usuários. No paradigma social, a
informação se desloca do usuário e passa a ser vista como uma construção social. Nesse
terceiro paradigma, iniciam-se os Estudos de Usuários da Abordagem Sociocultural, que
se configuram como "estudos das práticas informacionais".
Os Estudos de Usuários vêm despertando o interesse dos pesquisadores da
Ciência da Informação e de outras áreas do conhecimento, o que se reflete em um
crescimento exponencial da literatura referente a essa temática. Nos últimos anos, a
literatura mundial sobre Estudos de Usuários se ampliou e se transformou em um
fenômeno internacional, o que pode ser demonstrado em pesquisas realizadas no
Library and Information Science Abstracts (LISA) e no Annual Review of Information
Science and Technology (ARIST). No cenário brasileiro, a literatura sobre Estudos de
Silva; Ramalho | Usuários da informação
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ARTIGO
Usuários tende a acompanhar as tendências das pesquisas realizadas em outros países,
principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra (BAPTISTA; CUNHA, 2007).
A tipologia dos Estudos de Usuários é vasta. Esses estudos podem ser
classificados conforme várias vertentes, como, por exemplo: o assunto abordado
(estudos gerais e estudos específicos); o tipo de abordagem adotada (estudos centrados
na unidade de informação e no usuário); e a abrangência geográfica (internacional,
nacional, estadual e municipal).
Os Estudos sobre Uso objetivam medir os indicadores e a efetiva utilização e o
grau de satisfação do uso de fontes, serviços ou sistemas de informação para avaliar os
sistemas de informação e dar feedback sobre eles (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015). Os
estudos sobre Usabilidade são os que tratam do uso de produtos e/ou sistemas
tecnológicos utilizados nas mais diversas atividades humanas, visando, entre outros
fatores, satisfazer ao usuário. O fato de o usuário achar agradável a interação com um
sistema e de se sentir particularmente satisfeito ao usá-lo é denominado por Nielsen
(1993) de satisfação subjetiva.
O comportamento informacional é a totalidade do comportamento humano em
relação às fontes e aos canais de informação, incluindo a busca de informação ativa e
passiva além do uso da informação WILSON,  apud CUNHA; AMARAL; DANTAS,
2015, p. 8). Essa assertiva conduz ao entendimento de que os Estudos de
Comportamento Informacional são os que abrangem as fontes e os canais de informação,
busca e uso da informação.
Os Estudos de Usuários, conforme Amaral (2013), também podem ser
reconhecidos como instrumentos de planejamento e gestão no ambiente das
organizações e auxiliar os gestores responsáveis a proverem produtos e serviços de
informação para seus usuários no ambiente das organizações.
No contexto organizacional, os Estudos sobre Usuários "[...] crescem em
importância, considerando que as organizações funcionam por meio das ações de
pessoas a elas relacionadas, tanto no ambiente interno como no externo à organização"
(CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015, p. 147).
A realização de Estudos sobre Usuários é essencial para o funcionamento de
qualquer unidade de informação, organização ou para se conhecerem o comportamento
e/ou as práticas informacionais dos usuários, afinal, eles estão presentes em todo o fluxo
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da informação e para eles é que se destinam todos os produtos e serviços
informacionais.
3 PERSPECTIVAS EM GESTÃO & CONHECIMENTO: uma revista científica
O periódico Perspectivas em Gestão & Conhecimento PG&C
1
é uma iniciativa
da Coordenação do Curso de Administração (Gestão 2009-2011) do Centro de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Surgiu,
institucionalmente, através da colaboração de docentes pesquisadores vinculados a três
departamentos: Administração, Ciência da Informação e Filosofia, todos da UFPB,
contando com a cooperação técnico-científica do Instituto Brasileiro em Informação
Ciência e Tecnologia (IBICT). É publicado semestralmente, registrado sob ISSN: 2236-
417X e está avaliado no Qualis Capes como B1.
As submissões ao periódico podem ocorrer nas línguas portuguesa, inglesa ou
espanhola. O periódico PG&C está indexado em 23 bases de dados, entre elas:
LATINDEX, LISA, Portal de Periódicos da CAPES, Dialnet, NewJour, SFX KnowledgeBase,
TULIPS, CCUC, CB-UdG e UNIVERSIA.NET.
O objetivo desse periódico é de publicar trabalhos originais e inéditos
relacionados às temáticas gestão e conhecimento com abordagens que priorizem
diálogos inter/pluri/multi/transdisciplinares e contribuam para a aquisição de novos
conhecimentos e/ou para ser aplicados nos diversos setores e organizações da
sociedade. Utiliza o sistema LOCKSS para criar um sistema de arquivo distribuído entre
as bibliotecas participantes, para que elas possam criar arquivos permanentes da revista
para preservá-los e restaurá-los.
Os editoriais do primeiro e do último números do PG&C (2011 e 2016) mostram
seu surgimento fortalecido e sua brilhante trajetória. Os estudos publicados no
primeiro número [...] demonstram a bem-aventurança da multiplicidade de olhares
sobre as temáticas Gestão e Conhecimento GOMES; COSTA, , p. . Esses olhares
emergem de artigos de revisão, relatos de pesquisa e relatos de experiência. Como
afirmam seus editores, nesse contexto, o PG&C "[...] caracteriza-se como um espaço
1
Informação extraída de Perspectivas em Gestão & Conhecimento < http://
http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/pgc > , no menu SOBRE.
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ARTIGO
virtual de encontro de múltiplo saberes sobre Gestão e Conhecimento [...] entre autores
e equipe editorial [...]" (GOMES; COSTA, 2011, p. 3).
No Editorial do último número de 2016, os editores de PG&C são enfáticos, ao
afirmar que, ao longo de sua existência, esse periódico vem "[...] trabalhando
incansavelmente para cumprir o objetivo a que se propôs, desde a sua idealização, e
para manter sua qualidade [...]" (GOMES; COSTA, 2016, p. 1).
Finalmente, vale registrar que, além das três seções iniciais (artigo de revisão,
relato de pesquisa e relato de experiência), no decorrer da sua trajetória, o PG&C
ampliou seu número de seções para oito
2
e firmou-se como um canal informacional no
âmbito da comunicação científica.
4 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. "As pesquisas exploratórias
são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo,
acerca de determinado fato" (GIL, 1999, p. 43), e as pesquisas descritivas objetivam
descrever as características de determinada população ou fenômeno ou estabelecer
relações entre variáveis. Assim, realizou-se um levantamento da produção científica
sobre a temática Usuários da Informação, na revista "Perspectivas em Gestão &
Conhecimento", desde o primeiro fascículo, publicado em 2011, até o último, de 2016, o
que corresponde a seis volumes e 18 números, dentre esses, seis especiais.
Adotou-se uma abordagem quanti-qualitativa, por entender que as duas
abordagens são complementares e servem para clarificar os resultados da pesquisa.
Inicialmente, levantou-se a produção publicada em PG&C, período de 2011 a 2016, e,
posteriormente, identificou-se a produção sobre a temática "Usuários da Informação", o
que totaliza doze publicações. A seguir, procedeu-se à sua coleta e, depois, a sua leitura,
para extrair as informações pertinentes às categorias de análise:
a) Tipologia da produção científica: identificação dos tipos de produção
publicados no período de 2011 a 2016;
b) Autores e coautores da produção: identificação dos autores e dos coautores
visando verificar os mais produtivos no período estudado;
2
As oito seções de PG&C estão dispostas na Tabela 1, coluna Tipo de Produção.
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ARTIGO
c) Origem geográfica e institucional: identificação da origem geográfica e
institucional da produção;
d) Idioma da produção científica: identificação dos idiomas das produções,
visando estabelecer os grupos linguísticos da produção publicada.
Para analisar os dados, adotou-se a Análise de Conteúdo, por ser uma técnica de
análise das comunicações por meio da qual se visa obter, através de procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores
quantitativos e qualitativos que permitem inferir conhecimentos relativos às condições
de produção dessas mensagens (BARDIN, 2006).
5 MAPEAMENTO E ANÁLISE DA PRODUÇÃO SOBRE USUÁRIOS DA INFORMÃO
Neste item, apresentam-se as informações sobre a prodão publicada no PG&C, no
período de 2011 a 2016, e sobre a tipologia da produção, os estudos sobre usuários da
informação, a autoria, a coautoria, a origem geográfica e institucional e o idioma da
prodão.
5.1 PRODUÇÃO PUBLICADA NO PG&C NO PERÍODO DE 2011 A 2016
Tabela 1 -Produção publicada no periódico Perspectivas em Gestão & Conhecimento -2016)
TIPO DE PRODUÇÃO
TOTAL
N %
USUÁRIO DA INFORMAÇÃO
N %
Relato de pesquisa
141
51,5
4
2,8
Artigo de revisão
73
26,6
3
4,1
Memória científica
22
8,0
3
13,6
Editorial
18
6,6
0
0
Relato de experiência
09
3,3
1
11,1
Resenha
05
1,8
1
20,0
Ponto de vista
04
1,4
0
0
Carta ao leitor
02
0,7
0
0
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ARTIGO
TOTAL
274
100
12
4,4
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
Dentre os oito tipos de produção publicada em PG&C, destacam-se os relatos de
pesquisa (51,5%), os artigos de revisão (26,6%) e as memórias científicas (8,0%). Do
total da produção, somente ,% são sobre a temática Usuário da Informação Tabela
1).
5.2 TIPOLOGIA DA PRODUÇÃO PUBLICADA NO PG&C SOBRE USUÁRIOS DA
INFORMAÇÃO
A Tabela 2 apresenta a tipologia da produção sobre Usuários da Informação,
publicada em PG&C no período de 2011 a 2016.
Como se pode observar na Tabela 2, a tipologia da produção sobre Estudo de
Usuários está representada por cinco das seções de PG&C: Relato de pesquisa (33,3%),
Artigo de revisão (25%), Memória de Evento Científico-Profissional (25%), Relato de
Experiência (8,3%) e Resenha (8,3%). Para PG&C, os tipos de produção da Tabela 2
devem ser entendidos como segue:
Os Artigos de Revisão fazem análise crítica consistente, capaz de suscitar e/ou
subsidiar pesquisas e novas perspectivas teóricas na relação das temáticas Gestão e
Conhecimento. As Memórias de Evento Científico-profissional são comunicações
que correspondem à coletânea de conferências, palestras e artigos, que são
apresentados em eventos técnicos, científicos e/ou profissionais de contributo das áreas
de interesse da revista. Os Relatos de Experiência emanam de experiências
profissionais ou descrevem atividades de interesse para os leitores da revista e
contribuem para o conhecimento do tema explorado. Os Relatos de Pesquisa
correspondem a artigos oriundos de relatórios de pesquisas científicas e descrevem seus
procedimentos metodológicos, resultados e conclusões. As Resenhas configuram-se
como apreciação e análise crítica e interpretativa de obras lançadas recentemente.
Devem ser individuais, e o texto abranger de três a cinco laudas.
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ARTIGO
5.3 OS ESTUDOS SOBRE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO
A tipologia dos Estudos de Usuários identificados em PG&C está representada na
tabela 3.
Tabela 3 - Tipologia dos estudos relacionados aos Usuários da Informação
TIPOS DE ESTUDO
NÚMERO
%
Uso da informação
4
33,3
Usabilidade
4
33,3
Comportamento informacional
3
25
Usuário da informação
1
8,3
TOTAL
12
100%
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
Os quatro tipos de estudo sobre Usuários da Informação correspondem às 12
produções (Apêndice A) identificadas em PG&C e serão expostos a seguir.
5.3.1 Estudos sobre o uso da informação
A produção sobre uso da informação consta de quatro trabalhos (Quadro 1): um
artigo de revisão(AR), um relato de experiência (RE) e duas memórias de eventos
científicos profissionais (MECP), publicadas em números especiais de PG&C.
Quadro 1 - Produção sobre o uso da informação
N
o
ESTUDOS SOBRE USO
V/N
ANO
TIPO
1
Estudo da utilização da informação de custos como
ferramenta de gestão em organização pública: o estudo do
sighcustos
3/1
2013
RE
2
Uso da informação sobre a concorrência e tomada de
decisão: estudo e análise das características do processo de
sense making organizacional
2/esp.
2012.
MECP
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ARTIGO
3
Dimensões simbólicas e afetivas do uso da informação: uma
análise das comunicações entre professores do
Departamento de Psicologia de uma instituição de ensino
superior pública brasileira
2/esp.
2012.
MECP
4
Uso das fontes de informação para a geração de
conhecimento organizacional
1/2
2011
AR
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
Legenda: V/N - Volume/Número. RE- Relato de Experiência. MECP- Memória de Evento Científico-
profissional. AR- Artigo de Revisão.
O Relato de Experiência 1 (Q1) trata de uma pesquisa descritiva e de
abordagem quantitativa, em que se analisou o processo de geração e agregação de valor
à informação de custos na Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais. É um estudo
de caso, com observação participante, e cujas cnicas de coleta de dados empregadas
foram entrevistas e grupo focal. Os grupos de foco, em número de três por Unidade
Assistencial (UA), são formados de oito participantes - os gestores de custos e os
diretores das UAs.
O estudo mostra que o uso da informação de custos, como meta da informação,
agrega valor a essa informação e contribui para que haja mais diálogos entre os setores
da organização, para o conhecimento dos processos de trabalho e a diminuição na
resistência em compartilhamento.
As Memórias de Eventos Científico-profissionais 2 e 3 são produções
semelhantes, porquanto se originaram em comunicações apresentadas no XII Encontro
Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB) em 2011.
A Memória 2 (Q1) analisou as características do processo de sensemaking
organizacional, por meio do uso da informação sobre concorrência para tomada de
decisão em quatro instituições de ensino superior (IES) privadas do estado de Minas
Gerais.
A pesquisa visou [...] entender como a informação sobre concorrência se
transforma em decisão, nas organizações, através do processo de significados
(Q1/MECP Nº2, p.138). A coleta dos dados foi feita através de dois roteiros de
entrevistas: um, para os dirigentes educacionais das instituições, e o outro, para os
funcionários das IES que participaram do processo decisório.
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ARTIGO
Os dados foram coletados e analisados com base no sensemaking organizacional,
considerando-se uma situação vivida pelos informantes, relacionada a uma informação
sobre o concorrente, e a consequente tomada de decisão. A partir da identificação das
sete características do processo de sensemaking organizacional, empreendeu-se uma
comparação a fim de responder à seguinte pergunta de pesquisa: [...] em uma situação
de uso da informação sobre concorrência para tomada de decisão, é possível identificar
e avaliar as características do processo de sensemaking organizacional descritas por
Weick 99? Q/MECP Nº, p. 135).
A pesquisa evidenciou a aplicabilidade da teoria, mas, como dizem os próprios
autores da memória, devem ser feitas outras pesquisas utilizando-se a mesma
metodologia, para possibilitar a comparação de resultados e o aprimoramento da
proposta metodológica em questão.
A Memória 3 (Q1) se refere a um estudo feito com professores de Psicologia
de uma instituição do ensino superior brasileira, visando analisar as dimensões
simbólicas e afetivas subjacentes ao uso da informação e as perturbações em seu
compartilhamento entre esses professores. O caso acontece em um Departamento
criado nos anos sessenta e que, na época em que foi feita a pesquisa, contava com 50
docentes, dos quais somente seis participaram do experimento, devido à sua
complexidade. Os critérios adotados para selecionar os sujeitos foram: que deveriam
pertencer a um dos seis grupos significantes ou divergentes do departamento, o tempo
em que atuavam no departamento e os dados referentes ao status do docente na
Instituição.
O autor utiliza como instrumentos de coleta de dados roteiros de entrevista
semiestruturado e semidiretivo e um formulário para apresentar palavras estímulo e
registro de tempo e associações de palavras. As associações produzidas pelos sujeitos
foram submetidas a dois tipos de análise: uma individual e outra comparativa. Na
discussão final, compararam-se os resultados dos dois tipos de análise, a fim de
identificar as relações descritas.
Os resultados da pesquisa indicaram que os Estudos de Usuários ainda podem ser
aperfeiçoados, em especial, no que se refere às relações entre motivações individuais e
coletivas, busca e uso da informação e fatores como personalidade, criatividade e
produtividade Q/MECP Nº2, p.130).
Silva; Ramalho | Usuários da informação
55
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
A última produção do Quadro 1, Artigo de Revisão 4, enfoca o uso das fontes
de informação como um elemento constituinte das estratégias gerenciais. Trata-se de
um estudo descritivo e analítico, que compreende um levantamento bibliográfico e uma
fundamentação conceitual sobre gestão, fluxos e fontes de informação e o uso dessas
fontes para gerar o conhecimento organizacional.
Quando abordam o uso das fontes de informação para gerar conhecimento
organizacional, os autores do artigo enfatizam que esse uso envolve a "[...] seleção e o
processamento (tratamento técnico) das fontes de informação, para dar resposta a uma
pergunta, dar solução a um problema, para tomada de decisão, para negociação ou
entendimento de uma situação [...] Q/AR Nº 4, p.51).
As considerações finais do artigo registram, entre outras questões relevantes, a
necessidade de aperfeiçoar os [...] processos que envolvem o uso das fontes de
informação como uma ferramenta gerencial, não para tomada de decisão, mas
também como ativo que contribua para geração de conhecimento organizacional [...] e,
consequentemente, contribua para melhorar a competitividade das organizações.
(Q1/AR Nº4, p. 54).
5.3.2 Estudos sobre usabilidade
Quadro 2 - Produção sobre usabilidade
N
o
ESTUDOS SOBRE USABILIDADE
V/N
ANO
TIPO
1
Um estudo de redes de usabilidade de produtos:
aprendizados para a cooperação empresarial
4/esp.
2014
RP
2
Avaliação da satisfação do usuário dos sistemas ERP
como instrumento para gestão: uma abordagem
multivariada de dados em uma indústria farmacêutica
4/2
2014
RP
3
Como fazer um bom trabalho em experiência do usuário
apesar das limitações
1/esp.
2011
MECP
4
Para quem a informação? Uma questão de usabilidade
1/esp.
2011
R
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
Legenda: V/N - Volume/Número. RP- Relato de Pesquisa. MECP- Memória de Evento Científico-
Profissional. R-Resenha.
56
Paiva; Ramalho | Usuários da informação
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
O Quadro 2 (Q2) apresenta quatro tipos de produção sobre usabilidade: dois
relatos de pesquisa (RP), uma memória de evento científico-profisssional e uma resenha
(R). Excetuando-se o relato de pesquisa 2, as demais produções foram publicadas em
números especiais do periódico.
O Relato de Pesquisa 1 (Q2) é um estudo de caso que avalia a percepção, a
prática e os interesses de profissionais que atuam na área de pesquisa de usabilidade de
produtos, ao participarem de uma rede colaborativa composta de sete empresas para a
troca de experiências.
Os resultados da pesquisa indicam que a rede colaborativa estudada pode ser
classificada como uma rede social simétrica e tem uma estrutura em que os atores
trocam informações, por meio de relações de confiança e por terem objetivos
semelhantes. Os resultados também revelam "[...] a percepção dos envolvidos quanto
aos benefícios das informações que a rede fornece aos participantes, que passam a
utilizá-las nas suas atividades regulares nas organizações, o que reforça o interesse e as
expectativas de troca de novas experiências." (Q2/RP Nº 1, p. 83).
O Relato de Pesquisa 2 (Q2) descreve uma pesquisa que avalia a satisfação
do usuário em relação ao sistema Enterprise Resource Planning (ERP), implantado em
uma indústria farmacêutica, situada em São Paulo. Os resultados da pesquisa
evidenciam que a satisfação dos usuários com sistemas ERP relaciona-se "[...] a diversos
fatores que vão desde o sistema em si, passando pela forma como as atividades estão
estruturadas e envolvendo até os conhecimentos básicos de informática que as pessoas
possuem." (Q2/RP Nº 2, p. 189).
A Memória de Evento Científico-profissional 3 (Q2) apresenta
metodologias adotadas por equipes de designers de experiência do usuário para atingir
bons resultados em sua prática profissional. Os autores, que trabalham em uma empresa
de infraestrutura de Internet, usam casos reais do cotidiano de trabalho para ilustrar
problemas e soluções, mostrando exemplos de interfaces de contratação de domínio e
hospedagem, plataforma de loja virtual, ferramenta de help desk e websites. O objetivo do
trabalho é de "[...] explicar metodologias para atingir bons resultados, apesar da
limitações; exemplificando situações em que foi possível desenvolver projetos de
qualidade nessas condições [...]" (Q2/MECP Nº 3, p. 182). Os autores visam "[...] enxergar
maneiras de melhorar a prática da profissão em vista da realidade do mercado de
trabalho brasileiro atual." (Q2/MECP Nº 3, p. 183).
Silva; Ramalho | Usuários da informação
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
A Resenha 4 (Q2) refere-se ao livro "Usabilidade na web: projetando websites
com qualidade", de autoria de Nielsen e Loranger (2007), que resulta de anos de
pesquisas que abrangem milhares de usuários, analisando a usabilidade de sites de
diversas áreas. O autor da resenha destaca a importância da obra para o
desenvolvimento da relação entre os sites e seus clientes e que o diferencial reside na
preocupação da experiência do usuário com o ambiente virtual. Depois de descrever o
conteúdo de cada um dos 12 capítulos da obra, emitindo juízos de valor sobre os seus
conteúdos, o resenhista elenca as características mais importantes para um site e afirma
que a aplicação da usabilidade nos espaços virtuais gerados pelas empresas na Internet
proporcionará benefícios em curto, médio e longo prazos.
5.3.3 Estudos sobre Comportamento Informacional
Quadro 3 - Produção sobre Comportamento Informacional
N
o
ESTUDOS SOBRE COMPORTAMENTO INFORMACIONAL
V/N
ANO
TIPO
1
A investigação do comportamento de busca informacional
e do processo de tomada de decisão dos líderes nas
organizações: introduzindo a abordagem clínica da
informação como proposta metodológica
3/esp.
2013
AR
2
O comportamento de usuários cegos durante o acesso
mediado por leitores de tela: um estudo sob o enfoque da
cognição situada
3/esp.
2013
RP
3
O comportamento de procura de informação no processo
de decisão de compra na web
1/esp.
2011
AR
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
Legenda: V/N - Volume/Número. AR- Artigo de revisão. RP- Relato de pesquisa.
O Quadro 3 (Q3) é composto de três produções de dois tipos: um relato de
pesquisa (RP) e dois artigos de revisão (AR), todos publicados em volumes especiais de
PG&C.
O Artigo de Revisão 1 (Q3) propõe uma metodologia para o estudo de
comportamento de busca de informação relacionada ao processo de tomada de decisão.
Fundamenta-se na abordagem alternativa dos estudos de usuários da informação e toma
como referencial adicional os estudos da Psicologia.
58
Paiva; Ramalho | Usuários da informação
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
O autor faz uma revisão profunda da literatura e navega por modelos de estudos
sobre o comportamento de usuários e a contribuição da Psicologia para esse campo.
Afirma que a pesquisa se desenha como uma Abordagem Clínica da Informação ACI
3
e que traz contribuições para os estudos de usuários.
Para coletar os dados, utilizou dois tipos de entrevista: uma semiestruturada, que
se baseia na técnica do incidente crítico, em que os líderes pesquisados apontam
situações críticas/complexas que envolvem a tomada de decisão; e uma livre, sobre o
desenho produzido pelo pesquisador com as informações da entrevista semiestruturada.
Depois de apresentar os roteiros de entrevistas e as bases para produzir o desenho
elaborado pelo pesquisador, o teste AT-9
4
, o autor da proposta metodológica sugere
para a análise dos dados a técnica de triangulação e a de Bardin (1977). Para o material
reunido, o autor sugere que se utilize como chave hermenêutica o modelo de
classificação de estruturas do imaginário desenvolvido por Gilbert Durand (1997).
O autor concluiu sua proposta metodológica com um item que denominou de
Uma prospecção a novos paradigmas, em que deseja que os resultados da aplicação
dessa metodologia contribuam [...] para lançar alguma luz sobre um dos aspectos de
mais difícil acesso das situações de uso da informação: a subjetividade e a
emocionalidade envolvidas nos processos de tomada de decisão. Q/AR Nº, p..
O Artigo de Revisão 3 (Q3) tem como foco a elaboração de uma revisão de
literatura sobre o comportamento do consumidor na busca por informação, no contexto
da Internet, onde, logo de início, o autor deixa claro que se trata de uma literatura muito
vasta, que se encontra em muitas disciplinas do Marketing à Economia, da Psicologia à
Sociologia, entre outras, e que não pretende elaborar um compêndio exaustivo sobre o
comportamento do consumidor em suas buscas de informação. Com esse intuito, o autor
navega por uma vasta literatura, exclusivamente em inglês, sobre o comportamento do
consumidor na fase de busca de informação.
A revisão em pauta apresenta-se em sete tópicos gerais, entre eles: os modelos
dos processos de compra do consumidor, a abordagem sobre a busca de informação na
web e as estratégias de busca de informação. Nas afirmações finais sobre a revisão, tem-
3
A ACI, segundo Paula (2012)
, é uma proposta metodológica que tem o objetivo de estudar as dimensões
simbólicas e afetivas relacionadas à busca e ao uso da informação por parte dos decisores. Nesse trabalho
é que o autor introduz sua proposta da ACI.
4
O teste projetivo de nove elementos arquétipos/ AT-9, projetado pelo psicólogo francês Yves Durand,
possibilita que se chegue, de forma profunda, ao entendimento e à descrição do comportamento humano.
Silva; Ramalho | Usuários da informação
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
se que o comportamento do consumidor, ao buscar informações, é conduzido por dois
fatores - custo e benefício - e que as pessoas tendem a aceitar a informação como se
apresenta, portanto não fazem nenhum esforço cognitivo para transformá-la (Q3/AR 3,
p. 19-20).
O Relato de Pesquisa 2 (Q3) é um estudo que visa compreender como os
usuários cegos se comportam durante o acesso à web, utilizando leitor de telas, e quais
os elementos que influenciam e determinam suas ações. O estudo fundamenta-se na
abordagem social para estudos usuários da informação e na Cognição Situada, portanto,
trata-se de um estudo de cunho qualitativo.
Participaram da pesquisa oito sujeitos cegos (cegueira congênita e adquirida),
usuários de leitores de tela, selecionados através da técnica da bola de neve (snowball
sampling). Para coletar os dados, os pesquisadores utilizaram a entrevista
semiestruturada e o ensaio de interação, considerando os referenciais da Cognição
Situada. Os dados foram coletados na casa ou no trabalho dos participantes. Para
analisá-los, os autores os classificaram em categorias. Isso sugeriu
o modelo de grade mista, conforme Laville e Dionne (1999). Definidas as categorias
iniciais de análise, identificaram-se novas categorias (subcategorias) a partir da grade de
leitura dos dados coletados.
As cinco categorias de análise iniciais geraram 17 subcategorias, por meio das
quais os pesquisadores conduziram a análise dos dados. O comportamento dos usuários
estudados durante o acesso à Internet/Web, mediado pelo leitor de telas, é influenciado
por elementos internos e externos a eles. Os resultados da pesquisa contribuem para o
desenvolvimento de Websites mais inclusivos e democráticos para pessoas com
deficiência visual. Por outro lado, tem-se que o uso da Cognição Situada na pesquisa traz
contribuições para os estudos de usuários da abordagem social, porquanto possibilita
que se observe o sujeito interagindo no ambiente onde transita.
5.3.4. Estudo sobre usuários da informação
Quadro 4 - Produção sobre usuários da informação
N
o
ESTUDO SOBRE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO
V/N
ANO
TIPO
1
O decisor como usuário da informação: relações entre a
gestão da informação e do conhecimento, a cognição e
3/esp.
2013
RP
60
Paiva; Ramalho | Usuários da informação
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
perspectivas futuras
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
Legenda: V/N - Volume/Número. RP- Relato de pesquisa.
O Quadro 4 (Q4) apresenta um relato de pesquisa (RP) publicado em volume
especial de PG&C.
O Relato de Pesquisa 1 (Q4) apresenta estudos sobre o comportamento de
decisores como usuários da informação, no âmbito da gestão e do conhecimento. Trata-
se de três pesquisas - duas teses de Doutorado e uma dissertação de Mestrado, cujas
abordagens teóricas metodológicas apresentam experiências em que se estudou o
comportamento dos decisores, considerando os aspectos cognitivos contemporâneos.
A tese de Doutorado (BORGES, 2002) analisa os conceitos de informação e
conhecimento, na perspectiva da visão dos gestores proprietários de pequenas e médias
empresas mineiras, com base na abordagem cognitiva da Biologia do Conhecer, de
Maturana e Varela (1964), da qual participaram seis sujeitos que falaram sobre as
próprias histórias e a de suas empresas através de entrevista.
Assim, o autor pôde [...] analisar questões específicas sobre a inteligência
empresarial, a conduta dos empresários como condutores de seu negócio e outros
aspectos cognitivos [...]" (Q4/RP 1, p.168) e constatar que, no âmbito da gestão da
informação, deve-se considerar o estilo como cada empresário gerencia suas empresas e
que a Biologia do Conhecer é uma abordagem cognitiva que viabiliza considerar
aspectos importantes do comportamento de decisores, como usuários da informação.
A dissertação de Mestrado (VENÂNCIO, 2007) investiga o comportamento de
busca de informação por decisores, do ponto de vista da Cognição Situada. Para tanto, o
autor investigou várias situações de decisões frequentes no cotidiano organizacional que
influem no desempenho da organização.
Participaram dessa pesquisa quatro empresas de pequeno porte - duas do setor
industrial e duas do setor de serviços - selecionadas através da listagem da Federação
das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), obedecendo aos seguintes critérios:
empresas com mais de dez anos no mercado e atuantes nos setores mais representativos
da amostra.
A pesquisa desenvolveu-se em duas fases: na primeira, apresenta as entrevistas
com diretores, presidentes e sócios proprietários das empresas, utilizando-se da técnica
do incidente crítico, para que o entrevistado pudesse descrever uma situação
Silva; Ramalho | Usuários da informação
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
importante em que tomou uma decisão importante para a organização. Para a segunda
fase, o pesquisador escolheu uma situação em que o entrevistado participou ativamente,
para que a descrevesse com detalhes. O roteiro de entrevista versou sobre questões
relacionadas ao entrevistado e ao seu processo de busca da informação.
Os resultados da pesquisa mostraram que, ao contrário das abordagens
tradicionais de busca de informação, que consideram somente o indivíduo, a cognição
situada amplia esse contexto para onde o usuário faz a busca, para seu comportamento
nessa situação e para as relações que estabelece e os seus motivos.
A terceira pesquisa (LEITÃO, 2010) - também uma tese de Doutorado -
desenvolveu-se a partir do trabalho de Venâncio (2007), que analisou a relação entre o
uso da informação sobre o concorrente e o processo decisório, utilizando a abordagem
do sensemaking organizacional, proposta por Weick (1995). O objetivo que o autor
estabeleceu para a pesquisa foi o de [...] investigar como o uso da informação sobre
concorrência se transforma em decisão e ação nas organizações a partir do processo de
sensemaking organizacional [...] Q/RP Nº, p.9.
Participaram da pesquisa quatro instituições de ensino superior privado de
Minas Gerais. Em cada uma delas, [...] levantou-se uma situação vivida por dirigentes e
membros da instituição em que uma situação sobre concorrente tenha gerado uma
decisão organizacional. Q/RP Nº, p.9. Para tanto, foram empregadas a
abordagem de estudo de casos múltiplos e a técnica do incidente crítico. Por meio desse
estudo, foi possível identificar as características do processo de sensemaking
organizacional em cada instituição, o que confirmou a eficácia dessa abordagem para a
análise do comportamento de decisores em relação a informações que denunciam
possíveis ameaças da concorrência.
Para encerrar a apresentação dos 12 estudos sobre Usuários da Informação,
recorre-se às palavras de Nassif, por serem oportunas para se concluir tudo o que foi
dito sobre a produção publicada em PG&C e o que se vier a produzir sobre usuários da
informação, o que a referida autora concentra em três aspectos que ela considera
importantes ao se estudar sobre os usuários da informação: [...] a história de vida, as
necessidades de informação, considerando-se o contexto e a tarefa em que as
necessidades se dão, e os aspectos ligados às emoções pré-disposições, interesses,
posições a respeito de determinado assunto, sentimentos e crenças. (Q4/RP Nº1, p.
167).
62
Paiva; Ramalho | Usuários da informação
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
5.3.5 Autoria e coautoria
Tabela 4 - Tipologia dos autores
TIPO
N
%
Professor universitário
6
50,0
Estudante de pós-graduação
4
33,3
Bibliotecário
1
8,3
Gerente de experiência do usuário
1
8,3
TOTAL
12
100%
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
De acordo com a Tabela 4, metade dos autores é de professores universitários
(50%) de universidades brasileiras, e um, da Universidade da Madeira Portugal. Todos
são doutores. Quando divulgaram suas produções, os professores brasileiros estavam
vinculados à Universidade Federal de Minas Gerais, à Universidade de São Paulo e à
Universidade Federal da Paraíba. O bibliotecário era mestrando em Ciência da
Informação, pela Universidade Federal de Santa Catarina, e trabalhava no Centro de
Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul (CEPSUL)/Santa
Catarina/Brasil.
Dos estudantes de pós-graduação, dois eram mestrandos um, em Comunicação,
e outro, em Ciência da Informação, e dois doutorandos um, em Administração, e outro,
em Engenharia de Produção em universidades brasileiras.
Tabela 5 - Tipologia dos coautores
TIPO
N
%
Professor universitário
4
50
Designer de Experiência do Usuário
3
37,5
Estudante de pós-graduação
1
12,5
TOTAL
8
100%
Fonte: Dados da pesquisa 2017.
Silva; Ramalho | Usuários da informação
63
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Conforme demonstrado na Tabela 5, metade dos coautores (50%) são
professores de universidades brasileiras, 37,5%, designers de experiência do usuário, e
12,5%, estudantes de pós-graduação.
Quase toda a produção (91,6%) procede de instituições de estados brasileiros, e apenas
uma, de Portugal (8,3%). O estado de Minas Gerais registra a procedência de metade da
produção (50%), seguida de São Paulo (25%), da Paraíba e de Santa Catarina com 8,3%,
respectivamente (Tabela 6). Esse panorama revela uma produção diversificada no que
se refere à sua abrangência.
5.3.7 Idioma da produção
Quanto ao idioma, toda a produção é escrita em língua portuguesa, embora o
PG&C aceite submissões em três idiomas: português, espanhol e inglês.
6 CONCLUSÃO
Os resultados das análises da produção científica sobre Usuários da Informação
publicada no periódico Perspectivas em Gestão & Conhecimento apontam que os
conhecimentos produzidos foram comunicados através de 12 produções que enfocam o
Uso da Informação, Usabilidade, Comportamento Informacional e Usuários da
Informação. Essa produção centra-se em estudos que vão desde os sobre o uso da
informação até a Usabilidade.
A maioria desses estudos foi produzida por professores doutores de
universidades brasileiras e uma portuguesa e por alunos de pós-graduação, mestrandos
e doutorandos. Isso resulta do fazer e das exigências que emanam no cotidiano dessas
pessoas que necessitam de capacitação e atualização constante. A qualificação de
autores e coautores é um dos indicadores de uma produção de boa qualidade. Nesse
sentido, pode-se afirmar que a produção estudada apresenta essa correlação. Os estudos
utilizaram metodologias com o auxílio de autores de outras áreas do conhecimento,
como a Psicologia, que só veio fortalecer e colaborar com pesquisas cujo objeto de
estudo é o usuário da informação.
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Paiva; Ramalho | Usuários da informação
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ARTIGO
A maioria dos estudos foi feita em organizações que enfocam gestão e
conhecimento. Isso é justificável, em razão do objetivo do PG&C, que prioriza trabalhos
relacionados às temáticas Gestão e Conhecimento. Por outro lado, os estudos revelam
uma tendência de pesquisas com o foco nos aspectos cognitivos contemporâneos.
Conclui-se que, em termos quantitativos, o montante da produção sobre os
usuários da informação ainda é pequeno, comparado com a totalidade da produção
publicada no periódico no período estudado. Entretanto, a produção é de qualidade
relevante, principalmente para a temática Comportamento Informacional.
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66
Paiva; Ramalho | Usuários da informação
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
APÊNDICE A
PRODUÇÃO ANALISADA
1
ALEMÃO, Márcia Mascarenhas; GONÇALVES, Márcio Augusto; DRUMOND,
Heloísa Azevedo. Estudo da utilização da informação de custos como ferramenta
de gestão em organização pública: o estudo do sighcustos. Perspectivas em
Gestão & Conhecimento, v. 3, n.1, p. 210-226, 2013. (Relato de experiência)
2
FERREIRA, Fernando Colmenero. O comportamento de procura de informação
no processo de decisão de compra na web. Perspectivas em Gestão &
Conhecimento, v. 1, n. esp., p. 3-26, 2011. (Artigo de revisão).
3
LEITÃO, Pedro Cláudio Coutinho; NASSIF, Mônica Erichsen. Uso da informação
sobre a concorrência e tomada de decisão: estudo e análise das características do
processo de sense making organizacional. Perspectivas em Gestão &
Conhecimento, v. 2, n. esp. p. 133-148, 2012. (Memória de evento científico-
profissional)
4
MARINHO, Thiago de Andrade. Para quem a informação? Uma questão de
usabilidade. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 1, n. esp. p 16, 2011.
(Resenha).
5
NASSIF, Mônica Erichsen. O decisor como usuário da informação: relações entre
a gestão da informação e do conhecimento, a cognição e perspectivas futuras.
Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 3, n.esp., p. 163-172, 2013.
(Relato de pesquisa).
6
OLIVEIRA NETO, Jose Dutra. Avaliação da satisfação do usuário dos sistemas ERP
como instrumento para gestão: uma abordagem multivariada de dados em uma
indústria farmacêutica. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 4, n. 2, p.
171-194, 2014. (Relato de pesquisa).
7
PAULA, Cláudio Paixão Anastácio de. Dimensões simbólicas e afetivas do uso da
informação: uma análise das comunicações entre professores do Departamento
de Psicologia de uma instituição de ensino superior pública brasileira.
Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 2, n. esp. p.118-132,
2012.(Memória de evento científico-profissional).
8
PAULA, Cláudio Paixão Anastácio de. A investigação do comportamento de busca
informacional e do processo de tomada de decisão dos líderes nas organizações:
introduzindo a abordagem clínica da informação como proposta metodológica.
Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 3, n. esp. p.30-43, 2013. (Artigo de
revisão).
Silva; Ramalho | Usuários da informação
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
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ROCHA, Janicy Aparecida Pereira; DUARTE, Adriana Bogliolo Sirihal. O
comportamento de usuários cegos durante o acesso mediado por leitores de tela:
um estudo sob o enfoque da cognição situada. Perspectivas em Gestão &
Conhecimento, v. 3, n. esp., p. 173-196, 2013. (Relato de pesquisa).
10
RODRIGUES, Charles; BLATTMANN, Ursula. Uso das fontes de informação para a
geração de conhecimento organizacional. Perspectivas em Gestão &
Conhecimento, v. 1, n. 2, p. 43-58, 2011. (Artigo de revisão)
11
VIEIRA, Andressa; OLIVEIRA, Marcos Eduardo Vigorito de; MÜHLBACH, Gabriela;
SATO, Paula. Como fazer um bom trabalho em experiência do usuário apesar das
limitações. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 1, n. esp., p. 182-200,
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12
ZABOTTO, Cristina Nardin; SILVA, Sérgio Luís; TORKOMIAN, Ana Lúcia Vitale.
Um estudo de redes de usabilidade de produtos: aprendizados para a cooperão
empresarial. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 4, n. esp., p. 83-95,
2014. (Relato de pesquisa)
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Paiva; Ramalho | Usuários da informação
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
SOBRE AS AUTORAS
Eliane Bezerra Paiva
Doutora em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
E-mail: paivaeb@gmail.com
Francisca Arruda Ramalho
Doutora em Ciências da Informação pela Universidad Complutense de Madrid (UCM).
E-mail: arfrancisca@hotmail.com
Recebido em: 09/03/2017; Revisado em: 06/04/2017; Aceito em: 11/05/2017.
Como citar este artigo
PAIVA, E. B.; RAMALHO, F. A. Usuários da informação: a produção científica no periódico perspectivas em
gestão & conhecimento. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 45-68, out. 2017.
ENSINO E APRENDIZAGEM EM ESTUDOS DE USUÁRIOS: interlocuções
nas práticas docentes
TEACHING AND LEARNING OF USER STUDIES: interlocutions teaching
practices
Maria de Fátima Oliveira Costa
UFC
RESUMO
Aborda acerca das interlocuções feitas por meio de práticas docentes sobre o ensino e
aprendizagem. Traz algumas reflexões possíveis de despertar aspectos relacionados ao
entendimento de práticas com Estudos de Usuários, no intuito de gerar discussões e contribuir para
o ensino da disciplina de Estudo de Comunidade e de Usuários, focando pontos que possam
interferir no relacionamento humano, despertando e orientando o conhecimento do aluno. Essa
atenção dada ao objeto principal da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, o Usuário, deve
ser valorizada no trabalho do profissional e em especial, no aprendizado do aluno, e
consequentemente, na sua futura atuação profissional. Procurou-se mostrar os aspectos teórico-
metodológicos, em que pesem o ensino e a pesquisa, levando à aprendizagem dos estudantes e à
sua formação. A metodologia seguida foi a pesquisa bibliográfica, consultando bases de dados
sobre a temática, a literatura sobre o tema e suas relações. Estimula à uma prática docente, que
deve ser aprimorada de maneira permanente, por meio da educação continuada, no respeito as
diretrizes curriculares traçadas na área. Além disso, sinaliza a promoção de práticas, a fim de
debater questões inerentes a desafios postos ao mercado e aqueles que advirão no cotidiano do
trabalho profissional.
Palavras-chave: Ensino e Aprendizagem. Ensino da Disciplina sobre Usuários. Estudos de
Usuários. Práticas docentes.
ABSTRACT
It addresses the interlocutions made through teaching practices about teaching and learning. It
brings some possible reflections to awaken aspects related to the understanding of practices with
User Studies, in order to generate discussions and contribute to the teaching of the Community and
Users Study discipline, focusing on points that may interfere in the human relationship, awakening
and guiding the knowledge of the student. This attention to the main object of Library Science and
Information Science, the User, should be valued in the work of the professional and especially in the
student's learning, and consequently in his future professional performance. We tried to show the
theoretical and methodological aspects, in which teaching and research weigh, leading to students'
learning and their formation. The methodology followed was the bibliographical research,
consulting databases on the theme, the literature on the subject and their relationships. It
stimulates a teaching practice, which must be permanently improved, through continuing
education, in compliance with the curricular guidelines outlined in the area. In addition, it signals
the promotion of practices, in order to discuss issues inherent to challenges put to the market and
those that will come in the daily work of professionals.
Keywords: Teaching and learning. Discipline teaching about users. User Studies. Teaching
practices.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
Costa | Ensino e aprendizagem em estudos de usuários
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1 INTRODUÇÃO
Por ocasião de sua realização, o I Encontro Internacional de Estudos de Uso e
Usuários da Informação, nos fez pensar o ensino e aprendizagem por meio dessa
temática. Pois, conversar, estudar e dialogar sobre usuários vem sendo um dos temas
mais fascinantes dentro da área profissional, por se tratar de sujeito, de ator e de objeto
em que plena interatividade entre os mesmos; assim, assumimos ser este
entendimento o passo mais próximo a oferecer respostas sociais.
Nesta oportunidade, a partir de eixos determinantes, que foram discutidos no
referido evento e, entre eles, o de ensino e aprendizagem, explicitado, cabendo-nos a
responsabilidade de desenvolver pontos que considerássemos relevantes na formação
profissional, dentro do ensino da disciplina de Estudos de Usuários, considerando
também a motivação que deve ser mostrada aos alunos, além do estimulo à valorização
que a função social exerce na atuação do profissional.
Quando falamos na função social, ela se torna condição sine qua non para que a
atuação do profissional seja pró ativa, e, pois, tenha dinâmica diferenciada em utilizar
estratégias que possam ir além do que o mercado está a exigir.
algo que nos preocupa, do lado profissional, quando teoricamente lembramos
sempre do usuário, e dizemos que trabalhamos para ele; organizamos e processamos a
informação e a disseminamos em função de possível recuperação, uso e assimilação da
informação; porém, na prática, ainda é trabalhada de maneira inexpressiva, vez que
serão mais relevantes a instituição, o profissional, o sistema se, não olhar, ainda, de
maneira insignificante, leve ou fragilizada para o ser, usuário.
Além de tornar esse profissional, como mediador da informação, teremos que
chamar a sua atenção para o significado que tudo isso terá, se a formação dele não
estiver voltada para o atendimento pleno a seus respectivos usuários. Embora sejamos
sabedores de que não temos garantia que nos certifique que a informação cheque com
significado para ele, o usuário pois tal atitude é imprescindível.
Esses pontos merecem uma cuidadosa atenção dos pesquisadores, docentes e
profissionais em podermos identificar e conhecer o comportamento de busca e as
necessidades de informação dos usuários em prol do desenvolvimento de ações que o
sistema de informações deva cobrir.
Assim sendo, buscamos elaborar este trabalho para que suporte a prática
profissional em que o usuário seja de fato aquele principal gerador de motivação da
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Costa | Ensino e aprendizagem em estudos de usuários
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atuação do profissional da informação, isto é, o protagonista do trabalho do bibliotecário
e de outros profissionais da informação.
Há uma variedade de trabalhos publicados na área de usuários no Brasil; a
prática e vivência de pesquisa com usuários, todavia, ainda está muito aquém do ideal;
apesar de termos volume considerável de publicação internacional nesta área, embora
careça de práticas que possam fortalecer tal olhar e vivência para o usuário.
Na Ciência da Informação é perceptível ainda a insuficiência de estudos
resultantes das publicações, quer sejam em vel de pós-graduação ou mesmo nos
trabalhos de conclusão dos cursos de Biblioteconomia, quanto à temática sobre usuários
da informação, embora exista pesquisa com usuários, a temática surge apenas como
nuance, ao invés de ser tornada como essência.
Assim, queremos chamar a atenção do leitor, pesquisador, docente, profissional,
no escopo de perceber e, pois, entender, completamente, que o fim, enquanto resultado,
nas áreas de informação, continuará sendo o usuário, na perspectiva de ser tratado
como sujeito, autor de sua ação, como o motivo principal da área da Ciência da
Informação.
Assim, concebemos que é a partir do ensino da disciplina de estudos de
usuários, que deveremos incentivar nossos alunos em sala de aula, explicitando que os
ambientes informacionais são diversos, com vasta complexidade e que se utilizam fontes
e formatos dos mais diferentes, tornando evidente a percepção de que o usuário se
constitui ator principal no trabalho do profissional bibliotecário.
Por esta razão, quando pensamos no ensino da disciplina referenciada, devemos
fazer jus a que haja as interlocuções entre o professor e, evidentemente, o aluno, em
função de alertar, referir e debater acerca do assunto em pauta.
Desse modo, estimulamos o aluno a que valorize e se identifique com o trabalho
social, compreendendo, afinal, ser o serviço fim da profissão levar sempre e facilitar a
informação, e que tenha verdadeiro significado para a sociedade.
O bibliotecário, por exemplo, entre outros profissionais da informação, deverá ir
além de seu entusiasmo nesse papel de disseminar e respeitar a profissão por esse lado
mais nobre que é o de compreender, servir, interagir e satisfazer as demandas da
sociedade, com novos termos, novos conceitos, novos métodos e novos saberes.
Em relação aos novos saberes, Antunes (2009, p 73) explicita:
Costa | Ensino e aprendizagem em estudos de usuários
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ARTIGO
Não importa qual disciplina, menos ainda qual o tema, é sempre papel
irrecusável de todo professor buscar nos conhecimentos do aluno os
ganchos para fundir os saberes que se desenvolvem. Nunca o novo que
ensinamos é guardado na memória, se não o ativarmos com um saber
antigo e pessoal lá existente.
Então debatemos a questão de como levar tais reflexões ao ensino da disciplina
que trata de pesquisa com usuários da informação.
Com essa instigação, devemos inicialmente conhecer a Lei de Diretrizes e Bases,
reformulada, recentemente, neste ano de 2017, além do conhecimento das Diretrizes
curriculares aprovadas em versão preliminar em 1998 e, posteriormente em 2001, pelo
Ministério da Educação - MEC, e outras propostas curriculares dos cursos de
Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia, dentre os demais documentos que tratam
acerca de usuários da informação.
Tais instrumentos servem de base à construção de propostas pedagógicas e se
tornam desafios à formação do professor universitário, no propósito de provocar as
interlocuções no ensino superior, tão exigidas para o possível sucesso do formando.
2 PENSAR O ENSINO E APRENDIZAGEM DOS ESTUDANTES E A PRÁTICA DOCENTE
No planejamento de disciplinas referentes àquelas que formam o profissional da
informação, em se tratando de bibliotecas, arquivos, e ambientes afins, o bibliotecário ou
outro profissional, deverá ter um olhar mais real para os usuários da informação e
requerer que haja não conhecimento dessa temática, mas, domínio do que deve ser
tratado acerca do tema e de sua legislação.
No caso da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), abrangente nos mais diferentes tipos
de educação, e que rege os princípios gerais da educação, desde 1996, com última
atualização em março de 2017 e, portanto, a educação superior, também; a qual deve ser
seguida pelas instituições de Ensino Superior, ou seja, as universidades, temos que abrir
o debate.
Na época de sua edição, funcionavam os currículos mínimos, e isto dificultava sua
implantação, devido a inserção de diversas disciplinas que complementassem os
currículos; o que, aliás, hoje, já não se constitui motivo para a manutenção da rigidez nos
currículos. As diretrizes curriculares, que foram as bases para a geração das propostas
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pedagógicas dos cursos de graduação, facilitaram, de certa forma, superar tal rigidez
outrora existente.
Assim, atualmente pode-se ter maior liberdade em desdobrar as temáticas,
surgidas pelas próprias exigências do mercado ou além dele, gerando disciplinas que
pudessem formar uma harmonização curricular integrada, em prol do avanço exigido
pela própria sociedade.
Desse modo, foram pensados os projetos pedagógicos de cursos superiores com o
apoio da Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN), além
de eventos, em diferentes veis, os quais geraram debates sobre disciplinas com suas
respectivas ementas, objetivos, metodologias no fito de serem gerados os planos de
ensino de cada uma delas.
Dessa forma, foram elaborados os programas dessas disciplinas e, entre elas, a de
Estudos de Usuários, com o intuito de melhor motivar ao alunato o rendimento
acadêmico. Cumprir tal medida deverá ter o permanente incentivo ao crescimento
espontâneo de cada aluno.
Em sala de aula, pressupõe-se que haja perfeita ou quase perfeita interatividade
entre docente e discente, em busca de aprendizagem. Segundo algumas pesquisas
divulgadas, faz-se necessário vislumbrar o que diz os seguintes autores, acerca da
aprendizagem:
A aprendizagem é então um processo ativo no qual os alunos constroem o seu
próprio conhecimento interagindo com o conteúdo temático, transformando-o
e discutindo-o com os colegas, professores, público, a fim de internalizar o
significado e fazer conexões com o conhecimento existente. Neste processo,
evidências consideráveis de que o feedback tem uma influência inquestionável
que levam a uma melhor compreensão e a resultados de aprendizagem efetivos.
(BORRALHO; FIALHO; CID, 2009, p. 989).
Por esta razão, o docente terá que se utilizar das mais diferentes e atuais fontes e
formas de como levar um ensino de qualidade, com conteúdos práticos, reflexivos e que
possam contribuir para a vida pessoal e profissional a partir da possibilidade de gerar
novos conhecimentos, motivando aos estudantes à discussão, a criatividade e, assim,
poder estimulá-los a gostar da disciplina, a participar de ações e práticas que se tornem
estimulantes e que possam ser úteis à vida.
Dentre as práticas do ensino com a pesquisa, por exemplo, lembramos o que diz
Freire (1996, p 29) em sua obra Pedagogia da Autonomia, interagindo ensino e pesquisa,
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ao afirmar: Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago.
Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo.
Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.
Assim, percebemos que o estímulo a pesquisa deve ser uma constante na vida
acadêmica, se iniciando pelo próprio docente, seguindo aos estudantes na graduação e
na pós-graduação. Em sala de aula é que deve ser provocada tal prática.
Nesta disciplina, ora em estudo, a pesquisa realizada pelos estudantes com
usuários deve ser estimulada e praticada como resposta ao seu aprendizado, até porque
"[...] o comportamento do usuário da informação se dá com a apropriação da informação
no processo de assimilação, que se acentua principalmente por meio da pesquisa. "
(COSTA, 2016, p. 123).
Como será possível adotar essa tal prática? A indagação é válida quando se coloca
conteúdos que possam despertar interesse que levem a se tornarem curiosos, de modo a
que possam enfrentar desafios para sua vitória na aprendizagem. Sabemos que não é
uma tarefa fácil, e sim desafiadora, por entendermos a conjuntura vivida que nem
sempre favorece ao sonho e à crença nesses valores, ora explicitados.
Uma lembrança que vem à mente é a de que devemos sempre apresentar
conteúdos que façam o estudante se reinventar, e examinar suas aptidões, as suas
vontades de descobertas, no enfrentamento de dificuldades, em assertivas e, nunca, na
descrença; além de mobilizar o alunato em busca de competências favoráveis ao
enfrentamento das dificuldades. E para desenvolvê-las faz-se necessária a busca de
saberes e habilidades para a construção e o desenvolvimento da cidadania.
A cidadania deve ser um ponto a ser trabalhado no início da disciplina; o que
deverá acontecer a partir da participação que o indivíduo tem na sociedade, como
também, sua prática no cotidiano perante si próprio e diante do coletivo. Assim, os
tornaremos capazes de atuar como cidadãos de fato e de direito.
A metodologia utilizada pelo docente também influenciará no percurso da
formação do educando.
Entendendo dessa forma, com certeza, o ensino deve ser focado
na aprendizagem do aluno. Vejamos:
Um modelo centrado na aprendizagem vai focar-se mais nas competências e
saberes que os alunos vão adquirindo ao longo do seu processo de formação.
Este processo pressupõe metodologias de ensino que não se limitem à mera
exposição de conteúdos, mas que passem a valorizar formas de aprendizagem
onde o aluno seja chamado a participar, a debater, a colocar em uso o
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conhecimento em situações e problemas concretos. A avaliação daqui
decorrente terá então de ser mais abrangente e diversificada para dar resposta
à complexidade e subjetividade. (BORRALHO; FIALHO, 2009, p. 989).
Assim, o discurso do professor deve sempre lembrar que o profissional da
informação deve estar atento ao caráter ativo dos usuários, não a habilidade
individual, mas a sua socialização. Entendendo assim, torna-se possível a conquista de
seus direitos enquanto cidadão.
O professor deve estar atento a uma criticidade de seu fazer, lembramos Freire
(1996, p. 39):
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento
fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a
prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio
discurso teórico, necessário à reflexão crítica tem de ser de tal modo concreto
que quase se confunda com a prática.
A educação se concretiza quando humaniza o homem, e acontece por meio do
ensino que possibilita a geração do conhecimento e a liberdade de pensar. E
continuando o que diz Freire (1997, p. 43), se considerarmos que:
[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas sim criar possibilidade para sua
construção e sua produção. Quando você ensina, você forma e se forma; quem
ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Ensinar exige
segurança, competência profissional e generosidade. Ensinar é uma
especificidade humana.
Ensinar e aprender se inter-relacionam de maneira compartilhada. É uma
construção coletiva de soma, daí, surge a aprendizagem. Assim, o ensino aprendizagem
se efetiva quando o aprendizado mútuo, entre professor e aluno. Daí acontece as
múltiplas possibilidades de melhoria na qualidade de vida, que elevam o ser humano
cada vez mais e melhor, e esta melhoria se estende a toda a sociedade. (COSTA, 2016).
Dessa maneira, percebemos o compromisso e a complexidade do ensino.
Lembremos Pimenta (2010, p. 17):
O ensino é uma prática social complexa. Realizado por seres humanos
entre seres humanos, o ensino é transformado pela ação e relação entre
os sujeitos (professores e estudantes) situados em contextos diversos:
institucionais, culturais, espaciais, temporais, sociais.
Costa | Ensino e aprendizagem em estudos de usuários
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O ensino exige pesquisa, dedicação e um conjunto de ações no compartilhamento
de ideias, e fazer com que haja sempre uma intermediação dialogada entre docente e
discente no intuito de se utilizar as novas abordagens, a fim de atender as diferentes
demandas e necessidades de informação de cada usuário permanentemente e não
apenas ocasional.
3 MOTIVAÇÃO AO USUÁRIO, ORIUNDA DE DIFERENTES AMBIENTES
INFORMACIONAIS
Quando se fala em usuário, ficamos a imaginar como este se planeja para visitar,
consultar e ou buscar e ter acesso a informação, com os diferentes sistemas de buscas de
forma física ou virtual, embora o acesso que ele queira ter independa ou não do suporte
e formato em que se encontra a informação.
Podemos citar os ambientes das bibliotecas, dos arquivos, dos museus com suas
diferentes funções, e as diversas unidades e centros especializados de informação, os
quais, por sua vez, poderão ter diferentes propósitos. Lembramos, assim, Moreiro
González, 5, p. 77 quando expressa que El objetivo es que los usuários no se
pierdan en la gigantesca cantidad de documentos existentes, y puedem aceder de forma
rápida y pertinente a la información que desean. A linguagem documentária deve estar
clara e coerente aos seus usuários.
Cada ambiente deve ter sua função informativa. As bibliotecas, por exemplo,
devem atender e desenvolver as funções de difusão da informação, procurando
disseminar informações que o usuário necessite. Juntamente com as funções práticas
que permitem a esses usuários a obtenção de respostas, além das demais funções
formadoras, no apoio a educação, de custódia, recreativas, social e de investigação.
(MOREIRO GONZALÉZ, 2005, p. 75-76).
Ainda tratando de ambientes informacionais, podemos citar, também, os
ambientes dos museus que segundo o referido autor, acima citado, é um centro que
coleciona e conserva objetos sempre relacionados ao seu contexto histórico, natural e
social.
Considera ainda que El museo, es por tanto, un sistema de información cuyo
material informativo no son documentos, ni datos, sino objetos. SHERA, 1980, apud
MOREIRO GONZALEZ, 2005, p. 103).
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Ainda no tocante aos museus, Moreiro Gonzalez considera um lugar de exposição,
de trabalho e de investigação que se constitui como propriedade cultural no sentido de
apoiar as pesquisas científicas, atuar como escola difusora que utiliza os meios
informativos existentes para educar os visitantes e servir de depósitos de peças de
interesse. Afirma que Archivos, bibliotecas y museus han sido tradicionalmente los
lugares depositarios de los resultados más valiosos del trabalho cientifico. MOREIRO
GONZALEZ, 2005, p. 104).
Daí imaginar que o bibliotecário ou outro profissional que trabalhe com a
informação no contexto da ciência da informação, esteja atento às mais diferentes
situações de que cada usuário transforma a informação a depender de seus
conhecimentos, de seus sentidos.
Desde a década de 1980, conhecemos trabalhos de resultados de pesquisa de
dissertação de mestrado que já sinalizavam, não com o envolvimento ainda dessas áreas,
mas com o teor crítico que favorecessem ao pensamento que ora expressamos.
Convém levarmos aos estudantes o pensamento de que o profissional deve
compreender o sentido da busca e do uso da informação por seus usuários, com o
significado esperado.
Assim, tal situação, ainda está distante do que se almeja. Ainda no modelo vigente
de Wilson (1981, 1996, 1997), o autor tenta aperfeiçoar o primeiro modelo de
comportamento informacional, explicitando que toda situação problema deve ter o
espaço de tempo para a devida solução do referido problema. E ainda ressalta que não
significa que o usuário obtenha êxito; ou seja, ele poderá ter sucesso ou não na busca
efetivada, o que não invalida a busca como tal.
4 DESAFIOS À ATUAÇÃO PROFISSIONAL COM OLHAR NO USUÁRIO
Acreditamos que a relação entre docente e discente seja por demais confiável,
por isso urgência em chamar a atenção dos estudantes e despertar na sua
aprendizagem, mais crítica e reflexão e que por meio da disciplina de Estudos de
Usuários da Informação, os estudantes se sintam mais motivados para a
responsabilidade e o compromisso, juntamente com a vontade técnica e política.
Ultimamente, percebemos certo descaso ou talvez determinada displicência ou
falta de interesse e motivação, quanto ao papel que o bibliotecário possa e deva assumir
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no mercado de trabalho, no que respeita ao que é exigido dele; no mínimo, o domínio do
conhecimento da temática sobre os usuários, o que se percebe; a falha na cognição em
procurar ter uma visão hermenêutica, ao invés de uma visão excessivamente e apenas
técnica, sem olhar para o usuário.
Temos que mostrar aos nossos alunos o comportamento e visão ética para
atuação mais primorosa, na qual o docente sirva de bússola não só numa prática isolada,
mas na avaliação permanente. Supondo que as universidades não deixem os docentes
com inteira liberdade ou independência na formação do docente, Nóvoa (2002, p. 23)
afirma: [...] o aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria
pessoa, como agente; e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente.
Assim, a formação profissional se torna mais aprimorada, por meio de reflexões e
debates promovidos pelas pesquisas desenvolvidas mediante grupos e projetos.
Entre as atividades do docente, a elaboração do plano de ensino torna-se
condição inicial para estabelecer as propostas do ensino da disciplina. Evidentemente
sempre de conformidade com a instituição de ensino superior, pois "De fato, os planos
deveriam cumprir o papel de diretriz para o professor seguir e o aluno acompanhar,
como uma espécie de manual, que ajuda aos dois no planejamento e execução do ensino
e aprendizagem". (COSTA, 2016, p. 131).
Conforme o pensamento de Nascimento (2010), sinaliza alguns aspectos e que
foram resultantes de pesquisa feita sobre os planos de ensino da disciplina de Usuários
da Informação, no período de 2007 a 2009:
Ao buscar novas informações para se atualizar, o docente se coloca na posição
de usuário da informação; ao transmitir conhecimento em sua prática
pedagógica é, ao mesmo tempo, consumidor e divulgador da informação, ao
passo que enquanto pesquisa produz conhecimento, gera novas informações e
enriquece a bibliografia do plano de ensino com literatura pertinente e
atualizada (NASCIMENTO, 2010, p. 2).
Nessa perspectiva, observamos que o docente assume papel relevante na
organização de toda a trajetória da formação do educando.
Em se tratando da disciplina de Estudos de Usuários, devemos lembrar que as
abordagens tratadas na referida disciplina devem ser trabalhadas de conformidade com
o paradigma social definido por Capurro.
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O professor não deve esquecer que será sempre um orientador de leituras, e
motivador de descobertas de necessidades de informação, além de incentivar os temas
de pesquisa que sejam sempre do interesse dos alunos.
4 REFLEXÕES FINAIS
Em se tratando de uma temática ligada ao eixo de ensino e aprendizagem em
Estudos de Usuários da Informação, sinalizando para a disciplina referenciada, isto é, de
estudos de usuários, motivo da temática do evento, esperamos que os docentes dessa
área, com o encanto e domínio que devem ter, possam mostrar aos alunos dos cursos de
graduação e de pós-graduação toda a garra e entusiasmo em elevar o conhecimento, em
busca de novos saberes e novos olhares para o usuário da informação.
Temos que focar a crítica no ensino da disciplina sobre usuários, a partir do
comportamento docente, na sua prática pedagógica, o que devemos ter e ser, e o
comportamento que deveríamos ter em prol de um ensino que possibilite gerar a
aprendizagem construtiva para o exercício que é de suma importância: tornar nossos
alunos críticos e reflexivos, a ponto de estimulá-los cada vez mais no pensamento
altruísta acerca de usuários.
Desse modo, podermos fazer as devidas interlocuções almejadas, colocando o
docente numa posição de parceiro e, ao mesmo tempo, líder, com autoridade de domínio
e habilidade no ato de interagir com a turma, de ensinar e favorecer à elevada formação
profissional atuando na área da informação com zelo no principal personagem - o
usuário como protagonista social.
No ensino da disciplina de estudos de usuários, devem ser preservados os
aspectos da qualidade e da adequação teórica conceitual, de conteúdos e metodologias,
sendo respeitadas as diretrizes curriculares e a legislação vigente na instituição de
ensino superior.
O docente aqui entendido como aquele que, além de dominar conhecimento, seja
capaz de exercer uma prática social que possibilite ao alunato a pensar, a criar e a gostar
de servir a sociedade. Com efeito, este é o propósito que nos deve motivar.
REFERÊNCIAS
Costa | Ensino e aprendizagem em estudos de usuários
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017.
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Costa | Ensino e aprendizagem em estudos de usuários
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
Maria de Fátima Oliveira Costa
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
E-mail: fatima12oliveiracosta@gmail.com
Recebido em: 13/03/2017; Revisado em: 10/04/2017; Aceito em: 15/05/2017.
Como citar este artigo
COSTA, Maria de Fátima Oliveira. Ensino e aprendizagem em estudos de usuários: interlocuções nas
práticas docentes. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 72-84, out. 2017.
COMPORTAMENTO, LETRAMENTO INFORMACIONAL E PESQUISAS SOBRE O
CÉREBRO: APLICAÇÕES NA APRENDIZAGEM
BEHAVIOR, INFORMATION LITERACY AND RESEARCH ON THE BRAIN:
applications in learning
Kelley Cristine Gonçalves Dias Gasque
UNB
RESUMO
O presente artigo resulta de uma revisão de literatura, de caráter exploratório e seletivo, sobre os
processos cognitivos envolvidos na aprendizagem. Argumenta sobre a importância das pesquisas em
neurociência cognitiva e psicologia cognitiva para embasar e desenvolver estratégias de ensino-
aprendizagem, e por conseguinte, melhorar o letramento informacional. Para tanto, apresenta breve
descrição de alguns processos envolvidos na aquisição do conhecimento consciência, atenção e
memória e os princípios, derivados das pesquisas cerebrais, que podem ser aplicados no processo de
letramento informacional.
Palavras-chave: Aprendizagem. Letramento informacional. Comportamento informacional. Processos
cognitivos. Ciência Cognitiva.
ABSTRACT
The present article results from an exploratory and selective review of the literature on the cognitive
processes involved in learning. It argues about the importance of the research on cognitive neuroscience
and cognitive psychology to support and develop teaching-learning strategies, and, therefore, to
improve the information literacy. For this purpose, it presents a brief description of some processes
involved in the acquisition of knowledge awareness, attention and memory - and the principles related
to brain research that can be applied in the information literacy process.
Keywords: Learning. Informational literacy. Informational behavior. Cognitive processes. Cognitive
Neuroscience
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
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Gasque | Comportamento, letramento informacional
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ARTIGO
1 INTRODUÇÃO
Comportamento informacional humano, de acordo com Wilson (2000), abrange a
totalidade do comportamento em relação às fontes de informação e aos canais de
informação, que por sua vez, envolve a busca, a pesquisa e o uso da informação com o
objetivo de satisfazer uma necessidade de informação. Para Gasque (2012), as
atividades de busca e uso da informação são naturais ao seres humanos e buscam
subsidiar a tomada de decisão e resolução de problemas. Contudo, muitas vezes, as
pessoas não aprendem a realizar estes procedimentos de forma sistematizada, com
eficácia e eficiência. Para que isso ocorra, é necessário que se engajem em um processo
de aprendizagem, denominado letramento informacional.
O letramento informacional refere-se ao processo de aprendizagem
1
necessário
para desenvolver competências para lidar com a informação. Exige conhecimentos e
competências que abrangem a delimitação do problema ou tarefa de pesquisa,
planejamento para identificar as fontes e recursos de informações a serem usados,
acesso eficaz e eficiente da informação, bem como critérios de avaliação da informação.
Requer também a organização e aquisição do conhecimento por meio de técnicas como
leitura dinâmica, esquemas, resumos, mapas conceituais, dentre outros, além de
produção textual adequada para comunicar o conhecimento, por exemplo, artigos,
monografias, relatórios, resumos, patentes, considerando os aspectos legais, sociais e
econômicos (GASQUE, 2012).
Tais tarefas têm vários níveis de complexidade. Nesse sentido, os profissionais
que organizam a sequência didática necessária à aquisição dos conteúdos de letramento
informacional devem compreender as bases científicas sobre as quais a aprendizagem
ocorre para torná-la mais significativa para o aprendiz. Para tanto, são considerados
alguns estudos em neurociência cognitiva e psicologia cognitiva.
A neurociência surge, na década de 1960, como resultado da integração da
filosofia da mente, e das psicologias behaviorista e cognitiva. O novo tópico de estudos
foi denominado psicologia cognitiva moderna. Na década de 1970, a psicologia cognitiva
ciência da mente e a neurociência ciência do cérebro formam a neurociência
cognitiva. A nova disciplina desenvolve-se intensamente a partir da década de 80, por
1
Compreende-se a aprendizagem como processo físico, em que o novo conhecimento é representado por
novas conexões de células cerebrais (VAN DAM, 2013).
Gasque | Comportamento, letramento informacional
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meio das técnicas de imageamento cerebral, que permitem observar o cérebro humano
durante as atividades que envolvem funções mentais superiores. Ainda na mesma
década, a neurociência cognitiva incorpora a biologia molecular, resultando em uma
nova ciência da mente, que tenta compreender a consciência. Portanto, a neurociência
cognitiva resulta da combinação de métodos e técnicas da psicologia cognitiva com os da
neurociência (KANDEL, 2009).
A neurociência e a psicologia cognitiva buscam compreender a aprendizagem,
mas têm diferentes focos. A primeira utiliza evidências do cérebro e do comportamento
como experimentos comportamentais e aparelhos como os de ressonância magnética e
de tomografia, que permitem observar as alterações no cérebro durante o
funcionamento. Por sua vez, a psicologia cognitiva busca compreender a cognição
humana com base no comportamento humano a partir dos estudos dos processos de
atenção, percepção, memória, linguagem, resolução de problemas, raciocínio e
pensamento. Alguns autores argumentam que a psicologia cognitiva também inclui
estudos da atividade e estrutura cerebral. Os autores concluem que, em um nível
restrito, é possivel verificar a distinção entre essas duas áreas de estudos, mas em um
sentido mais amplo, a distinção não é claramente definida (EYSENCK; KEANE, 2017).
O presente artigo discute a importância das pesquisas em neurociência cognitiva
para embasar e desenvolver estratégias de ensino-aprendizagem e, consequentemente,
melhorar o letramento informacional. Apresentam-se os principais resultados de
pesquisas com potencial para influenciar as estratégias de ensino-aprendizagem, em
       -se alguns
princípios da neurociência cognitiva, com breve discussão, sobre as implicações na
aprendizagem. Cabe ressaltar que o estudo tem caráter exploratório e seletivo no que
concerne à revisão de literatura.
2 PROCESSOS CEREBRAIS
Nesse tópico, apresenta-se breve discussão sobre o funcionamento cerebral, a
partir de resultados de pesquisa que corroboram um novo paradigma da compreensão
da mente. De acordo com Cosenza e Guerra (2011), as novas descobertas científicas
podem fundamentar práticas pedagógicas.
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Kandel (2009) explica que, alguns anos atrás, a compreensão da mente era uma
tarefa complicada, em especial, devido à falta de ferramentas de pesquisas, que
pudessem verificar o funcionamento cerebral durante as atividades cognitivas. Contudo,
atualmente, há uma expansão expressiva de estudos científicos sobre a mente, o cérebro,
os processos de pensamento e de aprendizagem, bem como os processos neurais que
ocorrem no pensamento e na aprendizagem. Nesse sentido, emerge uma nova teoria que
conduz a abordagens diferentes das tradicionais no processo de aprendizagem. A
neurociência mostra como a aprendizagem modifica a estrutura física do cérebro, e
consequentemente, a organização funcional (BRANSFORD; BROWN; COCKING, 2007).
Kandel (2009) enfatiza a necessidade de compreensão da mente como um dos
principais desafios do século XXI, mais que isso, sugere que os conhecimentos básicos da
área devem ser compartilhados com o público em geral. Isso porque as pessoas
precisam tomar decisões que envolvem a compreensão biológica do cérebro, no que
concerne às variações no comportamento humano normal ou distúrbios mentais e
neurológicos mais sérios.
Em uma entrevista para a revista interface, de 2001, Rocha argumenta sobre a
necessidade de respeitar a funcionalidade cerebral do indivíduo para que ele possa
desenvolver melhor a capacidade cognitiva. Exemplifica que o conhecimento dos
circuitos neurais para a linguagem oral, visual e motora é usado para modelar processos
mais eficientes de alfabetização e, na matemática. Por sua vez, Carvalho (2010)
argumenta sobre a importância de revisar as estruturas curriculares dos cursos de
formação de professores, com objetivo de propiciar a interlocução entre neurociência,
ensino e aprendizagem.
           
com Kandel (2009), baseia-se em cinco princípios básicos, quais sejam:
1) A inseparabilidade da mente e do cérebro. O cérebro refere-se à estrutura
responsável pelo comportamento motor, que abrange atividades simples como
correr e comer, bem como atos complexos como pensar, falar, criar obras de
artes. A mente é um conjunto de operações desempenhadas pelo cérebro.
2) Circuitos neuronais especializados são responsáveis pelas funções mentais.
Estas operações mentais não ocorrem em um local específico no cérebro.
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3) Os circuitos neuronais são formados por células nervosas unidades
sinalizadoras elementares.
4) Os circuitos neuronais empregam moléculas específicas para gerar sinais no
interior das células nervosas e entre elas.
5) As moléculas sinalizadoras foram mantidas ao longo da evolução. Elas são
usadas para gerenciamento da vida diária e adaptação continua ao ambiente
em que se insere.
Esses princípios, argumenta Kandel (2009), mostram a evolução da mente
humana por meio de moléculas utilizadas pelos ancestrais humanos. Permitem
explicações sobre a percepção, aprendizagem, memória e sentimentos, bem como a
compreensão em relação à evolução biológica humana. A compreensão da mente passa
pelo reconhecimento que o comportamento, pensamentos e experiências humanas estão
[...] a uma rede vasta, úmida e eletroquímica chamada sistema
nervoso. 10).
Considerando a impossibilidade de tratar todos os processos relacionados à
aprendizagem, foram selecionados alguns com maior potencial para aplicações em sala
de aula, quais sejam, consciência, atenção e memória.
2.1. CONSCIÊNCIA
O cérebro é formado por neurônios e glias, células do sistema nervoso. Essas
células contém o genoma humano e intercambiam bilhões de moléculas. As células
enviam impulsos elétricos a outras células interligadas. Um neurônio, por exemplo,
estabelece cerca de mil conexões com os neurônios vizinhos. O comportamento humano,
as experiências e os pensamentos estão integrados em uma ampla rede eletroquímica
(EAGLEMAN, 2012)
Nos últimos anos, estudos sobre a consciência mostram que os neurônios operam
os próprios programas e a maior parte dessas operações não estão acessíveis ao
controle humano. Eagleman (2012) usa a metáfora do passageiro clandestino em um
transatlântico para explicar a consciência. O passageiro clandestino assume os créditos
pela viagem, sem se dar conta da engenharia sob os seus pés. O autor explica que isso é
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um recurso útil em muitos momentos, pois em algumas situações, o indivíduo precisa
agir rapidamente e as ações conscientes podem interferir negativamente no processo.
Para exemplificar, cita o caso de um motorista que um animal na pista e pisa no freio
na mesma hora. Se o motorista tivesse que pensar sobre o que fazer, poderia matar o
animal e/ou provocar um desastre automobilístico.
As consequências disso para a tomada de decisões são grandes e com vários
desdobramentos. Kahneman (2012) explica que a mente funciona com dois modos de
pensamentos, quais sejam sistemas 1 e 2. O primeiro sistema opera automaticamente
com pouco ou nenhum esforço e sem o controle consciente por parte da pessoa. Por sua
vez, o sistema 2 requer atenção, experiência e concentração para realizar atividades
mentais complexas. A interação entre os sistemas permite desenvolver competências e
habilidades complexas, mas por outro lado, pode ser uma fonte de erros sistemáticos. A
crença que o homem dotado de razão tem capacidade de se autocontrolar e escolher
opções mais vantajosas pode ser ilusória. O homem está exposto a influências, que
podem alterar a capacidade de julgar e agir com clareza.
Sobre isso, vale considerar a experiência consciente de ver a realidade, em que o
cérebro deve aprender a interpretar os dados captados pela visão. A visão não pode ser
compreendida como representação fiel do mundo observado, mas uma construção do
cérebro. A visão precisa da consciência, visto que postar os olhos em algo não é garantia
de que seja visto. Para ver é preciso estar atento a alguma coisa, pois a percepção resulta
dos estímulos sensoriais com as previsões internas. Dessa forma, a visão pode ser
[...] o cérebro faz pressupostos para poupar tempo e recursos e

Pesquisas mostram um abismo entre o que o cérebro sabe e o que a mente
consegue acessar. Por conta desse hiato, muitas ações ou decisões tomadas nem sempre
passam pelo julgamento da consciência. Um exemplo de decisão inconsciente ocorre
quando duas pessoas se apaixonam. Pessoas se apaixonam por parceiros que, de algum
modo, tem alguma familiaridade com elas mesmas. Isso pode ocorrer, por meio de
detalhes, como terem em comum a mesma letra do nome ou data de nascimento. Esse
fenômeno, denominado egotismo implícito, pode influenciar a escolha do local de
moradia e o que a pessoa faz e foi comprovado em inúmeras pesquisas (EAGLEMAN,
2012).
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Eagleman (2012) argumenta que a manipulação do cérebro pode ocorrer de
diversas formas, sem que se tenha consciência disso, por exemplo, por meio do efeito
priming. Este efeito pode ser compreendido pelo tempo de exposição de um indivíduo a
alguma coisa, que pode mudar o seu comportamento futuro. É o caso de um indivíduo
usar determinadas palavras após -las em uma lista. O efeito da ilusão de verdade
também é uma forma de manipulação. Pessoas tendem a acreditar que uma declaração é
verdadeira após tê-la ouvido, mesmo tendo jurado nunca -la ouvido. Esse efeito
destaca o risco para as pessoas expostas repetitivamente aos credos religiosos e
políticos.
Em síntese, compreender os dois sistemas de pensamento, propostos por
Kahneman (2012), em especial os riscos revelados pelo pensamento rápido podem
propiciar estratégias para proteção das falhas mentais. Vale destacar que os
conhecimentos sobre consciência não são absolutos. Izquierdo (2004) alerta que, em
termos rigorosos a
           
          

2.2. ATENÇÃO
A atenção é um processo conhecido por todas as pessoas. É quando se toma
posse, através da mente, de forma clara e vívida, de alguma coisa. O foco, a concentração
e a consciência fazem parte da atenção. A atenção implica retirar alguns estímulos do
foco, a fim de lidar eficazmente com os outros. Pode ser entendida como o antônimo de
confuso, atordoado, distraído, explica William James (1890), pai da psicologia moderna,
na obra The principles of psichology .
As pessoas com dificuldades em prestar atenção em algo ficam à deriva até que
sejam atraídas por algum estímulo (GOLEMAN, 2014). A atenção refere-se ao
processamento ativo de uma quantidade limitada de informação por meio dos sentidos,
uma vez que não é possível o homem prestar atenção a tudo ao mesmo tempo
(STERNBERG, 2000). Cosenza e Guerra (2011) explicam que a atenção pode ser
 42), em que se pode utilizar uma
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lanterna para iluminar os aspectos mais importantes e interessantes para o observador
da janela.
A atenção permite monitorar as interações homem e meio-ambiente; vincular as
memórias ao presente para dar continuidade às experiências; controlar e planejar as
ações. O estudo da atenção envolve questões sobre consciência, processos controlados e
automáticos, habituação, funções da atenção e teorias da atenção. A consciência refere-
se à capacidade de monitorar, avaliar e filtrar as informações do meio-ambiente através
da mente. O processamento controlado envolve o controle consciente e é realizado em
série, isto é, sequencialmente, uma etapa de cada vez. Em geral, são tarefas novas e
complexas que requerem mais atenção e tempo para execução. Por sua vez, o
processamento automático é mais rápido, não envolve o controle consciente e as
operações ocorrem simultaneamente. Dessa forma, gastam-se poucos recursos de
atenção. A automatização, em geral, ocorre com a prática da tarefa, em que cada etapa
torna-se mais eficiente (STERNBERG, 2000).
Um recurso que reduz a sobrecarga do sistema de atenção é a habituação,
capacidade do ser humano de se acostumar a um estímulo, gradualmente, prestando
menos atenção a ele, como explica Sternberg (2000). Esse processo permite que se
desvie a atenção de estímulos conhecidos para estímulos novos e variáveis. Ao contrário
disso, a desabituação diz respeito às mudanças nos estímulos familiares que conduzem
novamente a atenção. Um exemplo que explica bem o recurso de habituação é a
possibilidade de alguém prestar atenção a uma palestra ao habituar-se ao ruído do
ambiente como os zunidos da iluminação e sons das pessoas se acomodando às cadeiras.
Sternberg (2000) descreve as quatro funções principais da atenção, quais sejam,
(1) atenção seletiva: capacidade de centrar a atenção em determinado estímulo ao
ignorar outros estímulos ou diminuir a ênfase sobre eles; (2) vigilância: capacidade de
esperar atentamente para detectar o aparecimento de um estímulo específico; (3)
sondagem: capacidade de procurar estímulos específicos, e por último, (4) a atenção
dividida: capacidade de distribuir os recursos atencionais disponíveis para melhorar o
desempenho em mais de uma tarefa ao mesmo tempo.
A questão da atenção é abordada com muita frequência nas escolas. Estudantes
dispersos tem mau desempenho. Em geral, os professores ao identificarem a dificuldade
de concentração da criança, solicitam que os pais a levem para uma avaliação realizada
por uma equipe multidisciplinar. Se for o caso de déficit de atenção, o acompanhamento
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profissional aliado ao da escola e da família, pode ajudar os estudantes a superarem os
problemas. Contudo, muitas pessoas apresentam problemas de atenção decorrentes do
próprio ritmo da vida, ou ainda, da falta de autocontrole e da vontade de investir a
atenção em questões relevantes.
2.3. MEMÓRIA HUMANA
Memória humana pode ser compreendida como o armazenamento e a
recuperação de informações adquiridas por meio das experiências. Por sua vez, o
aprendizado refere-se à aquisição de memórias (IZQUIERDO, 1989). Os estudos sobre
memória abrangem questões como memória excepcional, tarefas para avaliar a
memória, modelos, diferenças estruturais, dentre outras. Os primeiros estudos sobre o
tópico se iniciaram por volta de 1885, com Ebbinghaus (STERNBERG, 2000).
Carey (2015) identifica a memória humana como uma das maravilhas do mundo.
Ele afirma que a memória é responsável pela história e identidade humana. Contudo,
para Mlodinow (2013), a memória humana é um sistema imperfeito, que consegue
atender bem as demandas evolucionárias. Nesse sentido mais amplo, a memória é
eficiente e precisa, pois o objetivo dela, nos primórdios, era o reconhecimento das
criaturas perigosas, das criaturas próprias para caça, bem como o conhecimento do
trajeto para retornar ao grupo. Na sociedade contemporânea, a mente humana tem sido
bombardeada por um número exponencial de informações e precisa filtrá-las para reter
as partes realmente importantes. O autor explica que a memória é baseada na
de algo visto e não do que realmente foi visto. Com o tempo,
muitas lembranças são reconstruídas pelo inconsciente.
A compreensão da cognição humana teve contribuição direta da neuropsicologia
cognitiva. Na década de 1960, acreditava-se que a memória de longo prazo dependia do
processamento prévio na memória de curto prazo. Contudo, as pesquisas de Shallice e
Warringon, na década de 1970, mostraram o caso de um homem com lesão cerebral,
com a memória de curto prazo gravemente prejudicada, mas memória de longo prazo
intacta (EYSENCK; KEANE, 2017).
Pinto (2001) explica que memória humana pode ser estudada sob duas
perspectivas, quais sejam, perspectiva estrutural e perspectiva processual
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     
    
          fim é usada ou
recordada. Conclui que a 
            
envolvidos.
Sternberg (2000) explica que os principais processos de memória abrangem as
operações de codificação, armazenamento e recuperação, que são interativas e
interdependentes. A codificação refere-se à transformação de um input sensorial físico
em uma representação que pode ser armazenada na memória. O armazenamento, por
sua vez, diz respeito à codificação e à manutenção da informação na memória. E, por fim,
a recuperação relaciona-se à transferência da memória (representação) para a
consciência, para ser usada no processamento cognitivo ativo.
vários tipos de memórias, mas evidentemente, as classificações não são
absolutas. Izquierdo (1989, p. 93) afirma que 
             
memória pode ser classificada, tradicionalmente, de acordo com o tempo transcorrido
entre a aquisição e a evocação, quais sejam, memória imediata (segundos, minutos),
memória recente (horas ou poucos dias) e memória remota (semanas, meses, anos).
Outros autores preferem classificar as memórias considerando o tipo de informação:
declarativa ("saber que"), procedural ("saber como"); episódica (memória de eventos ou
episódios).
A memória não pode ser compreendida sem considerar a interação entre fatores
cognitivos e as emoções. Izquierdo (2004) de     
              
revista neuroeducação, reforça a contribuição da emoção para a produção de memórias.
Após pesquisa de revisão, Pinto (1998) sintetiza os principais pressupostos entre
memória e emoção:
       sidade
das emoções influência nas memórias. Por exemplo, para certos graus de
intensidade emocional, pessoas apresentam boa mem  
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ARTIGO


           
es emocionais, porém a recordação não necessariamente é precisa.
(3) a


(4) as emoções melhoram o processamento e a aquisição da informação, além de
manter mais lento o ritmo de esquecimento;
(5
isenta de erros.
Os estudos sobre memória são extensos e complexos por envolverem muitos
fatores, por exemplo, cognitivos, emoções, ambiente, contexto, dentre outros. A
compreensão da memória fascina o homem, pois é o processo que propicia a identidade
humana, o armazenamento das vivências, a recordação de uma música ou de um cheiro
especial, a lembrança de um dia especial, a geração de conhecimento e a construção da
história da humanidade.
3 QUESTÕES DE APRENDIZAGEM
A aprendizagem pode ser compreendida, do ponto de vista neurológico, como
processo físico, em que o novo conhecimento é representado por novas conexões das
células cerebrais. Essas conexões podem ser potencializadas por meio de rotinas de
exercícios específicos, sono e silenciamento da mente, por exemplo. A natureza e a
nutrição afetam o cérebro, e consequentemente, a aprendizagem. As pessoas têm
diferentes predisposições genéticas, mas a experiência molda continuamente a estrutura
cerebral e modifica o comportamento (VAN DAM, 2013).
Os estudos sobre aprendizagem suscitam grandes debates nos dias atuais. De
acordo com Bransford, Brown e Cocking (2007), a contribuição da ciência torna-se cada
vez mais relevante para a aprendizagem. Para os autores, a compreensão de como
ocorre a aprendizagem nos seres humanos é essencial para se pensar nos
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funcionamentos dos sistemas educacionais. Contudo, Horvath e Donoghue (2016)
destacam que os educadores não precisam entender profundamente a estrutura e a
função do cérebro para realizar os trabalhos em sala de aula. Os autores recomendam
que os professores se concentrem apenas nas evidências que mais importam para a
prática de ensino. Isto é, quaisquer fatos que não levam em conta as propriedades
emergentes relevantes para a educação (por exemplo, fatos sobre a função cerebral,
codificação genética, scripts computacionais, etc.) não são relevantes para a prática
docente.
A Sociedade Real argumenta, na publicação de 2016, intitulada “Neuroscience:
implications for education and lifelong learning”, que a convergência entre a educação -
área de conhecimento que busca melhorar a aprendizagem - e a neurociência - área que
busca compreender os processos mentais envolvidos na aprendizagem, pode trazer
benefícios mútuos. grandes expectativas de que a prática em sala de aula seja
transformada pela ciência. As pesquisas na área mostram que muitos fatores
cognitivos que infuenciam a aprendizagem, além do ambiente.
Sobre isso é importante destacar que a aprendizagem requer uma visão
multifacetada. Bartoszeck (2006) reconhece a importância dos fatores biológicos na
aprendizagem, mas argumenta sobre a importância de não se negligenciar os demais
fatores que afetam esse processo. Isto é, a aprendizagem abrange, além dos aspectos
cognitivos, os fatores ambientais, por exemplo, 
professor, o 
dentre outros.
Para esta revisão de literatura, levantaram-se alguns princípios relacionados à
pesquisa sobre cérebro com maior probabilidade de implicações na aprendizagem. Para
tanto, foram selecionadas as contribuições da Sociedade Real (Reino Unido 2016), Van
Dam (2013), Cosenza e Guerra (2011), Rushton e Larkin (2001).
Quadro 1: Princípios relacionados à pesquisa sobre cérebro com possibilidades de aplicações na
aprendizagem
SOCIEDADE REAL
(2016)
VAN DAM (2013)
COSENZA E GUERRA
(2011)
RUSHTON E LARKIN
(2001)
1) A aprendizagem é
influenciada pelo
ambiente e, por fatores
biológicos, importantes
1) O aumento do
conhecimento pessoal é
fator-chave para a
inovação.
1) Plasticidade cerebral.
Há períodos em que em
que a aprendizagem de
determinadas
1) Há conexão entre
emoções e memória no
processo de
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ARTIGO
para identificação das
diferenças na
capacidade de
aprendizagem entre
indivíduos. Os estudos
dos fatores biológicos
ampliaram a
compreensão de
dificuldades específicas
de aprendizagem.
2) A aprendizagem
acarreta mudanças
constantes no cérebro.
Contudo, a
aprendizagem pode ser
revertida quando não se
pratica a habilidade.
3) A resiliência -
resposta adaptativa ao
estresse e à adversidade
- pode ser construída
pela educação, com
efeitos ao longo da vida.
4) A aquisição de
conhecimento e o
domínio do
autocontrole beneficiam
a aprendizagem futura.
5) O desenvolvimento e
uso de tecnologias
digitais adaptativas tem
potencial de criar mais
oportunidades de
aprendizagem dentro e
fora da sala de aula, e ao
longo da vida.
2) O engajamento ativo
é necessário à
aprendizagem.
3) A aprendizagem tem
base emocional.
4) A atenção é essencial
para aquisição de
conhecimentos.
5) O uso de técnicas de
aprendizagem
fortalecem a formação
de memórias.
6) Necessidade de rever
e usar o conhecimento
devido à reversibilidade.
7) Multitarefas deixam o
cérebro mais lento.
8) Possibilidade de
aumento da capacidade
cerebral para
aprendizagem.
habilidades é mais fácil.
2) A atenção é o
fenômeno pelo qual o
cérebro pode processar
as informações mais
importantes, ignorando
as desnecessárias.
3) A memória
compreende várias
subdivisões, processadas
por sistemas neurais
específicos. É necessário
manter as informações
na consciência por algum
tempo para criar
condições para o
armazenamento
permanente.
4) A emoção relaciona-se
à cognição e à
aprendizagem.
5) As funções executivas,
coordenadas pelo córtex
pré-frontal, permitem
executar as ações
necessárias para atingir
um objetivo.
6) O cérebro desenvolve
circuitos especializados
na capacidade de leitura.
7) O cérebro humano tem
programação inata para
lidar com os números.
Processa, muito
precocemente, o conceito
de quantidade.
8) A inteligência sofre
influências genéticas,
mas também de fatores
ambientais, pois o
ambiente pode controlar
a manifestação e o
impacto dos genes.
9) O cérebro que se
desenvolveu diferente
ou sofreu modificações
devido a condições de
gestação apresentará
comportamento
diferente.
aprendizagem.
2) O cérebro muda, do
ponto de vista
fisiológico, de acordo
com as experiências.
3) Cada cérebro é
único e se desenvolve
de acordo com o
próprio tempo.
4) A "plasticidade" do
cérebro permite que
quantidades maiores
de informação sejam
processadas e
absorvidas em
determinados períodos
críticos .
5) O cérebro é
projetado para
perceber e gerar
padrões.
6) O envolvimento da
criança, com uma
experiência de
aprendizagem, ativa
várias áreas do cérebro
simultaneamente.
7) Cada um dos
sentidos pode ser
independente ou
coletivamente afetado
por fatores ambientais
que, por sua vez,
afetará a capacidade do
cérebro para aprender.
8) Os mecanismos
mentais que processam
a música estão
entrelaçados com as
outras funções básicas
do cérebro, incluindo a
emoção, a percepção, a
memória e até mesmo
a linguagem.
9) Níveis elevados de
estresse ou uma
ameaça percebida
inibem a
aprendizagem.
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Fonte: Sociedade Real (Reino Unido 2016), Van Dam (2013), Cosenza e Guerra (2011), Rushton e Larkin
(2001).
A partir das descobertas relacionadas no quadro 1, foram selecionados os
princípios mais abordados pelos autores, com possibilidades de implicações na
aprendizagem, e consequentemente, no letramento informacional.
1. Princípio cerebral: conexão entre emoções, memória e aprendizagem
Damásio (1996) sugere que alguns aspectos da emoção e do sentimento estão
fortemente vinculados à racionalidade. Isto é, as emoções são importantes para que as
pessoas tenham comportamento mais adequado. Sobre isso, Cosenza e Guerra (2011)
explicam que as emoções e os sentimentos, a priori, não são bons ou ruins, mas a forma
de lidar com eles faz diferença para o indivíduo e as pessoas próximas.
Destaca-se que o controle dos sentimentos, de forma aceitável no contexto social,
deve estar presente no ambiente educativo. Isso inclui, por exemplo, o domínio do
autocontrole, em especial, a redução de níveis elevados de estresse, que inibem a
aprendizagem (CAINE; CAINE, 1997 apud Rushton, Larkin, 2001).
Izquierdo (1989) mostra como as emoções e as memórias estão fortemente
conectadas. Exemplifica, que na fase de consolidação das memórias, aquelas adquiridas
   [...] em estado de alerta e com certa carga
emocional ou afetiva são melhor lembradas que as memórias de fatos inexpressivos ou
 97).
Como se observa, lidar com os sentimentos e as emoções deve ser conteúdo de
aprendizagem, inclusive no processo de letramento informacional. Kuhlthau (1991)
apresenta um modelo de busca de informação que mostra que as emoções estão
presentes no comportamento informacional. A autora identificou os sentimentos que
permeiam o Processo de Busca de Informação (ISP) nas seis fases do modelo: (1) início
das tarefas: incerteza; (2) seleção do problema: otimismo e prontidão para iniciar a
pesquisa; (3) exploração: confusão e frustração; (4) formulação: clareza; (5) coleta de
dados: senso de direção e confiança; (6) apresentação: satisfação ou
desapontamento, de acordo com os resultados.
Por sua vez, Wilson (1999), no modelo geral de busca de informações, argumenta
que as necessidades afetivas também podem impulsionar a busca de informações, além
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de atuar como barreiras nesse processo. Os modelos de Kuhlthau (1991) e Wilson
(1999) foram pioneiros em abordar a questão emocional no comportamento
informacional.
Nesse contexto, pode-se afirmar que não há receitas únicas a serem seguidas para
melhorar a memória e a aprendizagem, mas o ambiente de aprendizagem deve ser
estimulante e ao mesmo tempo relaxante para minimizar a ansiedade. O uso de humor,
momentos de descontração e trabalho colaborativo podem ajudar a tornar o ambiente
mais propício à aprendizagem (COSENZA; GUERRA, 2011).
2. Princípio cerebral: alterações no cérebro ocorrem, de acordo, com as
experiências. Ambiente enriquecido aumenta o peso e as ramificações dos
dendritos
Kandel (2009) a partir dos experimentos com a Aplysia caramujo marinho
observou que o número de sinapses cerebrais não é fixo e que há alteração com a
aprendizagem. Isto é, as experiências vividas causam mudanças na estrutura cerebral.
Nesse caso, a intensidade e complexidade de uso também afetam as mudanças cerebrais.
Dewey (c1938), na obra Experiência e Educação, argumenta sobre a necessidade
de a educação envolver experiências reais significativas. De acordo com o autor, a
   
as capacidades dos indíviduos, o que a torna sem sentido. A aprendizagem deve se
nortear em favorecer experiências que requerem a busca ativa por informações e novas
ideias para solucionar problemas do cotidiano. Ou seja, a aprendizagem dos conceitos
científicos precisa ter vínculo com as aplicações sociais cotidianas. Assim, o método
científico deveria ser o método habitual para a aprendizagem. O método científico,
também denominado projetos, torna-se uma ferramenta para reflexão, o que possibilita
uma vida mais plena.
Os projetos e métodos voltados para resolução de problemas propiciam
aprendizagem do letramento informacional de maneira mais significativa e
contextualizada. Em especial, pelo fato de propiciar autonomia, engajamento e
participação ativa que estimulam as várias regiões cerebrais. Os projetos devem emergir
das necessidades e interesses dos estudantes a partir de questões relacionadas ao
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contexto vivido. O aprendizado deve ser apresentado em um contexto de vida real, a
partir do conhecimento prévio e, em seguida, generalizado em conceitos mais amplos.
Gasque (2016), em artigo recente sobre aplicação de projetos no ensino de
letramento informacional, argumenta sobre a importância dos enfoques globalizadores
curriculares, em especial, sobre a elaboração curricular por meio do processo de
pesquisa método de projetos no contexto do letramento informacional. Conclui que o
ensino do letramento informacional por projetos favorece a aprendizagem significativa,
a reflexão, o protagonismo do estudante e o aprender a aprender.
Nesse sentido, a infraestrutura de informação torna-se primordial para que os
projetos sejam desenvolvidos. Compreende-se como infraestrutura de informação as
redes de acesso à internet, computadores, tablets e celulares, recursos audivisuais e uma
biblioteca atuante como centros de recursos de aprendizagem, que reúna, organize e
oriente os aprendizes na busca e no uso da informação (GASQUE, 2013).
Considerando as questões apresentadas, o Conselho Nacional de Pesquisa dos
Estados Unidos sugere enfatizar a profundidade dos conteúdos mais do que a amplitude,
sem esquecer a importância da informação factual na aprendizagem. Além disso, é
preciso considerar as experiências dos aprendizes, bem como os preconceitos em
relação ao objeto de estudo. Outro fator importante para uma experiência mais
significativa na aprendizagem é possibilitar a avaliação formativa, que deve ocorrer ao
longo do processo de aprendizagem. Por meio de feedbacks constantes sobre a
aprendizagem, os aprendizes podem realizar a auto-avaliação e melhorar o desempenho
(BRASFORD; BROWN; COCKING, 2007).
3. Princípio cerebral: a memória compreende várias subdivisões, processadas por
sistemas neurais específicos. É necessário manter as informações na
consciência por algum tempo para criar condições para o armazenamento
permanente
Algumas décadas atrás, no ambiente educacional, o verbo memorizar tornou-se

assunto. Contudo, um dos marcos da nova ciência da aprendizagem é a ênfase na
memorização compreensiva. Não basta somente recordar os fatos, mas entendê-los. Isso
significa que ter conhecimento sobre fatos desconexos não basta para se aprender bem.
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É necessário que o aprendiz compreenda profundamente o assunto para transformar o
conhecimento factual em conhecimento utilizável (BRASFORD; BROWN; COCKING,
2007).
Nesse contexto, o aprendiz precisa compreender a necessidade de controlar a
quantidade e qualidade de informação, visto que a capacidade de apreensão dos
conteúdos é limitada. As estratégias de aprendizagem devem estar em consonância com
a forma como o cérebro aprende, respeitando os processos de repetição, elaboração e
consolidação. Além disso, cabe mencionar que o sono e a higiene mental são
fundamentais para o bom funcionamento da memória (COSENZA; GUERRA, 2011).
A memória é responsável pela identidade humana, produção de conhecimento e
cultura humana. Constitui-se parte essencial da aprendizagem. Para tanto, é necessário
armazenar as informações para posterior recuperação. Sternberg (2000) ressalta que a
transferência da memória de curto prazo para a de longo prazo depende do tipo de
memória. Algumas formas de memória não declarativa são temporárias e deterioram-se
rapidamente. A memória procedural, por sua vez, depende da prática repetida ou
condicionamento. A transferência da memória declarativa envolve vários processos, por
exemplo, compreender a informação por meio de associações ou conexões da nova
informação com a aquilo que se sabe. O uso de processos de metamemória reflexão
sobre o próprio processo de memória - pode melhorar a memorização. Além disso,
outras estratégias que podem auxiliar no processo são as mnemônicas (agrupar por
categorias, associação de palavras, etc), técnicas de repetição, de organização da
informação (forma de categorizar as informações). A recordação é mais rápida, quando a
memorização foi adquirida por meio de prática distribuída ao longo de várias sessões.
Isto é, a prática distribuída consiste na distribuição das sessões de estudo em períodos
menores ao longo do dia. Por exemplo, estudar 2 horas de manhã, 2 horas de tarde e 2
horas de noite, em vez de estudar toda matéria durante 6 horas seguidas.
Outro ponto importante diz respeito aos efeitos do conhecimento prévio na
codificação e recuperação da informação. De acordo com Sternberg (2000), Bartlett em
1932, por meio de experimento, pediu para algumas pessoas lerem um conto, escrito em
inglês britânico, sobre uma lenda indígena norte-americana desconhecida para elas. Ele
observou que as pessoas distorciam a lembrança para torná-la mais compreensível para
elas próprias. Atualmente, sabe-se que o conhecimento prévio influência a memória por
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meio de interferência ou distorção, ou ainda, por meio da intensificação da memória.
Os contextos internos e externos também afetam a memória. No primeiro caso,
abordam-se questões como intensidade emocional, estado de humor e de consciência
presentes na codificação da informação. No segundo caso, abordam-se indícios no
contexto ambiental (STERNBERG, 2000).
A maioria dos conteúdos de aprendizagem de letramento informacional tem
caráter predominantemente procedimental
2
. Zabala (2007) recomenda que esse tipo de
conteúdo deve ser aprendidos por meio de realizações das ações; repetição das ações
em quantidade suficiente para aprender; reflexão sobre a própria aprendizagem;
aplicação em contextos variados. Do ponto de vista do ensino, os referidos conteúdos
devem ser ensinados a partir de situações significativas; realização das atividades em
sequência clara; apresentação de modelos; prática orientada e ajuda até que o aprendiz
tenha autonomia.
4. Princípio cerebral: plasticidade cerebral
Plasticidade cerebral refere-se à capacidade de mudança de desempenho
cerebral pelas experiências. A memória, a força e a persistência, por exemplo, podem ser
aperfeiçoadas por meio de treinamento e prática durante a vida humana. Contudo,
apesar de a plasticidade cerebral ser uma característica do cérebro humano, as
mudanças não são ilimitadas (PAPAGLIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
O cérebro humano, apesar de ser diferente para cada indivíduo, obedece a um
plano comum de organização. As conexões no cérebro do bebê humano desenvolvem-se
a partir das interações com o meio ambiente. Nesse sentido, a falta de estímulos pode
prejudicar o desenvolvimento normal da crianças. Em determinadas fases de
desenvolvimento humano, a aprendizagem de algumas habilidades torna-se mais fácil.
A plasticidade é maior nos anos iniciais, ainda que, perdure ao longo da vida humana
(COSENZA; GUERRA, 2011).
Sterberng (2000) explica que, ao longo da vida humana, considerável
plasticidade cerebral alterações na capacidade cerebral e que cada indivíduo pode,
continuamente, melhorar o nível de desempenho. Ele explica que alguns teóricos do
2
Conteúdos procedimentais referem-se ao “saber fazer”, ou seja, um conjunto de ações ordenadas e direcionadas
para determinado fim (ZABALA, 2007).
Gasque | Comportamento, letramento informacional
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quinto estágio piagetiano indicam que os adultos mais velhos apresentam um tipo de
pensamento qualitativamente diferente dos jovens e dos adultos jovens. Ainda que os
adultos mais velhos não mostrem tanta rapidez no processamento de informação
quanto os mais jovens, apresentam uma habilidade frequentemente denominada
          
fundamentadas nas experiências passadas dos adultos mais velhos, antes de fazerem
julgamentos.
Miranda Neto,  (2002) argumentam que as novas pesquisas
sobre o cérebro mostram que não se considera mais verdadeiro o determinismo
genético. As crianças nascem com milhares de neurônios que podem ser perdidos se a
estimulação não for adequada. Pessoas que estão, constantemente, empenhadas em
aprender atividades novas, evitam a perda de muitos neurônios, além de propiciarem a
criação de novas sinapses e circuitos neuronais para as novas aprendizagens. Dessa
forma, os autores argumentam que muitas pessoas poderiam desenvolver melhor a
parte cognitiva se tivessem mais estimulação adequada. A estimulação deve ocorrer ao
longo da vida, pois caso contrário, pode-se perder circuitos neuronais que não são
usados.
Nesse sentido, o processo de letramento informacional deve-se iniciar na
educação infantil e continuar ao longo da vida acadêmica e pessoal. Além disso,
recomenda-se o uso de materiais diversificados para aprendizagem (áudio, vídeo,
material impresso, etc), atividades diferenciadas como produção de objetos de
aprendizagem, participação em excursões, jogos, entrevistas, dentre outros. Além disso,
a flexibilidade e o trabalho em equipe podem estimular ainda mais a aprendizagem. O
importante é que os aprendizes tenham estimulação adequada para melhorar a
capacidade de aprendizagem e, também, aprenderem a lidar com as dificuldades e
superá-las.
5. Princípio cerebral: a atenção é o fenômeno pelo qual o cérebro pode processar
as informações mais importantes, ignorando as desnecessárias.
A capacidade de selecionar os estímulos atenção seletiva e se manter
concentrado neles para que ocorra a aquisição do conhecimento torna-se fundamental
na sociedade contemporânea. O pensar profundo requer concentração, pois a
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interrupção constante do foco leva ao mau desempenho na aprendizagem (GOLEMAN,
2014).
A capacidade de manter a atenção, de reduzir a intrusão de pensamentos, bem
como redirecionar a atenção para questões importante relaciona-se à maturação
neurológica. A melhora da memória na terceira infância, por exemplo, vinculam-se à
maturação neurológica. A capacidade de focar a atenção é um dos motivos, pelos quais
crianças com mais idade cometem menos erros de recordação do que as mais jovens
(PAPAGLIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Goleman (2014) argumenta que o funcionamento da atenção é similar ao do
músculo: a utilização frequente não o deixa atrofiar. A atenção é um processo que pode
ser melhorado por meio de exercícios e treinamentos. Para o autor, o reconhecimento da
dificuldade em prestar atenção é o primeiro passo para a concentração.
Cozensa e Guerra (2011) destacam que no processo de aprendizagem, os
estímulos ou informações que fazem sentido para o indivíduo, que são familiares,
estimulantes e agradáveis têm maior possibilidade de se tornarem alvo de atenção. Os
autores ressaltam que o ambiente deve minimizar os elementos distratores.
A atenção, em grande parte seletiva, deve permear todo o processo de letramento
informacional, por envolver tarefas complexas que exigem seleção de informação,
leitura e análise de textos, dentre outros procedimentos. Ao se considerar a internet um
recurso quase ilimitado de informações, uma das questões mais preocupantes diz
respeito à busca e ao uso de informações na internet. A quantidade de distratores é
enorme e atrapalha a concentração dos usuários. Gasque (2016)   

que a
-se fundamental para que a busca e o 
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Os mecanismos de atenção podem ser influenciados por vários aspectos. Lima
(2005), ao revisar pesquisas de vários autores da área, afirma que alguns dos fatores
que mais influenciam a atenção são o contexto, no qual o indivíduo está inserido; as
características dos estímulos; expectativas; motivação; relevância da tarefa
desempenhada; estado emocional e experiências anteriores. Prestar atenção e evitar
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distrações, de acordo com William James (1890), dependem do juízo, do caráter e da
vontade de cada pessoa.
A atenção pode ser influenciada pelo humor e, também, pode influenciar o humor
do indivíduo. Sobre isso, Goleman (2014) afirma que uma mente à deriva piora o humor.
Pesquisas mostram que mesmo os pensamentos neutros tinham sido afetados por um
tom negativo. A divagação da mente parecia ser o motivo da infelicidade, pois a
tendência da mente era divagar em torno de ruminações e preocupações. O autor
finaliza afirmando que o que mais distrai uma pessoa é a conversa da própria mente e
não a das pessoas ao lado.
Portanto, a atenção no processo de busca e uso da informação é um fator
importante para o processo e o resultado do processo. Muitas pesquisas ocorrem on-
line, situações em que os aprendizes deparam-se com vários outros estímulos ao longo
do processo. Além disso, como as atividades de letramento informacional são complexas
requerem muito domínio e, quase sempre, atenção seletiva. Lidar com estas questões
requer exercícios, mas também a conscientização sobre a importância de centrar a
atenção nas tarefas.
4 CONCLUSÕES
Não aprendizagem sem memorização compreensiva dos conteúdos a serem
aprendidos. Ao se pensar no ensino-aprendizagem do letramento informacional deve-se
levar em conta a conexão entre emoções, memória e aprendizagem. As emoções podem
ajudar a consolidar melhor as memórias. Além disso, que se considerar o
autocontrole das emoções como condição importante para o aprender ao longo da vida.
As alterações cerebrais, decorrentes da aprendizagem, mostram que as
experiências deixam uma marca física no cérebro. A intensidade e vívidez da experiência
afetam a estrutura cerebral e a aquisição do conhecimento. Por outro lado, a falta de
prática pode levar à reversibilidade do conhecimento. Nesse sentido, o conhecimento
deve ser sempre revisitado e praticado.
Ao abordar as experiências de aprendizagem, o foco deve ser a escolha das
experiências mais adequadas. Elas devem propiciar atitude proativa e cooperativa dos
aprendizes, espírito crítico e estimular a curiosidade e a responsabilidade. A literatura
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mostra que os métodos de projetos podem se constituir em uma ferramenta muito útil
para esse propósito.
A plasticidade cerebral tem capacidade de melhorar, continuamente, o
desempenho do aprendiz, que precisa estar envolvido em novas atividades de
aprendizagem. A vontade de aprender do aprendiz deve passar pelo controle dos
estímulos irrelevantes. A atenção seletiva é o processo que possibilita centrar-se naquilo
que é importante para aprender e ignorar os elementos distratores. O pensar profundo
requer concentração, que pode ser melhorada por meio de treinamentos e exercícios.
Além disso, reconhecer a distração pode ajudar na concentração.
As discussões apresentadas na revisão de literatura mostram a importância da
compreensão dos educadores e bibliotecários sobre os processos cerebrais que afetam a
aprendizagem. Nesse caso, isso não significa uma compreensão aprofundada no mesmo
nível que um pesquisador da área de neurociência cognitiva deve ter, por exemplo, mas
o entendimento geral sobre os fatos e processos cognitivos que podem afetar o
letramento informacional.
Exige-se, na sociedade contemporânea, a contribuição dos bibliotecários no
ensino-aprendizagem do letramento informacional. Esses profissionais devem colaborar
para a organização cognitiva do aprendiz e dos comportamentos que ele apresentará no
decorrer da vida ao buscar e usar a informação. Para tanto, planejar as aulas, elaborar a
sequência didática, identificar as estratégias de ensino, em consonância com os
conhecimentos sobre como as pessoas aprendem, por exemplo, não parece ser mais uma
escolha do bibliotecário.
Disso, depreende-se a ideia de que cursos de formações de bibliotecários, formais
e informais, devem começar a pensar na inclusão desses conteúdos de aprendizagem. Ao
mesmo tempo, reconhece-se que os referidos estudos e a transposição para o campo
educacional ainda requerem mais investigação. Por isso, ao final dessa revisão de
literatura, percebeu-se o quanto ainda é necessário explorar, investigar e discutir sobre
essas questões e as aplicações na aprendizagem e no letramento informacional.
Por fim, retomando a questão do comportamento informacional, ressalta-se que
as pessoas podem ter uma vida melhor e mais plena, se souberem lidar efetivamente
com a informação. O letramento informacional é o processo que possibilita a melhoria
do comportamento informacional por meio do desenvolvimento das competências
informacionais. O ensino-aprendizagem de letramento informacional pode ser mais
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significativo para os aprendizes ao se considerar os conhecimentos propiciados pelas
pesquisas cerebrais, que podem ser aplicadas na aprendizagem.
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ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
Kelley Cristine Goncalves Dias Gasque
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UNB)
E-mail: kelleycristinegasque@hotmail.com
Recebido em: 10/03/2017; Revisado em: 07/04/2017; Aceito em: 12/05/2017.
Como citar este artigo
GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Comportamento, letramento Informacional e pesquisas sobre o
cérebro: aplicações na aprendizagem. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 85-110,
out. 2017.
PRÁTICAS INFORMACIONAIS:
desafios teóricos e empíricos de pesquisa
INFORMATION PRACTICES:
theoretical and empirical research challenges
Adriana Bogliolo Sirihal Duarte
UFMG
Carlos Alberto Ávila Araújo
UFMG
Claudio Paixão Anastácio de Paula
UFMG
RESUMO
Neste texto busca-se apresentar a proposta de um grupo de pesquisa brasileiro voltado para o
estudo das práticas informacionais. Para tanto, descreve-se o campo de estudos de usuários e a
recente abordagem social, dentro da qual se desenvolve o conceito de práticas informacionais. Na
sequência, são apresentados três estudos empíricos conduzidos nessa linha e, em seguida, um
histórico das diversas pesquisas conduzidas pelo grupo. Ao final, avalia-se o estado atual da
proposta, sua contribuição para o campo e possíveis desdobramentos futuros.
Palavras-chave: Práticas informacionais. Estudos de usuários. Métodos e técnicas de pesquisa.
ABSTRACT
This paper seeks to present the proposal of a Brazilian research group focused on the study of
information practices. For this, the field of user studies and the recent social approach are
presented, within which the concept of informational practices is developed. Following are three
empirical studies conducted in this line and, then, a history of the various research conducted by
the group. At the end, the current state of the proposal, its contribution to the field and possible
future developments are evaluated.
Keywords: Information practices. User studies. Research methods and techniques.
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1 INTRODUÇÃO
A abordagem social dos estudos de usuários vem sendo citada por vários autores
como emergente neste campo de pesquisa, embora muitos deles ressaltem ser esta ainda
uma abordagem incipiente, com poucos exemplos práticos de pesquisa realizados, bem como
sem um corpo sólido de modelos ou teorias que a sustente (GASQUE; COSTA, 2010; PINTO;
ARAÚJO, 2012; CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015). O objetivo do presente artigo é apresentar
um conjunto de investigações que vêm sendo desenvolvidas por um grupo de pesquisa
cadastrado na base de dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), que optou por conduzir suas investigações a partir desta abordagem, e
que vem tanto validando modelos desenvolvidos por pesquisadores estrangeiros quanto
desenvolvendo teorias e modelos próprios a partir do embasamento teórico nas ciências
sociais e humanas correlatas.
O artigo se estrutura da seguinte maneira: em um primeiro momento apresenta-se a
noção de abordagem social de estudos de usuários utilizada nas investigações do grupo e a
opção por denominá-los estudos de práticas informacionais. Em seguida, são apresentados
três estudos ressaltando-se metodologias de coleta e análise de dados, modelos e teorias
utilizados. Num terceiro momento, apresenta-se a historiografia das pesquisas orientadas por
membros do grupo na última década. Nas considerações finais uma reflexão acerca dos
resultados que vêm sendo obtidos e de sua relação com a proposta do grupo de pesquisa,
bem como se apontam novos caminhos de pesquisa e projetos futuros.
2 PRÁTICAS INFORMACIONAIS: a abordagem social dos estudos de usuários
Wilson (1994) ressalta que o termo estudos de usuários engloba uma ampla gama de
áreas de pesquisa em ciência da informação, além de incluir outras áreas como ciência da
computação, comunicação, entre outras. Mas dentro da própria ciência da informação, os
termos para designar tais estudos variam ao longo do tempo: estudos de usuários, estudos de
necessidades de informação, estudos de comportamento informacional, estudos de práticas
informacionais. A variação terminológica reflete o desenvolvimento do campo ao longo dos
anos de diversas maneiras:
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De acordo com os métodos de investigação métodos quantitativos (técnicas
baseadas em questionários possivelmente autopreenchidos), métodos qualitativos
(com diferentes técnicas de coleta de dados como, por exemplo, entrevistas,
debates em grupos focais etc.), métodos combinados;
De acordo com o papel social das pessoas investigadas pesquisadores,
professores, assistentes sociais, estudantes, e assim por diante;
Segundo a disciplina ciência e tecnologia, ciências sociais, humanidades, etc., ou
mesmo o cotidiano; ou
De acordo com o quadro teórico Wilson (1994) apresenta as seguintes
abordagens: a abordagem cognitiva, a abordagem comportamental, a abordagem
fenomenológica. Araújo (2013) propõe um quadro teórico em que as
abordagens para tais estudos se subdividem em abordagem tradicional ou
positivista, abordagem crítica, abordagem cognitiva e abordagem sociocultural.
Interessa-nos a abordagem mais contemporânea, aquela que busca conjugar uma
perspectiva microscópica de análise, vinda da Fenomenologia, com uma aproximação
compreensiva, em busca dos significados, que ganhou corpo com a Hermenêutica ARAÚJO,
2013, p. 7-, dando ênfase ao caráter coletivo, intersubjetivo, das ações promovidas pelos
sujeitos informacionais, e [ao] enraizamento destas ações em contextos sociohistóricos
específicos. ARAÚJO, , p. .
Um marco importante para a visibilidade do surgimento dessa abordagem no cenário
internacional é a realização do primeiro encontro internacional de investigadores da área,
realizado na cidade de Tampere, na Finlândia, em 1996. À época, o evento foi denominado
Information Seeking in Context, e a importância do contexto nos processos de busca da
informação foi ressaltada não somente no nome do evento, mas nas inúmeras apresentações
e debates que ali ocorreram.
Enfocar o contexto significa que a análise muda do cognitivo
para o social e que, portanto, passa-se a considerar tanto as formas como o contexto interfere
nas ações do indivíduo quanto como as ações do indivíduo são passíveis de alterar o contexto,
num ciclo constante. Uma consequência disto é a adoção da terminologia práticas
informacionais para denominar os estudos conduzidos a fim de investigar como se o os
inter-relacionamentos entre o sujeito e a informação. Savolainen (2007) apresenta uma
revisão histórica que justifica a adoção do termo. Segundo o autor, uma escolha terminológica
e movimento discursivo significativos ocorrem a partir da divulgação da pesquisa de Pamela
McKenzie , que defende que a terminologia práticas informacionais é mais adequada
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que busca de informação ou comportamento informacional, uma vez que abrange toda a
gama de atividades presentes nas diferentes situações e contextos apresentados. No entanto,
McKenzie o é a única a propor a adoção do termo. O conceito de práticas informacionais
também é elaborado por Talja e Hansen (2005). Eles enfatizam que as práticas
informacionais estão firmemente inseridas no trabalho e em outras práticas sociais e que elas
se baseiam na prática social de uma comunidade de praticantes, em uma infra-estrutura
sociotécnica e em uma linguagem comum.
Talja e Hansen assumem que
[...] a busca e recuperação de informações são dimensões das práticas sociais e que
são instâncias e dimensões de nossa participação no mundo social em diversos papéis
e em diversas comunidades de partilha. Receber, interpretar e indexar informações ...
fazem parte da rotina de realização das tarefas de trabalho e da vida cotidiana
(TALJA; HANSEN, 2005, p. 125, tradução nossa).
Araújo (2013
, p. 16-17) enfatiza:
O conceito de prática, tomado da Etnometodologia, se deu com o objetivo de ver em
que medida os fatos sociais são constantemente produzidos pelos indivíduos. Não
existe, nesta perspectiva, um mundo de regras, normas e estruturas exterior e
independente das interações. Tem-se aqui a ideia de processo: o ato dos sujeitos de
continuamente atualizarem as regras e modelos por meio de suas ações.
Portanto, a adoção da terminologia práticas informacionais e da postura sociocultural
para empreender estudos daquele que passamos a denominar não mais usuário da
informação e sim sujeito informacional (ressaltando desse modo seu caráter de ator) é
consistente com o momento histórico da valorização do contexto nas investigações,
considerando as relações dialógicas entre sujeito e contexto.
O contexto é considerado como
um elemento constitutivo das ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, por elas constituído a
partir de uma relação dialógica. O individual e o social também são considerados como
interdependentes ROCHA; SIRIHAL DUARTE; PAULA, , p. .
3 ESTUDOS DE PRÁTICAS INFORMACIONAIS: empiria
As pesquisas a seguir apresentadas foram conduzidas por mestrandos ou doutorandos
orientados por membros do grupo de pesquisas citado na introdução deste trabalho. O
propósito de apresentá-las com maior detalhe é, a partir delas, demonstrar empiricamente o
olhar proposto pelo grupo para os questionamentos conduzidos, bem como os desafios
teóricos e metodológicos que vêm sendo empreendidos e as soluções que vem sendo
adotadas na sua condução. Das várias pesquisas conduzidas na última década, foram
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selecionadas três, utilizando como critério o fato de cada uma ser orientada por um diferente
docente. Os aportes teóricos e objetos de pesquisa são distintos entre as três. O último item
desta seção apresentará a historiografia das pesquisas conduzidas ou orientadas pelos
integrantes do grupo na última década propiciando, desta maneira, uma ideia global do
volume e da abrangência das investigações.
3.1 PRÁTICAS INFORMACIONAIS: estudos com foco nas interações
A pesquisa de Silva (2008) sobre as práticas informacionais das profissionais do sexo
da Zona Boêmia de Belo Horizonte partiu da ideia de que todos os fenômenos humanos e
sociais são conhecidos, interpretados, pelos sujeitos que os experenciam, pelo senso
comum, e naturalizados pela força do hábito. Um dos maiores desafios do pesquisador da
área de ciências humanas é, justamente, libertar-se das categorias de pensamento já
instituídas no momento de analisar algo. Assim, tratou-se de uma pesquisa que, a partir de
observação do ambiente e da realização de 13 entrevistas com prostitutas, buscou analisar as
fontes de informação utilizadas por elas, os critérios para suas escolhas e os diferentes usos
efetivados. Para a realização da pesquisa, além do referencial teórico calcado nas ideias de
McGarry sobre o contexto dinâmico da informação, foram utilizados conceitos da
Antropologia da Informação, do Interacionismo Simbólico e da Etnometodologia, além de
extensa revisão de literatura sobre a temática da prostituição e os diversos aspectos (morais,
políticos e de saúde, entre outros) a ela relacionados.
A primeira questão relativa a essa pesquisa é a da própria legitimidade da escolha do
objeto empírico. O estigma que cerca as praticantes desta atividade a prostituição muitas
vezes prolonga-se do ambiente social para o ambiente científico, deslegitimando a validade
de estudos que as tenham como objeto empírico como relatado por Araújo (2008). Pois a
escolha deste objeto de estudo teve exatamente a intenção provocadora de questionar o
campo da CI, tradicionalmente voltado apenas para contextos institucionalizados de
produção e uso da informação (o ambiente de ciência e tecnologia ou o ambiente
empresarial). É importante destacar esse fato, pois, como mostra um importante estudo de
Becker (1977) sobre o desvio social (sobre os estigmatizados socialmente), o desvio não é
uma qualidade do ato cometido por uma pessoa, mas é criado socialmente, é uma
consequência da aplicação, pelos outros, de determinadas normas a um sujeito tido como
transgressor. Ao buscar estudar as prostitutas, não a atividade de rotulação por parte da
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sociedade é identificada, mas também essa mesma atividade por parte do meio científico que
se julga desinteressado, neutro e acima das questões de julgamento moral.
O trabalho de Silva voltava-se, no início, apenas para o estudo da informação em
saúde, especificamente a questão da disseminação de informações sobre as doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs), e sua importância na prática dessas profissionais. O
trabalho de campo, contudo, foi revelador em termos de subverter as expectativas iniciais da
pesquisa e da ordem de importância dos diferentes tipos de informação com as quais as
profissionais do sexo se relacionavam. Foram estabelecidos, após o trabalho de campo,
quatro eixos de análise: informação sobre questões trabalhistas, sobre legislação penal, sobre
saúde e sobre o cotidiano.
Em relação à informação sobre trabalho, percebeu-se um grande desinteresse das
profissionais entrevistadas, ou seja, não por parte delas uma necessidade de informações
sobre esse assunto. Tal resultado contradiz tanto os discursos oficiais do poder público
quanto aquele das associações profissionais das prostitutas. No âmbito desses dois discursos,
é frequente a defesa da legalização da profissão, pois isso significaria uma série de vantagens:
possibilidade de férias, décimo-terceiro salário, fundo de garantia, previdência social. Além
disso, ajudaria a melhorar as condições em que o trabalho é exercido (higiene, espaço físico)
e, principalmente, poderia minimizar riscos frequentes como a violência física a que são
normalmente submetidas as profissionais do sexo. Olhando assim, desse modo, a questão,
pode parecer inaceitável o comportamento das prostitutas. Contudo, é preciso situar a
postura delas no quadro de sua experiência cotidiana, pois é no contexto concreto que as
ações ganham sentido. Na verdade, as profissionais do sexo têm um grande receio de serem
percebidas socialmente como tais, e de sofrerem os efeitos do estigma que cerca a profissão.
Nesse sentido, legalizar-se profissionalmente seria uma ameaça a seus projetos de vida. Além
disso, a prostituição é sempre vista como uma experiência temporária, uma atividade
transitória, o que também diminui a importância de sua legalização. Uma outra razão diz
respeito aos ganhos concretos: a avaliação comum é que se ganha mais no regime informal,
sem a necessidade de pagar impostos, do que se houvesse legalização. Assim, o que a
princípio poderia ser uma lacuna informacional (ausência de conhecimento sobre algo) e um
defeito de não identificação ou compreensão dessa lacuna é, na verdade, uma elaboração
muito singular dessas profissionais, que passa por desconstruir o discurso oficial e não
perceber as questões trabalhistas como uma lacuna. Mais importante ainda: não se trata da
repetição de um discurso produzido num outro lugar. Essa visão é construída por meio de
uma série de interações estabelecidas entre elas e outras pessoas, como advogados, clientes,
Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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pessoas da própria família e fontes formais de informação. E, no contexto e no cruzamento
das diferentes informações recebidas e coletadas uma reelaboração que passa a não
considerar, pois, as questões trabalhistas como uma lacuna, como uma necessidade de
informação a ser satisfeita. Assim também as questões legais, tidas num primeiro olhar como
possivelmente prioritárias dadas as questões criminais que cercam a prática (prostituir-se no
Brasil o é crime, mas explorar as prostituição sim) também não é tida como relevante,
principalmente porque, no universo da prática profissional, existem arranjos e
interpretações levadas a cabo por todos os atores envolvidos (policiais, clientes, donos de
hotéis e as próprias prostitutas), o que torna desnecessário, do ponto de vista delas,
investimento de trabalho na busca por informações sobre esse assunto.
Outro eixo analítico do trabalho constituiu-se das questões sobre saúde. E
curiosamente, embora se pense que há uma grande necessidade de informação sobre doenças
sexualmente transmissíveis, essa não foi a que mais se destacou. As profissionais
entrevistadas disseram e demonstraram conhecer muito sobre o assunto, sobre os métodos
preventivos e os comportamentos adequados do ponto de vista médico. Dois
comportamentos se destacaram, contudo. Um deles, o fato de muitas profissionais usarem o
preservativo nas relações sexuais de trabalho, mas não o usarem nas relações afetivas, com
maridos e namorados. Tal ação é entendida como uma forma de distinguir os tipos de relação
nas quais elas se veem envolvidas. Outro é o caso de prostitutas que, sabendo dos riscos,
praticam relações sexuais sem proteção em casos excepcionais, em que algum cliente assim
solicita, mediante um grande acréscimo no valor do programa. Ambos os casos, de prostitutas
que não se protegem nas relações sexuais, poderiam ser identificados como comportamentos
errados e, nesta perspectiva, poderia se pensar que falta informação, falta transmissão de
informação. Não é o caso. Elas possuem a informação sobre as doenças e as formas de
prevenção, sabem dos riscos, mas optam por correr esses riscos. Ou seja, as informações
recebidas são interpretadas, são reelaboradas, para a construção de uma linha de ação
coerente com determinadas concepções e objetivos. Isso mostra como os indivíduos, por um
lado, são modelados pelos grupos aos quais pertencem, mas também buscam guardar certa
distância, ganhar um espaço entre aquilo que são verdadeiramente e aquilo que os outros
gostariam que eles fossem, tal como ensinou Goffman (1999) em seu clássico estudo sobre a
realidade dos manicômios. O último eixo analisado na pesquisa diz respeito às questões
cotidianas. E aqui se evidencia claramente o caráter dinâmico da informação. Sendo um
universo que sofre uma grande condenação moral, trata-se de um campo pautado por uma
série de discursos implícitos. Os anúncios de serviços, por exemplo, não são explícitos quanto
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Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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ao teor da atividade de prostituição, mas são assim compreendidos pelas profissionais do
sexo, graças a um conjunto de conhecimentos socialmente partilhados, embora implícitos. O
mesmo ocorre em relação às normas de atuação dentro dos hotéis. O hotel não é,
oficialmente, responsável pelas atividades das prostitutas, ele apenas cobra uma diária pelo
quarto. Contudo, uma série de questões específicas (preço mínimo a ser cobrado, uso de
drogas no quarto, normas de segurança) que são transmitidas às profissionais pelas outras
profissionais. Entre elas, forma-se também uma rede informal de informações sobre os mais
variados assuntos. Mas uma forma muito útil no trabalho cotidiano é a troca de informações
sobre clientes, sobretudo clientes agressivos ou que fazem propostas de sexo sem proteção.
Normalmente tais clientes são denunciados por gritos pelos corredores que funcionam
como alerta às demais profissionais do hotel, o que funciona também como inibidor para as
ações de clientes tidas como inadequadas.
3.2 PRÁTICAS INFORMACIONAIS: estudo utilizando a cognição situada
A cognição situada partilha dos preceitos da abordagem social dos estudos de usuários
a partir do momento que busca analisar o sujeito na ótica de sua experiência cotidiana de
perceber e agir em determinado contexto. É uma ciência que considera que o comportamento
humano tem um aspecto dinâmico, que varia de acordo com o ambiente e também com
experiências anteriores. Para as investigações embasadas na cognição situada, assim como
para os estudos de práticas informacionais, o objeto de análise o é mais o ambiente ou a
representação mental individual, mas a interação entre ambos.
[...] Clancey (1997)
1
se baseia na visão de que o pensamento e a ação dos sujeitos são
constantemente adaptados ao ambiente, isto é, situados em função do que eles
percebem, como concebem suas atividades e como as executam. Assim, toda ação
humana se desenvolve de forma coordenada e simultânea, sendo parcialmente
improvisada ao integrar a percepção, a concepção e a ação do sujeito mediante
determinada situação. (ROCHA, 2013, p. 53-54).
Portanto, o saber (cognição) e o agir (ação) são indissociáveis, ambos se modificam e
se complementam mutuamente em função das situações apresentadas pelo ambiente no qual
o indivíduo transita.
1
CLANCEY, Willian J. Situated cognition: on human knowledge and computer representations. Cambridge:
Cambridge University Press, 1997. 426 p.
Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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Se a abordagem social dos estudos de usuários busca analisar as práticas
informacionais do sujeito associado ao seu contexto, a cognição situada permite que o
usuário seja
observado e compreendido em suas diversas dimensões (individual, social,
motivacional, emocional e outras) e que suas ações sejam avaliadas como resultados de um
processo social, experiencial, histórico, contextual e contingencial. Portanto, parece
realmente apropriado adotar a cognição situada no uso dos estudos de práticas
informacionais, ou seja, na perspectiva social dos estudos do sujeito informacional.
Na busca de comprovar empiricamente essa adequação, Rocha (2013) empreendeu
uma pesquisa cujo principal objetivo era compreender como indivíduos com cegueira
congênita e adquirida interagem com a Web e percebem sua acessibilidade ou
inacessibilidade. Na pesquisa, utilizou-se o conceito pedagógico de cegueira, para o qual se
considera cego aquele indivíduo que, mesmo com baixa visão (ou com visão residual, capaz
de enxergar sombras, diferenças de luminosidade, por exemplo) necessitam de instrução em
Braille ou do auxílio de leitor de telas (IBC, 2013). Partiu-se do pressuposto de que,
possivelmente, a interação na internet dos usuários que nasceram cegos ou perderam a visão
antes dos cinco anos de idade (considerados cegos congênitos) seria distinta daqueles que
perderam a visão a partir desta idade (casos de cegueira adquirida) pois acreditava-se na
possível influência da memória visual na percepção da acessibilidade na Web. A definição de
acessibilidade na Web utilizada foi a possibilidade de acesso, percepção, compreensão e
interação com a Web, com o máximo de autonomia possível (LEAL FERREIRA; SANTOS;
SILVEIRA, 2007). Para auxiliar o desenvolvimento de sites acessíveis aos deficientes visuais,
um conjunto internacional de diretrizes foi criado, o WCAG (Web Content Guidelines
Accessibility), à época da pesquisa em sua versão 2.0. No Brasil, diretrizes semelhantes foram
criadas (e-MAG Modelo de Acessibilidade do Governo Eletrônico) e um decreto de lei regula
seu uso para o desenvolvimento de websites governamentais. Apesar da existência de
legislação buscando assegurar que os websites governamentais brasileiros sejam acessíveis
para pessoas com deficiência visual (BRASIL, 2004) e orientar a construção e adaptação de
conteúdos governamentais acessíveis na web institucionalizando a adoção de um modelo
único, o e-MAG (BRASIL, 2007), um levantamento realizado em 2010 pelo Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br) revelou que apenas 2% das páginas dos websites governamentais
brasileiros estão de acordo com a legislação (CGI.br, 2010).
A pesquisa aqui descrita, portanto, previa encontrar um elevado índice de
inacessibilidade das páginas web consultadas pelos usuários cegos. O objetivo, claramente,
não era apresentar resultados quantitativos previamente previstos. Pretendia-se
120
Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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aprofundar qualitativamente na compreensão das práticas informacionais dos usuários cegos
de websites, buscando: compreender o comportamento destes usuários ao acessar a Web
utilizando o leitor de telas; investigar como estes usuários percebem e descrevem a
acessibilidade ou a inacessibilidade na Web; identificar as carências e contribuições das
WCAG 2.0 para a democratização do acesso à Web; e verificar quais problemas de
acessibilidade relatados pelos usuários não são contemplados nas WCAG 2.0 e apresentar
sugestões de complementação.
Buscar atingir tais metas utilizando a cognição situada significou empreender alguns
desafios de cunho metodológico. Obviamente, a ferramenta de coleta de dados precisava
sustentar uma pesquisa qualitativa. A escolha foi pela entrevista semi-estruturada, em
profundidade, à qual foram inseridos momentos com ensaios de interação, em que o usuário
era convidado a demonstrar na prática como fazia uso da web, ou seja, ele navegava e isso era
gravado em áudio, vídeo, e sequência de telas (através de um software gravador de telas).
Embora se dispusesse de um laboratório de usabilidade com toda a infraestrutura necessária
para se fazer testes deste tipo com o usuário, utilizá-lo estava completamente fora de questão
por dois motivos: (1) isso iria completamente contra a teoria da cognição situada, que prevê a
busca da compreensão do comportamento do sujeito de acordo com o ambiente e com as
experiências anteriores, portanto era importante estudar e conhecer o seu próprio ambiente;
(2) solicitar a um cego a navegação em um computador que não o seu é o mesmo que lhe
pedir para usar um instrumento completamente desconhecido por ele esse indivíduo já está
habituado com o seu ambiente (teclado, leitor de tela e demais tecnologias assistivas que ele
utiliza para facilitar sua navegação). Portanto, a coleta de dados precisava ocorrer no
ambiente solicitado pelo respondente, e cabia ao pesquisador se adaptar a esse ambiente,
instalando tudo aquilo de que precisasse para coletar os dados de modo a não interferir na
rotina de trabalho do usuário. Um segundo desafio enfrentado foi quanto à coleta do termo de
consentimento. Como toda pesquisa envolvendo seres humanos, também esta foi submetida
ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) e todos os participantes precisariam assinar um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No entanto, tratando-se de
participantes cegos, como produzir tal documento e exigir sua assinatura? Uma possibilidade
seria a produção do documento em braille. No entanto, conforme orientação do próprio
COEP, optou-se pela produção de um documento em PDF, acessível através do computador
com o uso de tecnologia assistiva. O entrevistado ouvia o documento através do leitor de telas
a que estava habituado e gravava em áudio o seu consentimento livre e esclarecido em
participar da pesquisa. O levantamento e a seleção dos participantes foram feitos de acordo
Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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com a técnica bola de neve (snowball sampling) (GOODMAN, 1961), até que fosse atingido o
ponto de saturação. Para participar da pesquisa, os indicados deveriam possuir cegueira
congênita ou adquirida e serem usuários habituais da Web mediante o uso de leitores de tela.
Foram entrevistados quatro participantes com cegueira congênita e quatro com cegueira
adquirida. A cada entrevista realizada, procedia-se à transcrição e análise parcial dos dados
até então coletados para que, ao final da coleta, uma análise completa e mais consistente
pudesse ser levada a cabo, com a definição do conjunto final de categorias para classificação
dos dados.
O método da comparação constante (TAYLOR; GIBBS, 2010) foi utilizado durante
toda a análise de dados. Ou seja, a cada nova entrevista transcrita e analisada, cada passagem
de texto selecionada e codificada era comparada com todas as passagens codificadas
daquela mesma forma. Isso visava garantir que a codificação fosse consistente e considerar a
possibilidade de que algumas das passagens codificadas daquela forma (isso é, com o mesmo
código) que não se encaixassem bem pudessem vir a receber novos códigos mais adequados.
Com isso, o conjunto de categorias era revisto e renegociado a cada nova entrevista incluída.
Ao final, percebeu-se que os dados não foram suficientes para sustentar o pressuposto
de pesquisa de que haveria diferença entre as práticas informacionais dos usuários com
cegueira congênita e com cegueira adquirida. Não foi percebido, ao longo dos relatos,
qualquer indício de que a memória visual alterasse a percepção de acessibilidade ou
inacessibilidade dos sites. Ao final, os dados foram organizados num conjunto de oito
categorias: 1.
Forma como aconteceu o contato inicial com o computador; 2. Motivações para
o contato inicial com o computador; 3. Momento em que aconteceu o contato inicial com a
Internet/Web; 4. Emoções e sentimentos durante o contato inicial com a Internet/Web; 5.
Elementos que influenciam a percepção da (in)acessibilidade pelos sujeitos; 6. Emoções
experienciadas diante da (in)acessibilidade; 7. Elementos que influenciam comportamento e
ações durante o acesso mediado por leitores de tela; e 8. Motivações para o uso da a
Internet/Web. (ROCHA, 2013, p. 66). Como resultado secundário identificou-se, ainda, a
partir dos depoimentos e exemplos dos entrevistados, que as WCAG 2.0 não levam em
consideração a acessibilidade dos documentos disponibilizados nos websites nem comentam
acerca da possibilidade ou não de versões alternativas para deficientes virtuais.
3.3 A ABORDAGEM CLÍNICA DA INFORMAÇÃO NO ESTUDO DE PRÁTICAS INFORMACIONAIS
A Abordagem Clínica da Informação (ACI), proposta em 2011 (PAULA, 2011, 2012)
como um desdobramento natural de estudos anteriores (PAULA, 1999, 2005), surgiu no
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cenário da Ciência da Informação como uma alternativa de investigação que considera o uso
afetivo e simbólico da informação pelo sujeito como um recurso de acesso às expressões de
sua subjetividade nas interações com a informação e, consequentemente, de sua
compreensão.
A utilização da ACI no campo das pesquisas em Ciência da Informação se propõe, entre
outros pontos, a analisar a hermenêutica das dimensões simbólicas e afetivas inerentes aos
processos de buscar, selecionar, interpretar e utilizar informações. Surgida num momento
histórico, onde autores como Venâncio (2007) irão afirmar que novos instrumentos são
necessários para abordar os usuários em suas múltiplas dimensões (linguística, individual,
social, emocional) e compreender a busca de informação como um processo histórico, social,
experiencial e contingencial, a ACI se inspira em autores como Mendel (1998, 1999), Lhuillier
(2006) e Thibierge (2007) que iniciaram, na França, um movimento que propunha um
approche clinique (abordagem clínica) de múltiplos fenômenos como uma possível
alternativa para lidar com as interseções entre os campos e os temas acima expostos. A ACI se
propõe a estabelecer uma investigação profunda dos fenômenos informacionais, utilizando
uma perspectiva "clínica" (do grego klinikos, relativo à cama, e kline, leito, e associada à
ideia de reclinar-se sobre um problema como um médico sobre o leito de um paciente) para
alcançar níveis de análise não habituais nos estudos comportamentais e cognitivos
tradicionais.
São pressupostos de uma abordagem clínica à informação (PAULA, 2012):
1. É impossível dissociar a interação entre indivíduos e a informação da sua inserção
nos grupos sociais a que pertencem;
2. O comportamento de busca da informação (e seus desdobramentos) é determinado
pela inserção do sujeito informacional em grupos sociais e é um processo
experimental e contingencial, consciente ou inconscientemente marcado pelos
campos psíquico, cultural, histórico e social;
3. O campo psíquico é composto indissociavelmente pelas dimensões cognitiva,
perceptiva e afetiva;
4. O campo psíquico tanto influencia quanto é influenciado pelos campos cultural,
histórico e social;
5. A natureza complexa desses fenômenos impossibilita que a sua investigação seja
feita através de um único instrumento;
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6. Os instrumentos padronizados não têm sido suficientes para apreender as
múltiplas dimensões da relação entre indivíduos e a informação;
7. O método clínico é uma alternativa para abordar esses indivíduos, os grupos e as
eventuais organizações ou instituições às quais eles se vinculam e através das quais
eles compartilham conhecimentos e experiências adquiridos por meio da
aprendizagem individual.
Por ser inerente ao método clínico, a preocupação por recolher dados e informações
sem isolá-los da situação original em que foram reunidas e do seu contexto original, seu
meio natural, resultaria na utilização do estudo de caso.
Através do estudo de caso seria possível chegar a uma compreensão da sua dinâmica,
da origem de sua condição atual (a gênese da situação-problema) e seu processo histórico
único ou ciclo vital (a totalidade do processo). Seria abandonada, assim, uma postura
funcionalista da relação com a informação, para se obter uma busca intensa pelos comos e
os porquês das ações consideradas subjetivas e dotadas de significados).
Uma das possibilidades utilizadas pela ACI nas suas investigações é a introdução de
recursos de natureza projetiva i.e. recursos (desenhos, testes, etc.) que instiguem a
expressão de conteúdos de natureza inconsciente por parte dos sujeitos experimentais
como forma de acesso à subjetividade e à vida simbólico-afetiva dos sujeitos informacionais.
A introdução de um instrumento, dentro da proposta da ACI, não é feita de maneira isolada,
mas de forma interconectada à apreensão global do caso estudado e obtida através do
concurso de uma série de outros recursos de investigação como será observado mais abaixo.
Como uma forma de demonstrar essa possibilidade será apresentado o uso de um
teste o Teste Arquetípico dos Nove Elementos (AT-9) para observar a interferência da
subjetividade no uso das competências individuais nas práticas informacionais dos usuários.
Essa modalidade de investigações é desenvolvida através da investigação da forma particular
pela qual cada sujeito enfrenta a angústia intrínseca à busca pela informação e pela sua forma
de ver o mundo evidenciada na identificação de certos microuniversos estruturantes do
imaginário dos pesquisados interferem diretamente no posicionamento do usuário em suas
interações com as informações.
A pesquisa em questão foi conduzida por ARAÚJO (2013) em uma biblioteca
especializada integrante de um Sistema de Bibliotecas de uma instituição de ensino superior
e objetivou identificar como as perspectivas individuais permeiam a atividade de indexação
em Bibliotecas Universitárias. Considerou-se que, embora um dos pontos chave para que o
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Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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processo de recuperação da informação ocorra de forma adequada seja a etapa de tratamento
informacional processo que compreende, dentre várias tarefas, a atividade de indexação ,
essa atividade que apresenta o desafio de atribuir termos que representem fielmente o objeto
analisado e tem sua qualidade condicionada à qualificação do indexador e sua
imparcialidade no processo. Essa "imparcialidade" é, quase indelevelmente, marcada por
elementos de caráter subjetivo que interferem no seu resultado. O estudo descrito foi, até
onde se tem notícia, o primeiro estudo dedicado a identificar a forma como essa interferência
acontece e os padrões que orientam essa interferência.
O domínio em análise, donde foram selecionados os sujeitos para participação da
pesquisa, é uma das bibliotecas que possui um dos maiores acervos bibliográficos do Sistema.
Os sujeitos da pesquisa foram três bibliotecários, denominados neste trabalho como S1, S2 e
S3, cujo critério de seleção foi a experiência na atividade de catalogação.
Dentre os métodos empíricos utilizados destacam-se a entrevista semiestruturada e a
atividade de análise de tarefa. Nesta etapa foi incorporada a Técnica do Incidente Crítico
(TIC) (FLANAGAN, 1973). O incidente analisado nesta pesquisa foi relacionado a uma
situação de tomada de decisão na execução da atividade de análise de assunto que o
entrevistado tenha considerado relevante destacar.
Na análise de tarefa realizada foi proposta a análise de assunto em três livros pré-
selecionados com foco na atribuição de termos e, na execução da atividade, incorporou-se,
para identificar os procedimentos realizados durante a tarefa, o preenchimento de uma ficha
baseada em Coutinho et al. (2010).
Finalizada a atividade utilizou-se a técnica Protocolo Verbal: a verbalização consciente
dos pensamentos dos indivíduos diante da execução de uma atividade objetivando fornecer
informações de seus processos mentais exteriorizados por meio da fala. Por fim, foi solicitada
a elaboração de um desenho baseado nos protocolos do AT-9.
Verificou-se que a atuação dos bibliotecários na execução da atividade de análise de
assunto não foi uniforme. Os procedimentos executados variaram significativamente
conforme o livro analisado e os termos atribuídos às obras foram diferenciados:
No primeiro livro houve a definição dos termos com a adoção da expressão
extensão universitária pelos três bibliotecários foi relativamente homogênea;
No livro 2 a seleção de termos orientou-se pelo eixo comum climatologia
embora os termos escolhidos tenham sido variados;
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No terceiro livro os termos foram bem diversificados, o aparecendo um ponto
comum a ser usado na recuperação da obra numa hipotética pesquisa realizada
por um usuário. Foram apresentados termos como: Informática estudo e
ensino (S1), Programação de computadores computação (S2) e
Armazenamento de dados (S3).
A utilização da TIC possibilitou a observação, por meio do relato dos pesquisados, de
situações críticas vivenciadas na atividade de análise de assunto. Com a vantagem de a
técnica permitir identificar eventos relatados na perspectiva dos entrevistados foi possível
compor uma análise holística dos aspectos subjetivos. Nesse trabalho o indivíduo não foi
considerado isolado de seu contexto e história. Isso permitiu um entrelaçamento entre fatos
presentes e passados possibilitando um olhar profundo sobre o fenômeno estudado.
Investigando-se as imagens propostas pelos entrevistados para representar a
atividade de catalogação e os incidentes críticos observou-se, ao serem reunidas as
associações feitas por S1, S2 e S3, uma conexão simbólica estreita entre as imagens evocadas.
Apesar da extensão dessas associações não poder ser representada no limitado espaço desse
artigo é importante ressaltar que as associações entre os diversos sentidos atribuídos aos
símbolos permitiram construir uma rede de significados (FIG. 1) cuja sutura se pela
interpretação da catalogação como uma atividade que tem em si um aspecto de finitude,
sendo seu resultado tido como um produto fechado, total e completo que, apesar de ser
construído sob os olhares e caminhos diferentes por cada um dos entrevistados, para cada
um deles o resultado de seus trabalhos adquire um caráter de verdade incontestável.
Destaque-se que essa análise não se esgota na mera interpretação dos significados
latentes, pois as palavras, segundo Jean Chevalier, são incapazes de expressar todo o valor de
um símbolo (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2008, p. XIII). Cabe nessas reflexões o cuidado de
não encerrar em estreitos limites todas as dimensões descortinadas pela interpretação
simbólica, mas ampliá-la em outras metodologias que possam expandir seus significados.
Essa proposta foi complementada nesta pesquisa com o uso do AT-9 por meio do qual se
buscou compreender o que permeia as ações dos sujeitos em situações de angústia
(CARDOSO, 2005) representada na pesquisa pela decisão do termo adequado na análise de
assunto.
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Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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Figura 1 Rede interconectada de símbolos e significados
Fonte: ARAÚJO, 2013, p. 79.
O uso do Teste Arquetípico de Nove Elementos (AT-9), do incidente crítico e da
expressão criativa poiesis, possibilitaram explorar os aspectos subjetivos utilizando-se as
dimensões simbólico-afetivas. Os dados obtidos foram copilados sob o crivo das estruturas
antropológicas do imaginário de Durand, G. (1997), consolidadas na metodologia
desenvolvida por Durand, Y. (1988) e identificaram indícios que revelaram os processos
informacional, subjetivo e afetivo se entrelaçaram na atividade executada.
Ao final do estudo concluiu-se que, mesmo em um processo fundado numa
metodologia estruturada e formalizada por meio de vocabulários controlados, normatizações
de procedimentos e fontes de informação padronizadas como no caso da análise de assunto
da atividade de indexação, os aspectos subjetivos produzem resultados diferenciados.
Evidenciou-se que o processo de seleção de termos não carrega em si apenas aspectos
racionais, mas é perpassado pela história de vida, experiências profissionais, preferências,
estruturações mentais e perfis psicológicos dos indivíduos envolvidos nessa tarefa. Esses
aspectos confluem simultaneamente em nível consciente e inconsciente e, influenciados por
circunstâncias nem sempre palpáveis ou explícitas no comportamento do indivíduo,
produzem resultados discrepantes que dificilmente terão suas particularidades formalizadas
Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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através de algoritmos, mas que, se forem visados resultados mais efetivos desse processo,
devem ser observadas sob outras perspectivas.
3.4 HISTORIOGRAFIA DAS PESQUISAS EM PRÁTICAS INFORMACIONAIS
Embora o grupo de pesquisas tenha sido oficialmente criado e cadastrado no CNPq em
2014, desde muito antes seus integrantes vêm desenvolvendo trabalhos conjuntos e
caminhando para a construção de uma perspectiva social dos estudos de usuários. Considera-
se como primeiro trabalho de dissertação orientado por um docente do grupo com viés da
abordagem social, a pesquisa que investiga as práticas sociais das profissionais do sexo,
defendida em 2008 e apresentada no tópico anterior. As pesquisas do grupo têm tido, como
objetos de pesquisa, realidades empíricas distintas daquelas típicas dos estudos de usuários
tradicionais (cientistas, empresários, governo), tais como grupos sociais pertencentes a
minorias ou pertencentes a um contexto referente ao cotidiano. Isso não significa que o grupo
abdique de investigar papéis sociais referentes a práticas informacionais no campo
profissional ou científico, apenas isso ocorre com menor frequência.
O quadro a seguir apresenta, de modo sintético, desde 2008 até a presente data, a
produção orientada pelos integrantes do grupo, informando: a temática da pesquisa (campo
em que se apresenta também a referência da dissertação ou tese), o método (técnicas de
coleta e análise de dados), o papel social do sujeito informacional investigado e o aporte
teórico utilizado.
Quadro 1 Historiografia do Grupo de Pesquisa (2008-2017)
Temática
Método
Papel social do sujeito
informacional
Aporte teórico
Descreve e analisa as práticas
informacionais das profissionais
do sexo da zona boêmia de Belo
Horizonte. (SILVA, 2008).
Coleta de dados: relatos,
entrevistas, com
gravação em áudio.
Análise de dados:
análise de conteúdo.
Profissionais do sexo.
Práticas
Informacionais;
paradigma social
da CI.
Busca compreender as práticas
informacionais de ouvintes
assíduos de rádio (PESSOA,
2010)
Coleta de dados: relatos,
entrevistas, com
gravação em áudio.
Análise de dados:
análise de conteúdo.
Ouvintes assíduos de
rádio
Descrição densa
de Geertz;
Dimensão
emocional de
Maffesoli.
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ARTIGO
Temática
Método
Papel social do sujeito
informacional
Aporte teórico
Busca compreender como os
idosos percebem, descrevem e
atribuem significado à
experiência da inclusão digital e
seus efeitos na vida diária,
perpassando pelo campo da
sociabilidade e do
comportamento informacional.
(GANDRA, 2012)
Coleta de dados:
entrevistas semi-
estruturadas em
profundidade, com
gravação em áudio.
Análise de dados:
análise de conteúdo.
Idosos que tenham se
incluído digitalmente.
Abordagem social
dos estudos de
usuários;
Fenomenologia
social de Alfred
Schutz.
Investiga a maneira dos
professores produzirem,
disseminarem e apropriarem de
informações para a sua
organização político-sindical,
considerando as suas posições
como sindicalizado, não
sindicalizado, militante de
organização política e dirigente
sindical. (PINTO, 2012)
Coleta de dados:
entrevistas semi-
estruturadas. Análise de
dados:
Professores da RMBH.
Práticas
informacionais;
aporte teórico-
metodológico de
Pierre Bourdieu.
Investiga como pessoas com
cegueira congênita e adquirida
interagem com a Web e como
percebem sua
(in)acessibilidade, buscando
identificar as carências e
contribuições das Diretrizes de
Acessibilidade para o Conteúdo
da Web WCAG 2.0 para a
construção de websites mais
adequados a esse perfil de
usuários. (ROCHA, 2013)
Coleta de dados:
entrevistas semi-
estruturadas
envolvendo ensaios de
interação, com gravação
de áudio e salvamento
das telas. Análise de
dados: análise de
conteúdo.
Pessoas cegas (definição
pedagógica: aquelas que,
mesmo com baixa visão,
necessitam de instrução
em braille ou do auxílio
de leitores de tela).
Abordagem social
dos estudos de
usuários;
Cognição Situada.
Busca indícios de como a
subjetividade interfere no
processo decisório, ou como os
aspectos subjetivos se integram
às competências individuais
para influenciar esse processo.
Investigou o processo decisório
de bibliotecários durante a
atividade de indexação em
bibliotecas universitárias.
(ARAUJO, 2013)
Coleta de dados:
entrevista, análise de
tarefas, protocolo
verbal, aplicação do AT-
9. Análise de dados:
análise de conteúdo,
análise do AT-9, análise
de símbolos.
Bibliotecários
universitários.
Abordagem
clínica da
informação.
Teste dos 9
arquétipos.
Investiga as práticas
informacionais dos usuários do
sistema SIEX da UFMG,
contemplando tanto os aspectos
comportamentais dos seus
usuários quanto os aspectos
operacionais do sistema.
(TERTO, 2013).
Coleta de dados:
entrevistas semi-
estruturadas
envolvendo ensaios de
interação, com gravação
de áudio. Análise de
dados: análise de
conteúdo.
Professores e
funcionários da UFMG.
Abordagem social
dos Estudos de
Usuários;
Usabilidade;
Fenomenologia
Social.
Traça um paralelo entre
biblioteca escolar e a
ferramenta de busca Google
enquanto canais de busca de
informação visando verificar
que imagem e conceito os
nativos digitais têm destes
ambientes e como se
Coleta de dados:
observação não
participante e
entrevistas semi-
estruturadas.
Análise de dados:
análise de conteúdo com
categorias estabelecidas
Alunos de escola privada
nativos digitais.
Práticas
informacionais;
Abordagem
Clínica da
Informação.
Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
129
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Temática
Método
Papel social do sujeito
informacional
Aporte teórico
relacionam com a busca, seleção
e o uso da informação.
(ANTUNES, 2015).
a posteriori.
Investiga os elementos
simbólico-afetivos envolvidos
no compartilhamento do
conhecimento na relação de
orientação estabelecida entre
docentes e discentes de um
programa de pós-graduação
stricto sensu. (COELHO DE SÁ,
2015)
Coleta de dados:
entrevista, análise de
tarefas, protocolo verbal,
aplicação do AT-9.
Análise de dados: análise
de conteúdo, análise do
AT-9, análise de símbolos
Professores e alunos de
um programa de pós-
graduação stricto sensu,
com conceito "7" no
Sistema de
Acompanhamento e
Avaliação da CAPES, da
área de Ciências Exatas e
da Terra de uma
Universidade Federal.
Gestão do
conhecimento
científico;
Teste dos 9
arquétipos;
Abordagem Clínica
da Informação.
Analisa como as práticas
informacionais de mães de
crianças com alergias
alimentares influenciam no dia-
a-dia desses indivíduos.
(BARROS, 2016).
Coleta de dados:
entrevista semi-
estruturada em
profundidade.
Análise de dados:
codificação livre e
análise de conteúdo com
grade de categorias
mista: a priori (a partir
do modelo de análise) e
liberdade de criação de
novas categorias.
Mães de crianças com
alergia alimentar.
Práticas
informacionais
(Modelos de
Pâmela McKenzie
e Yeoman).
Análise de práticas
informacionais de clientes de
serviços de estética. (MOTA,
2016)
Coleta de dados:
observação não
participante e
entrevistas semi-
estruturadas.
Análise de dados:
análise de conteúdo
Mulheres que se
submetem a
procedimentos estéticos
Práticas
informacionais:
modelo de
Savolainen
Práticas informacionais de
pesquisadores e gestão do
conhecimento científico sob a
perspectiva da cognição
distribuída. (ROCHA, 2017, no
prelo)
Coleta de dados:
etnografia cognitiva;
observação guiada pelos
princípios da
investigação contextual
em conjunto com
entrevistas contextuais
guiadas pelos princípios
da Distributed Cognition
for Teamwork (DiCoT -
Em tradução livre,
Cognição Distribuída para
Trabalho em Equipe).
Análise de dados:
análise de conteúdo com
categorias e
subcategorias definidas
pelo modelo de grade
mista.
Todos os integrantes do
Grupo Integrado de
Pesquisas em
Biomarcadores (GIPB)
do Centro de Pesquisas
René Rachou (CPqRR) -
Fiocruz -BH
Práticas
Informacionais;
Abordagem clínica
da Informação;
Cognição
Distribuída;
DiCoT
Fonte: EPIC Estudos em Práticas Informacionais e Cultura.
130
Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
4 CONCLUSÃO
A historiografia apresentada mostra a riqueza de abordagens convocadas para os
distintos trabalhos realizados, com a alternância de autores da sociologia, da antropologia, da
psicologia e da comunicação, entre outros, aliada à utilização de perspectivas distintas dentro
da própria ciência da informação. Neste movimento, autores estrangeiros têm sido lidos e
apropriados pelo grupo, bem como também autores brasileiros. Cada nova pesquisa tem
servido para refinar conceitos, métodos e aprofundar a compreensão do conceito de práticas
informacionais. Aspectos distintos da realidade têm sido enfatizados, problematizados e
tensionados, tais como o caráter intersubjetivo dos processos, a dinâmica entre as dimensões
individual e coletiva, a presença das questões emocionais e afetivas, a lógica da produção de
significados e o caráter ativo dos sujeitos na apropriação da informação.
Há muitos desafios ainda a serem realizados, entre eles a construção de um referencial
consensual a ser testado pelos membros do grupo, e seus orientados, no desenvolvimento de
pesquisas com distintos objetos empíricos. Além disso, fazem parte do grupo pesquisadores
de outros países (Espanha, Argentina e Uruguai), mas tal fato ainda não foi capaz de produzir
um tipo de diálogo que incorporasse novas dimensões ao trabalho. Próximo a isso, é preciso
que o grupo consiga também apresentar sua perspectiva de estudos em escala internacional,
o que foi feito ainda de maneira incipiente com uma primeira participação, em 2014, no
congresso ISIC, em Leeds, Inglaterra. É fundamental dinamizar essa dimensão de
internacionalização dos trabalhos.
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Duarte; Araújo; Paula | Práticas informacionais
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
Adriana Bogliolo Sirihal Duarte
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: bogliolo@eci.ufmg.br
Carlos Alberto Ávila Araújo
Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: casal@eci.ufmg.br
Claudio Paixão Anastácio de Paula
Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
E-mail: claudiopap@eci.ufmg.br
Recebido em: 08/03/2017; Revisado em: 05/04/2017; Aceito em: 10/05/2017.
Como citar este artigo
SIRIHAL DUARTE, Adriana B.; ARAÚJO, Carlos A. A.; PAULA, Claudio P. A. de. Práticas Informacionais: desafios
teóricos e empíricos de pesquisa. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 111-135, out. 2017.
ACESSIBILIDADE EM BIBLIOTECA ESCOLAR: estudo de caso do Instituto
Federal do Rio de Janeiro - Campus ParacambiRJ
ACCESSIBILITY IN SCHOOL LIBRARY: case study of the Institute of the library of the
Instituto Federal do Rio de Janeiro - Campus Paracambi-RJ
Cládice Nóbile Diniz
UNIRIO
Marcele do Nascimento Silva Tamashiro
IFRJ
Marcos Pastana Santos
IFRJ
Valéria de Almeida Peres
IFRJ
RESUMO
Estuda a acessibilidade da biblioteca escolar do Instituto Federal do Rio de Janeiro Campus Paracambi
RJ, entre janeiro e março de 2017, da ótica da Lei 13.146/2015 e da norma técnica brasileira NBR
9050:2015, quanto a aspectos arquitetônicos, urbanísticos e instrumentais. Objetiva investigar as
condições de locomoção de usuários com deficiência em prol de seus acessos informacionais. A
metodologia, de estudo de caso descritivo, opera com nove indicadores de ocorrência de barreiras
desenvolvidos em relação ao entorno da biblioteca investigada, à sua entrada e a seus espaços internos,
pisos, corredores, sanitários, balcões, mesas de consulta dos usuários e estantes. Apoia-se em pesquisa
documental, bibliográfica e de campo. O tratamento dos dados foi qualitativo. Resultou identificar a
existência de barreiras e constatou que a solução do problema é alvo de esforços da administração da
instituição, que busca resolvê-lo com equipamentos e obras, como a instalação de elevadores. Conclui
que o método utilizado de estudo da acessibilidade por indicadores pode ser uma ferramenta de apoio à
decisão útil a gestores de bibliotecas por permitir estabelecer critérios de prioridades em processos de
mudanças em prol da acessibilidade.
Palavras‐chave: Biblioteca escolar. Acesso Informacional. Acessibilidade. Barreiras arquitetônica e
urbanística.
ABSTRACT
It studies the school library of the Federal Institute of Rio de Janeiro Campus Paracambi-RJ’s
accessibility, between January and March 2017, from the perspective of Brazil’s Law No. 13146/2015
and its standard NBR 9050: 2015, as regard architectures, urbanities and instrumentals aspects. It aims
to investigate the conditions of locomotion of disabled users in favor of their informational accesses. The
methodology is a descriptive case study and operates with nine indicators of the occurrence of barriers
relatives to the surroundings of the investigated library, its entrance and its internal spaces, floors,
corridors, toilets, counters, users' desks and shelves. It is supported by documentary, bibliographical
and field research. The data treatment was qualitative. It was identified the existence of barriers and
found that the solution of the problem is the object of efforts of the institution’s administration, which
seeks to solve it with equipment and works, such as the installation of elevators. It concludes that the
method used to study accessibility by indicators can be a useful decision support tool for library
managers because it allows establishing criteria of priorities in processes of changes in favor of
accessibility.
Keywords: School library. Informational Access. Accessibility. Architectural and Urbanistc Barrier
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
Diniz; Tamashiro; Santos; Peres/Acessibilidade em Biblioteca Escolar
137
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
AR
TIGO
1 INTRODUÇÃO
A cidade de Paracambi é localizada na área metropolitana do Estado do Rio de
Janeiro à 78 quilômetros da capital, próxima a um entrave de grandes rodovias de
acesso à região serrana e à região industrial do sudeste do país, vem se mantendo
pequena, com aspectos rurais, contando em 2016 com 50.071 habitantes, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE, 2016).
A sua população cresceu pouco mais de 5% desde 2010, quando foi realizado um
recenseamento que informa haver, à época, 3350 pessoas que se autodeclararam com
alguma dificuldade motora, quantitativo que é aproximadamente 6,8% da então
população local. Destas, 868 delas tinham dificuldades de locomoção, necessitando de
recursos de tecnologia assistiva que possibilitasse suas mobilidades. (IBGE, 2010).
Esses porcentuais de pessoas com deficiência, que são, respectivamente, da
ordem de 7% e 2% da população, isto é, em cada 100 pessoas, sete têm alguma
dificuldade motora e duas, dificuldades de locomoção, da mesma forma do ocorrido com
o crescimento populacional, não se alterou significativamente, conforme se constatou
por observação empírica e participante. Essa constatação sugere, por inferição, ser
razoável considerar-se que hoje da ordem de 3.600 pessoas com alguma dificuldade
motora e que, dessas, 950 têm dificuldades de locomoção. À primeira vista, esses
números evidenciam quantitativos ínfimos em relação ao total da população, todavia são
consideráveis em face de seus problemas, devido aos quais vêm conseguindo que sejam
adotadas políticas públicas para atendê-las, de modo que os espaços sejam a elas
acessíveis e que possam se locomover livres de barreiras. Desde 2015, não se deve
valer-se de considerações de quantitativos para o provimento da acessibilidade a
pessoas com deficiência. Após a promulgação da Lei 13.146/2015 (BRASIL, 2015) a
acessibilidade é imperativa, independentemente da ocorrência efetiva de pessoa com
deficiência, bastando a possibilidade latente de sua presença para ocorrer o dever de
promovê-la sempre que for tecnicamente possível e viável econômica e financeiramente.
Essa Lei está direcionada a prover direitos às pessoas com deficiência. Mas, nem
todas as pessoas que se autodeclaram com deficiência são amparadas por esse
dispositivo legal que, no seu § 1º. do Art. 1º., exige que para terem essa condição
legalmente reconhecida devem ser biopsicosocialmente avaliadas como “pessoa com
138
Diniz; Tamashiro; Santos; Peres/Acessibilidade em Biblioteca Escolar
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
deficiência” por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar formalmente constituída.
Para ser assim diagnosticada, deve ser constatado, conforme reza o Art. 2º. da mesma Lei,
que ela tem um impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, impedimento esse que, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas.
-se, então, que na impossibilidade de se considerar todas as situações
individuais possíveis de ocorrerem com os indivíduos, sujeitos de direito à acessibilidade
que devem ter garantido seus acessos ao espaço público e de uma vez neste, que ele lhes
sejam acessíveis nos aspectos em que se presta ao público, um caminho é se partir em
busca de soluções às barreiras que existem nesse ambiente, viabilizando o seu
aproveitamento por todos.
Considerando-se o espaço escolar, tem-se que ele deve ser acessível, por essa
determinação legal, mesmo não havendo em uma instituição um único aluno ou servidor
nessa situação e que nenhuma pessoa da população com deficiência possa vir em seus
espaços transitar, ainda que seja para apenas obter informação em algum setor público e
não nela a estudar ou trabalhar.
Pensar em outro modo pode implicar em considerações de discriminação,
conforme alerta o Art. 4º. da citada Lei, pois segundo o § 1º. desse mesmo artigo, se
considera discriminação, entre outros, a toda forma de restrição a pessoa com deficiência,
inclusive se for o caso de omissão, que leve a ocasionar o impedimento do exercício dos
seus direitos e de suas liberdades fundamentais, como o de ir e vir, que lhe deve ser
proporcionado mesmo que para tal se tenha que fazer adaptações razoáveis e
fornecimento de tecnologias assistivas (TA). (BRASIL, 2015).
Por outro lado, é difícil que as pessoas com deficiência consigam exercer os
mesmos direitos que os demais nas condições de acessibilidade precária dos espaços que
se verifica no cotidiano. necessidade de se adequar os espaços e suas estruturas caso
se queira a acessibilidade. Isso enseja se questionar em que se apoiar para tornar um local
acessível. Isso implica em uma nova área de conhecimento para os profissionais das
instituições de ensino conhecer. E a Lei não se restringe ao layout do espaço. Ela
determina que se considerem as adaptações razoáveis de serem realizadas e o uso de
tecnologias assistivas.
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Com o intuito de contribuir para esse saber, se decidiu desenvolver uma pesquisa
objetivando se apresentar uma metodologia e alguns elementos importantes a serem
considerados nas adaptações para prover a acessibilidade às bibliotecas escolares, da
ótica da Lei n° 13.146/2015 e da norma técnica brasileira NBR 9050:2015, quanto a
aspectos arquitetônicos, urbanísticos e instrumentais, em prol do acesso informacional de
seus usuários, tomando para estudo de caso a biblioteca de uma instituição de ensino de
Paracambi, o Instituto Federal do Rio de Janeiro - Campus ParacambiRJ (IFRJ Campus
Paracambi-RJ).
2 JUSTIFICATIVA E METODOLOGIA
O entendimento das exigências legais é obrigação de todo cidadão e, entre os
milhares de textos legais a que se está submetido, encontram-se a Lei n° 13.146/2015 e a
legislação e normativas pertinentes à acessibilidade, que são bastante claras à área
educacional por serem instrumentos voltados para a inclusão das pessoas. A garantia da
acessibilidade arquitetônica e instrumental é primordial para que se possibilite o acesso
igualitário aos espaços físicos a todos os indivíduos que deles fizerem uso, principalmente
quando se trata de uma instituição de ensino como é o caso proposto.
As instituições de ensino devem se preocupar em tornar seus espaços físicos mais
acessíveis e adequados conforme a legislação e as normativas, valendo-se dos padrões de
qualidade estabelecidos e regulamentados por órgãos responsáveis, como as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas, de forma a atender às demandas diárias de
público, que o os discentes, docentes, técnicos administrativos, familiares de alunos,
visitantes, enfim, qualquer indivíduo que possa querer fazer uso dos espaços.
E a Lei o se restringe ao layout dos espaços e demais aspectos arquitetônicos,
como banheiros adaptados; rampas e elevadores. Ela determina que se considerem as
adaptações de realização razoável e o uso de tecnologias assistivas para tornar o
ambiente acessível. Para uma biblioteca, implica em entender-se a problemática da
movimentação de cadeiras de rodas em seus espaços ao dispor de estantes de biblioteca
de pouca altura para permitir o acesso às obras bibliográficas; ao balcão de atendimento
apropriado; a sinalizações de acessibilidade nos espaços públicos; e mouses adaptados,
próteses, órteses e outros recursos, entre outros. Buscando contribuir para a
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aprendizagem dessa nova área de conhecimento para os profissionais das instituições de
ensino, se justifica a investigação proposta de estudo de caso da biblioteca do IFRJ Campus
Paracambi-RJ, apresentando uma metodologia e elementos importantes a serem
considerados nas adaptações para prover a acessibilidade quanto aos aspectos de
barreiras arquitetônicas, urbanísticas e outras, instrumentais, que como um todo,
necessita de estudos. O Campus está instalado em uma construção inglesa do século XIX.
Foi a primeira grande fábrica de tecidos de algodão do Brasil, inclusive, sua fachada foi
tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Além do Campus do IFRJ outras instituições
de ensino público fazem uso do espaço. A instalação do Campus ocupa três andares do
primeiro prédio da Fábrica. Assim, sendo uma construção antiga, quando os critérios para
a acessibilidade arquitetônica nem eram cogitados, a adaptação de tais espaços se torna
essencial para que possam permitir a autonomia das pessoas com deficiências nesse
espaço público.
A metodologia adotada foi a de estudo de caso descritivo de condições a serem
atendidas para que venha a se prover acessibilidade arquitetônica à biblioteca do IFRJ
Campus Paracambi-RJ em prol do acesso informacional de seus usuários. Apoiou-se em
pesquisa documental, considerando-se a Lei 13.146/2015 e a norma técnica NBR
9050:2015; bibliográfica, considerando-se entre outros, Sassaki (2009) quanto à
problemática da acessibilidade; Cambiaghi (2012) quanto ao Desenho Universal; e Gentil
Junior (2016), quanto a critérios de análise da acessibilidade.
Gentil Junior (2016) apresenta uma metodologia em que cria indicadores a partir
de se constar haver ou não o atendimento a quesitos da norma técnica brasileira NBR
9050:2015. A partir dessa ideia foi considerada para o caso desta pesquisa, seis
indicadores de acessibilidade quanto a aspectos arquitetônicos e urbanísticos relativos ao
entorno da biblioteca; à sua entrada; aos espaços internos; aos pisos; aos corredores e aos
sanitários; e três de acessibilidade quanto a aspectos instrumentais, referente aos balcões,
às mesas para trabalho, leitura e/ou estudo dos usuários da biblioteca e às estantes.
Assim, para a Acessibilidade quanto a aspectos arquitetônicos e urbanísticos
considerou-se:
Entorno da Biblioteca;
Entrada da Biblioteca;
Espaços internos da Biblioteca;
Pisos da Biblioteca;
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Corredores da Biblioteca; e
Sanitários da Biblioteca.
Para a Acessibilidade quanto a aspectos instrumentais, considerou-se:
Balcão de Atendimento da Biblioteca;
Mesas para trabalho, leitura e/ou estudo dos usuários da Biblioteca e;
Estantes da Biblioteca.
No caso de atendimento à norma, o indicador recebe a consideração qualitativa
que atende, correspondendo ao termo SIM; e, quando não atender ou atender
parcialmente, o indicador é NÃO.
O resultado é tratado qualitativamente.
A pesquisa de campo aplicando os conhecimentos ao caso se realizou entre janeiro
e março de 2017.
3 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA
Sassaki (2009) considera que a acessibilidade possui seis dimensões, a saber:
arquitetônica (sem barreiras físicas), comunicacional, metodológica, instrumental,
programática e atitudinal.
Em especial, a acessibilidade arquitetônica, no campo da educação, é considerada
relevante para Sassaki (2009), para a qual os seguintes aspectos são considerados:
Guias rebaixadas na calçada defronte à entrada da escola, caminhos em superfície
acessível por todo o espaço físico dentro da escola, portas largas em todas as
salas e demais recintos, sanitários largos, torneiras acessíveis, boa iluminação,
boa ventilação, correta localização de mobílias e equipamentos etc. Implantação
de amplos corredores com faixas indicativas de alto contraste, elevadores,
rampas no trajeto para o recinto da biblioteca e áreas de circulação dentro dos
espaços internos desse recinto entre as prateleiras e estantes, as mesas e
cadeiras e os equipamentos (máquinas que ampliam letras de livros, jornais e
revistas, computadores etc.). (SASSAKI, 2009, p.12).
O termo acessibilidade está relacionado, de uma forma geral, para com as pessoas
com deficiência, razão porque se utiliza outro conceito, o de Desenho Universal, por ser
este mais amplo, atendendo a todos os indivíduos, independente de apresentação de
avaliação de equipes especializadas, pessoas essas que podem ter necessidade de
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edificações acessíveis que demandem pouco esforço físico para seu acesso e uso, como
expõe Cambiaghi (2012, p.74).
O conceito de Desenho Universal surgiu nos Estados Unidos, para se atender a demanda de
todas as pessoas que tivessem alguma deficiência ou com necessidades especiais, explicando o
autor acima citado:
São muitas as expressões empregadas com o sentido de desenho universal:
projetar para todos, projetos para longevidade, respeito pelas pessoas, design
para a diversidade e, ainda, arquitetura inclusiva ou sem barreiras. Todavia, os
conceitos do desenho universal ou de projetar para todos são os que transmitem
uma visão mais abrangente sobre o assunto e, portanto, garantem menor receio
em sua aplicação. Isso porque, em lugar de concentrar os benefícios em apenas
uma parte da população, tais conceitos expressam a noção de projetar para o
maior número possível de pessoas (CAMBIAGHI, 2012, p.74).
De acordo ainda com Cambiaghi (2012) o primeiro padrão de Desenho Universal
acessível foi do Instituto Nacional Americano de Padronização (American National
Standards Institute ANSI), em 1961, que embasou tecnicamente a legislação original
americana sobre acessibilidade a partir da norma Especificações para a construção de
edificações e facilidades de acesso e utilização por pessoas com deficiências e mobilidade
reduzida (“Specifications for Making Buildings and Facilities Accessible to and Usable by
Physically Handicapped People”), que determina as especificações técnicas para a
construção de edificações com facilidade de acesso e uso para pessoas com deficiência.
No Brasil, a Lei 13.146/2015, que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência,
considera a concepção de acessibilidade, desenho universal e adaptações razoáveis, nos
incisos I, II e VI do Art. 1º., como, respectivamente, sendo:
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,
edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e
tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso
público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida;
II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a
serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva [...]
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e
adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando
requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa
gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais
pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais. (BRASIL, 2015, documento
eletrônico).
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A perspectiva de acessibilidade para a pessoa com deficiência física depende,
portanto, das considerações de desenho universal aplicadas ao caso do edifício ou do
espaço público considerado.
4 ACESSO INFORMACIONAL
As bibliotecas têm como função a garantia de acesso aos recursos informacionais
aos seus usuários e a biblioteca no ambiente escolar assume um papel primordial ao
viabilizar um espaço de incentivo às práticas pedagógicas, promovendo a leitura, o
letramento e o letramento informacional.
A leitura requer a presença de escrita a ser se processada, o que implica que é
mister que o leitor tenha acesso ao seu material, que é uma das funções da biblioteca
prover. Como agência de letramento, a biblioteca deve fornecer os meios para que seus
usuários façam o uso social da escrita e da leitura, propiciando o desenvolvimento do
letramento informacional, que se refere às competências que permitem ao indivíduo
reconhecer a informação necessária, localizá-la, avaliá-la e utilizá-la de forma eficaz. Mas
para que a competência ocorra, a informação deve estar acessível. (SILVA, 2004).
As bibliotecas escolares devem possibilitar aos seus usuários o acesso aos serviços
e produtos existentes, não somente pela determinação legal da Lei 13.146/2015, mas
também considerando o seu entendimento fundador, das Leis da Biblioteconomia ditadas
por Ranganathan (2009), matemático e bibliotecário indiano conhecido em sua terra
natal como “Pai da Biblioteconomia”, que publicou em 1931 “As Cinco Leis da
Biblioteconomia” que são: (1) os livros são para usar; (2) a cada leitor, seu livro; (3) a
cada livro, seu leitor; (4) poupe o tempo do leitor; (5) a biblioteca é um organismo em
crescimento. (RANGANATHAN, 2009).
Miranda e Miranda (2015, p. 5) sugerem que Ranganathan ressaltava a
importância da inclusão ao citar “As Cinco Leis da Biblioteconomia”, revelando que os
livros eram para todas as pessoas independentemente das necessidades especiais que
apresentassem.
Souza e Targino (2016, p. 15) reforçam tal afirmação ao analisarem a Primeira Lei
que afirma que “os livros são para usar”, pontuando que essa lei apresenta questões
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relacionadas ao acesso e à acessibilidade da comunidade usuária da biblioteca, até mesmo
no que se refere às instalações:
Se as coleções existem para serem utilizadas, devem estar acessíveis em
ambientes que permitam seu uso, incluindo os recursos de acessibilidade para
quem mantém necessidades especiais, o qual, quase sempre, precisa contar com
o uso de rampas, elevadores e aparatos semelhantes. (SOUZA; TARGINO, 2016,
p. 15).
Na Segunda Lei da Biblioteconomia, que diz “A cada leitor o seu livro”, também se
observa a proposta de que os livros são para todos, sem exceção, conforme citação a
seguir:
O princípio da informação para todos põe por terra qualquer tipo de
discriminação, e, sobretudo, favorece recursos educacionais aos excluídos
socialmente, o que é possível por meio da disseminação do conhecimento e
da democratização do acervo (SOUZA; TARGINO, 2016, p. 18).
Acrescenta-se que, para Campos (1992), a Segunda Lei da Biblioteconomia
evidencia o papel social da biblioteca e se preocupa com a oferta de condições de acesso à
informação a todos indiscriminadamente, papel esse também presente na Terceira Lei da
Biblioteconomia, na frase A cada livro seu leitor”, argumentando que ela se refere ao
respeito às necessidades de cada usuário.
Uma biblioteca acessível é o espaço que possibilita o uso por todos, segundo Ferrés
(2006, p.21), por ter “[...]instalações adequadas às diferentes necessidades e em
conformidade com as diferenças físicas, antropométricas e sensoriais da população”.
Os bibliotecários estão cientes da importância da biblioteca no ambiente
educacional, destacando Tamashiro (2016) em dissertação de mestrado em
biblioteconomia sobre pesquisa sobre acessibilidade em bibliotecas:
A biblioteca é responsável pelo fomento da leitura e a formação de uma atitude
científica, formando o indivíduo para a aprendizagem contínua. Assim, a
biblioteca não está à parte, não é um apêndice ou anexo do sistema educacional, e
sim faz parte integral do mesmo. (TAMASHIRO, 2016, p.28).
É de suma importância salientar que para que a biblioteca cumpra a sua missão, o
acesso físico deve se dar de maneira democrática. Bernardino e Suaiden (2011) apontam
que é função das bibliotecas disponibilizar e oferecer serviços com base na igualdade de
acesso a todos e isso deve ocorrer sem que haja distinção.
Diante dessas afirmativas tem-se a necessidade de se verificar as condições de
acessibilidade das bibliotecas.
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5 BIBLIOTECA ESCOLAR DO INSTITUTO FEDERAL DO RIO DE JANEIRO IFRJ CAMPUS
PARACAMBI
A biblioteca escolar do IFRJ Campus Paracambi, destacada para o estudo de caso,
iniciou suas atividades no início do ano de 2008 e, como sugere a sua classificação, visa
atender à demanda informacional de usuários de sua comunidade escolar, que é composta
de cerca de 669 alunos matriculados nos cursos técnicos de Eletrotécnica e Mecânica, 77
docentes e 53 cnicos administrativos da educação. Para esse atendimento, que ocorre
no horário de funcionamento das 8h às 20h, de segunda à sexta-feira, atualmente conta
com cinco servidores, dois bibliotecários-documentalistas, três auxiliares de biblioteca e
uma estagiária de biblioteconomia.
O seu acervo é composto por cerca de 5.000 exemplares, que englobam assuntos
das áreas de conhecimento que são abrangidas pelas disciplinas integrantes da grade
curricular dos cursos técnicos da instituição, entre os quais estão incluídos também
publicações das áreas de Educação, Filosofia, Literatura, História, Sociologia, Biologia e
Geografia, que se constituem em um acervo considerável. A biblioteca disponibiliza para
seus usuários, três salas de estudo em grupo, oito baias para estudo individualizado, oito
computadores conectados à internet para realização de pesquisas e 44 lugares no salão da
biblioteca, disponíveis para estudo e consulta.
Quanto aos serviços, oferece para seus usuários os seguintes: Serviço de
empréstimo local e domiciliar; Serviço de pesquisa bibliográfica na base de dados do
acervo; e Serviço de emissão de “nada consta”, para alunos que fazem requerimento de
conclusão de curso, trancamento de curso ou mudança de campus.
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O resultado da pesquisa de campo se por meio da análise da acessibilidade da
Biblioteca do IFRJ Campus Paracambi por meio dos nove indicadores, que são:
1. Quanto à Acessibilidade em aspectos arquitetônicos e urbanísticos:
1. 1. Entorno da Biblioteca;
1. 2. Entrada da Biblioteca;
1. 3. Espaços internos da Biblioteca;
1. 4. Pisos da Biblioteca;
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1. 5. Corredores da Biblioteca; e
1. 6. Sanitários da Biblioteca.
2. Quanto à Acessibilidade em aspectos instrumentais:
2. 1. Balcão de Atendimento da Biblioteca;
2. 2. Mesas para trabalho, leitura e/ou estudo dos usuários da Biblioteca e;
2. 3. Estantes da Biblioteca.
6.1 DA ACESSIBILIDADE EM ASPECTOS ARQUITETÔNICOS E URBANÍSTICOS
6.1.1 O Entorno da Biblioteca
O entorno da biblioteca requer que se operalize o primeiro indicador a ser
verificado. A biblioteca está localizada no segundo andar do prédio da Rua Sebastião de
Lacerda, s/n - Centro, Paracambi - RJ, região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro
RJ, que é apresentado na fotografia 1.
Fotografia 1 - IFRJ Campus Paracambi
Fonte: Os autores, 2017.
O percurso entre o ponto de ônibus (embarque/desembarque) até o Instituto é
repleto de obstáculos, como pode se observar já desde o calçamento. A calçada não
possui espaço apropriado para locomoção da pessoa com deficiência física que utiliza
cadeira de rodas, possuindo 1,16 m de largura e 1,90 m de altura livre, como demonstra a
fotografia 2.
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Fotografia 2 - Calçada que dá acesso ao Instituto
Fonte: Os autores, 2017.
As calçadas não possuem um adequado rebaixamento de meio-fio e estão
desgastadas, com buracos e obstáculos, estando em desacordo como o previsto nas
normas da ABNT NBR 9050:2015, que determina uma faixa livre de passeio livre de
obstáculos e com no mínimo 1,20 m de largura e 2,10 m de altura livre, conforme
demonstrado na figura 1.
Figura 1 Faixas de uso da calçada
Fonte: ABNT, 2015, p. 75.
Em relação ao transporte público no entorno do IFRJ Campus Paracambi, não é
possível afirmar que seja acessível, visto que as linhas de ônibus que circulam ao redor
não possuem o Símbolo Internacional de Acesso (SIA).
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Outro fato que chama atenção são os semáforos, a NBR 9050 determina que eles
devem situar-se entre 0,80 m e 1,20 m de altura do piso acabado, o tempo de travessia de
pedestres deve estar adequado à marcha de pessoas com mobilidade reduzida de 0,4 m/s
e devem estar equipados com mecanismos e dispositivos sincronizados que contenham
sinais visuais e sonoros e isso não foi observado em sua totalidade.
No caso do acesso de pessoas com necessidades especiais, observa-se nas
fotografias 3 e 4 que é um caminho longo, mas pelo menos um deles é relativamente
acessível, que é o primeiro apresentado a partir da esquerda, na fotografia 3. É importante
salientar que o campus possui estacionamento e o mesmo dispõe de vaga destinada a PNE
com sinalização de acordo com o SIA.
Fotografias 3 e 4 Caminhos de acesso ao IFRJ - Paracambi
Fonte: Os autores, 2017.
Após o trajeto identificado anteriormente, se chega ao prédio no qual a biblioteca
está localizada, mas se faz necessário o uso da escada apresentada na fotografia 5.
Fotografia 5 Escada para acesso ao prédio
Fonte: Os autores, 2017.
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O Instituto funciona no referido prédio, desde o ano de 2007, porém o campus
apresenta restrições críticas de mobilidade, como essas escadas, que até o momento é o
único meio de acesso aos andares, tornando-se inviável a circulação de pessoas em
cadeiras de rodas e um problema para que as demais pessoas com mobilidade reduzida
possam transitar com facilidade. Cabe acrescentar que já foi providenciada a instalação de
elevadores, mas ainda não estão em funcionamento, mas não se sabe ainda se atendem
aos requisitos das normas aplicáveis como a entrada, as rampas, a áreas de giro, a largura
de porta, dentre outras.
Analisado o entorno da biblioteca, verificar-se-á o próximo indicador, que é quanto
à entrada da biblioteca.
6.1.2 A Entrada da Biblioteca
O acesso principal à biblioteca é realizado por uma porta com dimensões de 0,75 m
de largura por 2,10 m de altura, não estando de acordo com o que prevê a ABNT que são
no mínimo 0,80 m de largura e 2,10 m de altura. A biblioteca possui, também, Sistema
Anti-furto, com antenas detectoras de etiquetas. A medida do vão livre entre as antenas é
de 0,76 m, o que implica que não está de acordo com as especificações da NBR 9050:2015
(ABNT, 2015).
A porta possui abertura para a parte interior, mas o ideal seria que a maçaneta
fosse do tipo alavanca, permitindo a abertura com um único movimento. A altura da
maçaneta está a 0,98 m do chão, dentro das especificações da citada norma (2015)
(ABNT, 2015).
A porta também possui um visor, conforme demonstra a fotografia 6, cuja altura
não possibilita detectar pessoas de baixa estatura, pessoas em cadeiras de rodas, o que
pode gerar colisões na entrada e saída do recinto, apesar do espaço livre de entrada visto
na figura 7.
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Fotografias 6 e 7 Porta de entrada da biblioteca, fechada e aberta
Fonte: Os autores, 2017.
A NBR 9050:2015 também recomenda que as portas devam apresentar em sua
parte inferior, no lado oposto ao lado da abertura, revestimento resistente à impactos
ocasionados por muletas, bengalas e cadeiras de rodas, até a altura de 0,40 m a partir do
piso, aspecto, também, que não fora observado na porta de entrada da biblioteca.
Realizada a análise do entorno e entrada da Biblioteca, o próximo indicador a ser
considerado é o relativo aos espaços internos da biblioteca (ABNT, 2015).
6.1.3 Os espaços internos da Biblioteca
Nem todas as áreas da biblioteca possuem rotas acessíveis. A sala de
processamento técnico é um exemplo, cujo vão livre é de apenas 0,58 m, fato que dificulta
a locomoção de uma Pessoa em Cadeira de Rodas (P.C.R) e Pessoa com Mobilidade
Reduzida (P.M.R), como mostra a fotografia 8.
Fotografia 8 Sala de Processamento Técnico
Fonte: Os autores, 2017.
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As especificações dos espaços internos da biblioteca não atendem as especificações
da NBR 9050:2015, que preconizam:
9.3.1.2 As mesas ou superfícies de trabalho acessíveis devem garantir um M.R.
posicionado para a aproximação frontal. Deve ser garantida ainda circulação
adjacente que permita giro de 180° à P.C.R.
9.3.1.3 As mesas ou superfícies de trabalho acessíveis devem possuir tampo com
largura mínima de 0,90 m e altura entre 0,75 m e 0,85 m do piso acabado,
assegurando-se largura livre mínima sob a superfície de 0,80 m.
9.3.1.4 Deve ser assegurada altura livre sob o tampo de no mínimo 0,73 m, com
profundidade livre mínima de 0,50 m, de modo que a P.C.R. tenha a
possibilidade de avançar sob a mesa ou superfície. (ABNT, 2015, p. 119).
Além da NBR 9050:2015 o Estatuto da Pessoa com Deficiência de 06 de julho de
2015 prevê em seu artigo 34 que “as pessoas jurídicas de direito público, privado ou de
qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e
inclusivos”. (BRASIL, 2015, grifo nosso). Após analisar os espaços internos da biblioteca,
o próximo indicador se refere ao piso.
6.1.4 Pisos da Biblioteca
O que chama atenção no piso da biblioteca é que seu revestimento pode gerar risco
por não ser antiderrapante, como mostra a fotografia 9. Entretanto, não empecilhos à
mobilidade em cadeiras de rodas.
Fotografia 9 Piso e corredor da biblioteca
Fonte: Os autores, 2017.
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Sendo que a norma prevê:
6.3.2 Revestimentos. Os materiais de revestimento e acabamento devem ter
superfície regular, firme, estável, não trepidante para dispositivos com rodas e
antiderrapante, sob qualquer condição (seco ou molhado). (ABNT, 2015, p. 55).
A NBR 9050:2015 ainda cita critérios relacionados a existência de capachos,
forrações, carpetes tapetes, mas não se aplicaram à análise da acessibilidade da biblioteca.
Porém, não há sinalização visual e tátil no piso.
6.1.5 Corredores da Biblioteca
Sobre aos corredores, a NBR 9050:2015 expõe que os mesmos devem ser
dimensionados de acordo com o fluxo de pessoas, assegurando uma faixa livre de
barreiras ou obstáculos. As larguras mínimas são de 0,90 m para corredores de uso
comum com extensão até 4,00 m. para corredores de uso comum com extensão até
10,00 m a largura mínima deve ser de 1,20 m. Corredores com extensão superior a 10,00
m a largura mínima deve ser de 1,50 m. Sendo que 1,50 m para corredores de uso público
e maior que 1,50 m para grandes fluxos de pessoas (ABNT, 2015).
Considerando as especificações de largura mínima dos corredores, a biblioteca não
consegue atender de forma plena, uma vez que a largura existente é de 1,76 m, porém
quando as cadeiras estão sendo utilizadas pelos usuários, acabam se tornando obstáculos
para o percurso de pessoas com mobilidade reduzida ou pessoas com cadeiras de rodas.
6.1.6 Sanitários da Biblioteca
No que se refere aos sanitários, no andar da biblioteca existem sanitários, mas não
estão de acordo o previsto na NBR 9050:2015 (ABNT, 2015). No prédio não existem
sanitários com a sinalização internacional de acessibilidade.
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6.2 DA ACESSIBILIDADE QUANTO A ASPECTOS INSTRUMENTAIS
6.2.1 O balcão de atendimento
Sobre a acessibilidade instrumental, o balcão de atendimento é o primeiro
indicador a ser analisado. A NBR 9050:2015 em seu item 9.2.1.4 cita que os balcões de
atendimento acessíveis devem possuir altura entre 0,75 m a 0,85 m do piso, assegurando
a altura livre sob o tampo de no mínimo 0,73 m e profundidade livre mínima de 0,30 m de
modo a permitir a aproximação frontal ou lateral de modo que a P.C.R tenha a
possibilidade de avançar sob o balcão. O balcão da biblioteca, apresentado na fotografia
10.
Fotografia 10 Balcões de atendimento
Fonte: Os autores, 2017.
Os balcões da biblioteca analisada, possuem 1,15m de altura e também não
atendem as demais especificações, inviabilizando a acessibilidade física aos mesmos
(ABNT, 2015).
6.2.2 As mesas de estudo e terminais de consulta
As mesas de estudo também merecem atenção, quanto a acessibilidade,
principalmente no ambiente da biblioteca escolar. A NBR 9050:2015, item 10.16.2 prevê
que pelo menos 5% das mesas de estudo, devam ser acessíveis, bem como possibilitar que
outros 10% sejam adaptáveis para acessibilidade (ABNT, 2015).
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As mesas de estudo da biblioteca do IFRJ Campus Paracambi atendem as normas
no que se refere à altura e profundidade, mas na distância entre mesas não atende, uma
vez que foi verificado em alguns pontos a largura inferior a 0,50 m quando a biblioteca
está com muita demanda e a norma estabelece que seja no mínimo 0,80 m. A fotografia 11
ilustra os móveis referenciados.
Fotografia 11 As mesas para trabalho, leitura e/ou estudo dos usuários da Biblioteca
Fonte: Os autores, 2017.
Os terminais para consulta com acesso à internet e as baias para estudo individual
atendem as especificações citadas (ABNT, 2015).
6.2.3 As estantes
Viabilizar a circulação entre as estantes e a utilização de maneira autônoma do
acervo da biblioteca também é essencial para a acessibilidade. A NBR 9050:2015
determina em seu item 10.16.3 que a largura livre nos corredores entre estantes de livros
deve possuir, no mínimo, 0,90 m e que nos corredores entre as estantes, a cada 15 m, deve
haver um espaço que permita a manobra da cadeira de rodas (ABNT, 2015). Porém, tais
especificações não correspondem às da realidade da biblioteca analisada, conforme está
indicado na seta na fotografia 12.
Diniz; Tamashiro; Santos; Peres/Acessibilidade em Biblioteca Escolar
155
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
AR
TIGO
Fotografia 12 Estantes da Biblioteca
Fonte: Os autores, 2017.
A Biblioteca não contemplou as especificações da NBR 9050:2015 que para este
espaço exige, no mínimo, 0,90 m (ABNT, 2015). A altura das prateleiras também não
atende às faixas de alcance manual e os parâmetros visuais de pessoas em cadeira de
rodas. Na realidade o espaço é reduzido até para os demais usuários em geral.
6.3 O CONJUNTO DE INDICADORES
O conjunto de indicadores obtido é apresentado na tabela 1.
Tabela 1 Resultados do estudo de ocorrência de acessibilidade
INDICADOR
Resultado
1. Quanto à Acessibilidade em aspectos arquitetônicos e urbanísticos:
SIM
NÃO
1. 1. Entorno da Biblioteca;
-
X
1. 2. Entrada da Biblioteca;
-
X
1. 3. Espaços internos da Biblioteca;
-
X
1. 4. Pisos da Biblioteca;
-
X
1. 5. Corredores da Biblioteca; e
-
X
1. 6. Sanitários da Biblioteca.
-
X
2. Quanto à Acessibilidade em aspectos instrumentais:
SIM
NÃO
2. 1. Balcão de Atendimento da Biblioteca;
X
2. 2. Mesas para trabalho, leitura e/ou estudo dos usuários da Biblioteca
X
2. 3. Estantes da Biblioteca.
-
X
Fonte: Os autores, 2017.
0,57m
156
Diniz; Tamashiro; Santos; Peres/Acessibilidade em Biblioteca Escolar
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Em resumo, o resultado aponta que o entorno do Campus revela a existência de
obstáculos no calçamento, falta de acessibilidade nos meios de transporte, nas
sinalizações externas. A biblioteca está localizada no segundo andar do prédio e o acesso
se dá por meio de escadas, dificultando e até mesmo inviabilizando o acesso de pessoa em
cadeira de rodas, bem como das demais pessoas com alguma restrição de mobilidade. A
porta de entrada da biblioteca e alguns mobiliários precisam ser revistos, bem como os
sanitários do prédio.
No entanto, apesar das barreiras para a acessibilidade em aspectos físicos, sejam
eles arquitetônicos e urbanísticos ou instrumentais, percebe-se que esforços estão sendo
feitos pela administração da instituição para a melhoria dos espaços, principalmente para
o atendimento às exigências da acessibilidade, como a instalação de elevadores e a criação
e sinalização de vagas acessíveis no estacionamento.
Observa-se que o método permite aos administradores da instituição criarem
inclusive critérios de prioridades para mudanças.
7 CONCLUSÃO
A pesquisa tratou-se de um estudo de caso de acessibilidade de uma biblioteca
escolar, a do IFRJ Campus Paracambi-RJ, quanto a aspectos arquitetônicos, urbanísticos e
instrumentais da ótica da Lei n° 13.146/2015 e da NBR 9050:2015, onde considerou-se os
indicadores propostos por Gentil Junior (2016) a partir dos critérios dessa norma técnica.
Observou-se que apesar das barreiras quanto a acessibilidade física e instrumental
encontradas, percebe-se que esforços estão sendo feitos para a melhoria dos espaços,
principalmente para o atendimento às exigências da acessibilidade, como a instalação de
elevadores, sinalização de vagas acessíveis no estacionamento da escola.
As mudanças estão sendo realizadas para atender as pessoas com deficiência e
com mobilidade reduzida. Não pode deixar de ser levado em consideração que para os
projetos de acessibilidade serem concretizados, é necessário o interesse do administrador
público e da contratação de profissionais da construção civil e arquitetos, que ofereçam
suporte técnico para acolher as necessidades da população com deficiência física.
Essas ações requerem a busca de diversas soluções, que vão desde um elevador,
perpassando por transporte acessível, ruas sinalizadas, acessibilidade atitudinal pelos
membros da comunidade escolar. É fundamental a compreensão holística da dificuldade
Diniz; Tamashiro; Santos; Peres/Acessibilidade em Biblioteca Escolar
157
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
AR
TIGO
encontrada pela pessoa com deficiência física está em todo espaço público. Faz pouco
tempo que se começou no Brasil, as empresas a procurar atender a legislação sobre
acessibilidade. As regras de acessibilidade se não forem cumpridas na sua integridade, o
espaço público, está relegando ao outro, a possibilidade de inclusão social. Com o
paradigma de construção civil do século passado, nem todos podem ter acesso ao local,
pois até então não se pensava em desenho universal. Acessibilidade quanto a aspectos
arquitetônicos, urbanísticos e instrumentais não se resume a atender os códigos de obra e
a normalização técnica, visa a construção de edificações e espaços e a produção de seus
mobiliários, equipamentos e instrumentos inclusivos, que atenda bem às necessidades de
todas as pessoas.
Finalmente, concluiu-se que o método permite aos administradores da instituição
estabelecer critérios de prioridades para mudanças em prol da acessibilidade.
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Diniz; Tamashiro; Santos; Peres/Acessibilidade em Biblioteca Escolar
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ARTIGO
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Diniz; Tamashiro; Santos; Peres/Acessibilidade em Biblioteca Escolar
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
AR
TIGO
SOBRE OS AUTORES
Cládice Nóbile Diniz
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
E-mail: cladice.diniz@unirio.br
Marcele do Nascimento Silva Tamashiro
Mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Técnico
Administrativo em Educação do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ).
E-mail: marcele.tamashiro@ifrj.edu.br
Marcos Pastana Santos
Mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Coordenador
de Biblioteca do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ).
E-mail: marcos.pastana@ifrj.edu.br
Valéria de Almeida Peres
Especialista em Biblioteconomia e Gestão de Bibliotecas Escolares pela Universidade Cândido Mendes
(UCAM). Técnico Administrativo em Educação do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ).
E-mail: valeria.peres@ifrj.edu.br
Recebido em: 15/03/2017; Revisado em: 11/04/2017; Aceito em: 16/05/2017.
Como citar este artigo
DINIZ, Cládice N. et al. Acessibilidade em biblioteca escolar: estudo de caso do Instituto Federal do Rio de
Janeiro - Campus ParacambiRJ. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 136-159, out.
2017.
NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO DE GESTORES PÚBLICOS: o caso de um Centro
Acadêmico Universitário
INFORMATION NEEDS OF PUBLIC MANAGERS: the case of a University Academic
Center
Niomar Christina de Farias Dantas
UFRN
Luciana Moreira Carvalho
UFRN
RESUMO
Este estudo tem por objetivo analisar, através de um levantamento, a necessidade informacional dos
gestores do Centro de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e,
posteriormente, verificar se o Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos disponibiliza
algum relatório que atenda às necessidades informadas. A população de dez gestores participou de uma
entrevista que contemplou o perfil destes, suas necessidades informacionais orçamentárias e suas
principais fontes de informação. Posteriormente, foram caracterizados os relatórios disponibilizados
pelo sistema e estes foram relacionados com as lacunas informacionais dos gestores, o que demonstrou
que grande parte dessas lacunas estava comtemplada no sistema. Verificou-se, ainda, que a maioria
deles utiliza o sistema para suprir suas lacunas informacionais. Constatou-se que as informações
necessárias a todos eles eram o valor recebido pela unidade e o extrato da unidade, e que ambas as
informações estavam contidas no relatório “extrato orçamentário por unidade”, sendo este, portanto,
considerado o relatório mais relevante. Sugeriu-se, ainda, uma reunião periódica com os gestores para
tratar acerca de esclarecimentos sobre os relatórios disponibilizados e também contato com os
administradores do sistema sobre medidas para disponibilizar as informões orçamentárias de forma
mais clara e efetiva para os usuários.
Palavras-chave: Comportamento informacional. Necessidades de informação. Gestão Orçamentária.
Usuários do Sistema de Patrimônio, Administração e Contratos.
ABSTRACT
This study aims to analyze through a survey, managers’ informational needs of the Center of
Exact and Earth Sciences of Federal University of Rio Grande do Norte and, later, it is verified if
the Integrated System of Patrimony, Administration and Contracts have provided some report
to meet the reported needs. The population of ten managers participated in an interview that
contemplated the profile of these, their budgetary informational needs and their main
information source. Afterwards the reports provided by the system were characterized and
were related to the managers´ informational gap, which demonstrated that most of these gaps
were contemplated in the system. It was analyzed that the most part has used the system to
meet their informational needs. It was found that the information deemed necessary by all were
the value received by the facility and its statement, and that both information were contained in
the "budget statement per facility" report, which is therefore considered the most relevant
report. A periodic meeting with managers was suggested to discuss clarifications about the
reports made available by the system, and also to contact system administrators about
measures to make more clear and effective budgetary information for users
Keywords: Information behavior. Information needs. Budget management. System of Patrimony.
Administration and Contracts users.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
161
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a revolução provocada pela globalização e pelo célere
avanço das tecnologias tem impulsionado as organizações a buscar meios de organizar e
acessar as informações com o intuito de potencializar o seu uso para colaborar com as
suas estratégias.
Consequentemente, o modo de registrar, acessar e disseminar a informação
também mudou. As pessoas anseiam por mais informações, num espaço mais curto de
tempo, de forma que as informações disponibilizadas têm aumentado
exponencialmente, ao ponto de ser humanamente impossível se inteirar de todas as
informações disponíveis. De acordo com Beuren (2000, p.43), “a adaptação da empresa
aos novos paradigmas de um mercado globalizante, exigindo capacidade de inovação,
flexibilidade, rapidez, qualidade, produtividade, dentre outros requisitos, torna cada vez
mais estratégico o papel da informação”.
Nesse contexto, as tecnologias de informação e, consequentemente, os sistemas
de informação, tornam-se ferramentas extremamente relevantes no sentido de
armazenar, tratar e disponibilizar as informações dentro da organização, de forma que o
seu uso seja potencializado para gerar vantagens estratégicas perante os demais entes.
Todavia, para que ocorra um uso efetivo das informações disponibilizadas por
um sistema, é essencial que se tenha conhecimento da real necessidade dessas
informações por parte do usuário. Caso contrário, é grande o risco de um sistema
fornecer informações desnecessárias e sem qualquer relevância.
Nesse sentido, Beuren (2000, p. 14) argumenta que “num ambiente competitivo,
a preocupação com a informação a ser gerada deve consistir na essência do que foi
apreendido, pois um conjunto de características que, combinadas, podem fortalecer
ou, no outro extremo, invalidar uma informação”.
No âmbito das organizações públicas, um sistema que disponibiliza informações
significativas corrobora com uma gestão de qualidade e, consequentemente, com uma
tomada de decisão mais acertada.
Por conseguinte, é importante que, periodicamente, as organizações busquem
averiguar as necessidades de informação de seus gestores com a finalidade de fornecer-
lhes o suporte necessário para uma gestão plena e eficaz. Nesse contexto, Akaichi (2013,
p. 33) afirma que “com a visão de que a informação é um recurso estratégico, as
162
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
instituições tanto públicas como privadas investem para melhorar seus sistemas
informacionais e torná-los capazes de satisfazer as necessidades informacionais de seus
usuários”.
As Universidades Públicas, enquanto instituições de ensino, pesquisa e extensão,
também são compelidas a se atualizarem constantemente e, assim, compactuam desse
objetivo de investigar as lacunas informacionais de seus gestores e de utilizar os
sistemas de informação disponíveis para atender essas necessidades, de forma a
colaborar com o controle e a execução orçamentária e financeira.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) existe um Sistema de
Informação chamado Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos
(SIPAC). Em um dos módulos desse sistema, denominado portal administrativo, é
disponibilizada a aba “orçamento”, que é responsável pelo fornecimento de diversos
relatórios orçamentários aos gestores das unidades acadêmicas.
Importa registrar que a UFRN é subdividida em unidades, algumas das quais
denominadas Centros Acadêmicos. Para efeito desse estudo, será avaliado, nessa
Instituição, o Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET).
Considerando o exposto, emerge o problema que deve orientar este estudo: quais
são as informações que os gestores do CCET consideram necessárias para auxiliá-los na
gestão orçamentária?
Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo geral analisar as necessidades
informacionais dos gestores do CCET para fins de execução orçamentária. Para tanto,
será necessário atingir os seguintes objetivos específicos: (a) realizar um levantamento
bibliográfico acerca do tema comportamento informacional, com enfoque nas
necessidades de informação; (b) descobrir, por meio de entrevista, as necessidades
informacionais dos gestores do CCET; e (c) identificar se os relatórios disponibilizados
pelo SIPAC fornecem as informações almejadas pelos gestores do Centro.
Dessa forma, este estudo poderá estabelecer uma inter-relação entre as
necessidades informacionais dos gestores e os relatórios disponibilizados no SIPAC e,
por esse meio, verificar se as necessidades informacionais dos usuários estão sendo
contempladas pelo sistema.
Acredita-se, além do mais, que a abordagem da lacuna informacional em
consonância com a gestão orçamentária e com os sistemas de informação pode
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
163
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
contribuir com as discussões teóricas sobre o comportamento informacional e com a
afirmativa de que a ciência da informação é um campo interdisciplinar.
Além disso, a presente pesquisa afeta de forma direta as atividades
desenvolvidas por uma das autoras no seu ambiente laboral, tendo em vista que uma de
suas atribuições consiste em prover, aos sujeitos envolvidos nessa pesquisa,
informações relevantes para a gestão orçamentária. Logo, será de grande valia analisar
as necessidades informacionais orçamentárias dos gestores.
Nas seções que seguem serão abordados, inicialmente, os conceitos acerca do
comportamento informacional, com ênfase nas necessidades informacionais.
Posteriormente, serão abordadas definições acerca dos sistemas de informação e, em
especial, uma explanação detalhada sobre o SIPAC. Em seguida, serão abordados os
procedimentos metodológicos utilizados na presente pesquisa. Logo após, serão
analisados os resultados obtidos e, por fim, elaboradas conclusões acerca deste estudo.
2 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL
O comportamento informacional, termo atual e moderno, inicialmente
denominado estudos de usuários, teve sua origem na Ciência da informação. Os
pesquisadores, em sua maioria, passaram a se interessar pelo tema em meados da
década de 1940, embora ele tenha sido introduzido no Brasil no ano de 1970.
Conforme contextualiza Figueiredo (1994, p.7):
A maioria dos estudos nesse campo foi realizada a partir da segunda metade da
década de 40. Na Conferência da Royal Society, em 1948, foram apresentados
trabalhos que vieram contribuir para criar preocupação para estudos
orientados às necessidades dos usuários. A Conferência Internacional de
Informação Científica, em Washington, em 1958, também muito contribuiu para
o desenvolvimento desta área de investigação, com diversos trabalhos
apresentados sobre estudos de usuários.
Sobre a evolução dos estudos de usuários, Araújo (2016, p. 62) discorre que:
a publicação de um capítulo sobre information needs and uses no Anual Review
of Information Science and Technology, a partir de 1966, foi fundamental para a
estruturação conceitual do campo, bem como para a integração e articulação
dos diversos achados empíricos de centenas de pesquisas.
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Além disso, os estudos de usuários são vistos sob a ótica de dois paradigmas: o
custodial ou tradicional e o alternativo, definidos por Figueiredo (1994, p. 8),
respectivamente, como: 1) estudos orientados ao uso de uma biblioteca ou centro de
informação individual; 2) estudos orientados ao usuário, isto é, investigação sobre um
grupo particular de usuários, como este obtém a informação necessária ao seu trabalho”.
Para um melhor entendimento desses paradigmas, segue abaixo um quadro
comparativo:
Quadro 1 - Comparação entre os paradigmas tradicional e alternativo dos estudos de usuários
CATEGORIA
PARADIGMA TRADICIONAL
PARADIGMA ALTERNATIVO
Natureza da informação
Objetiva
Objetiva e subjetiva
Comportamento do
usuário
Mecanicista, passivo
Construtivista, ativo
Predição do
comportamento
Descreve o comportamento dos
usuários para aplicar em várias
situações.
Orientação situacional. Para cada
situação um tipo de
comportamento diferente é
esperado.
Visualização do contexto
Atômico, específico
Holístico, global
Avaliação do
comportamento do
usuário
Comportamento externalizado,
que pode ser mais facilmente
medido e acompanhado
Comportamento cognitivo
Produto da observação
Individualidade sistemática,
comportamento pode ser
previsto
Individualidade caótica, o
comportamento individual não
pode ser previsto.
Fonte: Adaptado de Dervin e Nilan (1986, apud OLIVEIRA, 2008, p. 45).
Estudos de usuários são, portanto, investigações realizadas para saber qual a
necessidade de informação de um indivíduo ou para saber se essa necessidade está
sendo satisfeita de maneira adequada (FIGUEIREDO, 1994).
Le Coadic (1996, p. 50) também afirma que nos estudos de usos e usuários,
“deseja-se avaliar as necessidades dos usuários, a fim de saber até que ponto os serviços
oferecidos respondem a essas necessidades”.
Numa modernização do termo “estudos de usuários” e amplitude de seu conceito,
emerge o comportamento informacional, definido por Davenport (1998, p. 110) como “o
modo como os indivíduos lidam com a informação. Inclui a busca, o uso, a alteração, a
troca, o acúmulo e até mesmo o ato de ignorar os informes”.
O comportamento informacional está relacionado com as características da
pessoa ou de um grupo de pessoas e tem a ver com o contexto ao qual elas estão
inseridas e a situação na qual elas se encontram e, além disso, referem-se tão somente a
busca, seleção e uso da informação. Depreende-se aqui, que a origem de um
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
165
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
comportamento informacional se na necessidade do ser humano, tendo em vista que
a busca é consequência da identificação de uma necessidade. (SILVA, 2013)
Baseados nesses atributos foram definidos alguns modelos de comportamento
informacional, dentre eles, o modelo pioneiro de Tom Wilson (1981), o modelo sense-
making de Brenda Dervin (1983), o modelo de Ellis (1989), o de Kuhlthau (1991) e o
modelo multifacetado de Choo (2003).
Acerca dos modelos de comportamento informacional, Araújo (2016, p. 65)
atesta:
Deve-se destacar, além disso, o fato de todas essas abordagens terem em
comum a ideia de que o processo de comportamento informacional tem origem
numa situação problemática (um estado anômalo de conhecimento, a
percepção de uma lacuna no conhecimento), que é o mecanismo ativador das
ações de busca por informação, elemento determinante do processo, pois é a
partir dela que o sujeito se engaja no processo de busca que resultará no
encontro e uso da informação.
Para efeito dessa pesquisa, a base teórica para o estudo do comportamento
informacional utilizada foi o modelo multifacetado de Choo (2003), abordado a seguir.
2.1 O MODELO MULTIFACETADO DE CHOO
Orientado pelos modelos de Wilson (1981), Dervin (1983) e outros
pesquisadores clássicos, Choo (2003) elaborou o modelo multifacetado de
comportamento informacional, contemplando as etapas de necessidade, busca e uso da
informação e analisando essas etapas sob as dimensões cognitiva, emocional e
situacional, conforme Quadro 2.
Quadro 2 - Estrutura teórica de busca e uso da informação
Ambiente
Ambiente de Processamento da Informação
Ambiente de Uso da
Informação
Comportamento
Necessidades
Cognitivas
Reações Emocionais
Dimensões Situacionais
Necessidade
Busca
Uso
Fonte: Adaptado de Choo (2003, p. 84).
Dentre os estudos realizados nesse modelo, Choo (2003) elenca como um dos
objetivos o entendimento daquelas necessidades que impulsionam o indivíduo a buscar
determinada informação. O autor ainda afirma que “as necessidades variam de acordo
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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com a profissão ou grupo social do usuário, suas origens demográficas e os requisitos
específicos de tarefa que ele está realizando” (CHOO, 2003, p. 79).
Nota-se que o que define inicialmente um comportamento de busca da
informação, nesse modelo de Choo e nos demais abordados pela literatura, é a
necessidade gerada no indivíduo. Daí decorre a importância de se estudar a necessidade
informacional dos gestores no que se refere ao seu comportamento informacional.
Nesse sentido, Beal (2004, p. 36) discorre que:
Identificar as necessidades informacionais (atendidas e não atendidas) dos
grupos e indivíduos que integram a organização e de seus blicos externos é
um passo fundamental para que possam ser desenvolvidos produtos
informacionais orientados especificamente para cada grupo e necessidade, o
que tende a ampliar significativamente tanto a utilidade da informação quanto
a propensão dos usuários de aplicá-la em benefício da organização.
Confirmando essa linha de pensamento, Beuren (2000, p. 79) afirma que “[...] os
gestores precisam ser atendidos em suas necessidades específicas de informações, de
acordo com as áreas que atuam e as operações que nela desenvolvem, fundamentadas
em conceitos que façam um sentido lógico”. Sobre o assunto, Barbosa (2008, p. 21)
declara ainda que [...] a questão do uso e da identificação de necessidades de
informação tornam-se aspectos fundamentais”.
Outro ponto a ser observado é a verificação periódica dessas necessidades,
conforme aduz Beal (2004, p. 33): “a avaliação das necessidades de informação deve ser
vista como um processo a ser repetido periodicamente [...] para que eventuais mudanças
que afetem as necessidades de informação possam ser detectadas e dar origem a
respostas oportunas e adequadas”.
A avaliação das necessidades de informação, portanto, exerce papel
preponderante na definição de que informações devem ser disponibilizadas pelos
sistemas de informação, que poderá influenciar diretamente no modo como o usuário
se comporta ao buscar e usar essas informações. Acerca desse aspecto, Beal (2004, p.
36) afirma que:
O mapeamento das necessidades de informação permite planejar com mais
eficácia o desenvolvimento de sistemas e os investimentos em tecnologia da
informação, ao assegurar uma compreensão mais clara daquilo que é
prioritário com relação às exigências e expectativas de cada público alvo.
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Nessa mesma linha de entendimento, Beuren (2000, p. 45) explica que “para que
os dados se transformem em informação útil, eles precisam ser decodificados,
organizados e contextualizados, de acordo com as necessidades dos responsáveis pelo
processo decisório”.
Após as devidas menções, será tratada a seguir a abordagem acerca dos sistemas
de informação enquanto organizador e fornecedor de informações necessárias aos
usuários.
3 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
Os sistemas de informação são ferramentas valorosas para uma gestão
satisfatória e, consequentemente, para subsidiar os gestores na gestão orçamentária de
recursos públicos, potencializando o seu uso.
Padoveze (2012, p.45) define sistemas de informação como “um conjunto de
recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros agregados segundo uma
sequência lógica para o processamento dos dados e tradução em informações, para com
o seu produto, permitir às organizações o cumprimento de seus objetivos principais”.
Assim, “o sistema de informações consubstancia-se no conjunto de elementos
(humanos, tecnológicos, materiais e financeiros) que viabiliza a captação de dados, seu
processamento e a geração e divulgação de informações”. (BEUREN, 2000, p. 38-39).
Araújo Júnior e Álvares (2008, p. 200), por sua vez, dissertam que “na concepção
que será apresentada para os sistemas de informação, o amplo conhecimento do perfil
do consumo da informação dos usuários, bem como o levantamento de suas
necessidades de informação deverão ser o objetivo a ser alcançado [...]”.
Nessa concepção, espera-se que um bom sistema de informação deva, ao menos,
atender as necessidades informacionais de seus usuários. E para uma melhor
compreensão do que foi abordado, será feito a seguir um maior detalhamento acerca do
sistema de informação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o
Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos (SIPAC).
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
4 SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E CONTRATOS
Conforme informações disponibilizadas no website da Superintendência de
Informática (SINFO) da UFRN, verifica-se que foram criados três sistemas base para a
Universidade: o Sistema Integrado de Atividades Acadêmicas (SIGAA), o Sistema
Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos (SIPAC), e o Sistema Integrado de
Gestão de Recursos Humanos (SIGPRH). No intuito de ligar os módulos operacionais
existentes, foi criada uma base, e as informações necessárias foram transportadas de
um sistema para o outro. Eles dividiram-se em duas grandes áreas: a administrativa,
onde se encaixam o SIPAC e o SIGPRH, e a área acadêmica, onde figura o SIGAA.
O SIPAC apoia as operações nas gestões das unidades da UFRN responsáveis
pelas finanças, pelo patrimônio e pelos contratos. Integra desde a requisição (material,
prestação de serviço, suprimentos de fundos, diárias, passagens, hospedagem, material
informacional, manutenção de infraestrutura) até o controle de orçamento interno.
Esse sistema é constituído de diversos módulos, dentre eles, o portal
administrativo, que fornece tarefas, consideradas comuns, à maioria dos servidores
atuantes na área administrativa de patrimônio, compras, transportes, finanças etc.,
permitindo que esses servidores realizem cadastros de requisições, consultas, envio de
memorandos eletrônicos e outras atividades.
No portal administrativo são disponibilizadas as abas de requisições, bolsas,
comunicação, compras, contratos, projetos, orçamento, patrimônio móvel, telefonia e
outros, conforme demonstrado na Figura 1.
Figura 1 Tela do Portal Administrativo do SIPAC
Fonte: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2017).
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Para fins deste estudo, serão analisados os relatórios disponibilizados aos
gestores na aba “orçamento”, totalizando 12 documentos, discriminados e
caracterizados a seguir, baseados no manual do sistema, disponibilizado no seu link de
“ajuda”.
a) despesas da unidade: permite ao usuário visualizar as despesas da sua
unidade, sendo exibidos os valores empenhados, transferidos, e o total da
despesa, detalhados por natureza de despesa (rubrica). também um
gráfico demonstrando esses valores.
b) despesas por natureza de despesa: permite ao usuário gerar o relatório de
despesas por natureza da despesa no período informado ao sistema.
Diferentemente do anterior, nesse relatório o usuário precisa informar qual
rubrica ele pretende visualizar, sendo exibida somente uma rubrica de cada
vez.
c) despesas mensais por natureza de despesa: permite ao usuário gerar o
relatório com as despesas mensais por natureza de despesa, de acordo com
os dados informados ao sistema. O sistema também exibe as informações
através de um gráfico. É o relatório anterior distribuído mês a mês.
d) empenhos a pagar: permite ao usuário gerar o relatório com a lista de
empenhos a pagar. É possível consultar os dados de cada empenho, bem
como visualizar o resumo da requisição.
e) empenhos emitidos: permite ao usuário gerar um relatório dos empenhos
emitidos por período. O usuário pode extrair as informações por modalidade
e outras informações.
f) GRU´s importadas: permite ao usuário verificar detalhadamente uma GRU,
incluindo a data e o valor do pagamento. Essa descrição foi formulada pelas
autoras, tendo em vista que não havia a definição dessa função no manual do
sistema.
g) extrato orçamentário por unidade: permite ao usuário listar e totalizar as
movimentações orçamentárias de débito e de crédito da unidade informada
ao sistema. O extrato ainda oferece filtros, por meio dos quais o usuário pode
obter informações mais específicas.
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
h) extrato orçamentário de documentos de empenhos por unidades: embora
apareça como disponível ao gestor, não está com o item liberado. Além disso,
não existe esse item no manual do sistema. Starec (2008) estabelece uma
relação entre os pecados informacionais e os pecados capitais, e mostra que o
excesso de informação pode ser prejudicial.
i) movimentação orçamentária por unidade: permite ao usuário gerar o
relatório de movimentação orçamentária por unidade, de acordo com os
dados informados ao sistema.
j) saldo orçamentário por unidade: permite ao usuário listar e totalizar o saldo
orçamentário da unidade desejada, considerando a natureza da despesa, o
programa de trabalho resumido, a fonte de recurso, a esfera e o plano
interno.
k) saldo resumido por unidade: permite ao usuário gerar o relatório contendo o
saldo resumido por unidade no ano orçamentário informado ao sistema.
l) saldo orçamentário por unidade inativa: permite ao usuário listar e totalizar
o saldo orçamentário de uma unidade inativa, considerando a natureza da
despesa, o programa de trabalho resumido, a fonte de recurso, a esfera e o
plano interno.
Cabe ressaltar que, em todos os relatórios, é possível conseguir a informação do
ano corrente e dos anos anteriores, a partir do ano 2000.
Após ter sido identificado o Sistema de Informação a ser objeto de estudo, é
chegado o momento de analisar o ambiente de pesquisa, a ser abordado na próxima
seção.
5 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA
O Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET) é um centro acadêmico definido
nos termos dos artigos 7º e do Estatuto da UFRN e do art. 43 do seu Regimento Geral.
Trata de uma unidade de ensino, pesquisa e extensão caracterizada pela implementação
da formação profissional, congregando cursos e programas de graduação, pós-
graduação e sequenciais em áreas específicas do conhecimento.
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
O CCET tem orçamento próprio, e os recursos financeiros recebidos pelo Centro
são distribuídos para dez subunidades (cada uma com autonomia para executar o seu
orçamento), a saber: Administração do Centro, Departamento de Ciências Atuariais,
Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas, Departamento de Matemática,
Departamento de Geofísica, Instituto de Química, Instituto de Física, Departamento de
Informática e Matemática Aplicada, Departamento de Geologia e Departamento de
Demografia e Ciências Atuariais.
6 METODOLOGIA
A pesquisa caracteriza-se como descritiva, com a finalidade de descrever as
necessidades informacionais dos gestores do CCET e, segundo Gil (1999, p. 44), “as
pesquisas desse tipo tem como objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relação entre as
variáveis”.
No que concerne aos procedimentos, esta pesquisa caracteriza-se como
bibliográfica, por meio da qual foram feitos estudos acerca do comportamento
informacional, mais especificamente das necessidades de informação e dos sistemas de
informação, bem como da relação entre eles, através de pesquisas em livros e em meio
eletrônico: Google Acadêmico, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTD) e do Portal de Periódicos da CAPES/MEC. A pesquisa bibliográfica “toma como
objeto apenas livros e artigos científicos, tendo normalmente a finalidade de buscar
relações entre conceitos, características e ideias [...].” (ALMEIDA, 2014, p. 28).
Além disso, o estudo trata do caso da UFRN, e em particular, dos gestores das
Unidades Acadêmicas vinculadas orçamentariamente ao CCET e, como tal, possibilitou
ter um cenário sobre a realidade do grupo estudado através do levantamento (surveys)
e que, segundo Gil (1999), é feita de forma direta, escolhendo o grupo do qual se deseja
conhecer um determinado comportamento.
O estudo foi realizado através de uma abordagem quantitativa e que, segundo
Beuren (2004, p. 92), “caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto
na coleta quanto no tratamento dos dados”. Teve como população os gestores do CCET
da UFRN que recebem recursos diretamente deste Centro, conforme discriminados
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
anteriormente (gestor de cada subunidade), totalizando 10 pessoas (todas
entrevistadas).
A coleta dos dados foi realizada através de formulário constante de cinco
questões abertas e fechadas de múltipla escolha, sendo que, em duas das questões,
poder-se-ia escolher mais de uma alternativa, sendo seguido o mesmo roteiro para
todos os entrevistados. Para Marconi e Lakatos (2001, p. 107) o formulário é o “roteiro
de perguntas enunciadas pelo entrevistador e preenchidas por ele com as respostas do
pesquisado”.
A análise dos dados foi conseguida através da estatística descritiva, e a tabulação
dos dados foi realizada através do Excell, que gerou gráficos e quadros para análise.
A partir da realização dos procedimentos metodológicos, identificando os sujeitos
da pesquisa, o contexto de investigação e aplicação do instrumento de coleta de dados,
foi possível alcançar os resultados que serão discutidos a seguir.
7 RESULTADOS
Segundo os estudos realizados, constatou-se que 40% da população entrevistada
têm entre 41 e 50 anos, 40% têm acima de 50 anos e 20% da população entrevistada
têm entre 31 e 40 anos de idade.
Em relação ao tempo de atuação como gestor, 70% dos gestores têm até três anos
de atuação, 20% têm de dezesseis a dezoito anos, enquanto 10% têm de quatro a seis
ano. O tempo de gestão variou entre 3 meses e 17 anos e meio. Foi detectado que 100%
dos gestores utilizaram informações orçamentárias para auxiliá-los na gestão
orçamentária.
Choo (2003) explica que as necessidades informacionais passam por diversos
níveis da consciência do indivíduo e que, através de diálogos, observações e reflexões, o
indivíduo vai tornar mais clara essa informação e externalizá-la e, assim, essa
necessidade poderá ser apresentada a um sistema de informação.
Nesse sentido, durante a pesquisa, foi feita uma análise para saber que
informações os gestores consideravam necessárias para auxiliá-los na gestão
orçamentária. O resultado dessa análise encontra-se no Gráfico 1.
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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ARTIGO
Gráfico 1 Necessidades informacionais dos gestores do CCET
Fonte: As autoras (2017).
As informações consideradas necessárias por 100% dos gestores entrevistados
foram o valor recebido pela unidade e o extrato orçamentário. Em seguida foram
mencionados: as despesas por rubrica (90%); o gasto no período (70%); o cronograma
de previsão da receita (20%); e, por fim, as despesas por rubrica por período, a previsão
das despesas mensais, bem como os prazos para execução dos recursos (10%).
De posse dessas informações, o próximo passo foi saber se o SIPAC contempla
essa lacuna informacional dos gestores, pois, segundo O’Brien (2004) o fornecimento de
informações necessárias é uma característica de qualidade da informação em um
sistema de informação. Essa relação está estabelecida no quadro 3, por ordem
decrescente de necessidade.
Quadro 3 Relação necessidade x disponibilidade
Necessidade Informacional dos Gestores
Relatório no SIPAC que Contempla a
Informação Necessária
Valor recebido pela unidade
Extrato orçamentário por unidade
Saldo orçamentário por unidade
Extrato Orçamentário
Extrato orçamentário por unidade
Despesas por rubrica
Despesas da unidade
Despesas por natureza de despesa
Extrato orçamentário
Gasto no período
Despesas da unidade
Cronograma de previsão receita
-
Despesas por rubrica por período
Despesas por natureza de despesa
Previsão de despesas mensais
-
Prazo de execução da despesa
-
Fonte: As autoras (2017).
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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ARTIGO
O “valor recebido pela unidade” é disponibilizado no relatório “extrato
orçamentário por unidade” e também no “saldo orçamentário por unidade”. Nesses
relatórios a informação é disponibilizada com outras informações, o que pode causar
alguma confusão e, consequentemente, gerar insatisfação no usuário. Acerca desse
aspecto, Starec (2008) afirma ser o “pecado informacional da ira”, que a informação
imprecisa tende a gerar insatisfação no usuário.
No relatório “extrato orçamentário por unidade” o gestor poderá visualizar a
informação “extrato orçamentário”, podendo ainda escolher em que período ele quer ver
os lançamentos. Essa informação foi considerada necessária por todos os atores da
pesquisa.
A informação “despesas por rubrica” pode ser encontrada no relatório
denominado “relatório de despesas da unidade”, onde consta uma tabela com as
despesas categorizadas por rubrica e aparecem todas as rubricas; ou, ainda, no relatório
“despesas por natureza de despesa”, no qual podem ser selecionados a rubrica e o
período. Nessa última opção, o relatório pode ser emitido por um período específico e
por uma rubrica específica, ou também por meio de acesso ao relatório “extrato
orçamentário”, utilizando-se o filtro ‘por natureza de despesa’, escolhendo-se a rubrica
que se quer averiguar.
A informação “gasto no período” é encontrada no relatório “despesa por
unidade”, e no item ‘período’ o usuário informa o período desejado.
O cronograma com a previsão da receita não é disponibilizado pelo sistema,
porém essa informação pode ser obtida junto ao Departamento de Contabilidade e
Finanças da UFRN.
A informação “despesa por rubrica por período” está disponibilizada no relatório
“despesa por natureza de despesa”.
A relação com a previsão das despesas mensais pode ser realizada, por ser de
caráter variável, e é disponibilizada no Setor de Execução Orçamentária (SEO) do CCET,
através de uma análise de despesas anteriores.
Em um segundo momento, os gestores também foram questionados acerca da
fonte de informação utilizada para suprir suas necessidades de informação. Sobre esse
aspecto, Choo (2003) argue que o usuário pode buscar a informação que precisa em
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
diversas fontes, que podem ser formais (sistemas) ou informais (colegas), e que ambas
são de grande importância. Na análise, obteve-se o seguinte resultado:
Gráfico 2 Fontes de Informação
Fonte: As autoras (2017).
Essa análise mostra que o SIPAC tem um bom percentual de uso, sendo utilizado
por 90% dos respondentes. Além disso, 60% deles confirmaram que também usam o
SEO do CCET e a secretaria de sua unidade como outra fonte de informação. Os colegas
ex-gestores são utilizados como fonte de informação por apenas 10% dos entrevistados.
O percentual correspondente aos 10% que não utiliza o SIPAC se refere àqueles que
afirmaram sanar todas as suas dúvidas exclusivamente com a secretaria de sua unidade.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa analisou as necessidades informacionais dos gestores do
CCET/UFRN para fins de gestão orçamentária. Para tanto, foi realizado, inicialmente, um
levantamento bibliográfico acerca da temática do comportamento informacional, com
enfoque na necessidade de informação e, com base nesse estudo, foi elaborada uma
entrevista que buscasse compreender as reais necessidades informacionais dos gestores
para fins de gestão orçamentária. Posteriormente, foram caracterizados os relatórios
disponibilizados na aba “orçamento” do SIPAC e, por fim, foi estabelecida uma relação
entre o que os gestores necessitam e o que o SIPAC disponibiliza de relatório, mostrando
assim que o objetivo geral e os objetivos específicos foram alcançados.
Durante a caracterização dos relatórios foi possível constatar que o relatório
denominado ‘extrato orçamentário de documentos de empenho por unidade’, apesar de
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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estar relacionado na aba do sistema, não está acessível aos gestores, pois emite a
mensagem de acesso negado usuário não autorizado”. Aconselha-se que seja excluída
essa aparente possibilidade de acesso ao relatório, tendo em vista que o excesso de
informações pode ser prejudicial ao processo de seleção e uso da informação relevante.
Observou-se também que os relatórios orçamentários disponibilizados, em sua
maioria, contêm informações com termos específicos/técnicos da Ciência Contábil.
Assim, a compreensão adequada dos dados do sistema requer do usuário um mínimo de
conhecimento na área. Em relação a esse ponto, sugere-se que se promova,
periodicamente, uma abordagem explicativa dos relatórios. Além disso, é interessante
verificar com os administradores do SIPAC acerca de medidas para disponibilizar essas
informações de forma mais clara e efetiva para o público leigo. Dependendo da
viabilidade operacional e semântica, poderia, por exemplo, ser inserido abaixo da
denominação do relatório, entre parênteses, um significado mais usual e simplificado (se
houver) do termo técnico utilizado. Ou, ainda, ser disponibilizado esse esclarecimento
por meio de um link de acesso imediato no momento em que o relatório fosse acessado
na aba correspondente.
Esse estudo não teve a intenção de esgotar a temática abordada. Aconselha-se,
ainda, como sugestão para estudos futuros, que seja feita uma avaliação dos relatórios
disponibilizados pelo SIPAC no sentido de verificar outras duas situações: (a) se os
gestores realmente conhecem e usam os relatórios, que pode acontecer de a
informação estar disponibilizada no sistema e o gestor não ter ciência disso; (b) se há no
sistema relatórios que o atendem a nenhuma das necessidades dos gestores e, em
caso afirmativo, avaliar se eles podem ser excluídos da aba de acesso com o intuito de
evitar o excesso informacional; e (c) ampliar a pesquisa para os gestores de todas as
unidades orçamentárias da UFRN, de modo a corroborar com as afirmações oriundas
deste estudo.
Por fim, entende-se que o extrato orçamentário por unidade pode ser
considerado o relatório mais relevante, por tratar das duas necessidades informacionais
citadas por 100% dos gestores.
Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
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Dantas; Carvalho / Necessidades de Informação de Gestores Públicos
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ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
Niomar Christina de Farias Dantas
Mestranda em Gestão da Informação e do Conhecimento do Programa de Pós-Graduação em Gestão da
Informação e do Conhecimento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGIC/ UFRN).
E-mail: niomar_cris@hotmail.com
Luciana Moreira Carvalho
Professora Associada do Departamento de Ciência da Informação da UFRN. Professora do Programa de
Pós-graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento (PPGIC/UFRN).
E-mail: lucianamoreiraufrn@gmail.com
Recebido em: 16/03/2017; Revisado em: 14/04/2017; Aceito em: 17/05/2017.
Como citar este artigo
DANTAS, Niomar; MOREIRA, Luciana. Necessidades de Informação de Gestores blicos: o caso de um
Centro Acadêmico Universitário. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 160-180, out.
2017.
O FIM DO CONSUMISMO: uma reflexão sobre o consumo compartilhado na era digital
THE END OF CONSUMMISM: a reflection on consumption shared in the digital age
José Wellithon Batista Zacarias
UECE
José Adailson de Albuquerque Pereira
URCA
Isabel Cristina Gonçalves Santos Batista
UECE
RESUMO
No decorrer dos anos, novas tecnologias de comunicação de massa foram criadas e passaram a usufruir
de grande destaque, mudando até mesmo a forma de interação social e possibilitando algo; como o
retorno de práticas como a do consumo colaborativo, desta vez mais forte e difuso. O presente artigo
tem como temática principal “O fim do consumismo: uma reflexão sobre o consumo compartilhado na
era digital”, onde através do estudo da literatura existente e da análise dos principais meios e
ferramentas que proporcionam esse comportamento, por parte dos usuários presentes na internet,
evidenciando quais impactos são refletidos no mercado e o perfil dos internautas que usufruem de tais
práticas. Será mostrada de forma contextualizada exemplos de ideias, empresas e ações que apoiam a
evolução e disseminação do tema acima citado. Por fim, descrever os benefícios que o consumo
compartilhado pode trazer para nossa sociedade cada vez mais conectada e participativa. Como também
demonstrar como podemos ser mais sustentáveis na produção e reprodução de nosso cotidiano,
objetivando também a formação de um consumidor consciente das armadilhas do consumismo.
Palavras-chave: Consumismo. Consumo Compartilhado. Era Digital. Redes Sociais. Economia
Compartilhada.
ABSTRACT
Over the years, new mass communication technologies were created and began to enjoy great
prominence, changing even in the form of social interaction and enabling something like the
return of practices such as collaborative consumption, stronger and more diffused. This article
has as main theme "The end of consumerism: a reflection on shared consumption in the digital
age", where through literature study and analysis of the main means and tools that provide this
behavior by the users present on the internet, showing What impacts are reflected in the
market and of Internet users who enjoy such practices. Examples of ideas, companies and
actions that support the evolution and dissemination of the above mentioned theme will be
shown in a contextualized way. Finally, I will describe in a direct and succinct way the benefits
that shared consumption can bring to our increasingly connected and participative society on
the Internet, as well as show if we can make the production form more self-sustaining, also
aiming at a considerable reduction of impulses Based on consumerism.
Keywords: Consumerism. Shared Consumption. Digital age. Social networks. Shared Economy.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
182
Zacarias; Pereira; Batista; O fim do consumismo
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
1 INTRODUÇÃO
Seguindo a mesma tendência dos demais veículos de comunicação de massa; que
na definição de (ROBERT BRYM et. al., 2006). Esses veículos são: a imprensa escrita, o
rádio, a televisão e outras tecnologias de comunicação. A internet foi conquistando seu
espaço no cotidiano da sociedade, tornando-se cada vez mais presente nos meios
corporativos e nos lares. E seguindo o papel das demais mídias, moldando as formas
como nos comunicamos e mantemos nossos vínculos sociais. Novas formas de
interações sociais são criadas cotidianamente, onde percebemos que recentemente
uma tendência de declínio das interações físicas “face a face”.
É comum aos internautas à interação com pessoas estranhas, que pouco se sabe a
seu respeito como seus valores, crenças e etc., requisitos necessários em outros tempos
antes de se iniciar uma aproximação; criando por sua vez um cenário em que o perfil do
outro é sempre analisado, visando averiguar o comportamento e os contatos em comum,
refletindo assim se irá ou não ter uma interação com o mesmo. que pode ter
interesses semelhantes com esses internautas, uma análise de sua reputação é sempre
feita, mesmo que de modo inconsciente.
A internet vem rompendo com algo que até o momento nenhuma outra
tecnologia de mídia tinha proporcionado em tão grande escala, possibilitar aos seus
usuários o poder de interagir, decidindo o que acessar, compartilhar, e até mesmo
produzirem conteúdo.
Essa proatividade traz consigo outras características, onde o egocentrismo vem
sendo deixado de lado, para que simplesmente possamos fazer parte do todo, nos
valendo de nossa posição para contribuir com o conhecimento, como também
compartilhar os materiais que possuímos.
Essa foi a ideia principal do sistema Operacional Linux; e é essa à ideia do
consumo colaborativo, onde fazemos o que podemos para o bem coletivo, seja
diminuindo o valor de um produto comprando-o de alguém que não o queira mais; como
também diminuindo o valor de um bem ou serviço ao compartilhá-lo com outra(s)
pessoa(s) que fazem parte dos vínculos de amigos na rede; como também empréstimos
de bens que não estão em uso para pessoas que estejam necessitando de tal ferramenta
no momento.
Zacarias; Pereira; Batista| O Fim do Consumismo
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
Com a possibilidade de interação entre pessoas que comumente não se
conheceriam, a internet quebra a barreira de tempo e da localidade geográfica,
possibilitando que tenhamos mais contato com outras pessoas, próximas ou não, mas
que em boa parte dos casos tem os mesmos interesses, que os mecanismos de busca
das redes sociais possuem ferramentas que identificam pessoas e as colocam em um
mesmo grupo, fazendo com que pessoas com gostos semelhantes possivelmente
interajam. Possibilitando que as mesmas consigam ajudar e serem ajudadas neste
vínculo social.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 INTERNET: A PROATIVIDADE DOS INTERNAUTAS
A Internet, surgiu em plena Guerra Fria, a princípio com objetivos restritamente
militar, sendo uma forma encontrada para que mesmo quando uma base fosse atacada, a
comunicação entre as outras demais não seriam interrompidas. Mas com o fim da
Guerra, sua função foi ampliada e gradativamente disseminada, iniciando por
universidade, indústrias e por fim e não menos importante, nos lares. A utilizão da
internet no mundo vem em um colossal crescimento desde a década de 90. Vejamos o
exemplo brasileiro no gráfico 1.
Gráfico 1. Pela primeira vez no Brasil, o número de lares com internet é superior aos sem
Fonte: Dados obtidos do Site do IBGE
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Zacarias; Pereira; Batista; O fim do consumismo
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
A internet foi a primeira mídia de massa que possibilitou aos seus usuários a
alternativa de uma eventual interação não apenas unidirecional, onde não somos apenas
meros expectadores, agora podemos interagir e amesmo produzirmos nosso próprio
conteúdo, tornando cada vez mais importante a participação e a proatividade de seus
usuários. De acordo com a autora (RECUERO, 2009):
Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se,
interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores,
rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e a
visualização de suas redes sociais através desses rastros (RECUERO, 2009, p.
24).
Dispomos da escolha do conteúdo a ser consumido, como também do tipo de
mídia a serem reproduzidos, além de que podemos contatar os produtores e darmos
nossas considerações sobre determinada obra que nos interessa. Tornando os
consumidores da internet ativos e colaborativos, onde sempre deixamos nossa
impressão sobre as coisas, ajudando a quem se interessa por tal produto ou serviço e
ainda não tem contato.
Essa participação mais efetiva é atribuída a visibilidade que a internet
proporciona, como também ao alcance e repercussão sobre o que é considerado
importante aos usuários. O que o seria do conhecimento de muitos em uma visita à
empresa, na internet pode ser visto por diversos internautas que tem interesse sobre
algo, as impressões deixadas, são impressões reais e que formam opiniões mesmo que
não sejam especializas no assunto.
2.2 A BOLHA: O CÍRCULO DE INTERAÇÃO
Como constantemente entramos em contato com vários outros internautas que
em sua maioria não temos conhecimento algum sobre eles, as redes sociais desenvolvem
algoritmos que verificam os perfis que temos na internet e classifica como semelhante,
assim passando esse perfil a uma sugestão para uma nova futura interação. De acordo
com pensamento de (MILLER, 2009) quando queremos conhecer outras pessoas e
termos experiências ainda o vivenciadas, pois “(...) nossa obsessão atual é pela
necessidade de forjar, manter e conduzir relacionamentos, especialmente entre pessoas
que, de outra forma, não tem relação alguma”.
Zacarias; Pereira; Batista| O Fim do Consumismo
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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Como em vários casos não sabemos nada sobre as outras pessoas com estamos
prestes a interagir, formamos um conceito sobre os mesmos, baseados em suas
postagens e sobre sua vida virtual. Segundo Sennett (2012, p.19) “a sociedade moderna
está ‘desabilitando’ as pessoas da prática da cooperação”, pois isso fazendo uma análise
da reputação dos outros usuários, que essas interações virtuais podem serem
transcendidas para contatos presenciais; que por sua vez poderá tornar-se uma relação
de amizade, pois a mudança de práticas consolidadas é de modo gradativo, e ainda é
necessário que uma parte maior dos internautas sintam que o coletivo é viver por si
mesmo, mas objetivando o longo prazo e os benefícios agregados.
Estas relações podem servir como base para proporcionar a realização de
projetos diversos entre grupos com objetivos comuns. Como acontece em comunidades
de atletismo, várias pessoas com os mesmos objetivos, compartilhando experiências,
conhecimento ou até mesmo materiais, tornando estes fatos uma das principais
conquistas da internet; a colaboração. “Para vincular-se, é preciso que cada um perca a si
mesmo, que lhe falte o absoluto domínio da subjetividade e da identidade em função da
abertura para o outro” (SODRÉ, 2007). De acordo com Lévy:
Quanto melhor os grupos humanos conseguem se constituir em coletivos
inteligentes, em sujeitos cognitivos, abertos, capazes de iniciativa, de
imaginação e de reação rápidas, melhor asseguram seu sucesso no ambiente
altamente competitivo que é o nosso (LÉVY, 2007, p. 19).
Hoje vivemos em uma bolha social, onde queremos adicionar cada vez mais
pessoas para nossa bolha, mas não pode ser qualquer pessoa, na internet sentimos que
precisamos de pessoas capazes de realizar melhorias em nosso grupo. Nesse sentido,
vemos que a cooperação mutua é de grande valia para todos os participantes, cada um
ajudando de uma forma, seja com um objeto, recursos financeiros, ou até mesmo com
seu intelecto, pois o primordial é a experiência. Nesse sentido Pierre Lévy afirma:
É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada,
coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das
competências. Acrescentemos à nossa definição este complemento
indispensável: a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento
e o enriquecimento mútuos das pessoas (LÉVY, 2007, p. 28-29).
Possuímos conhecimentos particulares e cada vez mais a internet vez
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Zacarias; Pereira; Batista; O fim do consumismo
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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aproximando pessoas que tem o conhecimento de outros que tem pretensão de
aprender técnicas ou métodos para realização de determinadas funções, assim tornando
o conhecimento outra forma de consumo compartilhado, que consumismo não
somente o material, mas também o abstrato.
2.3 ENTRE O CONSUMISMO E O CONSUMO CONSCIENTE
Diariamente ocupamos nossa posição de consumidores ativos na sociedade, pois
segundo (FERRARI, 2012) “A forma mais conhecida de consumo é o comprar, mas
podemos dizer que estamos consumindo também quando vemos, ouvimos e sentimos
quaisquer tipos de informações e produtos que passam a fazer parte da nossa vida.” Mas
algumas vezes adquirimos produtos ou serviços mesmo sem a necessidade de os tê-los.
“O motivo da pressa é, em parte, o impulso de adquirir e juntar. Porém o motivo mais
premente que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e
substituir” (BAUMAN, 2007). Como também ocasionalmente precisamos de algo que não
possuímos, nos vendo obrigados a adquirirmos mesmo que seu uso seja restrito a
pouquíssimas repetições.
O consumismo traz com sua prática alguns malefícios, como uma maior pressão
sobre os recursos naturais, a produção massiva e a escassez de determinadas matérias
primas, como também a instauração de um alto percentual inflacionário nas nossas
compras.
A pressão sobre os recursos naturais fica cada vez mais eminente, quando
levamos em consideração o crescimento vegetativo da população global, como alerta o
pensamento Malthusiano, mesmo havendo controvérsias na sua formulação, não
podemos desconsiderar o fato que uma superpopulação representa uma demanda de
tamanha proporção. Atualmente a população global conta com uma estimativa de 7,2
bilhões pessoas e com previsão para que chegue aos 9,6 mil milhões em 2050, segundo
(UNRIC, 2017).
Esse crescimento populacional, aliado ao consumo voraz que é estimulado pelas
propagandas e pelas ões políticas, que visam estimular o crescimento econômico, são
inconcebíveis do ponto de vista ambiental. Hoje grande parte do consumo de bens
industriais e de serviços estão restritos em larga escala apenas aos países desenvolvidos
que fazem parte do G 7 e nos últimos tempos há crescimento considerável do consumo
Zacarias; Pereira; Batista| O Fim do Consumismo
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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nos países emergentes (BRICS), sendo que a maior parte da população global estar à
margem do consumismo.
Provavelmente não recursos para inserir toda as pessoas do planeta em um
circuito do consumo similar ao atual. Onde a obsolescência programada é uma marca
deste modelo de consumo. Este mecanismo retira dos produtos a longevidade de seu
uso, sendo que os mesmos o apresentam problemas funcionais de hardware;
resumido, seu desuso reflete apenas a desatualização de seu sistema ou o aparecimento
de novas versões.
O colapso do meio ambiente fica cada vez mais evidente, o aquecimento global
antrópico desencadeado pelo processo de industrialização e pelo uso de combustíveis
fosseis, principal fonte de energia global, é fruto do consumismo desenfreado e da lógica
individualista, onde o conceito de felicidade está ligado ao consumo e acumulo de bens.
“Hoje quase todos os cientistas concordam que devemos parar e inverter este processo
agora ou enfrentar uma devastadora onda de catástrofes naturais que vai mudar a vida
na Terra como a conhecemos” (ONU BRASIL, 2016.)
Em contrapartida o consumo consciente tem sido alvo de muita discussão um
longo período, que aflige diretamente o meio ambiente, como também na situação
econômica da população em geral.
A forma de como os consumidores vem atuando está em constante mudança, hoje
compramos nem sempre baseando em necessidades reais, mas as vezes com base nas
opiniões que observamos sobre determinados produtos, assim gradativamente
deixamos de comprar produtos que pessoas do seu ciclo social não tenham se agradado,
o que de certa forma melhora a forma de se produzir e até mesmo de interagir com os
cliente, esses que hoje são ouvidos e que suas opiniões têm grande valia para as
produtoras que moldam seus produtos seguindo a corrente do mercado e necessidades
de seus cliente.
Para Botsman e Rogers (2011) o público consumidor está gradativamente se
conscientizando para temas como consumismo e os problemas ambientais gerados por
tais práticas, mudando assim seus posicionamentos e forma de consumir produtos ou
serviços, aprendendo assim que consumir não é necessariamente possuir, mas sim
dividir e compartilhar, como é deixado em evidencia no título de seu livro "O que é meu
é seu".
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
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2.4 O CONSUMO COLABORATIVO NO SÉCULO XXI
Desde a antiguidade o consumo colaborativo foi algo de discussão, Na Grécia
antiga as civilizações tinham em sua detenção, ferramentas que eram bastante utilizadas
pela sociedade, tornando o uso desses apetrechos algo público, que estaria ali para
suprir as necessidades do público em geral. Com a difusão da ideia de indivíduo, iniciada
com a Reforma Protestante; atitudes assim foram desaparecendo, levando as pessoas a
adquirirem seus próprios utensílios, ou contratarem quem os tivessem para realizar tais
atividades.
alguns anos o consumo colaborativo tem ganhado força em todo o mundo
novamente, a internet proporcionou contatos de pessoas com interesses em comum,
tornando atualmente amplamente disseminadas tais práticas. Desse modo o mercado
aderiu a algumas práticas nesse formato, trazendo seus produtos e serviços agora de
forma compartilhada e colaborativa, onde o coletivo tem mais força e benefícios do que
o individualismo.
Alguns consumidores de colaboração o otimistas que pensam adiante e que
são voltados para aspectos sociais, mas outros o indivíduos motivados por
uma urgência prática a fim de encontrar um jeito novo e melhor de fazer as
coisas. Essa urgência prática pode ser economizar dinheiro ou tempo, acessar
um serviço melhor, ser mais sustentável ou permitir relacionamentos mais
estreitos com pessoas, e não com marcas. A maioria das pessoas que participa
do consumo colaborativo não é composta de benfeitores do tipo Pollyanna e
ainda acredita muito nos princípios de mercados capitalistas e do interesse
próprio. (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. 60).
Um seguimento que vem ganhando grande popularidade é o de Streaming, que é
uma tecnologia que envia informações multimídia. Empresas como Netflix e Spotfy
entenderam as tendências no consumo compartilhado e criaram planos alternativos,
onde poderá dividir a conta com outras pessoas, deixando a critério dos assinantes a
escolha do melhor plano a ser contratado, ficando mais acessível e beneficiando os dois
lados, a empresa por conseguir mais clientes e os cliente que tem um abatimento no
valor de adesão. Além disso, outro ponto é que classificamos os filmes e músicas,
compartilhando com os outros usuários, criando assim um catálogo com as melhores
escolhas de conteúdo a serem consumidos, fazendo com que as experiências sejam
sentidas por outras pessoas.
Iniciativas como a do site Estante virtual possibilita que depois que tenhamos
Zacarias; Pereira; Batista| O Fim do Consumismo
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ARTIGO
retirado a experiência que os livros podem nos proporcionar, possamos vendê-los,
possibilitando que outras pessoas tenham a experiência que tivemos com essas leituras,
de forma mais barata e assim diminuindo a impressão de livros, mas não destruindo a
experiência que a leitura pode proporcionar.
Aplicativos e sites que a ideia principal é aproximar pessoas com interesses
semelhantes tem ganhado muitos adeptos, tornando aplicativos como o Nike Run +
excelentes escolhas para quem procura pessoas que possam ajuda-los a conquistar seus
objetivos como atletas. O aplicativo em questão tenta aproximar corredores,
proporcionando a troca de material, as melhores rotas avaliadas, elaboração de eventos,
tornando mais fácil a interação entre os interessados.
Atualmente a Nike é considerada uma das empresas mais importantes e valiosas,
com suas ações bem valorizadas, mas todo essa valorização é referente a forma que a
empresa tem se comportando, com o lançamento do Nike Run +, a empresa mostrou está
sinalizada as novas tendências, definido de "comunidades ideológicas" por Chevalier e
Mazzalovo (2007).
Finalizando o ano 2009, o aplicativo Nike Run + tinha aproximadamente 1,2
milhões de atletas cadastrados, onde os mesmos já haviam encaminhados de modo
coletivo cerca de 130 milhões de milhas em trajetos realizados (BOTSMAN; ROGERS,
2011).
Enfim o financiamento coletivo pode ser um exemplo de economia
compartilhada. Muitos projetos são retirados do papel e postos em prática a partir de
sites como o Cartase, que é um site de financiamento coletivo, onde se pode criar um
projeto, explicando seus principais objetivos e onde será investido o recurso, muitos
artistas, atletas, e outros entusiastas veem no site possibilidades de encontrar pessoas
com interesses semelhantes e que estejam dispostos a investir na ideia, ganhando assim
os idealizadores, como também os investidores que poderão ver o que tem interesse
sendo realizado de fato. Um exemplo bem-sucedido de projeto que arrecadou recursos
no Catarse, foi um filme sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no estado do Pará,
projeto esse que arrecadou aproximadamente 140 mil reais.
Projetos que utilizam de financiamento coletivo funcionam na premissa que
existem pessoas interessadas em investir em uma ideia, onde conseguirá seu retorno
pelo fato de verem essa ideia em prática, várias bandas independentes utilizam dessa
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Zacarias; Pereira; Batista; O fim do consumismo
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prática como forma de arrecadar fundos para produção de material, onde sairá
beneficiado os músicos que terão recursos financeiros para arcar com as despesas de
produção, como também os investidores, que poderão ouvir o som que é apropriado.
3 RESULTADOS
Os dados demostram como é benéfico a utilização de tecnologias, como elas tem
mudado as formas de se fazer negócios, como também a forma de conviver em um
planeta com recursos limitados. Não quer possuir os produtos em si, o que se deseja é
somente as experiências que tais produtos ou serviços podem oferecer. Segundo
Botsman e Rogers:
Não queremos o CD, mas sim, a música que ele toca. Não queremos o disco, mas
sim, sua capacidade de armazenamento. Não queremos a secretária eletrônica,
mas sim, as mensagens que ela grava. Não queremos o DVD, mas sim, o filme
que está gravado nele. Em outras palavras, não queremos as coisas em si, mas
as necessidades ou as experiências que elas satisfazem. (BOTSMAN; ROGERS,
2011, p.81).
Iniciaremos falando dos serviços de Streaming de vídeo, serviço esse que tem
crescido bastante no Brasil e no mundo. Em um comparativo entre Netflix e Tv’s por
assinatura, é notório que cada uma das prestadoras de serviço tem suas características
particulares, mas a Netflix tem se destacado em diversos fatores, inclusive pelo fato da
reutilização dos produtos e serviços que comumente temos em nossa residência, pois
não compramos televisor, smartphone ou computadores exclusivamente para uso da
Netflix, como também, não assinamos um plano de acesso à internet propriamente para
uso de tal serviço, sua serventia vai além do uso de Streaming.
Em contrapartida para a utilização de Tvs por assinatura são necessárias as
compras de kits com antena e receptor digital, se por ventura se deseja incluir em outro
cômodo é necessário adicionar no pacote um ponto adicional. Sempre que quiser ter
acesso ao conteúdo é necessário se dirigir a um ponto especifico onde à aparelhagem
está montada, perdendo o benefício da praticidade em deslocar-se com o mesmo. Com a
Netflix por exemplo, podemos acessar os conteúdos que ela dispõe em qualquer lugar
que possua conexão com a internet, trazendo consigo a praticidade de reprodução de
múltiplas plataformas, com smartphone, tablets, notebook, computadores desktops, ou
em smart tvs que já oferece esse serviço incluso no seu sistema. A tabela a baixo ressalta
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algumas características procuradas pelo público interessado em tais serviços.
Tabela 1. Comparativo entre Netflix e empresas de TV por assinatura
CARACTERÍSTICAS DOS SERVIÇOS
NETFLIX
TV
Personalização do conteúdo
Sim
Não
Conteúdo exclusivo para assinantes
Sim
Sim
Tempo destinado a propaganda
Não
Sim
Alta definição em imagens
Sim
Sim
Acessibilidade do conteúdo fora de sua residência
Sim
Não
Filmes lançamentos
Não
Sim
Preço Acessível
Sim
Não
Fonte: dados da pesquisa.
Os dados elencados na tabela foram selecionados segundo os critérios que seriam
mais importantes na atualidade, como preço, já que o pais passa por uma recessão
econômica; acessibilidade, assim permitindo o acesso ao conteúdo em lugares que
possivelmente seriam tempos ociosos; e o fato que podemos escolher quando e o quê
assistir, deixando sempre o controle em posse do cliente. O compartilhamento de
experiências com os filmes que está no catalogo é outro ponto a destacar como forma de
compartilhar nosso modo de consumo e até mesmo as informações que temos a respeito
de algo. A Netflix, “Hoje, existem mais de 2 bilhões de classificações de membros e o
membro médio avaliou aproximadamente 200 filmes. O resultado é uma sabedoria
coletiva inestimável impossível de ser reproduzida em outro lugar.” (BOTSMAN;
ROGERS, 2010, p.104).
Empresas de streaming como Netflix e Spotify vem ganhando muito notoriedade
pela possibilidade de: diminuir a pirataria; valorizar os produtores de conteúdo, seja ele
vídeo ou áudio; beneficiar os usuários com vários planos, deixando o cliente livre para
escolher o que melhor se encaixa com sua necessidade, pois nem sempre precisamos do
melhor, mas sim, o que resolve nossos problemas.
Em segundo analisaremos a empresa Spotify, outra empresa de streaming, mas
essa voltada para o setor musical. Desde o seu lançamento tem conquistado cada vez
mais assinantes, que compartilham das ideia e metodologias adotadas pela empresa.
Desde benefícios como compartilhar suas playlists com amigos e colegas, conhecer
novos artistas.
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Gráfico 2. Crescimento massivo do número de assinantes do aplicativo Spotify.
Fonte: Dados obtidos do Site do Spotify.
Além trazerem inúmeras facilidades essas empresas de Streaming trazem planos
de assinatura que incentivam a economia compartilhada ou consumo compartilhado,
visto que é possível a adesão de um plano que poderá ser acessado por mais de um
usuário simultaneamente ou de modo alternado.
Planos como o Família ou Premium, deixam de lado o individualismo e é visto o
lado que vivemos em grupos, favorecendo assim, aos usuários que encontram planos
econômicos, como também são beneficiadas as empresas que têm essa visão esse tipo de
visão, aumentando assim o número em assinantes, como exposto no gráfico 2. Os dados
foram obtidos seguindo uma pesquisa por cada ano, objetivando mostrar como o público
tem reagido aos métodos encontrados pela empresa para atrair cada vez mais público
para seu serviço.
Além do recurso financeiro que investimos em assinaturas de serviços como os
citados acima, aplicamos também nosso intelecto, nossas opiniões e sugestões de
conteúdo que consideramos proveitoso. Dessa forma criamos classificações para
baseado nas experiências vividas com os produtos ou serviços que são ofertados, seja
um filme que assistimos ou como também um playlist de músicas que consideramos
bem planejada para tal atividade que iremos realizar.
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Por fim e não menos importante, será exposto um gráfico que mostra de forma
clara e objetiva um comparativo de preços entre três empresas de livrarias, com o
destaque na estante virtual, pioneira no consumo compartilhado no Brasil, com seu foco
principal em negociação de livros sejam eles, novos ou usados.
Gráfico 3. Pesquisa de preço no catálogo online das três empresas
Fonte: Dados obtidos dos Sites Estante Virtual, Livraria Saraiva, Livraria Cultura.
Como visto no gráfico 3, em pesquisa por cinco livros da mesma edição, ano e
editora, foi constatado em forma de unanime em todos os casos a economia poderá ser
maior que 50% do preço encontrado em outros sites especializados. Claro que o preço
de bens usados quase que por unanimidade é menor, mas a experiência que poderá ser
proporcionada, nesse caso será a mesma, já que as obras são classificadas por seu estado
de conservação e experiência sentida por seus leitores, deixando assim uma ideia de que
poderá ser encontrado com a leitura.
4 CONCLUSÃO
A cada dia a tecnologia está mais presente em nossa vida, mudando a forma que
vivemos e interagimos com as pessoas ao nosso redor, aumentando o círculo, retirando
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as limitações geográficas. Hoje podemos interagir com pessoas de todo parte do globo
terrestre, interações que proporcionam conhecer pessoas que compartilham de
interesses e perspectivas a que possuímos, como também, conhecermos nossas
perspectivas e olhares distintos nós que temos a respeito de determinados assuntos,
como o que precisamos e o que apenas queremos possuir.
É notório que a internet trouxe uma vertente mais colaborativa, tais práticas
disseminadas pelos primeiros internautas que foram os mesmo que construíram e a
tornaram viável, tornando-a um lugar de ajuda e proatividade de seus membros. Assim o
consumo compartilhado vem ganhando espaço e cada vez mais pessoas que acreditam
nos benefícios que esse posicionamento pode oferecer, pois na internet não
restrições que possam impedir a sua disseminação.
Quando compartilhamos, trocamos ou vendemos algo os dois lados se beneficiam,
quem está com o produto sem utilização, ou simplesmente consegui a experiência que
ele poderia te proporcionar, como quem compra, que reduz os custos de compra por
comprar um produto usado, ou por dividir os custos de um serviço com algum amigo ou
colega. Mas essa experiência o proporciona benefícios apenas aos participantes
diretos, surte efeitos onde todos de forma indiretas somos beneficiados, seja com a
diminuição na produção, servindo para a natureza, como também nos índices
inflacionários que tendem a cair quando o consumo é reduzido. Também é um modo de
diminuição na produção de forma desacerbada e sem preocupação nos impactos
ambientais e financeiros que o consumismo pode trazer.
Empresas e corporações que tenham visão para entender as tendências, devem
apostar e investir em políticas que incentivem práticas como a do consumo
compartilhado, até mesmo pela premissa que com o passar do tempo as indústrias não
suportariam o consumismo desenfreado e a demanda de matéria prima para produção
de alguns tipos de produtos, como até mesmo os serviços ofertados pelos menos. Para
utilizarmos os recursos naturais de forma adequada, devemos imaginar que não
precisamos possuirmos tudo, as vezes podemos alugar, emprestar o que não estamos
utilizando, assim ajudamos e somos ajudados, economizando e mantendo o papel de
consumidor consciente.
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ARTIGO
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
José Wellithon Batista Zacarias
Graduado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas
Faculdade Leão Sampaio
E-mail: wellithon.batista@aluno.uece.br
Isabel Cristina Gonçalves Santos Batista
Graduando em Administração Pública
Universidade Estadual do Ceará
E-mail: isabel.goncalves@aluno.uece.br
José Adailson de Albuquerque Pereira
Graduado em Licenciatura em Geografia
Universidade Regional do Cariri
E-mail: adailsonalbuquerqueprof@gmail.com
Recebido em: 17/03/2017; Revisado em: 16/04/2017; Aceito em: 18/05/2017.
Como citar este artigo
ZACARIAS, José; PEREIRA, josé; BATISTA, Isabel. O fim do consumismo: uma reflexão sobre o consumo
compartilhado na era digital. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, 181-196, out. 2017.
PROTAGONISMO MIDIÁTICO INFANTIL: análise do comportamento informacional
de vlogueiros contadores de histórias
INFANTILE MIDIATIC PROTAGONISM: analysis of informal behavior of
vlogueiros story counters
Rayara Bastos Barreto
UFC
Laiana Ferreira de Sousa
UFPB
RESUMO
Apresenta a mediação da informação no contexto do ciberespaço. Analisa o comportamento
informacional de vlogueiros infantis de uma escola da rede privada da cidade de Fortaleza do
estado do Ceará com base nos aspectos teóricos e metodológicos das perspectivas de
comportamento informacional propostos por Kuhlthau (1991), no qual o processo de busca de
informação está centrado no indivíduo e se forma através da construção pessoal, na qual o usuário
parte da informação para produzir novos conhecimentos. Utiliza a metodologia de pesquisa
bibliográfica e exploratória na qual os dados foram analisados a partir das categorias: mediação da
informação, interação/motivação e protagonismo midiático infantil.
Palavras-chave: Mediação da informação. Comportamento informacional. Protagonismo Midiático
infantil. Biblioteca Escolar. Contação de Histórias.
ABSTRACT
It presents the mediation of information in the context of cyberspace. It analyzes the informational
behavior of children's voters from a private school in the city of Fortaleza, Ceará state, based on the
theoretical and methodological aspects of the perspectives of informational behavior proposed by
Kuhlthau (1991), in which the information search process is centered In the individual and forms
through the personal construction, in which the user part of the information to produce new
knowledge. It uses the methodology of bibliographic and exploratory research in which the data
were analyzed from the categories: information mediation, interaction/motivation and children's
media protagonism.
Keywords: Mediation of information. Informational behavior. Infantile mediatic protagonism.
School Library. Storytelling.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
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Barreto; Sousa | Protagonismo Midiático Infantil
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
1 INTRODUÇÃO
Acho que não podem me escutar...
E tenho quase certeza de que não podem me ver.
Alguma coisa me diz que estou invisível...
Alice - Através do Espelho
Havia uma lenda. Crianças em volta da fogueira. E um monstro. Uma história bem
simples que começa como toda história deve começar... Era uma vez palavras soltas ao
vento que procuravam um lar, eram palavras bagunceiras que viviam se disfarçando de
sentimentos, uma hora se vestiam de tristeza, outras de alegria, mas nunca duravam
mais que um momento, o que na verdade as mais intrigava era uma lenda. A lenda dizia
que um dia elas seriam imortais, mas para que isso acontecesse teriam que se aliar com
um terrível monstro.
O monstro morava no ciberespaço, não havia outro caminho além do virtual para
se chegar... as palavras não desistiram... unidas partiram... no caminho, porém
descobriram que para realizar essa aventura precisavam de um precioso de
pirlimpimpim que existia na ponte da mediação. “Se você gostou desse vídeo deixe
seu like e faça sua inscrição”. Conteúdo compartilhado. Conteúdo imortalizado.
Vivemos um novo paradigma social, descritos por alguns autores, como
sociedade da informação ou sociedade em rede alicerçada no poder da informação
(CASTELLS, 2003), sociedade do conhecimento (HARGREAVES, 2003) ou sociedade da
aprendizagem (POZO, 2004). Um mundo onde o fluxo de informações é intenso e o
conhecimento é um recurso flexível, fluido, sempre em expansão e em mudança”
(HARGREAVES, 2003, p. 33). Sob tais circunstâncias, percebe-se a necessidade de
buscar a compreensão do comportamento informacional no contexto do ciberespaço
ciente que este é uma realidade e um espaço de troca e construção de saberes.
O Youtube (you você/ tube televisão = a televisão feita por você) foi criado em
fevereiro de 2005, por Chad Hurley e Steve Chen, dois funcionários de uma empresa de
tecnologia situada em São Francisco, EUA. A principal função do site é permitir que os
usuários carreguem, assistam e compartilhem vídeos em formato digital. Em 2006 a
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vista américa Time o elegeu como a melhor invenção de 2006, no mesmo ano foi
comprado pelo Google.
1
Não uma estatística exata de quantos canais surgem diariamente com
conteúdo produzido por/para crianças, mas há uma pesquisa datada de 2016 que revela
que quase metade dos cem canais mais vistos no Brasil tem conteúdo para criança.
2
Ao
contrário da personagem Alice na epígrafe que abre a presente seção as crianças estão
sendo vistas, ouvidas e de maneira alguma são invisíveis o que denota o crescente
protagonismo infantil através da participação das crianças no palco midiático no
ciberespaço.
Todos os dias surgem novos canais no Youtuber com diferentes conteúdos
abordados, desde moda, música, beleza, livros à assuntos aleatórios. Um exemplo
representativo da participação de crianças nessa grande rede é o uso de um costume
arraigado na tradição da cultura e no cerne da humanidade que vem atravessando o
tempo e ressignificando a história, a contação de histórias. As crianças usam a internet
para falar sobre as histórias dos livros que estão lendo ou que gostariam de ler. Fazem a
contação de histórias de um modo mais descontraído e descompromissado do que
vimos nos palcos da contemporaneidade. O já quase tradicional “joinha” no final do
vídeo vem traduzindo essa realidade da palavra mediada no cenário do ciberespaço,
Na comunicação mediatizada, a mediação é o elo entre o enunciador e o
destinatário pelo qual se fundam e garantem a coerência e a continuidade
institucionais da comunicação. A mediação manifesta-se na emergência de uma
linguagem, de um sistema de representações comum a toda uma comunidade, a
toda uma cultura. E, ao mesmo tempo, esse sistema de representação gera um
sistema social, coletivo, de pensamento, de relações, de vida, ou seja, uma
sociabilidade, que corresponde a uma forma de identificação social e é
equivalente, na lógica da pertença, à identificação simbólica ao outro na lógica
da filiação e da subjetividade. Entenda-se por sociabilidade o conjunto de
representações, de condutas e de práticas pelas quais uma pessoa é
reconhecida como pertencendo a uma mesma sociedade. A manifestação
concreta das mediações resulta de uma evolução verificada na vida pessoal, ou
seja, o social surge na consciência. (SILVA, 2010, p. 3).
1
DANTAS, Tiago. "Youtube"; Brasil Escola. Disponível em
<http://brasilescola.uol.com.br/informatica/youtube.htm>. Acesso em 01 de abril de 2017.
2
Fonte: http://temas.folha.uol.com.br/influenciadores-digitais/a-sociedade/quase-metade-dos-cem-
canais-mais-vistos-tem-conteudo-para-crianca.shtml Acesso em: 01 de abril de 2017.
³ Vlog é a abreviação de videoblog (vídeo + blog), um tipo de blog em que os conteúdos predominantes
são os vídeos. A grande diferença entre um vlog e um blog está mesmo no formato da publicação. Ao
invés de publicar textos e imagens, o vlogger ou vlogueiro, faz um vídeo sobre o assunto que deseja.
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O contexto vivido por esses jovens vlogueiros ³, ainda é a escola, espaço em
que convivem com outras crianças e dali conquistam também novos seguidores. Foi
nesse âmbito estudantil que identificamos a existência de estudantes que frequentavam
a Biblioteca da escola para selecionar novas histórias a serem narradas em seus canais
do Youtuber. Ao perceber que alguns garotos buscavam livros com bastante frequência
na biblioteca, foi realizado um encontro com jovens youtubers que possuíam canais para
divulgar os livros lidos e contar as histórias. Essa atividade demonstra o quanto a
biblioteca escolar pode promover o protagonismo infantil, ao passo em que alia o
incentivo à leitura às novas possibilidades de comunicação mediada pelas tecnologias.
Diante do exposto, o presente trabalho objetivo analisar o comportamento
informacional de vlogueiros infantis de uma escola da rede privada da cidade de
Fortaleza do estado do Ceará com base nos aspectos teóricos e metodológicos das
perspectivas de comportamento informacional propostos por Kuhlthau (1999), no qual
o processo de busca de informação está centrado no indivíduo e se forma através da
construção pessoal, ou seja, o usuário parte da informação para produzir novos
conhecimentos. A condução deste trabalho pautou-se no referencial teórico que
consubstanciassem os grandes temas centrais da referida pesquisa.
2 ERA UMA VEZ UMA FOGUEIRA MIDIÁTICA PERSPECTIVAS DIALÓGICAS ENTRE A
TRADIÇÃO E O CIBERESPAÇO COM APORTE TEÓRICO NA MEDIAÇÃO DA
INFORMAÇÃO
Como é possível que vocês possam falar tão bem?
Estive em muitos jardins antes, mas nenhuma flor podia falar.
Alice - Através do Espelho
A infância é um conceito construído socialmente, ou seja, ela é definida a partir
dos moldes culturais e sociais presentes na sociedade. Atualmente, vivemos por trás de
um domínio das técnicas de comunicação e das Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TIC) que modificaram as práticas sociais, possibilitando que informações
estejam ao alcance de grande parte da população. Nesse contexto atual, acredita-se que
as experiências das crianças com as novas tecnologias e a facilidade de acesso aos
conteúdos midiáticos são questões que interferem diretamente no desenvolvimento
infantil.
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A nova geração que está se formando é de garotos, cada vez mais, envolvidos e
familiarizados com as tecnologias, que lidam mais facilmente com o novo e praticam o
consumo de produtos e serviços disponíveis no ciberespaço. Na sociedade atual em que
vivemos isso é possibilitado aos menores ao passo em que o mercado abre espaço para
esse novo segmento, criando atrativos e instaurando novas necessidades. Ao ganhar o
status de consumidora essas crianças possuem autonomia para escolher e decidir por si
mesmos e opinarem nas decisões dos pais.
Nesse sentido, no contexto midiático, a infância vai sendo caracterizada não
somente pelo alto consumo e uso excessivo das mídias eletrônicas, mas também por
fazer parte desse universo, se apropriando das ferramentas tecnológicas ao mesmo
tempo em que a transforma.
Para Giddens (1991), a natureza e o formato da modernidade só podem ser
compreendidos em sua interconexão com as instituições de comunicação. Para o autor
elas agem como instâncias “formativas” das sociedades modernas, pois promovem a
“mediação da experiência” estando presente na vida das pessoas e condicionando o
viver contemporâneo.
Desse modo, é preciso evidenciar que, para esta pesquisa, a mediação é entendida
como uma ação capaz de criar e construir significados, independente dos recursos
utilizados para prover o intercâmbio de informações, o ato de mediar inclui também o
de interferir, portanto contribui na transformação daquilo que está sendo mediado.
Neste artigo, a mediação está relacionada ao conteúdo que é transmitido por
vlogueiros infantis através da rede social Youtuber. Nesses espaços as crianças
participam da lógica de compartilhamento de informação através do uso da sua própria
imagem, veiculada através do vídeo.
Etimologicamente, a palavra mediador” deriva do latim mediator. O termo
“mediador”, então, origina-se de mediari, que significa intervir, colocar-se em duas
partes, de medius, “que está no meio ou entre dois pontos” (CUNHA, 2007, p. 509). Para o
francês Jean Davallon (2007, p.5), essa concepção faz parte de uma conceituação de puro
“uso comum, uma primeira utilização que se divide entre o senso científico e o senso
comum”. No entanto esse termo recebe diversos conceitos, já que “cada domínio de
investigação possui o seu próprio uso ou mesmo a sua própria definição de
mediação”. (DAVALLON, 2007, p. 9).
Dessa forma, as terminologias mediação, mediações, mediador e mediando,
202
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podem ser vistas em diferentes concepções e discursos variados, dependendo do campo
de estudo que esteja sendo empregado, tornando simples a apropriação do termo. Por
outro lado, a variada extensão de estudos sobre o assunto e do uso que se faz do mesmo
termina por ocasionar uma ausência de precisão.
No caso desta pesquisa, analisaremos a relação das crianças com canais virtuais
que propagam conteúdos que se referem aos livros literários de diversos assuntos. As
crianças gravam e editam esses vídeos para depois enviar para as redes sociais com
intuito de divulgar suas experiências e escolhas de leitura. Na contramão dessas ações,
esses jovens youtubers estão mediando informação no meio virtual e, de certo modo, ao
passo em que contribuem para disseminar o conteúdo de livros desperta a curiosidade
de outras crianças.
2.1 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: DA TRADIÇÃO AO CIBERESPAÇO
O encantamento da contação de história nos remete um mundo de
possibilidades e ressignificações, de construção e compartilhamento de saberes. É essa
flor falante em meio ao jardim informacional,
A narrativa, que durante tanto tempo floresceu num meio artesão no campo,
no mar e na cidade -, é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de
comunicação. Ela não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa
narrada como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida
do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a
marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso (BENJAMIN,1994,
p. 205, grifo nosso).
Nesses encontros surgiu o que Benjamim (1994) dominou de comunidade de
ouvintes. Eram momentos de troca de conhecimento através da contação de histórias,
muitos desses momentos vivenciados ao redor de fogueiras. A figura do artesão no
sistema medieval foi responsável pelo desenvolvimento da arte de narrar. O autor
compara a dinamicidade da narração com a atividade do oleiro moldando o vaso. Não
nada mais romanesco e humano que entender que o contador dar forma a história à
medida que a conta. Isso explica as especificidades de cada época na qual a narração foi
sendo construída, até chegar aos nossos dias, o que o teria sido possível sem o olhar
atento de alguns escritores que lutaram pela preservação do que hoje nos permite
transcender o real, os primeiros e eternos contos de fada.
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Escritores como o francês Charles Perrault e os alemães Wihelm e Jacob Grimm,
contribuíram de forma significante para a preservação das narrativas, em momentos
críticos em que o hábito de contar histórias correu o risco de desaparecer. Conforme
Philip destaca,
Seu sucesso incentivou outros pesquisadores a preservar para a posteridade a
riqueza do folclore mundial. Nos quatro cantos do planeta esses estudiosos
saíram à cata de contadores de histórias e registraram seus relatos fielmente.
(PHILIP, 1998, p.15, grifo nosso.).
Apesar do costume de narrar histórias ser uma tradição muito antiga, a
expressão Contão de Hisrias só foi empregada a partir das últimas décadas do
século XX. Bussatto (2005) destaca, portanto, que se trata de um neologismo e de uma
expressão relativamente nova.
Após quase ter desaparecido, em consequência do surgimento das novas mídias,
os contadores de histórias ressurgem como fenômeno urbano, dando origem, ao que
hoje se conhece como novos contadores, ou contadores urbanos. Foi um retorno que
surpreende, até hoje, tendo em vista a industrialização e urbanização das cidades, e a
enorme gama de estímulos científicos e tecnológicos que existem nas sociedades
modernas. (SISTO, 2001).
Os Contadores Urbanos de Histórias surgiram em meados do século XX, pós
Revolução Industrial, nos países industrializados da América e da França. Esse novo
perfil se diferencia do tradicional, segundo Ong (1998), pois lida com uma matéria oral
secundária, ou seja, com a escrita, enquanto os tradicionais usavam a linguagem oral
primária. Utilizam na contação palavras retiradas das produções da literatura,
arquivadas nas bibliotecas por décadas. As narrativas orais primárias, utilizadas pelos
contadores tradicionais raramente são utilizadas nesse novo cenário no qual o reconto
surge, um cenário tido como sagrado, da escrita, das bibliotecas.
As produções de escritores preocupados em recuperar as narrativas orais, como
Perrault e os Irmãos Grimm, citados anteriormente, foram contribuições decisivas na
cultura escrita, reconstruindo a riqueza das culturas orais. Suas produções possibilitam
o acesso às narrativas das gerações precedentes.
Coentro (2008) destaca algumas das diferenças entre os contadores tradicionais
e esses novos contadores. Menciona, entre outras, o fato de as narrativas dos contadores
tradicionais propiciarem momentos de reflexões sem, porém, permitir um intercâmbio
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de ideias entre ouvinte e contador, sendo esta na contemporaneidade das narrativas
uma constante.
Aquele que ouve também constrói a história. A possibilidade surge a partir do
diálogo que, anteriormente, era mais presente que os causos faziam parte da vida
dessas pessoas, tendo em vista que as histórias não possuíam caráter multidisciplinar e
pedagógico, característicos da atualidade, que como fora dito, eram histórias do
cotidiano da comunidade. Apesar de estes novos contadores terem buscado uma
aproximação e/ou um “resgate” dos contadores tradicionais, este está estritamente
relacionado à memória e viés performático. (ZUMTHOR, 2010).
O imediatismo tecnológico do século XXI possibilita o encontro entre a narração
oral tradicional e o suporte digital ao passo que o contador de histórias se vale dos
palcos midticos para narrar e encantar sua comunidade de ouvintes, “o espaço de
comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos
computadores” (LÉVY, 2000,p. 92), no qual múltiplos sentidos são construídos através
da mediação da informação, vale ressaltar que esse processo se estabelece de duas
formas: a mediação implícita e a explícita,
A primeira, a mediação implícita, ocorre nos espaços dos equipamentos
informacionais em que as ões são desenvolvidas sem presença física e
imediata dos usuários. Nesses espaços, como observado, estão a seleção, o
armazenamento e o processamento da informação. A mediação explícita, por
seu lado, ocorre nos espaços em que a presença do usuário é inevitável, é
condição sine qua non para sua existência, mesmo que tal presença não seja
física, como, por exemplo, nos acessos à distância em que não é solicitada a
interferência concreta e presencial do profissional da informação (ALMEIDA
JÚNIOR, 2009, p. 92).
Cavalcante (2015) ressalta que a palavra mediada pelo sujeito narrador, é, por
conseguinte, primordial para a cultura tendo em vista que a mediação da leitura, sob a
ótica da narrativa oral amplia a noção do texto, indo além da palavra escrita.
Se abre em um processo de comunicação, ancorado na interação social,
estabelecendo as condições necessárias para a produção e apropriação de
sentidos a partir das experiências vividas individualmente de ambos: mediador
e leitor. Sob tais aspectos, percebe-se claramente a ligação entre cultura e
comunicação, que surge das vivências dos indivíduos em sociedade. (2015,
p. 113, grifo nosso.).
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O ciberespaço se configura como um instrumento importante no contexto
educacional, nessa nova perspectiva, Weschenfelder (2009) ensina que:
Ler, escrever e contar histórias na era do terceiro pólo do espírito humano- o
pólo informático-midiático- pressupõe que o binômio professor-escola adote
posturas teórico-pragmáticas que valorizem a inteligência coletiva, a polifonia,
a interdisciplinaridade e a intertextualidade, posto que os novos atores da
comunicação, agora ligados aos neurônios digitais, dividem o mesmo
hipertexto numa situação inédita de interatividade e receptividade, onde todas
as formas de vozes produzem o megatexto, produto de um empreendimento
coletivo. (WESCHENFELDER, 2009, p. 37).
Nesse processo de união entre a ludicidade e os novos suportes tecnológicos
surgem oportunidades de trocas simbólicos e enriquecimento cultural, a seguir veremos
essa dinamicidade no contexto escolar.
3 ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA: FICÇÃO OU REALIDADE? DE PIRLIMPIMPIM
RESPONDE?
Ponha a mão na terra e sinta.
Alice - Através do Espelho
3.1 BIBLIOTECA ESCOLAR: PERSPECTIVAS DIALÓGICAS
Não como discursar sobre Biblioteca Escolar (BE) sem estar de fato inserida
na mesma, se faz necessário pôr a mão na terra, sentir a realidade. Vale ressaltar que a
missão da BE é “proporcionar informação e ideias que são fundamentais para o sucesso
de seus cidadãos baseada na informação e no conhecimento”. (IFLA/UNESCO, 2006, p.3).
Como um espaço fundamental dentro do contexto escolar se torna de suma importância
a presença do profissional bibliotecário escolar como “mediador da informação e como
um agente para a consecução dos objetivos dos projetos político pedagógicos da escola
onde atua”. (MACEDO, 2005).
quase dez anos Kuhlthau (1998) alertava sobre a importância de preparar
os estudantes para o ambiente tecnológico,
A tecnologia, particularmente os computadores conectados à Internet e o vídeo
conectado por satélite, está modificando o ambiente de aprendizagem. Mesmo
quando se dispõe de pouca ou nenhuma tecnologia na escola, não se pode
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perder de vista que o mundo para o qual está se preparando o estudante é um
mundo voltado para a tecnologia. As escolas precisam preparar seu aluno para
o uso inteligente da informação disponível através da tecnologia, em todos os
aspectos de sua vida. O processo de aprendizagem a partir de uma ampla
variedade de fontes é o desafio crítico para as escolas na sociedade da
informação. [...] Uma das características mais importantes da tecnologia é que
ela modifica o ambiente de aprendizagem, transformando o ambiente escasso
em termos de fontes de informação em um ambiente de abundância de fontes.
Esta mudança é extremamente importante e seu impacto na aprendizagem
escolar, bem como no mundo fora da escola não pode ser subestimado.
(KUHLTHAU, 1998, p. 9).
Mundo fora da escola, a realidade do virtual, o impacto de aprendizagem na
escola, diante do exposto é válido discutir sobre comportamento informacional dos
alunos no uso da tecnologia, no caso youtuber, mas antes de adentrarmos nesse aspecto
discurso versaremos sobre o prisma de Kuhltahu (1991) acerca de comportamento
informacional.
3.2 MODELO COMPORTAMENTAL DE CAROL KUHLTHAU
Carol Kulhthau é uma das autoras mais citadas no campo do comportamento
informacional, pois além das atitudes do indivíduo, avança na compreensão das
dimensões cognitiva e afetivas nos processos de busca e uso da informação. Para ela as
atividades de pesquisas é muito mais que atividade intelectual, é produto de ações,
sentimentos e pensamentos que se passa em cada uma das fases da pesquisa. Com uma
visão construtivista do aprendizado, sua teoria foi denominada Processo de Busca da
Informação (ISP - Information Search Process) (FIALHO; ANDRADE, 2007, p. 26).
O modelo de Kuhlthau (1991) detalha os sentimentos que acompanham os
indivíduos durante todas as etapas, sendo válido citar que estes sentimentos são
analisados como inerentes a um processo de busca de informação. Tal modelo foi obtido
através da análise do processo de busca de informação de estudantes de graduação que
estavam desenvolvendo suas monografias. Através deste estudo, Kuhlthau (1991)
analisou como este processo se caracteriza, concluindo que o mesmo ocorre através de
ações, de pensamentos e sentimentos que acontecem durante os estágios do ISP. Para
Kuhlthau (1991) o processo de busca de informação é centrado no indivíduo, formando-
se através da construção pessoal, na qual o usuário parte da informação para criar novos
conhecimentos. O objetivo do escopo do referido trabalho é analisar o comportamento
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informacional de vlogueiros infantis na construção de conteúdo para seus respetivos
canais.
O ISP é formado por um conjunto de seis etapas, com um estágio inicial, etapas
meio e fim e que representam partes de um processo. A denominação que é dada a cada
parte está diretamente ligada a principal atividade realizada na mesma. Os estágios do
modelo ISP de Kuhlthau (1999, p. 11) são os seguintes: iniciação, seleção, exploração,
formulação, coleta e apresentação, com um estágio adicional de avaliação. Estes estágios
são denominados de acordo com a tarefa primária a ser realizada em cada ponto no
processo.
Kuhlthau (1999, p. 11-12) explica sobre os estágios e o
comportamento/sentimento dos estudantes na tabela a seguir:
Tabela 1: Information Search Process (ISP) - Processo de Busca de Informação
ESTÁGIO
COMPORTAMENTO/SENTIMENTO DO
ESTUDANTE
Iniciação: marca o início do processo, quando um
projeto ou problema é introduzido pela primeira
vez.
O estudante fica frequentemente confuso e
inseguro em relação a como proceder.
Inicialmente seu pensamento centra-se no que o
professor deseja e em exigências mais mecânicas
da tarefa. Ao contrário, seu pensamento necessita
voltar-se para o que ele sabe, para novos
questionamentos que aparecem e direcionar-se
para as oportunidades de aprendizagem que o
projeto oferece.
Seleção: É o momento para o estudante
identificar um tópico geral de pesquisa.
Após selecioná-lo, ele tem uma pequena sensação
de otimismo, por ser capaz de realizar a tarefa.
Entretanto, alguns estudantes levam mais tempo
do que outros nesta tarefa. Aquele que não
seleciona logo o seu tema de pesquisa torna-se
geralmente ansioso por estar atrasado em relação
ao grupo. O ritmo do processo de pesquisa pode
variar enormemente de acordo com a pessoa e o
problema.
Exploração: É o mais difícil de todo o processo.
[...] O aluno precisa mais ser guiado na tarefa de
explorara informação para definir um foco para
sua pesquisa, do que apenas coletar fontes
irrefletidamente.
Após a escolha de um tema geral, o estudante
espera ser capaz de ir diretamente para a fase de
coleta da informação e finalizar a tarefa. [...] é
comum durante este estágio que a confiança do
estudante diminua drasticamente, à medida que
ele encontra informação inconsistente e
incompatível, [...] o estudante pode começar a
duvidar da conveniência do tema, da adequação
das fontes de informação, e de sua própria
habilidade para realizar a tarefa. [...] quando o
estudante confunde o estágio de exploração com o
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de coleta, acaba aplicando estratégias de coleta na
tarefa de exploração [...] quando os dois estágios
se confundem, o estudante tem dificuldade ao
final do projeto, quando está preparando a
apresentação. Frequentemente cópia partes
inteiras de um texto porque ainda não formou sua
perspectiva pessoal sobre o que escrever, o que
ocorre porque não entendeu o que leu.
Formulação: É conceitualmente o mais
importante. [...] formar uma perspectiva
focalizada, a partir da informação que leu e sobre
a qual refletiu [...] O foco fornece uma ideia guia,
um tema ou uma linha na qual basear a coleta de
informação; fornece a estrutura para construção
de conhecimento e aprendizagem novos.
Quando o estudante se torna consciente da
necessidade de estabelecer um foco para seu
trabalho, adquire uma estratégia para selecionar
informação e para compreender a forma de usá-la,
muito mais do que simplesmente localizá-la. O
estudante precisa de orientação no uso da
informação que o leve a pensar, refletir e
interpretar a informação que está reunindo. O
projeto começa então a tomar forma.
Coleta: A tarefa do estudante é reunir informação
que defina e apoie o foco estabelecido no estágio
anterior; o foco é, posteriormente, delineado e
aclarado.
O estudante faz conexões e extrapolações a partir
da informação reunida. Muitas das estratégias
usadas na pesquisa tradicional em biblioteca são
úteis neste ponto, como por exemplo, a pesquisa
exaustiva por assunto e a anotação detalhada.
Apresentação: A tarefa do estudante é completar
o projeto, descrevendo a perspectiva focalizada e
preparando-se para apresentar para os colegas o
conhecimento obtido.
Este pode ser um estágio difícil caso a fase de
formulação tenha sido mal trabalhada,
principalmente para o estudante que
simplesmente copiou trechos de algumas fontes e
que realmente não refletiu muito sobre o
significado da informação coletada.
Avaliação: O estudante revê todo o processo,
examinando o progresso obtido, bem como o que
aprendeu.
Isto o ajuda a relembrar as fases do processo de
pesquisa o que pode ser útil na elaboração de
novos projetos, e a pensar nelas como seu próprio
processo de aprendizagem.
Fonte: Kuhlthau (1999, p. 11-12).
O modelo ISP, incorporado aos programas de educação de usuários, pode tornar
as pessoas mais conscientes a respeito do processo de pesquisa, e possibilitar que elas
compreendam mais efetivamente os sentimentos que afetam o uso da informação. Ele
ainda oferece uma articulação das experiências comuns dos usuários, e quando é
compartilhado pelos mesmos, pelo intermediário da informação e pelo sistema, pode
subsidiar a interação desses elementos (FIALHO; ANDRADE, 2007, p. 27).
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4 METODOLOGIA
Deveria saber em que direção está indo
mesmo que não saiba o próprio nome!
Alice - Através do Espelho
Tendo por base Oliveira (2007), compreende-se que método é um conjunto de
processos pelos quais se torna possível conhecer uma determinada realidade, produzir
determinado objeto ou desenvolver certos procedimentos ou comportamentos.
Para desenvolver esta pesquisa utilizamos como metodologia o Construcionismo
Social que pode ser definido como uma perspectiva de observação e análise da realidade
a partir de uma visão sócio-histórica, negando qualquer essência nos fenômenos
humanos. Ciente que o mesmo também objetiva compreender o sujeito, com base na
construção de suas histórias, nos valemos da Análise Estrutural das Narrativas, onde
considera-se que a narrativa é uma forma particular de discurso, além do método
qualitativo.
4.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO: PERCURSOS METODOLÓGICOS
A análise de conteúdo é abordada por diversos autores sob prismas
diferenciados, tanto no que concerne a conceitos como também as terminologias. No
escopo deste trabalho, toma-se como base a conceituação de Bardin (2006), bem como
as etapas das técnicas explicitadas por esse autor, que serão elencadas posteriormente
para fins explicativos. Tal escolha se deve ao fato do referido autor ser o mais citado no
Brasil em pesquisas que adotam a análise de conteúdo como técnica de análise de dados.
Bardin (2006, p. 38) refere que a análise de conteúdo consiste em,
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens. [...] A intenção da análise de conteúdo é a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente, de
recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não).
Esta técnica propõe analisar o que é explícito no texto para obtenção de
indicadores que permitam fazer inferências. Percebe-se que a análise de conteúdo é um
conjunto de técnicas de análise de comunicações, que tem como objetivo ultrapassar as
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Barreto; Sousa | Protagonismo Midiático Infantil
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados. Como afirma Chizzotti (1995, p.
98), “o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das
comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”.
Bardin (2006) organiza em três fases as etapas da técnica de análise de dados
conforme explicitado na tabela abaixo:
Tabela 2 Quadro explicativo das três fases da análise de dados
1 Pré-análise
2 Exploração do material
3 Tratamento dos resultados,
inferência e interpretação
(a) leitura flutuante
(a) exploração do material com a
definição de categorias
(sistemas de codificação)
(a) condensação e o destaque
das informações para análise
(b) escolha dos documentos
(b) identificação das unidades
de registro: unidade de
significação a codificar
corresponde ao segmento de
conteúdo a considerar como
unidade base, visando à
categorização e à contagem
frequencial)
(b) interpretações inferenciais: é
o momento da intuição, da
análise reflexiva e crítica
(c) formulação das hipóteses e
dos objetivos
(c) identificação das unidades de
contexto nos documentos:
unidade de compreensão para
codificar a unidade de registro
que corresponde ao segmento
da mensagem, a fim de
compreender a significação
exata da unidade de registro
(d) referenciação dos índices e
elaboração de indicadores
Fonte: Bardin, 2006, adaptado pelas autoras.
É importante esclarecer que a segunda fase é a fase da descrição analítica, a qual
diz respeito ao corpus (qualquer material textual coletado) submetido a um estudo
aprofundado, orientado pelas hipóteses e referenciais teóricos. Dessa forma, a
codificação, a classificação e a categorização são básicas nesta fase (BARDIN, 2006).
5 PROTAGONISMO MIDIÁTICO INFANTIL: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
INFORMACIONAL DE VLOGUEIROS CONTADORES DE HISTÓRIAS
Então no fim das contas a coisa realmente aconteceu!
E agora, quem sou eu?
Vou me lembrar se puder!
Estou decidida!
Alice - Através do Espelho
Barreto; Sousa | Protagonismo Midiático Infantil
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ARTIGO
Os dados da pesquisa foram analisados a partir das categorias: mediação da
informação, interação/motivação e protagonismo midiático infantil. O encontro com os
vlogueiros ocorreu no cenário da escola e foi mediado pela bibliotecária da instituição
que também é contadora de história, ou seja, foi um momento único de
compartilhamento de saberes de maneira lúdico didática. Foram 10 vlogueiros que
participaram do encontro com faixa etária entre 8 e 11 anos, seis do sexo feminino e
quatro do sexo masculino. Todos os canais já existem há mais de um ano. A partir de um
bate papo dentro da programação do encontro foram obtidas impressões acerca das
categorias de análise propostas. As impressões são do grupo analisado e o de cada
vlogueiro de maneira separada e serão dispostas em forma de texto corrido.
A primeira categoria titulada mediação da informação teve como objetivos:
conhecer a origem dos vlogs, escolha/ preparação do conteúdo e na concepção das
próprias crianças uma identificação/definição da mediação realizada pelas mesmas.
Quanto a origem, todos no grupo foram enfáticos ao afirmar que foram
influenciados pela mídia no que concerne a serem inscritos em outros canais também
geridos por crianças e sentirem a necessidade de terem seu próprio espaço. Todos os
canais são sobre leitura e realizam atividades de indicação de leitura. O conteúdo é
selecionado, preparado e divulgado pelas próprias crianças. Onde a maioria utiliza livros
emprestados na biblioteca escolar para realizar contação de histórias nos seus
respectivos canais. Houve apenas um caso de censura no qual os pais excluíram um
vídeo de uma das alunas devido a mesma sofrer bullying dos colegas da sala de aula
devido a um problema de fala. O episódio demonstra que embora as crianças tenham
autonomia nos seus espaços de atuação midiáticos os pais monitoram essas atividades e
estão de prontidão para auxiliar e conter os danos causados por essa exposição precoce.
Os pais intervirem excluindo vídeos para evitar um constrangimento ainda maior para a
criança que foi tachada nos comentários de “retardada” por gaguejar durante a leitura
do livro. O episódio em si permitiria um viés discursivo sobre preconceito, exposição
precoce, atuação dos pais, crianças que independente de suas limitações querem ter seu
espaço, mas essas questões no escopo desse artigo ficarão apenas na reflexão,
reafirmando apenas uma triste realidade, a sociedade independente de sua faixa etária
não está preparada para a diversidade sempre haverá um lampejo de preconceito e
crítica em cada aldeia seja ela real ou midiática.
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ARTIGO
A segunda categoria titulada interação/motivação teve como objetivo identificar
as motivações de criação e permanência dos vlogs e a interação com os inscritos. No que
concerne a motivação tanto para criação como para permanência foi reafirmado a
influência de outros canais e a existência a partir dessa influência da necessidade de ser
ter o próprio espaço. Outro fator motivador foi a amizade gerada com os inscritos. A
interação com outras crianças de outras cidades que são inscritas no canal e comentam
os vídeos tem sido uma constante nos vlogs, mas algo que as crianças pontuaram como
de maior valor foi a amizade com coleguinhas da mesma escola, mas de outra turma o
que revela que mesmo estando no mesmo ambiente eles não conversavam entre si
surgindo uma amizade a partir da conexão, do midiático, o virtual gerando valores no
real, influenciando gerações e gerando amizades.
A terceira categoria titulada protagonismo midiático infantil teve como objetivo
demonstrar se esse protagonismo influencia no cenário escolar no que concerne ao
processo de aprendizagem, se algum diferencial na inserção desses alunos nas séries
seguintes? No que concerne ao processo de aprendizagem foi perceptível diante da fala
dos alunos e posteriormente confirmado com os professores que os alunos que tem vlog
são mais participativos nas aulas e tiram as notas mais altas, um fato curioso citado por
um aluno e confirmado pela maioria é que os pais utilizam como punição o fato de o
postar conteúdo no vlog devido algum comportamento inadequado, os pais veem os
vlogs também como oportunidade de disciplina. Quanto a inserção nas séries seguintes o
grande diferencial posto pelo grupo foi a popularidade, inscritos que viram amigos.
Diante dessa pequena amostra e das impressões obtidas ficou claro que o cenário
midiático é rico em oportunidades de troca e compartilhamento de informações, mas
que ainda é espinhento e doloroso em suas críticas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho visou abordar a participação de crianças no ambiente virtual,
especificamente, na rede social Youtuber, de modo a possibilitar a influência dessas
crianças no processo de mediação da informação, sobretudo divulgando conteúdo sobre
as histórias dos livros lidos.
Verificou-se que este fenômeno é recente, estando ainda em processo de análise
dos desdobramentos dessa prática nas redes sociais. Nos meandros da informação
Barreto; Sousa | Protagonismo Midiático Infantil
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
midiática percebemos surgir várias representações de uma infância que é moldada por
uma nova conjuntura social.
Uma geração desejosa por compartilhar o gosto pela leitura através da arte de
contar histórias, amizades que são tecidas na conexão que rompe barreiras entre o real e
o virtual, mas que separa, que expõem as diferenças e que gera constrangimento pela
ausência de compreensão, pela falta do diálogo. Ausência de uma participação ativa por
parte dos pais o mais limitada a mediação de conflitos, mas na construção dos
filhos, da exposição dos filhos, os pais literalmente sentam na poltrona e assistem, tal
escolha tem um alto preço para quem está na tela e tem suas limitações julgadas. Um
vídeo é excluído não por ter conteúdo inadequado, havia poesia, leitura e amor, mas por
um rótulo que gerou estereótipos, se ter um canal é ser aceito então quem julga essa
aceitabilidade? O público? Então o público escolhe o que é apresentado, soa como algo
manipulado. E diante das críticas o recuo, a vergonha, a exclusão. São episódios como
esse que devem gerar reflexão sobre quem é o verdadeiro protagonista? A mídia é um
palco, o youtuber uma fogueira, mas quem está mantendo o fogo aceso? Os inscritos.
Os livros voltam para as estantes, os equipamentos tecnológicos são guardados
até a próxima notificação, as histórias ainda continuam mágicas mesmo com essa nova
roupagem e através de sua imortalidade narrativa perduram as gerações influenciando,
gerando, compartilhando, mostrando que ainda há humano no ser humano.
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Barreto; Sousa | Protagonismo Midiático Infantil
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
SOBRE OS AUTORES
Rayara Bastos Barreto
Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Atua como Bibliotecária no cenário escolar. Contadora de histórias. Coordenadora do grupo de contação
de histórias Reino Encantado. Vice líder da biblioteca Livre Direito de Ler no Tribunal Regional do
Trabalho da 7º região (TRTCe), na modalidade voluntária.
E-mail: rayarabastos@gmail.com
Laiana Ferreira de Sousa
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da
Paraíba (PPGCI - UFPB). Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba
(PPGCI/UFPB). Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: laiana_ffsousa@hotmail.com
Recebido em: 19/03/2017; Revisado em: 18/04/2017; Aceito em: 20/05/2017.
Como citar este artigo
BARRETO, Rayara Bastos; SOUSA, Laiana Ferreira de. Protagonismo midiático infantil: análise do
comportamento informacional de vlogueiros contadores de histórias. Informação em Pauta, Fortaleza,
v. 2, número especial, p. 197-216, out. 2017.
O QUE SÃO “PRÁTICAS INFORMACIONAIS”?
WHAT ARE "INFORMATION PRACTICES"?
Carlos Alberto Ávila Araújo
UFMG
RESUMO
O objetivo deste texto é apresentar a perspectiva de estudos de usuários da informação que
se desenvolve a partir do conceito de práticas informacionais”. Para isso, inicialmente, é
apresentado o quadro intelectual das ciências humanas e sociais de onde o conceito de
origina. A seguir, apresenta-se um histórico dos estudos de usuários a partir das noções de
“estudos de uso” e comportamento informacional”, evidenciando-se em que a abordagem
das práticas informacionais diferencia-se destas. Por fim, são apresentados e discutidos
alguns estudos recentes em práticas informacionais como forma de se compreender a
especificidade desta abordagem.
Palavras-chave: Práticas informacionais. Estudos de Usuários da Informação. Sujeito
Informacional.
ABSTRACT
The objective of this text is to present a perspective of studies on information users that
develops from the concept of "information practices". For this, initially, we present a
framework of the human and social sciences from where the concept originates. The
following is a history of the studies of users with the notions of "use studies" and
"information behavior", evidencing that the approach of information practices differs.
Finally, some recent studies in informational practices are described and discussed as a
way to see the specificity of this approach.
Keywords: Information Practices. Studies on Information Users. Information Subject.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v. 2
número especial
out. 2017
ARTIGO
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Araújo | O que são “Práticas Informacionais”?
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
1 INTRODUÇÃO
Inicialmente, com este texto, apresentado como conferência no I ENEU, Encontro
Internacional de Estudo de Usos e Usuários da Informação, cabe agradecer e parabenizar
a equipe organizadora, composta por docentes, alunos e funcionários do Departamento
de Ciências da Informação da Universidade Federal do Ceará. Trata-se do primeiro
evento específico de usuários da informação realizado no país, o que por si
representa um mérito enorme.
Nesse sentido, pretende-se aqui desenvolver uma contribuição a partir da
apresentação do conceito de “práticas informacionais”, que vem sendo utilizado em
várias pesquisas nos últimos anos. Sabe-se que o campo de estudos sobre os usuários da
informação é uma área pesquisa surgida na década de 1930, sendo que se desenvolveu,
desde então, uma extensa tradição de estudos, denominada por vezes abordagem
tradicional, abordagem positivista ou ainda “estudos de uso”. Na década de 1980, o
campo conheceu uma significativa renovação conceitual, com a chamada abordagem
alternativa, também conhecida como abordagem cognitiva ou estudos de
“comportamento informacional”. Nos últimos anos, uma nova proposta de pesquisa vem
se desenvolvendo. Ela tem recebido distintas denominações, tais como “social”,
“sociocultural”, “interacionista” ou “construtivista” (ARAÚJO, 2016). Nesta abordagem, o
elemento central é o conceito de “práticas informacionais”. Para compreendê-lo, é
necessário caracterizar o tipo de movimento intelectual que marca essa perspectiva,
bem como o entendimento que é feito tanto de usuário” (sujeito, indivíduo) como de
“informação” (e conhecimento). Nesse texto, busca-se apresentar o quadro teórico que
marca, no âmbito das ciências humanas e sociais, esse tipo de movimento intelectual,
bem como situá-lo no contexto da trajetória do campo de estudos de usuários da
informação.
2 O QUADRO INTELECTUAL
A proposta de pesquisa em torno da ideia de práticas informacionais” tem
origem no quadro intelectual das ciências humanas e sociais tomadas como um todo,
quadro esse marcado pela existência de distintas escolas ou tradições de pesquisa que se
Araújo | O que são “Práticas Informacionais”?
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Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 2, número especial, out. 2017
ARTIGO
estruturam em torno de determinadas concepções. Lallement (2004) apresenta uma
sistematização dessas tradições, identificando a existência de três grandes posturas
intelectuais: as teorias voltadas para o ordenamento social, isto é, para a integração e a
lógica de funcionamento do sistema social tomado como um todo (vertente na qual se
encontram o culturalismo, o funcionalismo e o estruturalismo); as teorias voltadas para
as contradições do social, isto é, que examinam a vida humana a partir de um ponto de
vista macroscópico, como a vertente anterior, mas com ênfase nos conflitos que a
perpassam e a estruturam (marxismo, pós-marxismo e historicidade); e as perspectivas
voltadas para a construção social, que tomam os indivíduos como ponto de partida das
investigações, dando lugar preferencial para os atores (pragmatismo, interacionismo e
etnomedologia). Tais tradições podem ser resumidas na construção de duas dicotomias:
“ator/sistema” e “ordem/conflito”, embora, alerta o autor, convém efetivamente evocar
conjuntos não rígidos com variáveis que se entrecortam e não tanto territórios
rigorosamente delimitados” (LALLEMENT, 2004, p. 8).
Uma outra maneira de se colocar a questão é apresentada por Corcuff (2001), que
distingue as oposições clássicas presentes nas ciências humanas e sociais: entre
idealismo e materialismo, entre sujeito e objeto e entre as dimensões coletiva e
individual. Ele identifica, a partir disso, dois grandes movimentos intelectuais que
buscaram, de alguma forma, superar essas dicotomias. O primeiro é composto por
aqueles que buscaram partir das estruturas sociais para chegar às interações entre os
indivíduos, isto é, buscaram ultrapassar as dicotomias, mas com certa predominância
das estruturas sociais e dos aspectos macrossociais da realidade. Enquadram-se nesse
movimento autores como Elias, Bourdieu e Giddens. O segundo é composto por aqueles
que buscaram o contrário, partir das interações para chegar às estruturas sociais, entre
os quais encontram-se Berger e Luckmann, Schutz, Cicourel, Garfinkel, Callon, Latour e
Elster.
Um quadro parcialmente semelhante é apresentado por Bourdieu (1972), ao
distinguir três modos por meio dos quais foram construídos os conhecimentos
científicos sobre a realidade humana e social. O primeiro deles, apontado pelo autor, é o
fenomenológico (representado pelo interacionismo simbólico e pela etnometodologia)
que analisa as maneiras como o mundo é visto, pelos sujeitos, como algo natural, óbvio,
evidente e que ficaria, portanto, num nível subjetivo. O segundo é o objetivista, no qual
se encontram o marxismo e o estruturalismo, que analisa as relações objetivas que
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estruturam as práticas, de forma independente das consciências individuais. Tal
abordagem negligenciaria o ponto de vista subjetivo dos agentes.
Na tentativa de superar as limitações de ambas tendências, Bourdieu (1996)
propõe o que ele denomina abordagem praxiológica”, que reposiciona o pesquisador,
que passa ter como objeto de estudo o sistema de relações objetivas e também o
processo de interiorização desse sistema sob a forma de disposições para a ação.
Encontra-se aqui, por meio da expressão “praxiológica”, a ideia de “práxis”, isto é, o
movimento mesmo por meio do qual os sujeitos agem no mundo e, como causa e
também consequência dessa ação, constroem esse mesmo mundo. Essa é a ideia básica
que fundamenta o conceito de “práticas” presente na expressão “práticas
informacionais”.
O raciocínio que conduz essa ideia busca realizar uma crítica tanto ao
subjetivismo quanto ao objetivismo no entendimento da ação humana. O subjetivismo
pressupõe que a ação humana é sempre um produto da vontade de um sujeito
consciente e capaz de se projetar no futuro, antecipando as consequências de suas ações.
A ação então é resultado de projetos, preferências, escolhas, intenções e cálculos
realizados por um indivíduo, portanto algo que pode ser explicado em termos
individuais, o que significa também atribuir uma grande autonomia aos sujeitos. Na
outra ponta, o objetivismo enxerga os atores como suportes mecânicos das estruturas,
como que movidos de maneira inconsciente suas ações compreendidas como simples
execução de regras sociais, aplicação de significados dados externamente.
Como forma de superar tal dicotomia, e portanto desenvolver sua perspectiva
praxiológica, Bourdieu desenvolve o conceito de habitus, que “fornece, ao mesmo tempo,
um princípio de sociação e de individuação: sociação porque as nossas categorias de
juízo e de ação, vindas da sociedade, são partilhadas por todos aqueles que foram
submetidos a condições e condicionamentos sociais similares (assim podemos falar de
um habitus masculino, de um habitus nacional, de um habitus burguês, etc.);
individuação porque cada pessoa, ao ter uma trajetória e uma localização únicas no
mundo, internaliza uma combinação incomparável de esquemas” (WACQUANT, 2017, p.
215).
Trata-se de um tipo de movimento intelectual marcado pelo pensamento
relacional (tal como formulado por Cassirer), isto é, que busca sempre o “entre”, o
movimento incessante entre o estruturado e o estruturante. É nesse sentido que estudar
Araújo | O que são “Práticas Informacionais”?
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as práticas informacionais constitui-se num movimento constante de capturar as
disposições sociais, coletivas (os significados socialmente partilhados do que é
informação, do que é sentir necessidade de informação, de quais são as fontes ou
recursos adequados) e também as elaborações e perspectivas individuais de como se
relacionar com a informação (a aceitação ou não das regras sociais, a negociação das
necessidades de informação, o reconhecimento de uma ou outra fonte de informação
como legítima, correta, atual), num permanente tensionamento entre as duas
dimensões, percebendo como uma constitui a outra e vice-versa. É nesse local que se
situam os estudos de práticas informacionais, dentro do quadro proposto por Lallement,
Corcuff e Bourdieu.
Diversos outros autores compartilham da mesma proposta de movimento
intelectual para a compreensão da realidade humana e social, cada um deles trazendo
novos elementos e iluminando outros aspectos da questão. Considerando sua
importância para a consolidação da perspectiva das práticas informacionais, cabe aqui
mencionar três deles. O primeiro é proposto por Heller (1992). A pesquisadora húngara,
preocupada com uma adequada compreensão do método marxista como uma ontologia
do ser social, buscou opor-se tanto ao historicismo subjetivista (que dissolve as
objetivações humanas em sua gênese social imediata) quanto às versões estruturalistas
do marxismo (formalistas e sobretudo anti-históricas). Ela desenvolve as categorias de
“individualidade” e “genericidade” na permanente tensão em que coexistem na “vida
cotidiana”, isto é, a “vida de todo homem” (HELLER, 1992, p. 17), da qual ninguém
consegue desligar-se completamente não havendo, porém, quem viva tão-somente
nela. Essa vida cotidiana é a vida do ser humano por inteiro, pois ele participa dela com
todos os aspectos de sua individualidade, e é heterogênea, composta por distintos tipos
de atividade (o trabalho, o lazer, o ambiente privado, o religioso). Nessas diferentes
esferas sobressai o “valor”: tudo aquilo que, em qualquer das esferas humanas,
relaciona-se com as possibilidades imanentes ao gênero humano. Esse “valor”
identificado por Heller é algo objetivo, mas tem uma objetividade diferente da
objetividade “natural”. Esse valor tem uma objetividade “social”: é independente das
avaliações dos indivíduos mas não da atividade dos homens, pois é uma expressão e
uma resultante das relações sociais. O exemplo que ela são os deuses, que realmente
“existiram”, “agiram”, mas como realidades sociais, isto é, existiram, serviram de
referência e provocaram consequências até mesmo para os que não acreditavam na
222
Araújo | O que são “Práticas Informacionais”?
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existência deles. E é esse tipo de “objetividade” apresentado por Heller que caracteriza
os documentos, os registros de conhecimento, as fontes, serviços e sistemas de
informação tal como compreendidos pela perspectiva das “práticas informacionais”:
como elementos dotados de “valor” a partir da práxis dos sujeitos mergulhados nas
distintas esferas que compõem a vida cotidiana.
O segundo é formulado por Certeau, que desenvolveu uma proposta de pesquisa
que nasceu da “interrogação sobre as operações dos usuários supostamente entregues à
passividade e à disciplina” (CERTEAU, 1994, p. 37). Recusando uma postura de
entendimento da razão técnica com organizadora e controladora das pessoas e coisas
em lugares, papéis e atividades, o pesquisador francês desenvolveu uma teoria e um
método voltados para a valorização da inventividade dos atores, para os movimentos de
escape do homem ordinário, para as astúcias, resistências e reapropriações por meio das
quais o ser humano inventa” o cotidiano. Central em sua argumentação é, portanto, o
conceito de “táticas”, ao qual ele opõe o de “estratégias”.
O terceiro relaciona-se com o conceito de identidade, tal como formulado por Hall
(2000; 2003). Para este autor, identidade é um conceito historicamente compreendido a
partir de duas visões: uma como algo ligado às origens, às semelhanças, a uma unidade
comum entre um grupo de pessoas uma concepção essencialista, relativa àquilo que,
por baixo das diferenças, costura e , cria unidade; e outra como permanente processo,
algo que nunca se completa, sempre se construindo no terreno das representações.
Identidade, assim, evoca mais questões sobre “o que nos tornamos” do que “o que
somos”, o que convoca a um olhar atento para os pontos de similaridade, pontos esses
instáveis de identificação, feitos por meio dos posicionamentos dos atores. “Usuários da
informação”, nesta perspectiva, jamais poderiam ser entendidos como “essências”
derivadas de atributos sociodemográficos. Por meio das identidades, e das táticas tal
como formulado por Certeau, constroem-se o caráter ativo dos sujeitos mas também
suas relações com o mundo e os demais sujeitos frente aos quais agem.
A questão das relações entre o individual e o social não é a única dimensão do
movimento intelectual que marca a perspectiva das práticas informacionais. Uma
segunda questão, igualmente importante e em certo sentido complementar, é a da
natureza do processo de conhecimento efetivado pelo ser humano em relação ao real.
Nesse sentido, uma contribuição fundamental é o trabalho de Piaget (1975), que
desenvolve uma teoria na qual postula que o conhecimento não é simplesmente
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adquirido. Antes, ele é produto de uma relação dialética entre dois processos: a
acomodação e a assimilação, isto é, o movimento pelo qual o mundo adentra e constitui
o sujeito, ao mesmo tempo em que o sujeito também constitui o mundo, enquadrando-o
e o recortando. Nesse sentido, sujeito e objeto são constituídos em parceria, isto é, ao
mesmo tempo num processo de conhecer. O sujeito age e interfere, na medida em que
incorpora a sua experiência aos esquemas de interpretação elaborados (assimilação),
mas também quando modifica os seus esquemas para se aproximar melhor da realidade
(acomodação).
Aquilo que Piaget chama tomada de consciência”, um outro autor, numa
perspectiva mais aplicada, chama de processo de conscientização”. Trata-se de Freire
(2017) que, ao formular uma teoria da prática pedagógica, também desenvolve um
entendimento do caráter dialético do processo de conhecimento. Para o autor, não se
trata de uma transferência de conhecimento”, pois o ser humano não existe no mundo
apenas “constatando” coisas, mas também agindo, se posicionando, o que implica
decisão, escolha, intervenção na realidade” (FREIRE, 2017, p. 75).
Essa visão do processo de conhecimento, na verdade, reforça a perspectiva
anteriormente apresentada no âmbito das ciências humanas e sociais, pois também
representa um tipo de movimento intelectual marcado pela busca do “entre”, de um
campo de tensão entre elementos distintos e suas interações. No campo das práticas
informacionais, essa ideia se traduz por meio do conceito de “apropriação”, que significa
pensar que o conhecimento não é simplesmente algo transferido de uma pessoa para
outra, algo que possui uma objetividade em si (um “dado”) que sai de um ponto e chega
a outro da mesma forma. Nem é, o conhecimento, produto de uma acumulação, de uma
“afetação” de algo externo a um determinado estado mental de um sujeito.
3 O HISTÓRICO DOS ESTUDOS DE USUÁRIOS: USOS E COMPORTAMENTOS
Os primórdios dos estudos de usuários podem ser identificados entre alguns
estudos sobre frequência de uso de revistas, em diferentes disciplinas, realizados por,
entre outros, Gross e Gross no ano de 1927, por Allen em 1929 e por Hooker em 1935,
embora o início “oficial” deste campo seja normalmente associado com os estudos sobre
uso de bibliotecas, realizados no âmbito da Universidade de Chicago, nos anos 1930.
Rapidamente esses estudos passaram a ser utilizados como instrumentos de diagnóstico
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em instituições de informação, como elementos de feedback para o sistema, por meio da
determinação de taxas de uso de materiais (elemento orientador de políticas de
desenvolvimento de coleções, determinando necessidades de aquisição e descartes).
Outro marco significativo se deu na Royal Society Scientific Information Conference, em
1948, quando Bernal apresentou um estudo de como cientistas buscam e obtém
informações (o que liam, os motivos da leitura, o uso) e Urquhart apresentou outro
sobre distribuição e uso da informação científica e tecnológica. Inaugurou-se aí um novo
campo voltado para o estudo de usuários no ambiente de ciência e tecnologia.
Embora diferentes em alguns de seus objetivos e na empiria, as duas tradições
compartilham de um mesmo modelo teórico, em torno da ideia de “uso” da informação,
isto é, do acesso físico a itens e serviços informacionais, da caraterização desse uso (por
frequência, por partes ou setores, por urgência, por grau de satisfação) e de sua
decomposição por aspectos sociodemográficos dos usuários (por atributos “objetivos”
tais como sexo, idade, profissão, renda, escolaridade, entre outros). A base conceitual se
situa entre as noções de demanda, desejo, necessidade, uso e requisito, de um lado, e de
fontes, serviços, sistemas e unidades de informação, de outro (LINE, 1974). Reunindo
todas essas questões, e subjacente a elas, encontra-se a inspiração fundamental desta
abordagem: o positivismo.
O modelo positivista consiste na aplicação dos mesmos métodos das ciências
naturais (exatas e biológicas) aos fenômenos humanos e sociais. Como consequência de
sua aplicação nos estudos de usuários, verificou-se uma preocupação, central, com o
estabelecimento de leis do comportamento do usuário da informação, como, por
exemplo, o princípio do menor esforço. O objetivo destas leis é estabelecer padrões de
comportamentos invariáveis, isto é, válidos para diferentes contextos, em diferentes
locais e épocas. Além disso, tais estudos procuraram “medir” o comportamento dos
usuários. A maior parte dos estudos realizados na abordagem tradicional de estudos de
usuários utiliza como técnica de coleta de dados o questionário, normalmente composto
por perguntas com o objetivo de quantificar hábitos de comportamento de busca e uso
da informação e verificar frequências de acesso e graus de satisfação. Assim, quase todo
estudo de uso apresenta uma série de tabelas em que são analisados quantitativamente
os resultados encontrados.
O usuário, nessa perspectiva, é quase que completamente destituído da condição
de “sujeito”, assemelhando-se a um “processador de dados”. Isso porque é entendido em
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termos de um “portador” de uma demanda (entendida, esta, como a ausência de um
dado específico) e a sua satisfação como a entrega de um item documental a satisfazer
essa demanda. Ao mesmo tempo, o sujeito é compreendido de forma absolutamente
funcional, como uma peça numa engrenagem: um engenheiro que precisa concluir um
projeto, um cientista que está redigindo um artigo, um professor que precisa preparar
uma aula e assim sucessivamente.
Uma segunda abordagem de estudos de usuários desenvolveu-se por meio de
diversos modelos que buscaram ver as etapas existentes e os fatores intervenientes
entre a manifestação da necessidade de informação e o uso. Entre as etapas pode-se
citar a seleção, exploração, coleta, diferenciação, extração e verificação; e entre os
fatores, características emocionais, cognitivas, fisiológicas, ambiente de trabalho,
ambiente cultural, entre outros. A base conceitual se situa, neste caso, em torno da noção
de processo entre a necessidade e o uso, passando pela busca, e de uma dimensão
cognitiva que determina todo o processo.
Essa segunda abordagem começa a ser delineada no final da década de 1970. Um
dos trabalhos considerados fundamentais para sua consolidação é On user studies and
information needs, de Tom Wilson, publicado em 1981. (BAWDEN, 2006). Por ser muito
citado, por seu caráter pioneiro ao propor modelos de comportamento informacional, e
por ter influenciado a configuração de todos os demais modelos cognitivistas que se
seguiram, será ele a base da argumentação neste texto. O primeiro modelo proposto por
Wilson é apresentado a seguir, na Figura 1.
Figura 1 - Primeiro modelo de etapas do comportamento informacional
Fonte: Wilson (1981, p. 4).
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Pode-se perceber, neste modelo, a ideia de um “mecanismo de ativação”, que
inicia todo o processo de comportamento informacional, que é então decomposto em
etapas sucessivas, marcadas sempre por uma dupla possibilidade relacionada ao
“sucesso” ou ao “fracasso” dos objetivos da ação relacionada com cada etapa.
Note-se que, embora se apresente como um modelo “cognitivo” buscando superar
as limitações do modelo anterior (vinculado apenas ao uso), o referencial de Wilson
reproduz a lógica binária necessidade/busca, como uma aplicação do mecanismo
estímulo-resposta da psicologia comportamental. A diferença aqui é o interesse em
decompor as etapas que marcam esse processo de forma a ver o papel do sucesso e do
fracasso, ou da demanda a tal tipo ou a tal tipo de recurso, como elementos
intervenientes do processo.
No mesmo artigo, Wilson apresenta um terceiro modelo, no qual é possível
identificar os fatores e dimensões que atuam no processo informacional, como pode ser
visto na Figura 2.
Figura 2 - Segundo modelo de etapas do comportamento informacional
Fonte: Wilson (1981, p. 6).
Por um lado, é importante destacar a presença, neste segundo modelo de Wilson,
de fatores variados, ligados a atributos da pessoa (psicológicos, afetivos, cognitivos), de
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seu papel social (profissão, posição social) e aos ambientes (de trabalho, socioculturais,
político-econômicos e físicos). Mas são, todos eles, trabalhados enquanto fatores
intervenientes portanto, externos aos sujeitos. Neste modelo, os usuários são como
que “assujeitados” pelas condições externas que incidem sobre eles. As variáveis atuam
de maneira a reforçar, enfraquecer ou redirecionar os estímulos inicialmente colocados
como propulsores do processo de busca e uso da informação. Isso posto, caberia ao
pesquisador não exatamente estudar essas dimensões (atributos da pessoa, do social
etc.), mas apenas identificar (ou melhor, medir) seu grau de impacto em relação ao
processo, a sua influência melhor seria dizer a sua interferência. Eles não fazem parte,
neste modelo explicativo, da própria constituição dos sujeitos, mas sim como algo
externo. Portanto, embora se considere uma dimensão cognitiva, a dimensão
propriamente humana dos usuários (seres simbólicos, seres sociais) continua sendo
desconsiderada.
Deve-se destacar, contudo, que ainda no início da construção da perspectiva
cognitivista, alguns traços que apontam para uma certa preocupação com os
contextos concretos em que ocorrem os fenômenos informacionais. Bawden (2006)
dedica-se a analisar criticamente o mencionado artigo de Wilson, apontado como ele
como um texto fundamental no desenvolvimento dos estudos de usuários. Bawden
identifica neste artigo um aspecto pioneiro nos estudos, a noção de “mundo da vida do
usuário”, conceito filosófico trazido de Schutz, embora Wilson não o tenha desenvolvido
no referido artigo. Bawden argumenta que tal ideia foi expressa, posteriormente, na
Ciência da Informação, por Vakkari (com a ideia de “informação em contexto”), por Blair
(com o conceito de “formas de vida” tomado de Wittgenstein) e por Savolainen, a partir
do conceito de habitus de Bourdieu, citado neste texto, e que terá impacto
fundamental para a constituição da perspectiva das práticas informacionais.
Diversos modelos seguiram-se ao de Wilson, como o de Krikelas que prevê
necessidades futuras ou imediatas, o de Dervin a partir da metáfora do sense-making, o
do valor agregado de Taylor, o de oito etapas de busca de informação de Ellis, a
abordagem baseada em processo de Kuhlthau entre muitos outros. (CUNHA; AMARAL;
DANTAS, 2015; GONZÁLEZ TERUEL, 2005). Embora prevejam outras etapas ou outros
direcionamentos, reproduzem o mesmo esquema teórico de Wilson e, portanto,
consistem mais propriamente em modelos de consolidação da abordagem cognitivista
do que em elementos de sua superação.
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De todo modo, apesar de todos os elementos incluídos nos estudos cognitivistas,
pode-se perceber que o usuário continua sendo compreendido numa lógica mecanicista,
um se que sofre os efeitos de forças externas que atuam sobre ele (as variáveis
identificadas por Wilson). Ou, então, é apenas um ser “cognoscente”, isto é, um ser que
acumula dados sobre a realidade externa e que, de tempos em tempos, conforme sente
uma “lacuna” nesses dados, recorre a sistemas de informação para resolver a
“anomalia”.
4 A PERSPECTIVA DAS PRÁTICAS INFORMACIONAIS
Como uma alternativa ao caráter restritivo e “asfixiante” do conceito de
“comportamento informacional” (um indivíduo que, a partir de um estímulo externo,
procura um sistema de informação para satisfazer sua necessidade de informação),
alguns pesquisadores do campo de estudos de usuários da informação propuseram o
conceito de “prática informacional”, retomando a ideia de práxis como todo “[...] modo
de agir no qual o agente, sua ação e o produto de sua ação são termos intrinsecamente
ligados e dependentes uns dos outros, não sendo possível separá-los” (CHAUÍ, 1984, p.
20). O desenho dessa perspectiva consiste na aplicação de uma certa forma de
compreender o sujeito e o processo de conhecimento, a partir dos movimentos teóricos
e conceituais apresentados no tópico 2 deste texto.
Merece destaque nesse sentido o pioneiro modelo ELIS (everyday life
information seeking) de Savolainen (1995). Ao propor uma certa complementaridade
entre a dimensão formal (do trabalho, da ciência, da indústria) e as rotinas diárias da
vida (os afazeres domésticos, o lazer), Savolainen abre o caminho para uma
compreensão mais plural dos sujeitos mais condizente àquilo que as pessoas
efetivamente são. Mais do que isso, ele apresenta um modelo, como se pode ver abaixo,
na Figura 3, que apresenta uma complementaridade também entre as instâncias
individuais e as sociais, isto é, busca ver tanto o caráter ativo dos sujeitos como também
as determinações que incidem sobre eles. Ao mesmo tempo, identificando como os
sujeitos atuam face a estratégias distintas de “controle da vida” (relacionadas ao
otimismo e ao pessimismo, ao cognitivo e ao afetivo) e mobilizando distintos recursos de
capital social e cognitivo, o autor abre caminho para uma compreensão das instâncias
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propriamente simbólicas que se relacionam aos fenômenos informacionais. Tais
elementos são apresentados a seguir.
Figura 3 - Modelo ELIS
Fonte: Savolainen (1995, p. 268).
Uma tentativa de construção teórica desta abordagem, entre outras, é a de
Tuominen e Savolainen (1997) a partir do entendimento do uso da informação como
uma “ação discursiva”. Desde o ponto de vista do construcionismo social, os autores
buscam compreender a linguagem em sua dimensão de construção da realidade. Buscar
e usar informação consistem, nessa perspectiva, não apenas ações que sofrem
influências dos elementos estruturantes da realidade social mas são, eles próprios,
elementos conformadores desses elementos. Cada ação humana é também uma
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interferência naquilo que nos condiciona. Supera-se o caráter isolacionista, monológico
e mecânico da abordagem tradicional caráter esse replicado no modelo cognitivista.
Desde então, vários estudos na linha do estudo de “práticas informacionais” vêm
sendo desenvolvidos. Muitos tentaram continuar o processo de construção teórica e
conceitual da proposta. Um exemplo é o trabalho de McKenzie (2003), que propõe que o
termo “práticas informacionais” seria mais adequado do que “comportamento
informacional” justamente para dar conta da dimensão não-diretiva, isto é, espontânea,
casual, das ações das pessoas com relação à informação. A autora desenvolve a noção de
“serendipity” a possibilidade de se fazer descobertas importantes por acaso ou, no
caso, encontrar determinados recursos informacionais relevantes sem estar procurando
por eles. McKenzie busca analisar como situações inesperadas “convocam” os sujeitos e
reinterpretar sua situação concreta, sua experiência, seus desejos e suas expectativas,
construindo para tanto um modelo bidimensional com quatro fases: a busca ativa por
informação, a varredura ativa, o monitoramento não dirigido (quando acontecem
situações de serendipity) e a busca por procuração”, isto é, por intermédio de outros
sujeitos. Tal modelo é apresentado a seguir na Figura 4.
Figura 4 - Modelo bidimensional de práticas informacionais de McKenzie
Fonte: McKenzie (2003, p. 26).
Embora não utilize a expressão “práticas informacionais”, a pesquisadora Elfreda
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Chatman apresenta um tipo de abordagem muito próxima, a partir de sua theory of life
in the round. Articulando conceitos como os de “mundo restrito”, “normas sociais”,
“visão de mundo” e “tipos sociais”, ela busca compreender como se dão, num ambiente
com grande controle social e rotinas previsíveis (um presídio), as tentativas individuais
de adaptação para sobrevivência e busca por segurança (CHATMAN, 1999). Ela se utiliza
de alguns conceitos tomados de Berger e Luckmann sobre como se constroem os
sentidos partilhados socialmente, dentro deles os “comportamentos apropriados ou
adequados” e, ainda, dentro destes, os comportamentos de busca da informação
apropriados com a identificação dos limites em que as ações individuais devem ser
mantidos, e as ocasiões excepcionais em que tais limites podem ser ultrapassados (no
caso do estudo mencionado, quando a informação é percebida com algo crítico, como
especialmente relevante e quando os limites do mundo restrito não se mostram
suficientes). Tais concepções se constroem sobretudo pelo caráter reciprocamente
referenciado das ações dos sujeitos: as pessoas tomam outras como exemplo,
categorizando-as em determinados quadros de legitimidade”, imitando determinadas
ações, que passam a se constituir em modelos de ação cristalizados. A autora chega a
fazer uma aproximação à ideia de “moda” em Simmel, fenômeno essencialmente cultural
e construído a partir de processos de socialização.
Numa linha próxima desenvolveu-se a pesquisa de Harlan (2012) sobre
adolescentes criadores de conteúdos (filmes, músicas, narração de histórias) em
ambiente digital, por meio da teoria fundamentada. A pesquisadora identificou cinco
“práticas de informação” desenvolvida pela comunidade estudada: conhecer a
comunidade (as regras, as normas, os papeis), negociar a “estética” (desenvolver e
representar suas identidades e gostos), a negociação do controle (de como criar
conteúdo e publicar), a negociação das capacidades (habilidades para criar conteúdo) e
a representação do conhecimento (resultado das três anteriores, produzindo a
informação como um artefato, e também articulando as ações de refletir, modelar e
compor). Essas práticas são atravessadas por três dimensões: as comunidades de
prática, as experiências de informação (participação, inspiração, colaboração, processos
e produtos) e ações de informação (obtenção, análise e criação de conteúdos). O mérito
do trabalho da autora é apresentar um amplo panorama das distintas ações
empreendidas pelos sujeitos e articulá-las às dimensões coletivas de aprendizado e,
sobretudo, de “negociação”, isto é, de constituição coletiva dos processos e produtos.
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Outra contribuição importante é a de Lloyd (2009). A autora apresenta uma
distinção entre o que chama de teorias sociais tradicionais e teorias das práticas ou
praxiológicas. Ela aponta que, embora essa segunda possibilidade ainda seja pouco
conhecida no campo da ciência da informação, ela pode ser extremamente útil para a
análise de aspectos da realidade humana como a subjetividade, a intersubjetividade, a
construção do significado, a racionalidade, entre outros. Embora a noção de “prática”
remonte a Aristóteles, a autora aponta que, no campo da teoria cultural, seus
precursores são Bourdieu, com sua teoria do campo, e Giddens, com sua teoria da
estruturação. Ainda assim, a autora desenvolve sua reflexão a partir de outra
contribuição, a ideia de ontologias contextuais (site ontologies) de Schatzki, isto é, uma
compreensão de que a vida social existe, e se atualiza, sempre no interior de um
contexto, está imbricada a ele. A crítica de Schatzki é aos autores que promoveram uma
certa separação entre o sujeito e o mundo. Em sua visão, sujeito e mundo estão sempre
conectados por meio de “práticas” como vestir, comer, falar, caminhar, trabalhar,
estudar, etc. Em seu estudo sobre a competência informacional, a autora identifica que
as habilidades também são um produto social, e reflete os aspectos sociais, históricos e
políticos de um contexto específico.
No contexto ibero-americano, merece destaque a criação de um grupo de
pesquisa voltado para os estudos de usuários da informação, mas com uma proposta de
trabalhar e desenvolver o conceito: trata-se do grupo EPIC, Estudos em Práticas
Informacionais e Cultura, composto por pesquisadores brasileiros (Adriana Bogliolo
Sirihal Duarte, Carlos Alberto Ávila Araújo, Cláudio Paixão Anastácio de Paula e Eliane
Cristina de Freitas Rocha), do Uruguai (Martha Sabelli), da Espanha (Aurora González-
Teruel) e da Argentina (Silvia Albornoz). Embora o grupo não tenha ainda efetivado uma
pesquisa unificada, ele vem se construindo a partir de debates, intercâmbios e da
realização de pesquisas com distintas realidades empíricas na forma de investigações de
mestrado e doutorado, além de uma preocupação com o ensino da disciplina usuários da
informação no âmbito da graduação e da pós-graduação (SIRIHAL DUARTE et al, 2016).
Na abordagem pelo conceito de práticas há, pois, uma progressiva aproximação
ao que é propriamente humano nos usuários da informação: a sua capacidade
imaginativa, criadora, na apropriação da informação; e a dimensão coletiva do seu
“existir”, constituidora de todos os seus atos, entre os quais aqueles ligados à informação
(ARAÚJO, 2012).
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ARTIGO
5 CONSIDERÕES FINAIS
O uso do conceito de práticas informacionais em investigações recentes não
pretende, de forma alguma, suplantar as pesquisas desenvolvidas a partir das
perspectivas do “uso” e do “comportamento informacional”. Pesquisas mais orientadas
por um caráter utilitário e/ou aplicado continuam sendo necessárias. O que se espera
com o desenvolvimento de um novo conceito, e do movimento reflexivo que o
acompanha, é iluminar determinados aspectos da realidade, determinadas
problemáticas, que até então o vinham sendo estudadas (ou suficientemente
estudadas). A emergência de um novo conceito, com todas as suas distintas
manifestações, vem atestar sobretudo a riqueza e a complexidade do campo do real, um
real que sempre se coloca como um desafio para a pesquisa científica. Isso se verifica de
forma ainda mais incisiva no campo de estudos de usuários da informação, que lida com
objetos que são também sujeitos (os usuários) que utilizam dispositivos em constante
mudança (as técnicas e tecnologias informacionais) para lidar com algo de natureza
fluida e cambiante - a informação, entendida como “objeto cultural” (GIDDENS, 1999). O
campo de estudos de usuários torna-se mais rico justamente com a convivência de
distintas possibilidades de estudo.
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ARTIGO
SOBRE O AUTOR
Carlos Alberto Ávila Araújo
Escola de Ciência da Informação da UFMG
Doutor em Ciência da Informação (2005) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Mestre em Comunicação Social
E-mail: casal@eci.ufmg.br
Recebido em: 21/03/2017; Revisado em: 20/04/2017; Aceito em: 23/05/2017.
Como citar este artigo
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que são “Práticas Informacionais”? Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2,
número especial, p. 217-236, out. 2017.
ACESSIBILIDADE INFORMACIONAL DE PcD NO CONTEXTO DA LEI DE
ACESSO À INFORMAÇÃO: desafios para estudo de usuários
INFORMATION ACCESSIBILITY OF USERS IN THE CONTEXT OF THE
ACCESS TO INFORMATION LAW: challenges for user studies
Asa Fujino
USP
RESUMO
A Lei nº 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), regula o direito de acesso
à informação pública, visando a promoção da cidadania e o controle social da gestão pública. A
Controladoria-Geral da União (CGU), atual Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle
(MTFC), autoridade responsável pelo monitoramento do cumprimento da lei em todo poder
executivo, estabeleceu procedimentos para processar pedidos de informação e obrigações relativas
à divulgação pró-ativa e ao dever de fornecer dados em formato aberto e não proprietário e as
sanções para aqueles que negam o acesso a informações não protegidas por lei. No entanto, na
Ciência da Informão, a acessibilidade informacional depende do conhecimento das necessidades
de informação do potencial usuário, além dos aspectos que envolvem a infraestrutura para acesso e
divulgação, condições fundamentais para o desenvolvimento de mediações que viabilizem o acesso
cognitivo e apropriação das informações pelo usuário. Trata-se de uma reflexão sobre os desafios
teórico-metodológicos para realização de estudos de necessidades de informação e estudos sobre
comportamento na busca de informação do potencial usuário, com o objetivo de subsidiar políticas
públicas de informação.
Palavras-chave: Lei de acesso à informação. Estudos de Usuário. Acessibilidade Informacional de
Usuários.
ABSTRACT
Law 1.527 / 2011, known as the Law on Access to Information (LAI), regulates the right of access to
public information, aimed at promoting citizenship and social control of public management. The
Office of the Comptroller General of the Union (CGU), the current Ministry of Transparency,
Oversight and Control (MTFC), the authority responsible for monitoring compliance with the law in
every executive branch, has established procedures for processing requests for information and
obligations regarding proactive disclosure and the duty to provide data in an open and non-
proprietary format and penalties for those who deny access to information not protected by law.
However, in Information Science, information accessibility depends on the knowledge of the
information needs of the potential user, as well as the aspects that involve the infrastructure for
access and disclosure, fundamental conditions for the development of mediations that enable
cognitive access and appropriation of information by the user. It is a reflection on the theoretical-
methodological challenges to carry out studies on user's information needs and user's information
seeking behaviour in order to subsidize public information policies.
Keywords: Access to Information Law. User Studies. Information Accessibility of Users.
Inf. Pauta
Fortaleza, CE
v.2
número especial
out. 2017
ARTIGO
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1 INTRODUÇÃO
A Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011, conhecida como Lei de Acesso à
informação (LAI), regulamentada pelos Decretos Federais 7.724 de 2012 e 8.408
de 2015, tem como objetivo garantir ao cidadão o acesso à informação pública visando a
promoção da cidadania e o controle social da gestão pública. Neste sentido, torna
obrigatória a disponibilização de informações de interesse público, produzidas ou sob a
responsabilidade de entidades públicas, em meio eletrônico de forma objetiva,
transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão (BRASIL, 2011).
Na promulgação da Lei foi previsto que a Controladoria-Geral da União (CGU),
atual Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle (MTFC) seria a autoridade
responsável pelo monitoramento do cumprimento da LAI em todo poder executivo
federal e cada órgão ou entidade deve indicar um dirigente para desempenhar esta
atribuição.
Em 2013, a Controladoria-Geral da União determinou que o amplo acesso à
informação é a regra e o sigilo é exceção; estabeleceu que todas as entidades deveriam
criar procedimentos que facilitem o acesso; e definiu princípios orientadores da LAI:
publicidade máxima; transparência ativa; abertura de dados; promoção de um governo
aberto; além da criação de procedimentos que facilitem o acesso (CONTROLADORIA-
GERAL DA UNIÃO, 2011).
No entanto, partimos do pressuposto que a Informação, vista como instrumento
para Inclusão Social, tem sentido se puder contribuir para empoderar cidadãos na
construção de uma sociedade em que comunicação, educação e cultura tenham como
base o respeito à diferença e a igualdade de oportunidades para todos.
Neste sentido, entendemos que a disponibilização da informação, conforme
prevista na lei e, de acordo com os princípios estabelecidos pela CGU, não garante o
acesso à informação por parte do potencial usuário, uma vez que a acessibilidade, na
perspectiva da Ciência da Informação, não se restringe apenas à materialidade do
acesso, mas envolve aspectos cognitivos do usuário e a compreensão das práticas
sociais de informação são elementos necessários para possibilitar o desenvolvimento de
mediações que possibilitem o acesso e apropriação.
Assim, para o cumprimento efetivo da lei, torna-se necessário compreender as
formas de produção, circulação e acesso à informação na atualidade e, embora não
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previsto na lei, o estudo de potenciais usuários da informação pública nos diferentes
regimes de informação assume caráter de obrigatoriedade para as instituições públicas.
Propostas teórico-metodológicas para realização desses estudos tornam-se desafio
acadêmico considerável para pesquisadores da Ciência da Informação, levando-se em
conta as variáveis a serem analisadas nos diferentes contextos de uso da informação e as
características particulares dos interessados, ai incluídas as Pessoas com Deficiência -
PcD, que, como qualquer cidadão, têm direito ao acesso à informação e é
responsabilidade dos provedores de informação considerar interfaces amigáveis para
garantir o acesso de todos.
Pretende-se, neste espaço, refletir sobre três aspectos envolvidos nesta
discussão: a) o papel da informação na sociedade contemporânea e as novas práticas
sociais que a sustentam; b) o regime de informação vigente no Brasil e o lugar do
cidadão nas políticas públicas brasileiras voltadas para a inclusão social: a Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência CDPD (ONU, 2006), a LBI Lei
Brasileira de Inclusão de Pessoas com Deficiência Lei 13.146/2015 e a Lei de Acesso à
Informação - Lei 12.527/2011 e os seus reflexos no atendimento a esses usuários nas
bibliotecas e dispositivos culturais; e c) a Ciência da Informação e suas contribuições
para a inserção social da Informação e Inclusão Social, os dispositivos de informação e os
desafios para a interação significativa com o cidadão.
2 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A INFORMAÇÃO
A sociedade contemporânea é profundamente marcada pela separação do tempo
e espaço, mas para além dos aspectos geográficos há que se pensar no “lugar da cultura,
enquanto espaço de significação, nos quais as práticas sociais adquirem diferentes
significados. As Tecnologias de Informação e Comunicação deixam de ser elemento de
mediação entre o homem e a realidade e passam a expressar uma nova razão cognitiva.
Giddens (1991, p.17-20) discorre sobre a padronização do tempo e reflete sobre
o modo de vida na pós-modernidade e os impactos do deslocamento do espaço do lugar,
que ele denomina como processo de desencaixe, nas práticas sociais. O autor entende
que o lugar, enquanto localização geográfica onde se desenvolvem atividades sociais, era
na pré-modernidade conectado localmente com o tempo. Entretanto, as alterações na
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organização social do tempo levaram a deslocamentos das relações sociais de interação
que ocorriam nos contextos locais e deram origem a novos modelos de interações
sociais em locais moldados por influências sociais externas ao local e marcadas por
extensões indefinidas de tempo-espaço , de onde surge um mundo fugitivo de
deslocamentos e incertezas no qual o progresso do conhecimento é envolvido pela
imprevisibilidade e incerteza e sua construção passa pela reflexão sobre as práticas
sociais.
Assim, segundo o autor, a reflexibilidade seria uma característica inerente e
necessária à ação humana e está na base da reprodução do sistema, pois o ser humano
está em permanente contato com as bases do que fazem como parte integrante do
fazer”. Mas, ao romper com a tradição de práticas sociais recorrentes, as novas práticas
sociais deverão ser reformuladas. O autor identifica, nas instituições, a existência de
dois mecanismos de desencaixe que atuariam como extensão de sistemas sociais : as
fichas simbólicas, que seriam meios de intercâmbio que podem ser circulados
socialmente , independente das características específicas dos indivíduos ou grupos que
lidam com eles , como o dinheiro, e sistemas peritos de excelência técnica ou
competência profissional que oferecem garantias de expectativas com base nos
instrumentos que avaliam e fundamentam a produção do conhecimento técnico , e pela
crítica pública usada para controlar sua forma. No entanto, ressalta que ambos
dependem da confiança de que tais sistemas funcionem de acordo com as expectativas
dos usuários, de modo que a credibilidade em tais mecanismos envolve também riscos,
que seriam resultantes das circunstâncias e das limitações de conhecimento sobre tais
sistemas por parte dos seus usuários. Assim, para o autor, as práticas sociais devem ser
constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre estas
próprias práticas, alterando constitutivamente seu caráter (GIDDENS, 1991, p.35-37).
Pensando a informação neste contexto, trazemos o desafio proposto por
Frohman (2008), em palestra sobre o caráter público, material e social da informação,
no VII ENANCIB - Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da
Informação, ocorrido em Marília em 2006: “Como conciliar estudos sobre o fenômeno da
informação em nosso tempo, com estudos das práticas sociais e públicas, das realidades
políticas, da economia e da cultura?”
Para refletir sobre este desafio, partimos do texto de Paim e Nehmy (1998) que,
ao aplicar as categorias propostas por Giddens (1991) ao contexto da Ciência da
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informação e assumindo o conceito de reflexibilidade, consideram a informação como
parte da prática cotidiana e observam que cada nova informação ao se agregar ao
conjunto de conhecimentos do usuário, resultará em reoordenamento, reestruturação
ou revisão da compreensão inicial, não sendo possível medir o conhecimento
transformado e adicionado, nem em quantidade nem em qualidade, devendo a
recorrência à informação assumir a característica de hábito, rotina na vida dos
indivíduos (PAIM; NEHMY, 1998. p. 85).
Por outro lado, para as autoras, os sistemas de informação técnico-científico
poderiam ser vistos como sistemas peritos, a partir de pressupostos de legitimidade e
excelência implícitos em sua constituição. Esta perspectiva possibilitaria pensar a
avaliação da informação e dos sistemas a partir de propostas relativas ao conteúdo e
significado que assumem na aproximação aos interesses de quem usa a informação, de
modo que a legitimação dos sistemas pelos usuários, seria fruto da qualidade
determinada no momento da sua interação com o sistema e, portanto, a posteriori
(PAIM; NEHMY, 1998. p. 87).
Neste sentido, retomamos o conceito de materialidade de Frohman (2008, p. 20-
21) como uma ponte que liga duas áreas conceituais: informação, por um lado, e
práticas públicas e sociais por outro.
Partindo da ideia da materialidade dos enunciados do ponto de vista do filósofo
Michel Foucault, o autor propõe investigação sobre a materialidade da informação,
propriedade que confere estabilidade aos enunciados, condição para que estes circulem
socialmente e criem efeitos de sentido, para entender como os enunciados são
estabilizados, se massificam e ganham poder ao longo do tempo. A proposta é
alternativa ao conceito mentalista abstrato, no qual a informação é concebida como
algo que está presente na mente em estado de compreensão (FROHMAN, 2008. p.22),
visão, segundo ele, que privilegia os estudos da informação focados nos indivíduos, mas
restringe os estudos dos efeitos dos regimes de informação, os aspectos sociais,
públicos, econômicos e culturais da informação nas mudanças na consciência individual.
Assim, propõe pensar documentos como mensagens que entram nos circuitos
institucionais para serem analisados, reinscritos e transcritos. Tais documentos contém
enunciados estabilizados, institucionalizados em diferentes tipos de dispositivos, que
circulam através e dentre as instituições resultando na materialização da informação.
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Complementarmente, o autor alerta para a velocidade da circulação de
documentos digitais, cuja produção não necessariamente embute intencionalidade na
geração dos enunciados, e no peso que adquirem na atualidade, impactada pelos
aparatos tecnológicos que facilitam e multiplicam formas de coleta, processamento e
utilização da informação. Exemplifica com registros criminais de pequenos delitos que
foram legalmente expurgados dos registros impressos das instituições, mas
permaneceram acessíveis nas redes, causando a perenidade do registro na ficha
individual dos indivíduos que, embora legalmente absolvidos da sentença do passado,
jamais terão controle sobre o enunciado materializado via um documento digital que
continuará circulando em diferentes dispositivos de informação (FROHMAN, 2008,
p.28).
3 REGIME DE INFORMAÇÃO VIGENTE E CIDADANIA
Neste tópico, torna-se imprescindível tratar do lugar do cidadão na atual
sociedade, a partir da legislação: A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência CDPD (ONU, 2006), a LBI Lei Brasileira de Inclusão de Pessoas com
Deficiência Lei 13.146/2015 e a LAI Lei de Acesso à Informação, e apresentar
algumas experiências brasileiras de implementação de políticas de acessibilidade
informacional em dispositivos de informação.
Para introduzir o conceito de informação pública, recorremos a um documento
da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
publicado com o objetivo de estabelecer diretrizes políticas para o desenvolvimento e a
promoção da informação governamental de domínio público:
A informação de domínio público refere-se à informação publicamente
acessível, cuja utilização não infringe qualquer direito legal, ou qualquer
obrigação de confidencialidade. Refere-se, portanto, por um lado, ao domínio de
todos os trabalhos ou objetos associados a tais direitos, os quais podem ser
explorados por todos sem qualquer autorização, por exemplo quando a
proteção não é concedida por lei nacional ou internacional, ou devido à
expiração do termo de proteção. Refere-se, por outro lado, a dados blicos e
informações oficiais produzidas e voluntariamente disponibilizadas por
governos ou organizações internacionais. (UHLIR, 2006, p. 24)
A decisão sobre os tipos de informação do setor público que são franqueadas ao
domínio público depende muito da abordagem de cada país com relação às
políticas de informação e de governança, assim como de sua capacidade e
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práticas de disseminação da informação (em particular com relação à internet).
(UHLIR, 2006, p. 28)
Quanto à Lei de acesso à informação, trata-se da Lei 12.527, de 18 de
novembro de 2011 - LAI, regulamentada pelos Decretos Federais 7.724 de 2012 e
8.408 de 2016. Tem como base o princípio de que todos os cidadãos têm o acesso à
informação como um direito fundamental, como previsto no Título I - Dos Direitos e
Garantias Fundamentais, Capítulo I Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos,
inciso XXXIII do art. 5º:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (BRASIL, 1988)
A lei tem como objetivo regulamentar o direito constitucional de acesso dos
brasileiros às informações públicas
Os responsáveis no executivo federal foram assim determinados: Controladoria
Geral da União (CGU), que foi extinta e torna-se oficialmente o Ministério da
Transparência, Fiscalização e Controle (MTFC) e é responsável pelo monitoramento da
Lei em todo Poder Executivo Federal; e cada órgão e/ou entidade deve indicar um
dirigente para desempenhar a atribuição como autoridade de monitoramento,
responsável por verificar o cumprimento da LAI no ente público a que pertence.
(BRASIL, 2011).
A LAI tem como princípios norteadores: o da publicidade máxima; da
transparência ativa; da abertura de dados; da promoção de um governo aberto; da
criação de procedimentos que facilitem o acesso, e determina que o amplo acesso à
informação é a regra e o sigilo, a exceção (CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO, 2011).
Os conceitos entendidos para o efeito da Lei são:
I - informação: dados, processados ou não, que podem ser utilizados para
produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte
ou formato;
II - documento: unidade de registro de informações, qualquer que seja o
suporte ou formato;
III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente à restrição de
acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da
sociedade e do Estado;
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IV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa natural identificada ou
identificável;
V - tratamento da informação: conjunto de ações referentes à produção,
recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transporte, transmissão,
distribuição, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação, destinação
ou controle da informação;
VI - disponibilidade: qualidade da informação que pode ser conhecida e
utilizada por indivíduos, equipamentos ou sistemas autorizados;
VII - autenticidade: qualidade da informação que tenha sido produzida,
expedida, recebida ou modificada por determinado indivíduo, equipamento ou
sistema;
VIII - integridade: qualidade da informação não modificada, inclusive quanto à
origem, trânsito e destino;
IX - primariedade: qualidade da informação coletada na fonte, com o máximo de
detalhamento possível, sem modificações. (BRASIL, 2011)
O cidadão, conforme o Art. 7o, tem o direito de obter pela Lei:
I - orientação sobre os procedimentos para a consecução de acesso, bem como
sobre o local onde poderá ser encontrada ou obtida a informação almejada;
II - informação contida em registros ou documentos, produzidos ou acumulados
por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou não a arquivos públicos;
III - informação produzida ou custodiada por pessoa física ou entidade privada
decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse
vínculo já tenha cessado;
IV - informação primária, íntegra, autêntica e atualizada;
V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e entidades, inclusive as
relativas à sua política, organização e serviços;
VI - informação pertinente à administração do patrimônio público, utilização de
recursos públicos, licitação, contratos administrativos; e
VII - informação relativa:
a) à implementação, acompanhamento e resultados dos programas, projetos e
ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores
propostos;
b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas
realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, incluindo prestações de
contas relativas a exercícios anteriores. (BRASIL, 2011)
Os órgãos e entidades da administração pública deverão publicar em seus sites
eletrônicos informações sobre:
a) estrutura organizacional e competências dos órgãos, além dos endereços e
telefones de suas unidades e horários de atendimento ao público;
b) programas, projetos, ações, obras e atividades, indicando a unidade
responsável, principais metas e resultados e indicadores (se existirem);
c) repasses ou transferências de recursos financeiros;
d) execução orçamentária e financeira detalhada;
e) procedimentos licitatórios, com os contratos celebrados e notas de empenho
emitidas;
f) remuneração recebida por servidores e empregados públicos de maneira
individualizada;
g) respostas a perguntas mais frequentes da sociedade;
h) contato da autoridade de monitoramento da LAI na instituição e informações
sobre o Serviço de Informações ao Cidadão;
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i) informações classificadas e desclassificadas, nos termos do art. 45, I e II do
Decreto 7.724/2012. (ACESSO A INFORMAÇÃO, 2016)
O art. da LAI (BRASIL, 2011) instituiu como dever do Estado a criação de um
local físico e virtual de contato entre a sociedade e o setor público, que é o Serviço de
Informações ao Cidadão - SIC. O local deve ser de fácil acesso e identificação pela
sociedade garantindo o atendimento presencial ao cidadão. (CONTROLADORIA-GERAL
DA UNIÃO, 2011).
O Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC) foi criado para
centralizar as entradas e saídas de todos os pedidos de acesso dirigidos ao Poder
Executivo Federal pela Internet e é facilitada, pois "os dados já são organizados de forma
inteligente e fornecem informações úteis também para o gestor público”
(CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO, 2011)
A lei também estabelece que os sites na internet dos órgãos e entidades públicas
utilizados para exercer a Transparência Ativa deverão seguir o seguinte rol de requisitos
estabelecidos no inciso 3 º do artigo 8º da LAI:
I - conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à
informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil
compreensão;
II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos,
inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a
facilitar a análise das informações;
III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos
abertos, estruturados e legíveis por máquina;
IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da
informação;
V - garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para
acesso;
VI - manter atualizadas as informações disponíveis para acesso;
VII - indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se, por
via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou entidade detentora do sítio;
VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo
para pessoas com deficiência, nos termos do art. 17 da Lei no 10.098, de 19 de
dezembro de 2000, e do art. 9o da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de
2008. (BRASIL, 2011).
O direito relativo à garantia de acessibilidade na LAI envolve o direito dos
interessados que queiram obter informação à facilidade para encontrá-las, e o direito
das pessoas com deficiência de acessarem a informação e prevê que é dever do gestor
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público garantir que a informação seja acessível (CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO,
2011).
Conforme Marta Gil, coordenadora executiva da Amankay instituto de estudos e
pesquisa que atua na área da Deficiência, nos anos 70 a deficiência era um problema
que estava na pessoa e, portanto, a pessoa é que deveria ser modificada para se tornar
apta a viver em sociedade. A partir dos anos 90, surgiu o princípio da Inclusão, no qual a
deficiência é vista como resultado da incapacidade da sociedade em atender às
necessidades dessa mesma pessoa e, nesse sentido, a sociedade deve se tornar capaz de
acolher todos, sem restrição (AMANKAY, s.d.)
Para Resende e Vital (2008, p. 103), a sociedade inclusiva deve ressaltar o
respeito à diferença e a aplicação dos direitos humanos, a igualdade de oportunidades e
o fortalecimento da comunicação, a educação e a cultura como princípios de
participação ativa na sociedade. Para o autor, quando as pessoas se apropriam desta
realidade a cooperação mútua e interação social passam a ser efetivas. De fato, a
consciência sobre o respeito à diferença e aos direitos humanos começa a se fazer
presente nas universidades brasileiras, como exemplifica o portal sobre acessibilidade
da UFC - Universidade Federal do Ceará, no qual a acessibilidade é considerada
"condição fundamental e imprescindível a todo e qualquer processo de inclusão social"
tanto na perspectiva dos direitos da PcD, quanto nas atitudes que se espera dos cidadãos
às pessoas com deficiência.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência CDPD (ONU, 2006),
estabelece que a Acessibilidade é DIREITO de todas as pessoas. No Brasil, esse direito foi
ratificado com equivalência de Emenda Constitucional (Decreto Legislativo 186/2008 e
promulgada pelo Decreto Executivo 6949/2009). A CDPD menciona a acessibilidade em
diversos pontos, desde o Preâmbulo. O artigo 21 foca especificamente a liberdade de
expressão e opinião e acesso à informação.
A LBI Lei Brasileira de Inclusão de Pessoas com Deficiência Lei 13.146/2015
entrou em vigor em 2016. Ela concretiza e operacionaliza os conceitos, valores e
diretrizes da CDPD e o capítulo 1 do Título III da LBI é voltado para todos os aspectos
sobre acessibilidade.
A Lei de Acessibilidade - Decreto 5.296/2004, por sua vez, regulamenta as Lei no.
10.048, de 8 de novembro de 2000, que prioridade de atendimento às pessoas que
especifica, e no. 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e
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critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida. Embora considerada avançada em muitos
pontos, enfrenta diversas barreiras para sua implementação em função das questões
orçamentárias das instituições para garantir que a sociedade, de forma geral, se adapte
às necessidades de todos os cidadãos, embora normas, como a NBR 9050, já tenham sido
desenvolvidas para assegurar acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e
equipamentos urbanos em cumprimento às leis.
Sassaki (2011, p.1), ao tratar dos contextos de acessibilidade enumera:
Acessibilidade arquitetônica: sem barreiras ambientais físicas, nas
residências, nos edifícios, nos espaços urbanos, nos equipamentos urbanos,
nos meios de transporte individual ou coletivo;
Acessibilidade comunicacional: sem barreiras na comunicação interpessoal
(face-a-face, língua de sinais), escrita (jornal, revista, livro, carta, apostila etc.,
incluindo textos em braile, uso do computador portátil), virtual
(acessibilidade digital);
Acessibilidade metodológica: sem barreiras nos todos e técnicas de estudo
(escolar), de trabalho (profissional), de ação comunitária (social, cultural,
artística etc.), de educação dos filhos (familiar);
Acessibilidade instrumental: sem barreiras nos instrumentos, utensílios e
ferramentas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de lazer e
recreação (comunitária, turística, esportiva etc.);
Acessibilidade programática: sem barreiras invisíveis embutidas em políticas
públicas (leis, decretos, portarias etc.), normas e regulamentos (institucionais,
empresariais etc.);
Acessibilidade atitudinal: sem preconceitos, estigmas, estereótipos e
discriminações, nas pessoas em geral.
No âmbito educacional, o Ministério da Educação-MEC assinou a Portaria
1.679, de 2 de Dezembro de 1999, que Dispõe sobre os requisitos de acessibilidade de
pessoas portadoras de deficiência, para instruir os processos de autorização e de
reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições”. Aspectos de
reprodução de obras literárias, artísticas ou científicas em suportes para deficientes
visuais, encontram respaldo na Lei Nº9610, de 19 de Fevereiro de 1998, no Art. 46. que
prevê
Não constitui ofensa aos direitos autorais [...]a reprodução [...] de obras
literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais,
sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema
Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários.
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No que se refere aos direitos de acesso à informação em dispositivos de
informação, sob responsabilidade de bibliotecários e profissionais da informação,
merece destaque decisão do Conselho Diretivo da International Federation of Library
Associations and Institutions (IFLA) que, em agosto de 2012, aprovou o "Código de Ética
da IFLA para bibliotecários e outros profissionais da informação". O código apresenta
uma série de recomendações para a orientação de bibliotecários e profissionais da
informação, bem como para apreciação de associações de bibliotecas e instituições afins,
no qual reconhece a responsabilidade social dos profissionais em assegurar o acesso à
informação para todos os cidadãos e reitera a convicção da vinculação entre
compartilhamento de informação e reconhecimento dos direitos de informação como
expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas. O código,
em seu capítulo 2. "Responsabilidades para com os indivíduos e para a sociedade"
estabelece
Para promover a inclusão e erradicar a discriminação, os bibliotecários e outros
profissionais da informação asseguram que o direito de acesso à informação
não pode ser negado e que serviços equitativos são fornecidos para qualquer
pessoa de qualquer idade, nacionalidade, crença política, condição física ou
mental, gênero, descendência, educação, renda, condição imigratória ou de
asilo, situação matrimonial, origem, raça, religião e orientação sexual. Os
bibliotecários e outros profissionais da informação respeitam línguas
minoritárias de um país e seu direito de acesso à informação em seu próprio
idioma. (IFLA, 2012. p. 3)
Entretanto, apesar de avanços significativos nas legislações governamentais em
âmbitos nacionais e internacionais e no âmbito das categorias educacionais e
profissionais, que visam garantir o acesso à informação pelo cidadão, aí incluídos PcD,
há, segundo Deise Tallarico Pupo
uma considerável discrepância entre a ideologia da pressa, inerente ao avanço
tecnológico, e os tímidos avanços sociais. Essa é uma imperdoável lacuna que
necessita ser preenchida por pessoas que acreditam na inclusão como ruptura
dos paradigmas existentes, para não deixar ninguém de fora na construção de
ambientes acessíveis (PUPO, 2008, p.11)
Assim, listamos algumas experiências nos âmbitos executivo e acadêmico que
visam promover a acessibilidade em bibliotecas.
Merece registro o "Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas", iniciativa do
Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), da Diretoria de Livro, Leitura,
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Literatura e Bibliotecas (DLLLB), do Ministério da Cultura (MinC), com colaboração do
"Mais Diferenças", organização da sociedade civil de interesse público, responsável pela
execução e parceria com o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), que tem como
objetivos e metas
ampliar e qualificar a acessibilidade em dez bibliotecas públicas selecionadas
pelo SNBP. Desta forma, busca-se contribuir com a democratização do acesso às
bibliotecas públicas e com a garantia dos direitos das pessoas com deficiência
ao conhecimento e informação por meio de ações que favoreçam a equiparação
de oportunidades; contribuir para o debate e a formulação de políticas públicas
de inclusão nestes equipamentos culturais, em conformidade com o marco
político e legal dos direitos das pessoas com deficiência no país e em
consonância com os acordos internacionais da área; auxiliar o fortalecimento
das políticas, programas e projetos no campo do livro e leitura numa
perspectiva acessível e inclusiva. (SNBP, s. d.).
O projeto inicial incluiu 10 (dez) bibliotecas públicas de diferentes estados do
país e o desenvolvimento foi programado em etapas: Diagnóstico; Comunicação e
produção de conteúdo acessível; Qualificação do acervo; Acesso à Tecnologia Assistiva;
Capacitação; Fomento ao trabalho em rede; Mobilização e sistematização. Foram
previstos recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
funcionais de pessoas com deficiência, considerando 5(cinco) classes de deficiência:
intelectual, física, visual, auditiva e múltipla, de acordo com o previsto na lei
10683/2003 e consequentemente promover autonomia e inclusão.
Outro projeto de destaque é o da Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP,
denominado "Projeto Laboratório de Acessibilidade - LAB", iniciado em 1998 e
inaugurado em 2003 na Biblioteca Central Cesar Lattes- BCCL da Unicamp. O projeto tve
como objetivo ser referência no campo da inclusão social e digital em unidades de
informação, proporcionando acesso ao conhecimento a todos em espaços inclusivos
.(UNICAMP, s.d) O livro "Acessibilidade: discurso e prática no cotidiano das
bibliotecas" (PUPO; MELO; FERRÉS, 2008) traz a experiência de construção de uma
biblioteca inclusiva, do planejamento de seus aspectos arquitetônicos, incluindo
disponibilização de móveis e organização dos espaços internos, como o balcão de
atendimento, até o cuidado com a capacitação e sensibilização do grupo de profissionais
em relação aos aspectos atitudinais na interação com seus usuários no cotidiano. São
incluídos textos que tratam dos princípios que nortearam o trabalho, especialmente o
conceito de acessibilidade e o de desenho universal, que, para além dos aspectos
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formais, incluem a preocupação com a apropriação de sentido pelos seus usuários. Os
capítulos abordam vários aspectos da legislação às tecnologias assistivas, os cuidados
necessários para garantir acessibilidade na web e os serviços e produtos de uma
biblioteca acessível.
No que se refere à acessibilidade na WEB, a equipe salienta para a necessidade
de atender as normas do Decreto 5.296 de 2 de Dezembro de 2004 e suas
orientações (W3C Brasil) na construção de páginas e portais na Internet, e,
principalmente, na escolha do formato da publicação de conteúdos para viabilizar que
qualquer pessoa possa navegar na web, independente da tecnologia utilizada, para
interagir e obter informações nos diversos provedores de informação e diferente
configurações de acesso.
Outras experiências bem-sucedidas, no que tange à disponibilização de
tecnologias assistivas para atendimento a usuários com diferentes deficiências,
começam a ser observadas em várias bibliotecas públicas e universitárias do país.
O investimento de empresas no desenvolvimento de equipamentos de auxílio à
mobilidade e softwares para auxílio às PcD visual ou aditiva como deos ampliadores
de texto e imagem, lupas eletrônicas e máquinas para produção de textos em Braille,
para gravação de áudios e narração em dispositivos portáteis, abrem opções de escolha
e aquisição para bibliotecas brasileiras, mas a carência de recursos financeiros ainda é
impeditivo para garantir o direito ao acesso à informação por grande parte das PcD.
Também é importante observar que, apesar da disponibilização de tecnologias
assistivas ser essencial para garantir o acesso à informação por PcD, é necessário que os
espaços culturais e de informação mantenham equipes capacitadas em comunicação
inclusiva para acolher tais usuários e oferecer apoio e orientação no uso dessas
tecnologias.
Em relação aos aspectos cognitivos, o quadro se apresenta ainda mais carente de
intervenções públicas, no que se refere aos serviços de referência em dispositivos de
informação e cultura, pois, segundo Marta Gil (2005), exige a formação de equipe com
competência em comunicação simplificada para atendimento a pessoas com deficiência
intelectual, pessoas com baixo letramento e surdos que usam Libras língua brasileira
de sinais, mas têm dificuldade de compreender textos em português, como sua 2a.
língua.
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Por outro lado, a construção de diálogos inclusivos e significativos entre
profissionais de informação e usuários depende fundamentalmente da capacidade de as
equipes compreenderem as demandas do público no contexto de uso das informações,
para viabilizar serviços de referência customizados de acordo com necessidades e
comportamento informacional dos potenciais usuários, o que depende não apenas da
oferta por parte dos provedores, mas do conhecimento sobre as possibilidades de
apropriação dos consumidores e, no que se refere à acessibilidade informacional, às
interfaces disponíveis para mediar processos de exploração das fontes e respectivos
usuários.
4 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A INSERÇÃO SOCIAL DA
INFORMAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
Partindo do pressuposto que a Informação é recurso fundamental para a
construção de novos conhecimentos e constituição de novos domínios científicos, como
proposto por Tálamo e Smit (2019), e retomando reflexões propostas por Frohman
(2008) que defende que os processos informacionais podem ser compreendidos no
interior de regimes de informação, os quais materializam dispositivos regrados social e
politicamente, a questão que colocamos é : no caso brasileiro, as políticas públicas de
informação, vistas na perspectiva da Ciência da Informação, embutem preocupação com
o usuário? Atuam no sentido de criar práticas sociais e informacionais de interação
significativa com os cidadãos? Ou apenas refletem a imposição da lei, mas sem a
preocupação com os princípios de inclusão social?
Bordieu (1989) ao tratar dos problemas de legitimação do conhecimento
científico na sociedade e das disputas de poder entre os que o exercem e os que são
sujeitos da ação, trata da existência do poder simbólico como " o poder de constituir o
dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão
de mundo, e deste modo, a ação sobre o mundo” (BORDIEU, 1989. p. 14) Neste sentido, é
importante que políticas de Estado sejam analisadas criticamente para evitar que sejam
utilizadas para legitimar sistema de dominação vigente, mas que mascaram a realidade
social.
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A legislação brasileira estabelece princípios, responsabilidades e obrigações das
várias instâncias para assegurar o acesso à informação por parte dos cidadãos, mas é
responsabilidade dos pesquisadores da Ciência da Informação estudar e investigar
carências e dificuldades a serem sanadas na implementação da legislação visando
promover qualificação da ação informacional e garantir melhores condições de
acessibilidade do ponto de vista físico e também cognitivo.
Conforme Le Coadic (2001, p.516), cabe à Ciência da Informação "estudar as
propriedades gerais da informação e analisar os processos que envolvem sua produção,
comunicação e uso, processos hoje fortemente associados às tecnologias de
informática".
Neste sentido, Tálamo e Smit (2007, p.20-21), em discussão sobre os aspectos
constitutivos da Ciência da Informação, observam que o ato de conhecer é vinculado a
aspectos de cognição e associado à ação humana, de modo que o conhecimento seria o
próprio modo de inserção no mundo. Apontam, entretanto, que o conhecimento na
atualidade se encontra despersonalizado e fragmentado e propõem um programa de
trabalho, no domínio da Ciência da Informação, que contemple elementos que propiciem
simultaneamente aspectos da inserção social da informação, estudo da atividade dos
usuários-consumidores e a análise das condições locais de recepção. São eles:
A articulação entre os dispositivos tecnológicos da informação e a produção da
informação e a geração de sentido; A inserção social da informação, com
determinação de condições locais de recepção, visando o aperfeiçoamento dos
dispositivos. Estudo da atividade dos usuários-consumidores; Identificação dos
códigos explicitadores do conhecimento sob a forma de informação e das
condições que presidem sua concepção e realização; Dimensão sociológica,
política e econômica das atividades informacionais; Estudo das mudanças
ocorridas nos processos de mediação. (TALAMO; SMIT,2007. p. 52).
De fato, é essencial observar a articulação entre os dispositivos de
informação, a produção da informação e a geração de sentido, bem como as condições
locais de recepção, visando o aperfeiçoamento dos dispositivos, pois, como salienta Sofia
Pérez Ferrés em discussão sobre acessibilidade física
É importante constatar que é o ambiente que gera exclusão e, de fato, é o que
gera deficiência. Um ambiente preparado para as diferenças não exclui e
permite o acesso e a integração plena, desde o ponto de vista funcional e
psicológico, naquelas atividades diárias realizadas por todos, redefinindo assim
o próprio conceito de deficiência (PUPO; MELO; FERRÉS, 2008 p.22).
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De igual maneira, estudos da atividade dos usuários-consumidores e estudos que
visem a identificação dos códigos explicitadores do conhecimento sob a forma de
informação e das condições que presidem sua concepção e realização, conforme
proposto por Tálamo e Smit (2007), acima citado, são fundamentais para garantir que
todas as pessoas tenham direito ao acesso à informação, pois como preconizado na
cartilha da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
Pessoas com deficiência são, antes de mais nada, PESSOAS. Pessoas como
quaisquer outras, com protagonismos, peculiaridades, contradições e
singularidades. Pessoas que lutam por seus direitos, que valorizam o respeito
pela dignidade, pela autonomia individual, pela plena e efetiva participação e
inclusão na sociedade e pela igualdade de oportunidades, evidenciando,
portanto, que a deficiência é apenas mais uma característica da condição
humana. (SECRETARIA, 2010)
Assim, embora o país tenha avançado consideravelmente em relação à
legislação que assegura direitos de acesso à informação ao cidadão e em legislações
específicas que garantem condições de acessibilidade à informação pública por PcD, a
discussão sobre acessibilidade informacional ainda carece de estudos sobre os
potenciais consumidores e, principalmente, sobre necessidades de informação e
condições de recepção, para viabilizar estratégias mais eficientes de acesso à
informação que considerem especificidades e práticas de diferentes grupos de usuários.
São desafios consideráveis do ponto de vista teórico-metodológico para
realização de estudos que possam subsidiar não apenas a concepção, mas, sobretudo,
mecanismos efetivos de implementação de políticas públicas de acesso à informação
para todos os cidadãos.
A formação de cidadãos a partir de uma visão de educação inclusiva é
responsabilidade de todos, e como diz Marta Gil (2005)
Educação Inclusiva não é uma moda passageira. Ela é o resultado de muitas
discussões, estudos teóricos e práticas que tiveram a participação e o apoio de
organizações de pessoas com deficiência e educadores, no Brasil e no mundo.
Fruto também de um contexto histórico em que se resgata a Educação como
lugar do exercício da cidadania e da garantia de direitos. (GIL, 2005, p.16).
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SOBRE A AUTORA
ASA FUJINO
Professora no Programa de Pós-Graduação em Ciência da informação, da ECA-USP.
Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP.
Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP.
E-mail: asfujino@usp.br.
Recebido em: 25/03/2017; Revisado em: 23/04/2017; Aceito em: 27/05/2017.
Como citar este artigo
FUJINO, Asa. Acessibilidade Informacional de PcD No Contexto da Lei de Acesso à Informação: desafios
para estudo de usuários. Informação em Pauta, Fortaleza, v. 2, número especial, p. 237- 257, out. 2017.
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fornecidas e no máximo seis.
Relato de Experiência: Deve relatar atividades e experiências vivenciadas pelo(s) pesquisador(es),
trazendo contribuições para a área em foco. Deve conter de 15 a 25 páginas; resumo com até 200
palavras, que expressem os tópicos de Introdução, Metodologia, Resultados e Conclusões. No mínimo
três palavras-chaves devem ser fornecidas e no máximo seis.
Entrevista: As entrevistas devem ter até oito páginas; dispensam o resumo, abstract e palavras-chave
para as mesmas.
Resenha: Deve se limitar a três páginas. A condição exigida pela revista é de que os livros que são
objeto de resenha sejam atuais e com no máximo 2 anos de publicação.
Ensaio: Deve ter até vinte páginas e deve conter resumo, abstract e palavras-chave.
Título: deve ser conciso, claro e o mais informativo possível. Não deve conter abreviações e não deve
exceder a 200 caracteres, incluindo espaços. Deve ser apresentada a versão do título em inglês ou em
espanhol.
Título Resumido / Short title: no máximo 70 caracteres, para fins de legenda nas páginas impressas.
Autores: Os autores não devem ser identificados no arquivo do texto enviado para a submissão. Os
autores somente incluirão seus nomes no ato do cadastro na plataforma da revista, em ordem direta e
sem abreviações, graduações mais elevadas possuídas, afiliações, assim como registros em Bases
como ORCID e ResearchID, caso tenham, acompanhadas do respectivo endereço com informação de
contato (telefone, endereço e e-mail para o autor correspondente) e todos os coautores;
A autoria tem implicações legais e científicas, e devem ser designados como autores aqueles que
participaram efetivamente de todo o processo da pesquisa e escrita do trabalho científico. A ordem de
autoria dos manuscritos enviados para a Informação em Pauta deve seguir a ordem de contribuição
prestada para a produção do artigo e não de ordem alfabética. Os autores devem garantir que o
manuscrito não foi previamente publicado ou não está sendo considerado para publicação em outro
periódico. Os autores podem ser convidados a fornecer os nomes e contatos de três potenciais
revisores imparciais.
Resumo: deve seguir a recomendação para o tipo de manuscrito (Artigo Original, Artigo de Revisão,
Relato de Experiência). O texto do resumo não deve conter citações, fórmulas e siglas. Deve ser
apresentada também a versão em inglês (Abstract), se o artigo estiver em português, ou em espanhol
(Resumen), se o artigo for escrito em inglês.
Palavras-chave: Deve aparecer imediatamente abaixo do resumo, de acordo com o tipo de artigo
submetido. Recomenda-se o uso de no mínimo três e no máximo seis palavras-chave, assim como a
respectiva tradução para os Keywords. Devem ser separados por ponto. Para a escolha das palavras-
chave recomendamos a consulta ao Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação, Catálogo de
Autoridades da Biblioteca Nacional, Tesauro de Ciencias de la Documentación, UN Bibliographic
Information System Thesaurus: UNBIS.
Ilustrações: Ilustrações como quadros, tabelas, fotografias e gráficos, devem ser incluídos no texto o
mais próximo possível do trecho a que se refere, com seu número de ordem. Devem preferencialmente
ser submetidas em resolução mínima de 300 dpi. Caso tenham sido publicados, indicar a fonte e
enviar a permissão para reprodução. Esses elementos também podem ser enviados como documentos
suplementares durante a submissão do artigo.
Nomenclatura: O uso da nomenclatura padronizada em todos os campos da ciência é um passo
essencial para a integração e ligação de informação científica na literatura publicada. Recomendamos o
uso de nomenclatura correta e estabelecida sempre que possível.
Citação: A Informação em Pauta (IP) adota a NBR 10520 para citações, contudo, não segue o sistema
numérico de citação. Deve ser utilizado o sistema autor-data para as citações e a elaboração da lista de
referências deve seguir a ordem alfabética.
Citação direta com até 3 linhas:
Conforme a NBR 10520 (2002, p. 2) revela ser a “Transcrição literal da parte da obra do autor
consultado”. Nesse sentido, o recomendável é que todos os elementos textuais, tais como a ortografia,
sinais gráficos, pontuação, entre outros, sejam rigorosamente respeitados, funcionando como uma
espécie de cópia fiel das ideias reveladas pelo autor em questão. As citações curtas com até três linhas
são inseridas no texto, entre aspas duplas. Neste tipo de citação, é obrigatória a informação do
intervalo de páginas.
Exemplos:
Le Coadic (2004, p. 26) refere-se metaforicamente à informação como a “seiva” da ciência, ou seja,
“Fluido precioso, continuamente produzido e renovado, a informação interessa se circula, e,
sobretudo, se circula livremente”.
OU
“A ideia de que a mente funciona como um computador digital e que este último pode servir de modelo
ou metáfora para conceber a mente humana iniciou a partir da década de 40”. (TEIXEIRA, 1998, p. 35).
Citação direta longa:
As citações diretas com mais de três linhas devem aparecer em um parágrafo distinto, com
espacejamento simples de entrelinhas, recuo de 4 cm da margem esquerda e descrito em fonte 10.
Exemplos:
Para Barros e Lehfeld (2000, p. 107):
As citações ou transcrições de documentos bibliográficos servem para fortalecer e apoiar a tese do
pesquisador ou para documentar sua interpretação. O que citar? Componentes relevantes para
descrição, explicação ou exposições temáticas. Para que citar? Para o investigador refutar ou aceitar o
raciocínio e exposição de um autor suporte [...].
OU
As citações ou transcrições de documentos bibliográficos servem para fortalecer e apoiar a tese do
pesquisador ou para documentar sua interpretação. O que citar? Componentes relevantes para
descrição, explicação ou exposições temáticas. Para que citar? Para o investigador refutar ou aceitar o
raciocínio e exposição de um autor suporte [...]. (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 107).
Citação indireta
A citação indireta se caracteriza como uma espécie de paráfrase das ideias de um determinado autor,
por meio de suas próprias palavras, porém, mantendo o mesmo sentido. A informação do intervalo da
página neste tipo de citação é opcional.
Exemplos:
Independentemente do nosso reconhecimento, segundo Apple (1994 apud MOREIRA; SILVA, 2002), o
currículo, bem como as questões educacionais, vistas sob um ponto de vista mais generalizado,
mantêm-se relacionados a aspectos históricos relativos a conflitos de classe, raça, sexo e religião, não
somente em se tratando dos Estados Unidos, mas também a outros países.
OU
Independentemente do nosso reconhecimento, o currículo, bem como as questões educacionais, vistas
sob um ponto de vista mais generalizado, mantêm-se relacionados a aspectos históricos relativos a
conflitos de classe, raça, sexo e religião, não somente em se tratando dos Estados Unidos, mas também
a outros países. (APPLE, 1994 apud MOREIRA; SILVA, 2002).
Citação de citação (apud):
Seguem as mesmas regras da citação direta e indireta.
Citação de citação (Citação direta):
Exemplos:
Para Apple (1994 apud MOREIRA; SILVA, 2002, p. 39), “Quer reconheçamos ou não, o currículo e as
questões educacionais mais genéricas sempre estiveram atrelados à história dos conflitos de classe,
raça, sexo e religião, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países”.
OU
“Quer reconheçamos ou não, o currículo e as questões educacionais mais genéricas sempre estiveram
atrelados à história dos conflitos de classe, raça, sexo e religião, tanto nos Estados Unidos quanto em
outros países”. (APPLE, 1994 apud MOREIRA; SILVA, 2002, p. 39).
Citação de citação (Citação indireta):
No modelo serial de Gough (1972 apud NARDI, 1993), o ato de ler envolve um processamento serial
que começa com uma fixação ocular sobre o texto, prosseguindo da esquerda para a direita de forma
linear.
OU
O ato de ler envolve um processamento serial que começa com uma fixação ocular sobre o texto,
prosseguindo da esquerda para a direita de forma linear. (GOUGH, 1972 apud NARDI, 1993).
Referências: A lista de referências deve seguir a ordem alfabética.
Exemplos:
Livro no todo (Um autor):
LE COADIC, Yves-françois. Ciência da Informação. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2004. 124 p.
Livro no todo (Até três autores):
FRANÇA, Junia Lessa; VASCONCELLOS, Ana Cristina de. Manual para normalização de publicações
técnico-científicas. 7. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004.
Capítulo de livro:
MUELLER, Suzana Pinheiro Machado; PASSOS, Edilenice Jovelina Lima. Introdução: as questões da
comunicação científica e a Ciência da Informação. In: ______. Comunicação Científica. Brasília:
DCI/UNB, 2000. p. 13-34.
Artigo de periódico em meio eletrônico:
SILVEIRA, Murilo Artur Araújo; BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. As referências nos estudos de
citação: algumas questões para discussão. DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação, Rio de
Janeiro, v. 10, n. 4, ago. 2009. Disponível em: <http://www.datagramazero.org.br/ago09/Art_04.htm>.
Acesso em: 10 out. 2012.
Para mais exemplos, consultar as normas abaixo:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: Informação e Documentação - Artigo
em publicação periódica científica impressa - Apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 5 p.
______. NBR 6023: Informação e Documentação – Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2003. 24 p.
______. NBR 6028: Informação e Documentação – Resumo - Apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 2 p.
______. NBR 10520: Informação e Documentação – Citações em documento - Apresentação. Rio de
Janeiro, 2003. 7 p.
______. NBR 6024: Informação e Documentação – Numeração Progressiva das seções de um documento
escrito - Apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 3 p.
IBGE. Normas de apresentação tabular. 3. ed. Rio de Janeiro, 1993.