“Pacificação” nas periferias: discursos sobre as violências e o cotidiano de juventudes em Fortaleza
Resumo
Este artigo objetiva analisar discursos de jovens e trabalhadores sociais sobre o pacto entre grupos criminosos em Fortaleza, ocorrido entre o final de 2015 e meados de 2016, que ficou conhecido como “pacificação”, enfatizando implicações das transformações da dinâmica da violência urbana no cotidiano de juventudes em contextos estigmatizados e mais afetados pela violência letal na cidade. Metodologicamente, o estudo foi realizado a partir de pesquisa-intervenção em duas das regiões da cidade com as maiores taxas de homicídios em 2015 e 2017, mas que experimentaram diminuição significativa dessas taxas em 2016, enquanto vigorava localmente o acordo entre facções rivais. Participaram da pesquisa-intervenção jovens do sexo masculino, entre 15 e 29 anos, moradores daqueles territórios, e profissionais de ambos os sexos que ali atuavam com jovens, mediante entrevistas semi-estruturadas e grupos de discussão. Com base na análise dos discursos dos sujeitos da pesquisa, seus resultados abordam o cotidiano de jovens antes, durante e depois da “pacificação”, realçando os diferentes sentidos atribuídos a esse acontecimento. Ressalta ainda que, sob a retórica da “paz”, lógicas de guerra se perpetuaram por outros meios, intensificando estados de exceção na periferia que afetam sobretudo segmentos juvenis com direitos historicamente violados cujas vidas são consideradas “descartáveis”.