Psicóloga, Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Amazonas, Brasil.
Administradora, Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Amazonas, Brasil.
Psicóloga, Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Amazonas, Brasil.
Doutor em Saúde Coletiva, Professor da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Universidade Federal do Amazonas, Brasil.
O neoliberalismo provocou mudanças na organização do trabalho do serviço público,
inclusive nas universidades, impactando na vida e na saúde dos trabalhadores. Assim, o
objetivo desta pesquisa foi realizar uma revisão sistemática de artigos científicos sobre
o adoecimento mental dos servidores das universidades públicas brasileiras, identificando
as causas, as enfermidades e as consequências para a vida dos trabalhadores e para as
instituições às quais estão vinculados. Para isso, foi feita uma busca em três bases de
dados, sendo duas bibliotecas digitais e um banco de dados, cuja amostra final foi de 21
artigos. Notou-se que os servidores são acometidos principalmente por estresse ocupacional
e
Neoliberalism caused changes in the organization of public service work, including in
universities, impacting the lives and health of workers. Thus, the aim of this research
was to carry out a systematic review of scientific articles on mental illness among
workers at Brazilian public universities, identifying the causes, illnesses and
consequences for the lives of workers and for the institutions to which they are linked.
For this, a search was made in three databases, two digital libraries and a database,
whose final sample was 21 articles. It was noted that civil servants are mainly affected
by occupational stress and
A década de noventa foi o marco de entrada da lógica neoliberal nas universidades públicas latino-americanas, trazendo consigo a mercantilização do saber e buscando a transformação da identidade universitária e dos papéis de discentes e docentes, que passariam a se configurar, nesta nova lógica, como consumidores e “ensinadores” assalariados, respectivamente (Mollis, 2006, p. 87). O Brasil seguiu este modelo político econômico da região e todos os governantes desde 1995 mostraram-se comprometidos em cumprir a agenda neoliberal. Júnior e Fargoni (2020) apontam que os diversos governos brasileiros, desde Fernando Henrique Cardoso, atuaram em prol do fomento e aprofundamento da lógica do capital na Administração Pública, inclusive nas universidades. O Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação e o Fundo de Financiamento do Estudante do Ensino Superior (FIES) balizam o início legal do projeto neoliberal dentro das universidades públicas brasileiras. Os demais governos implementaram outras ações em consonância com as orientações do capital, interferindo na organização do ensino das Instituições de Ensino Superior - IES (Júnior & Fargoni, 2020).
Este contexto resultou em diversos impactos para a organização e condições do trabalho e para os seus trabalhadores. No âmbito da docência, os professores passaram a atuar sob a exigência de elevada produção acadêmica, tendo como orientação os índices avaliativos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Tal exigência resultou na intensificação do trabalho do docente, que se baseia na individualização do trabalho, no produtivismo e na competição entre os pares (Oliveira, Pereira & Lima, 2017). No aspecto administrativo, a lógica gerencial do setor privado foi implementada nas universidades públicas, com redução do quadro de trabalhadores e fragilização dos vínculos empregatícios, através da exiguidade de concursos públicos e a contratação de profissionais a partir de modalidades precárias, como a terceirização e os contratos temporários (Granzotto, 2011). Isto fez com que os servidores dos setores administrativos passassem a lidar com mudanças no ambiente físico de trabalho, a atuar a partir de indicadores de produtividade, com o acréscimo do número de atividades, sem o aumento proporcional do quantitativo de servidores, promovendo o isolamento dos trabalhadores e enfraquecendo a cooperação (Ramos & Macêdo, 2018).
Estas condições acabam por reverberar diretamente na vida trabalhadores, identificando-se
que a falta de reconhecimento, a burocracia excessiva, a pouca autonomia (Ramos &
Macêdo, 2018), bem como a intensificação e a precarização do trabalho nas universidades
públicas incorrem em sofrimento e em constrangimento para estes trabalhadores, que,
consequentemente, eclodem em adoecimentos físicos e mentais (Souza
Neste sentido, é importante ressaltar que, a depender do gênero, os servidores são afetados de forma diferenciadas por essas condições de trabalho, uma vez que as mulheres vivenciam situações de maior sofrimento relacionado ao trabalho do que seus colegas do sexo masculino. Isto se deve à divisão sexual do trabalho, que se relaciona, segundo Hirata e Kergoat (2007), com a distinção entre homens e mulheres no mercado de trabalho remunerado, em que elas têm seu trabalho apreciados com menor valor, bem como com a prevalente responsabilização feminina pelas atividades domésticas e de cuidado. Assim, as trabalhadoras são afetadas pelas exigências institucionais e sobrecarregadas pelas atividades reprodutivas junto ao lar e à família.
A partir desta conjuntura e tendo em vista o impacto da organização e das condições de trabalho nas universidades públicas na vida dos seus trabalhadores, o presente estudo buscou realizar a revisão sistemática dos artigos científicos publicados nos últimos cinco anos acerca do adoecimento mental dos servidores das universidades públicas brasileiras. Foram investigadas as causas do adoecimento, as enfermidades e as consequências para a vida dos trabalhadores e para as instituições às quais estão vinculados.
Trata-se de uma revisão sistemática, que tem como objetivo reunir, avaliar criticamente e
realizar uma síntese dos resultados de vários estudos primários (Cook, Mulrow & Haynes,
1997). Para tanto apoiou-se na metodologia PRISMA (
Foi realizado um levantamento bibliográfico em duas bibliotecas virtuais, Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS) e Scielo, e no banco de dados Pepsic, em maio de 2021. Os descritores
aplicados foram escolhidos a partir do site de descritores em Ciências da Saúde (DeCS),
utilizando o operador booleano AND entre os termos em língua portuguesa uma vez que o foco
da pesquisa é o contexto brasileiro. A estratégia de busca escolhida foi: a) “saúde mental”
AND “universidade” AND “trabalho”; b) “estresse” AND “universidade” AND “trabalho”; c)
“ansiedade” AND “universidade” AND “trabalho”; d) “depressão” AND “universidade” AND
“trabalho”; e) “
Os descritores referentes às patologias foram definidos a partir das principais causas que
levam ao afastamento das atividades laborais, sendo eles o estresse, a depressão e a
ansiedade. E a Síndrome de
O lapso temporal desta revisão foi definido entre os anos de 2016 a 2021, tendo em vista as mudanças políticas e econômicas do Brasil ocorridas a partir de 2016, que aprofundaram a precarização das condições de trabalho das universidades públicas. Sabe-se que desde o governo de Fernando Henrique Cardoso a política neoliberal adentra as IES, sendo seguida por todos os que o sucederam. Porém, segundo Júnior e Forgoni (2020), foi a partir do governo Temer que o risco de desmonte das universidades federais aumentou de forma exacerbada, com ações que buscavam a privatização das instituições federais, o elevado corte orçamentário e investidas contra os direitos dos servidores públicos. Esta tendência de ameaça às universidades permanece no governo Bolsonaro, uma vez que o Ministro da Economia de seu governo é adepto fiel ao modelo neoliberal.
Deste modo, delimitou-se como critérios de inclusão: versar sobre o adoecimento mental dos servidores públicos nas universidades públicas brasileiras, artigos originais disponíveis eletronicamente na íntegra e de forma gratuita, em português, inglês ou espanhol e publicados entre janeiro de 2016 e maio de 2021. Os critérios de exclusão foram: artigos de revisões e publicações duplicadas.
O procedimento de busca inicial dos artigos foi realizado com a leitura do título, das palavras-chave e do resumo. Após a seleção dos artigos que cumpriram os critérios de inclusão, foram excluídas as publicações que se repetiram entre as bases e na própria base, como também os artigos não encontrados e com acesso pago. Posteriormente, foi feita a leitura na íntegra dos artigos selecionados para realizar a análise. Para os procedimentos de busca, seleção e análise foram nomeados três juízes independentes, autores desse estudo. Em caso de discordância quanto a sua inclusão, os juízes discutiram em conjunto até obterem um resultado final. Após a seleção, foi realizada uma análise do conteúdo dos artigos para identificar temas convergentes e divergentes entre as publicações.
A partir dos resultados, foi realizada análise temática proposta de Braun e Clarke (2006), dividindo-os em categorias analíticas e correlacionando-os com a literatura adotada como referência. As categorias de análise foram: as causas vinculadas ao processo de trabalho e às instituições, que favorecem o adoecimento dos trabalhadores das universidades públicas brasileiras; as principais formas de distúrbios mentais que acometem estes servidores; e as consequências desse adoecimento para a vida dos trabalhadores e para as universidades.
A busca nas bases de dados ocorreu da seguinte forma: o primeiro levantamento resultou em 2.751 artigos; posteriormente, aplicou-se o filtro da data e obteve como resultado 1.017; em seguida, aplicou-se o filtro idioma – Português, Inglês e Espanhol – e foi encontrado um total de 999 artigos. Com a leitura do título e do resumo dos artigos chegou-se ao número de 117 publicações. Após a discussão entre os autores, nova leitura do resumo e do título e a exclusão dos repetidos, 28 artigos foram escolhidos para serem lidos na íntegra. Destes, 7 foram excluídos por não discutirem questões relacionadas ao adoecimento mental da amostra escolhida. Ao final, 21 artigos foram incluídos no estudo, conforme Figura 1.
Dos artigos analisados, a maioria foi encontrada na Bvs, com 20 artigos, a biblioteca de dados Scielo teve 1 artigo e a base de dados Pepsic não teve artigo escolhido, pois a maioria foi artigos repetidos encontrados na Bvs. Dos artigos selecionados, 17 utilizaram o método quantitativo, correspondendo a 80,95% do total, em seguida o método qualitativo com 3 publicações e um único artigo utilizou o método misto de pesquisa.
Comparando os anos da análise, 2020 foi o ano qual obteve maior número de publicações (n=6), seguido de 2019 (n=5), 2018 (n=3), 2017 (n=3) e 2016 (n=4). No entanto, não foram encontradas publicações no ano de 2021 que correspondessem às questões norteadoras deste estudo até o momento da realização da pesquisa. Além disso, a maioria das publicações apresentou três ou mais autores por artigo (n=17) e apenas 4 com dois autores.
Em relação aos participantes das pesquisas, observa-se uma maior predisposição para estudar amostras com docentes, uma vez que, entre o total de artigos, 12 artigos tinham como amostra exclusivamente os docentes, 3 envolvia apenas trabalhadores administrativos e os demais abrangiam servidores públicos em geral. Com relação a região dos participantes da amostra, os artigos se distribuíram assim, Sudeste (n=7), Sul (n=5), Nordeste (n=5), Norte (n=2) e Centro-Oeste (n=1). Um artigo envolveu as cinco regiões do Brasil.
No tocante aos diagnósticos, foram encontradas publicações referentes ao estresse
ocupacional,
Nos artigos analisados, no que se refere às causas que levam ao adoecimento mental dos trabalhadores, evidencia-se o predomínio de citação relativo ao modelo econômico neoliberal, que favorece a percepção de uma dedicação excessiva dos trabalhadores como normal e obrigatória, reforçando o comportamento de abdicação de aspectos pessoais para cumprir as responsabilidades do trabalho. Estes fatores provocam uma carga laboral excessiva, a substituição do tempo de lazer pelo tempo de cumprimento das suas atividades junto à universidade, além da precarização das condições de trabalho. Aos servidores docentes, soma-se a cobrança e a pressão por publicações de artigos e o desenvolvimento de funções administrativas, além das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Isto leva ao aumento das demandas de trabalho, apontando para a contínua sobrecarga de trabalho (Vasconcelos & Lima, 2021); e ao desgaste das relações de trabalho, permeadas por conflitos e problemas de gestão das atividades, demonstrando o comprometimento da cooperação e do trabalho em equipe (Nascimento & Daibem, 2020).
Essa cultura de valorização de trabalhadores superprodutivos pode ser um dos fatores a
propiciar o que chamamos de
Outro fator de análise são os comportamentos de autocuidado. O baixo índice desses fatores está relacionado ao adoecimento. Estudos transversais e prospectivos têm evidenciado uma forte associação entre os problemas de saúde mental e os baixos níveis de atividade física (Wiles, Haase, Gallacher, Lawlor & Lewis, 2007). O fator apoio social está diretamente relacionado ao tempo e à qualidade de dedicação a essas relações pessoais, familiares e de trabalho, pois ter uma rede de apoio pode ser um fator que favorece o enfrentamento de situações problemáticas. Em pesquisa realizada por Mattos, Araújo e Almeida (2017), foi demonstrada a prevalência de TMCs em indivíduos em situação de exposição à alta exigência e ao baixo apoio social no trabalho.
A gestão e as condições de trabalho dos servidores também foram evidenciadas no adoecimento segundo os artigos. Quanto à gestão, destaca-se o favoritismo na equipe de trabalho, a pouca valorização e as perspectivas de crescimento, a deficiência em treinamentos e a dificuldade nas relações com colegas e gestores. Quanto às condições de trabalho estão mais relacionadas aos aspectos ambientais e recursos de trabalho. Antunes e Praun (2015) chamam a atenção para a individualização do sofrimento e a ruptura do tecido de solidariedade antes presente entre os trabalhadores, com a emergência da competitividade. Ressalta-se que as situações pontuadas nesta área podem evidenciar possíveis situações de assédio moral.
Alguns dos artigos destacaram o fator gênero como relacionado a maiores índices de
adoecimento (n=6), identificando que as mulheres estão mais expostas ao sofrimento e ao
adoecimento mental relacionados ao trabalho (Cacciari, Haddad & Dalmas, 2016; Borges
& Lauxen, 2016; Hoffman, Zanini, Moura, Costa & Comoretto, 2017), bem como
apresentam maior dificuldade para conciliar as demandas de trabalho e a vida familiar
(Araújo
Este cenário que penaliza de forma desigual a saúde mental das servidoras em comparação aos seus colegas do sexo masculino está relacionado à sobrecarga feminina, uma vez que as mulheres se sobrecarregam com duplas jornadas de trabalho, sendo responsáveis pelas atividades domésticas e de cuidado, que além de não serem remuneradas, são socialmente desvalorizadas (Cisne, 2012). Neste sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2002) alertou para o maior risco das mulheres em desenvolver transtornos mentais e comportamentais em comparação com a população geral, pois, culturalmente, as mulheres desempenham diversos papéis sociais simultaneamente, além do trabalho remunerado executado por elas.
No que concerne aos tipos de adoecimentos que são identificados nos trabalhadores das
universidades públicas, nota-se a predominância de estudos sobre o estresse laboral (n=9).
Segundo Silva (2019), as condições organizacionais vivenciadas cotidianamente pelos
trabalhadores, quando percebidos negativamente por estes, tornam-se fatores estressores, que
podem levar ao adoecimento. No presente estudo, o estresse laboral foi investigado entre
trabalhadores administrativos e entre docentes. Ele mostrou-se relacionado às condições
precárias de trabalho (Santos, Marinho, Lima, Rodrigues & Santos, 2016; Lopes &
Silva, 2018; Cavalcante
A Síndrome de
O terceiro transtorno mental mais investigado nos artigos foi a depressão (n=4). Esta
patologia está relacionada ao comprometimento do funcionamento normal do sujeito devido a
presença de humor triste, sensação de vazio, irritação, com alterações corpóreas e
cognitivas (American Psychiatric Association, 2014). Na análise realizada, a depressão se
mostrou relacionada com outras formas de adoecimento como estresse e Síndrome de
Nesta revisão, a ansiedade foi pouco investigada, aparecendo em apenas um dos artigos
selecionados, junto com outras patologias, estresse e
É importante ressaltar que outras formas de adoecimento e sofrimento mental dos servidores das IES foram identificadas, como os TMCs, ampliando o olhar sobre a saúde mental do trabalhador, que foi estudado em um artigo selecionado para fazer parte desta revisão. Os TMCs são um conjunto de sintomas não psicóticos e que estão relacionados a quadros de depressão, ansiedade e estresse (Murcho; Pacheco & Jesus, 2016). No referido artigo, foi encontrada a prevalência global de 29,9% de TMCs entre docentes participantes da pesquisa (Campos, Véras & Araújo, 2020), demonstrando que esta é uma importante forma de adoecimento desses trabalhadores.
A última categoria analisada nesta revisão refere-se às consequências outras do adoecimento mental para a vida dos trabalhadores e para as IES. Assim, identificou-se em parte dos artigos outras repercussões para além do adoecimento psicológico, mas que ainda são provenientes da interação homem e trabalho.
Nesta perspectiva, Araújo
Além disso, Teixeira
D’Oliveira, Souza, Varella e Almeida (2020) apontam que, muitas vezes, os servidores
trabalham mesmo que estejam com algum comprometimento na própria saúde. Além disso,
apresentam hábitos de vida pouco saudáveis, identificando participantes da pesquisa acima do
peso, sedentários, hipertensos e cansados. Ressalta-se nesta análise, o artigo de Carmo
Destaca-se também que, dentre os artigos analisados, Moreira
Entre os artigos revisados, D’Oliveira
Os resultados do presente estudo evidenciaram a escassez de publicações de artigos científicos referentes às consequências do adoecimento dos servidores para as instituições de ensino superior, bem como a temática referente ao impacto econômico do adoecimento para as universidades e sobre a visão dos gestores em relação a esse tema, depreendendo-se, assim, uma lacuna de pesquisa. Constata-se nas publicações uma perspectiva predominantemente teórica a respeito desse assunto sem aprofundamento de resultados na quase totalidade dos casos.
A partir da análise dos artigos, percebe-se que a saúde mental dos servidores das universidades públicas brasileiras tem suscitado diversas pesquisas nos últimos anos. Depreende-se desses estudos que, o neoliberalismo, que tanto afeta a vida e a saúde dos trabalhadores da iniciativa privada, mostra-se particularmente prejudicial para a saúde mental dos trabalhadores da Administração Pública, uma vez que a lógica econômica do capital corrompe a finalidade do serviço público, que é atender às necessidades da sociedade. Assim, o adoecimento mental acaba por mostrar-se um fator importante, que pode produzir incapacidades temporárias e permanentes.
Apesar da amplitude das pesquisas no que se refere às universidades estudadas e às regiões do país, nota-se ainda a desigualdade de estudos entre docentes e servidores administrativos, havendo um domínio maior de investigações acerca da saúde mental daqueles em detrimento destes. Neste sentido, faz-se importante destacar que as universidades possuem duas classes de trabalhadores distintos, docentes e servidores administrativos, e que compartilham o mesmo espaço de trabalho e a mesma lógica neoliberal das universidades, mas, por terem funções e finalidades distintas dentro das universidades, podem ser afetados de forma diferenciada.
Foi identificada, ainda, a escassez de pesquisas que apontassem para as repercussões do adoecimento mental desses servidores para as instituições, para os discentes e para os demais trabalhadores, tendo em vista que, diante de situações de adoecimentos dos trabalhadores, o impacto não se restringe à vida do sujeito adoecido. Ele pode gerar consequências em outros níveis, como o aumento da sobrecarga de trabalho dos servidores que permanecem ativos e que precisam assumir as atividades dos seus colegas afastados; e para o próprio serviço público, que perde em eficiência devido ao quadro reduzido de servidores e o maior gasto para o Estado.
Conclui-se que os estudos sobre a saúde mental e doenças dos trabalhadores das universidades públicas brasileiras permitem a construção de uma base de conhecimento ampla e sólida sobre o tema, podendo contribuir para o desenvolvimento de programas e ações de atenção à saúde dos servidores públicos dessas instituições. Porém, existem diversos outros aspectos a serem investigados, com contribuições relevantes para a área, revelando-se assim ser um tema ainda bastante fértil para a realização de pesquisas futuras.
Como limitações do estudo, considera-se que a escolha e combinação dos descritores podem ter restringido a busca de publicações por não terem alcançado as nuances do termo adoecimento psíquico.