Revista de Psicologia, Fortaleza, v.14, e023001. jan./dez. 2023

DOI: 10.36517/revpsiufc.14.2023.e023001

 

RECEBIDO EM: 04/07/2022

PRIMEIRA DECISÃO EDITORIAL: 11/09/2022

VERSÃO FINAL: 13/09/2022

APROVADO EM: 19/11/2022

 

Produções literárias e audiovisuais nas periferias de Fortaleza: (re)inventando territórios de infâncias e juventudes periféricas

Literary and audiovisual productions on the peripheries of Fortaleza: (re)inventing peripheral childhood and youth territories

 

Dagualberto Barboza da Silva

Mestre em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Integrante do VIESES. Fortaleza, Ceará, Brasil. Orcid: http://orcid.org/0000-0003-3788-1780 Email: dalgobarboza92@gmail.com

 

Camila dos Santos Leonardo

Mestranda em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Integrante do VIESES. Fortaleza, Ceará, Brasil. Orcid: http://orcid.org/0000-0001-5889-0155 Email: myllaleonardo32@gmail.com

 

João Paulo Pereira Barros

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenador do VIESES: Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação. Orcid: http://orcid.org/0000-0001-7680-576X Email: joaopaulobarros@ufc.br

 

Érica Atem Gonçalves de Araújo Costa

Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Integrante do VIESES. Fortaleza, Ceará, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4341-8138 Email: ericaatem@yahoo.com.br

 

João Paulo Sales Macedo

Professor Associado 2 da Universidade Federal do Delta do Parnaíba - UFDPar. Está vinculado aos Programas de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) e da Universidade Federal do Ceará (UFC), orientando alunos de mestrado e doutorado. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4393-8501 Email: jpmacedo@ufpi.edu.br

 

Talles Azigon

Poeta, editor e coordenador da Livro Livre Curió Biblioteca Comunitária. Fortaleza, Ceará, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9691-6854 Email: tallesazigon@gmail.com

 

Leonardo da Silva

Fotógrafo. Integrante do Coletivo Tentalize. Fortaleza, Ceará, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1258-0586 Email: euoleosilva@gmail.com

 

 

 

Resumo

Este artigo tem como objetivo discutir a reinvenção de territórios das infâncias e juventudes periféricas a partir de fotografias e poemas produzidos pelo fotógrafo Leo Silva e pelo poeta Talles Azigon (identificados após a aprovação do artigo) como modo de re-existência em Fortaleza. São problematizações advindas da realização de uma pesquisa-inter(in)venção de ethos cartográfico, junto a esses jovens, em que as imagens e os poemas emergem como dispositivos lúdicos na produção de movimentos contra-hegemônicos frente às “imagens oficiais” historicamente impostas sobre as periferias. Por meio dessas fotografias e poemas, e, portanto, da arte, a reivindicação dos territórios retrata e narra infâncias e juventudes de periferias de Fortaleza a partir de suas potências e não de suas precarizações. Como experimentação, o artigo foi produzido a partir desses poemas e fotografias, além de contar com as participações de (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo) e (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo) na elaboração do texto como um movimento decolonial de (des)habitar a escrita acadêmica.

Palavras-chave: Infâncias. Juventudes. Periferias. Arte. Re-existência.

 

 

Abstract

This article aims to discuss the reinvention of territories of peripheral childhoods and youths based on photographs and poems produced by photographer Leo Silva and poet Talles Azigon (identified after acceptance of the article) as a way of re-existing in Fortaleza. These are problematizations arising from the realization of an inter(in)vention research of cartographic ethos, with these young people, in which images and poems emerge as playful devices in the production of counter-hegemonic movements against the “official images” historically imposed on the peripheries. Through these photographs and poems, and, therefore, through art, the claim of territories portrays and narrates childhoods and youths on the outskirts of Fortaleza from their strengths and not from their precariousness. As an experiment, the article was produced from these poems and photographs, in addition to counting on the participation of (to be identified if the article is accepted, as it acts as a participant in the writing of the article) and (to be identified if the article is accepted, as it acts as a participant in the writing of the article) in the elaboration of the text as a decolonial movement (dis)inhabiting academic writing.

Keywords: Childhoods. Youths. Peripheries. Art. Re-existence.

 

 

 

 

Introdução

 

Este artigo tem como objetivo discutir a reinvenção de territórios das infâncias e juventudes periféricas a partir de fotografias e poemas produzidos pelo fotógrafo (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo) e pelo poeta (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo) como modo de re-existência (Achinte, 2017) em Fortaleza. São problematizações advindas da realização de uma pesquisa-inter(in)venção de ethos cartográfico (Menezes, Colaço & Adrião, 2018), junto a esses jovens, em que as imagens e os poemas emergem como dispositivos lúdicos na produção de movimentos contra- hegemônicos frente às “imagens oficiais” historicamente impostas sobre as periferias. Por meio dessas fotografias e poemas, e, portanto, da arte, a reivindicação dos territórios retrata e narra infâncias e juventudes de periferias de Fortaleza a partir de suas potências e não de suas precarizações. A noção de re-existência, desenhada por Achinte (2017), compõe essa leitura ao ser compreendida como a invenção de dispositivos estratégicos na visibilização e interpelação de processos de racialização, marginalização, exclusão e cristalização de estigmas, experimentando ressignificações de forma coletiva e autônoma ao contrapor-se a mercantilizações e assujeitamentos de determinados modos de viver.

A pesquisa foi realizada em duas localidades de Fortaleza, comunidade Santa Filomena (território de atuação de (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo)), localizada no Grande Jangurussu, e no bairro Curió (território de atuação de (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo)), mais especificamente junto à Livro Livre Curió Biblioteca Comunitária.

As bibliotecas comunitárias têm surgido nas periferias da capital cearense como dispositivos autogestionários na produção de infâncias e juventudes periféricas, promovendo atividades com os mais diversos públicos e faixas etárias, vivendo de doações da própria comunidade e/ou de outras localidades. Incentivam não apenas a leitura com o empréstimo de livros, mas promovem encontros artístico-culturais e a formação de leitores com a mediação e realização de círculos de leitura, realização de cursos de produção literária e produção de fotografias e audiovisual, como também saraus e festivais.

Focaremos, neste estudo, como os coletivos juvenis, a partir da atuação junto à biblioteca comunitária Livro Livre Curió, vêm experimentando nessas realidades modos de construir narrativas que falem de suas trajetórias e dos cotidianos das periferias, construindo novas formas de perceber, pensar e sentir de juventudes, tecendo outras invenções de si numa disputa de narrativa, seja a partir de fotos, imagens, poemas, saraus. Além disso, intencionamos, a partir da experiência de composição da escrita do presente artigo, que inclui entre os/as autores/as, dois importantes articuladores de ações junto a infâncias e juventudes das periferias de Fortaleza, pensar como habitamos a pesquisa e a escrita acadêmica, a partir de um ethos ou atitude decolonial de romper com os pactos coloniais que nos constituem.

Como experimentação, o texto foi produzido a partir de poemas escritos e escolhidos por (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo), que integram o seu livro (livro a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois os autores participam da escrita deste artigo), e por registros visuais realizados e escolhidos pelo fotógrafo (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo), que também compõem o (livro a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois os autores participam da escrita deste artigo) com suas fotografias. Todavia, alertamos que a participação de (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo) e (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo) transborda as escolhas de poemas e fotografias para o presente artigo. Na tentativa de operarmos por linhas de fuga (Deleuze & Guattari, 2004) às segmentaridades que conformam as práticas de pesquisa, buscamos romper com posições que tomam participantes das pesquisas como informantes. A tecitura, portanto, partiu de conversas e confabulações vividas ao longo da realização da pesquisa, tomando a escrita como agenciamento de reflexões e sensibilidades para nos deslocar dos lugares instituídos e que colocam à margem as/os interlocutoras/es no texto e na pesquisa. Assim, deslocamos não apenas os poemas da epígrafe e a fotografia dos apêndices. Os trouxemos para o texto como dispositivos de problematização do nosso presente e do encontro das periferias com a academia, de modo a escapar da vontade de saber de nos apresentar como intérpretes de “vozes torturadas” (Kilomba, 2020).

Por outro lado, estamos certos de que as narrativas poético-fotográficas não sejam um retrato de todas as infâncias de periferias, assim como não defendemos que este texto seja uma representação da representação de infâncias e juventudes. Tomamos os dois movimentos como tessituras narrativas em acontecimentalização, apostando aqui que narrar não implica comunicar/representar um acontecimento, narrar pode ser a própria realização de acontecer (Pinheiro & Baptista, 2019). Os acontecimentos em cena dizem respeito aos deslocamentos que os encontros podem proporcionar, costurando invenções coletivas e desalinhando/desestabilizando concepções instituídas sobre periferias e infâncias e suas ressonâncias e questionamentos sobre a instituição pesquisa e escrita acadêmica. Esse desalinhar/desestabilizar traz algumas pistas sobre a proposta de decolonizar o dizível e o visível por meio de narrativas artísticas, mas também políticas, discutindo saberes e lugares da e na pesquisa.

Os poemas e fotografias que compõem este artigo são “re-tratos” e narrativas de periferias, juventudes e infâncias compostos por meio de ressonâncias com o que elas mesmas vêm produzindo sobre si e o mundo que criam e habitam. Pistas-guias, organizadas em três momentos, em que o primeiro, decolonizando o dizível e o visível, problematizamos as cristalizações de territorialidades periféricas como lócus de violência e naturalizações dos corpos que ali habitam como potencialmente perigosos, re-tratados por outras imagens por jovens de periferias pelas suas próprias vozes e lentes. No segundo momento, colocamos em relevo como infâncias e juventudes, a partir da perversa invisibilização das margens periferizadas que se inscrevem em seus mundos e em suas vidas, traçam linhas que resistam à necropolítica. No terceiro momento, cartografias insurgentes e periferização das escritas do mundo, tratamos sobre as insurgências periféricas e seus efeitos nos modos de subjetivação e na criação de um plano comum, inclusive compondo lugares e saberes da e na pesquisa.

 

“O Poema É Nosso E Eu Boto Onde Eu Quiser”: Decolonizando O Dizível E O Visível

O que é possível tornar dizível e visível através de um poema e de uma fotografia? O que antes era silenciado e invisibilizado, ou narrado e hipervisibilizado por marcas de uma colonialidade do poder, do saber e do ser (Maldonado-Torres, 2019), e que é re-tratado por jovens de periferias pelas suas próprias vozes e lentes? Ao fazermos essas perguntas nos reportamos de imediato à imagem de Anastácia – sequestrada e escravizada, com uma máscara, espécie de placa de metal colocado sob a boca do sujeito Negro, o amordaçando e o proibindo de se alimentar enquanto trabalhava na lavoura de cana e de cacau – e às reflexões que Grada Kilomba tece sobre processos de silenciamento que não findaram com os colonialismos (Kilomba, 2020). Quando olhamos para a imagem, notamos que a boca de Anastácia escravizada não pode ser vista, muito menos ouvida. O que resta é uma imagem de subalternização e de silenciamento, operacionalizados pelo racismo, que objetifica Anastácia para fundar o “sujeito universal”, ou, o “sujeito branco” (Kilomba, 2020).

Há algumas possibilidades em nos concentrarmos naquela imagem: uma forma, muito comum, é voltar nossa “interpretação” para o seu sofrimento, partindo de uma tônica individualizante; outra é reificarmos Anastácia como escrava, como alguém da qual precisamos “dar voz”, como alguém que só pode ser ouvida se interpretada pelo nosso saber, como um objeto estático; uma outra versa sobre entender essa imagem como fruto de um processo, como algo que, apesar de “cristalizado” e “imóvel”, foi construído e replicado pelos séculos por uma narrativa oficial da “história” na manutenção das mordaças e dos silenciamentos que se atualizam e nos constituem.

Anastácia poderia ser o nome de uma periferia de Fortaleza, com sua imagem reproduzida por programas policialescos, estigmatizada por seus altos índices de violência e por ser tomada através de uma narrativa hegemônica que a “interpreta” como lugar “naturalmente” habitado por “pobres virtuosos” e “pobres perigosos” (Coimbra & Nascimento, 2005). Mas optamos por tecer com linhas que buscam tornar essa imagem questionável, o que não significa que invisibilizamos em nossos traçados os processos de precarização induzida (Butler, 2018) e de periferização nas margens de uma grande cidade. Nosso caminho, todavia, é o de produzir narrativas com poemas e imagens de periferias, tentando, com essas muitas vozes e olhos, decolonizar o dizível e o visível.

Um primeiro movimento em torno dessa decolonização é experimentado por meio dos distintos lugares dos quais partem nossas vozes e olhares. Optamos por escrever em bando, este sendo compreendido como um agenciamento que permite a criação de outras formas de pensar, sentir, perceber e desejar. Compor um “texto-bando”, coletivizando a própria produção do conhecimento, permite-nos realizar questionamentos sobre o modo como narramos e visibilizamos periferias urbanas, agenciamentos de um devir-criança e as nossas concepções do que implica conhecer. Este bando é habitado por professoras/es de uma universidade pública, alunas/os de pós-graduação em psicologia e por artistas, assim como por vários outros bandos que nos atravessam: linhas múltiplas que habitam territórios considerados, hegemonicamente, como “o centro” da cidade, periferias rurais e periferias urbanas.

Produzir filmes, documentários, curtas ou longas tem me feito ter ota visão da vida, de espaço e principalmente, narrativa. Quem me vê? Quem me ouve? Quem sou eu para alguém? Que história minha é contada por aí? Todas essas perguntas eu faço quando estou com a câmera em mãos, e conversando com alguma/um moradora/or de minha pequena cidade. Cada encontro, cada palavra tem sido um respiro para pensar, quem sou e onde estou.

Decolonizar o dizível e o visível refere-se à criação de problemas com os discursos e imagens que colonizam nossas mais variadas formas de conhecer. Isso porque não podemos deixar de apontar que a colonialidade, como face noturna da modernidade, é efetuada através de uma articulação e hierarquização de um conjunto de elementos, estando entre eles as nossas maneiras de agir, pensar e sentir (Quijano, 2005). Fazer problema com, pesquisarCom (Moraes, 2014), escreverCom (Silveira, Palombini & Moraes, 2015) para aumentar o coeficiente de transversalidade (Passos & Barros, 2009), para produzir comuns e partilhar o sensível (Rancière, 2005). Ocupar os espaços de um texto como coletivos juvenis ocupam a cidade: pelo aliançamento (Butler, 2018), pela intersecção de vozes para criar redes, pelo fazer-se presente e re-existir (Achinte, 2017) a jogos de (in)visibilidade perversa (Sales, 2007). É para criar linhas de fuga (Deleuze & Guattari, 2004) às representações que fazemos emergir uma escrita conjunta, sem molduras, buscando transgredir o pensamento ocidental e seu epistemicídio. Decolonizar o dizível e o visível por meio de poéticas, éticas, políticas, pois

 

não posso fugir do meu tempo

por isso sou o poeta do esgoto

o poeta da contradição

o poeta do débito

das transferências bancárias

dos cachês atrasados do vergonhoso lobby que fazemos todos

dissimuladamente, quando calamos

para não ser cortado de todo das possibilidades financeiras

##

o poeta das doenças transmissíveis

pelo sexo, pela água, pelo ar

pelos alimentos atômicos

o poeta das mídias virtuais

das masturbações como prazer culpado

alimentado por pornografia

tão artificial quanto xilito de 10 centavos

o poeta do vestibular do ensino inferior

do ensino médio, baixo, pobre

o poeta da promoção dos cinemas nas segundas

##

o poeta dos empréstimos

das dívidas que caducam depois de 5 anos

o poeta dos ônibus lotados

o poeta dos carregadores de celular quebrados

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um poeta do meu tempo

do meu mau tempo

que é quase não ter tempo

para ser poeta

##

O poema cabe na matriz de pensamento eurocêntrico? Se couber, com que métrica? Caberia um poema com a polifonia de existências periféricas? Muito provavelmente, tal poema não poderia compor a “narrativa oficial”, porque ela não é feita de composições plurais.

As práticas discursivas ocidentais contam uma história única (Adichie, 2019), a do ponto de vista do colonizador. Esse ponto de vista, apesar de insistir em não querer ser marcado, pois é tido como universal, é branco, cis, hétero e patriarcal. É a razão do mundo, objetiva, neutra, mais científica que qualquer outra ciência e do “centro”. Tudo o que não partir disso é a “outridade”. A outridade, objetificada, acaba por ser enxergada de modo essencialista, fazendo com que toda uma gama de processos de subjetivação seja enquadrada como idênticos e previsíveis (Alves & Delmondez, 2015).

Decolonizar narrativas passa por desessencializar, desnaturalizar, desmistificar e “desromantizar” a pesquisa e a escrita acadêmica, nossas/os interlocutoras/es e suas territorialidades e os próprios modos de subjetivação, nossos, inclusive. Quando a poética nos tensiona a pensar que as coisas não precisam ter seus “devidos lugares” (“o poema é nosso, e eu boto onde eu quiser”), questionamos os limites criados entre arte, ciência e política. O único lugar do poema na ciência seria o de ser informante na pesquisa? Não seria possível escrever com o poema? O poema se encerra numa lírica despolitizada? Não seria possível criar problema com o poema? Fazemos essas indagações a partir dos tensionamentos que a escrita conjunta nos provoca, pois ao nos depararmos com as muitas mãos neste texto um problema foi sendo tecido: como não interpretar poemas e fotografias?

Abdicamos da interpretação porque compreendemos que a sua base normativa é a objetificação. O que não é o mesmo que sustentar tensões a partir do encontro com narrativas e olhares insurgentes. Olhar a cidade desde as margens produz uma ruptura com a naturalização de centros e põe em análise os “zoneamentos” (Mbembe, 2017) forjados em espaços em que a segregação racial operacionaliza modos de habitar, de passar e de bloquear. Corpos são bloqueados, assim como histórias. O poema do “ensino inferior” é preterido por normatizações que colonizam o saber, mas também problematiza o que é tido por “ensino superior”. Supor que moradoras/es de periferias necessitam de uma chancela do “ensino superior” para narrarem suas histórias é como replicar a imagem de Anastácia amordaçada com as interpretações de um conhecimento científico validado emoldurando a imagem. E com isso não queremos dizer que o conhecimento não possa ser produzido. Dizemos com isso que as políticas de pesquisa podem e devem ser dizibilizadas nos textos, possibilitando a visibilização dos percursos que elas fazem, como elas fazem e com quem elas fazem. Decolonizar, portanto, pelo engendramento de ressonâncias em relação com o que vem sendo dito a partir de periferias, para que possamos habitar outros modos de dizer e perceber o mundo.

 

Entre “Vetescuruminseres”: Infâncias E Juventudes Compondo Lugares E Saberes Da e Na Pesquisa

As intervenções foto-poéticas produzidas pelos coletivos juvenis possibilitam a criação de outras narrativas que tencionam a perversa invisibilização das margens periferizadas. Surgem enquanto potência inventiva sendo máquinas de guerra (Deleuze & Guattari, 2012) rompendo estruturas, escapando das lógicas já postas no que traçam narrativas de como é ser morador(a) de territorialidades periferizadas, de ser criança periférica, inventando imagens outras como linhas de fuga. Tal produção além de falar dos cotidianos das juventudes também traz em sua tecitura modos de ser criança na periferia. Construir narrativas que trazem em sua composição essa intergeracionalidade também diz de processos de tensionamentos inscritos nesse emaranhado de relações de saber-poder (Foucault, 2007). Tensões produzidas quando as crianças interpelam tais coletivos para participarem dessa produção de narrativas sobre si.

Pensar o campo das infâncias e juventudes a partir da intergeracionalidade se coloca enquanto um desafio, pois nos tensiona a nos desloca do espaço de saber-poder historicamente ocupado pelos jovens/adultos, para questionar quais têm sido os espaços e as condições de participação dessas infâncias. Esses espaços pensados a partir de um ponto de vista histórico se tornam ainda mais desafiadores à medida que há uma grande invizibilização da própria temática da infância, seja por uma exclusão explícita ou pseudo- inclusão (Mayorga, 2019). Não é tão difícil observarmos que no campo das disputas de narrativas as crianças são continuamente postas num lugar futuro, de quem será alguém e não de quem já ocupa espaço de sujeito. Uma narrativa que é invizibilizada, colocada em suspeição ou muitas vezes desconsiderada. Ao fazermos um recorte, pensando nas crianças que ocupam os territórios periferizados, podemos problematizar essa dupla exclusão: primeiramente por ser criança, e em segundo, por habitar uma periferia.

A fotografia tem um papel e tanto em nossas vidas, na minha tem se tornando um papel fundamental. Não tínhamos acesso a imagem, não temos tanta fotografia guardada para ter recordações futuras, as que temos é de apenas no natal, uma vez o ota durante o ano a gente tirava com um fotógrafo da comunidade, com o passar do tempo, e a tecnologia evoluindo, a gente começa a ter acesso a outras coisas. E para isso, tenho guardado as atuais recordações, minha, e de uma comunidade que é pouco conhecida, na verdade, é até conhecida, mas não do jeito que a vemos e entendemos.

Registrar cotidianos, a partir de fotografias, documentários, poemas etc, faz com que juventudes e infâncias tracem linhas que resistam à necropolítica (Mbembe, 2017) que produz mortes, seja pelo número massivo de vítimas da pandemia por COVID-19, seja pelo grande número de homicídios juvenis anuais (Barros, Benicio, Silva, Leonardo, & Torres, 2017; Benício et al. 2018) e apagamentos existenciais. Diante essa necropolítica (Mbembe, 2017), as infâncias e juventudes desafiam a morte e as invizibilizações, assim como conta a lenda iorubá, em que os irmãos gêmeos Ibejis maquinaram um plano para deter Icu (a Morte) fazendo-a dançar e maravilhar-se ao som do toque dos tambores, em que se revezavam, até ela cair exausta libertando-os. É o devir-criança em suas brincadeiras e recriações diárias que se tornam “um potente ato de combate” diante da morte e da recusa das invisibilizações que pairam sob as periferias urbanas (Baptista, 2019, p.167).

Esse ínterim entre a produção dos coletivos juvenis periféricos e as crianças põe em análise as potências de criação de plano comum intergeracional. As diversas possibilidades dos modos de um aprender compartilhado entre gerações. Ao compormos narrativas com as infâncias e juventudes periferizadas em nossas pesquisas não podemos perder de vista a dimensão ética de nossa posicionalidade enquanto pesquisador/a (Bicalho, 2019), compreendendo que essa posição de estar no “entre” tece uma rede de relações de saber- poder (Foucault, 2007) que se colocam a todo instante durante essa produção de conhecimento. Compreender a pesquisa a partir dessas relações nos provoca à busca por nos desvencilharmos de nosso olhar colonizador que já chega em campo com perguntas prontas.

Ao passo que nos colocamos em campo enquanto aprendizes cartógrafos/as, entendemos que realizar uma pesquisa que se proponha cartográfica (e decolonial) é tomar os processos de transversalidade como uma diretriz metodológica para dar conta das experiências que se apresentam de modo multivetorializado, não perdendo de vista a relação entre inventividade e rigor metodológico (Passos, 2019). Tomando tais perspectivas para o exercício do pesquisar, nos indagamos: Como as infâncias e juventudes podem nos ajudar a construir nossas perguntas de pesquisa? Como podem nos interpelar e construir conosco os objetos que serão pesquisados?

 

##

vetescuruminseres

##

bola de meia de gude

bila

de saco de areia

de leite de couro

bixiga

briga!briga!briga!

te dou vantagem no jou ajuda

cola, pega, sobe, desce dentro fora

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morto vivo

corre!corre!corre!

chuta forte esse troço

a garrafa né a pedra não

bandeirinha bandeirão

quem pegar é fiiie do cão

bombril castanha chulipa

estica!estica!estica

café com leite café com leite

café com leite

pedra papel

estala o estalo

com quantos anos

você quer casar?

trava língua pensa rápido

lesado

##

bixo buuuurrrroooo naammm

reloginho não

de vera de rocha

de tudo nos dois

carrega pra casa

a papada gulosa

apara a pipa no ar pelo rabo

aqui só tem cocão

só vale o ganha

reman reman

que dá uma volta

no quarteirão

e fala pra tia

que a maria

roubou pão

na casa do joão

quem, eu? eu não! quem foi?

eram dois cachorros

o pete e o repete

coitado do pete

ele sempre

é que morre

##

essa brincadeira não tem solução

eu só queria riscar a sua mão.

##

Ao contar sobre as experiências que atravessam as infâncias, as juventudes se recriam e inventam outras infâncias possíveis, apresentando inúmeros devires-criança que emergem a partir de encontros-afetações no mapa de intensidades que constituem tais experimentações. O devir-criança (Guattari, 1981) nos convida a desfazer das normatividades para entramos em contato com a potência do novo, a libertação para trilharmos outros caminhos, um convite à reinvenção. As brincadeiras das crianças apresentam repetições que ao se repetirem produzem o novo, lançando-se e improvisando como o ritornelo apontado por Deleuze e Guattari (2012). Ao nos permitirmos à criação do novo, nos lançamos nessa composição textual atravessada de experimentações que se compõem com textos, fotos e poemas. Experimentar o processo de pesquisar para construir novas narrativas é possibilitar que ele dê abertura àquilo que passa, que transtorna e ao extraordinário (Pinheiro & Baptista, 2019).

Há diversas questões que se colocam quando o campo das infâncias nos interpela a partir da intergeracionalidade, enquanto pesquisadores/as produzimos resistências quando nos colocamos de encontro à lógica etapista que invisibiliza, bem como à perspectiva do saber hierarquizado, adultocêntrico e eurocentrado. Tais lógicas produzem uma série de invisibilizações não somente das infâncias, mas de outros segmentos. O aliançamento (Butler, 2018) entre gerações e a destituição de hierarquias etárias surgem enquanto pistas para forjarmos estratégias de re-existência às lógicas postas (Achinte, 2017). As infâncias que compõem tais registros fogem à imagem de crianças periféricas que são “clientes para caridade”, como algumas instituições, governamentais ou não, gostam de representá-las.

Os coletivos juvenis experimentam outros modos de construir narrativas que falem das trajetórias e dos cotidianos das periferias, construindo novos modelos e tecendo outras invenções de si numa disputa de narrativa, seja a partir de fotos, imagens, poemas, saraus etc. Gestando provocações para que nosso olhar colonizador se liberte daquilo anteriormente instituído sobre as territorialidades periferizadas quando se toma apenas como referência imagens massivamente colocadas pelos noticiários e programas policialescos locais. À medida que os jovens constroem esses espaços produzem agenciamentos para que as crianças construam outros processos de invenção de si e de seus territórios, numa dupla implicação, uma vez que essas juventudes também têm a oportunidade de ressignificar suas próprias infâncias.

A construção de uma narrativa que dê conta de uma pesquisa atravessada pelas questões até aqui colocadas nos interpela como uma “brincadeira (que) não tem solução”, pois a experiência da pesquisa não deve se propor a ser um relato do que aconteceu e sim dizer de um espaço que foi percorrido e no qual emergiram encontros, desencontros, colocando em relevo as próprias vozes das/os nossas/as interlocutoras/es da pesquisa. Não para interpretá-las, mas colocar em análise nossos modos de perceber, sentir e agir em nossos planos de pesquisa. Os poemas e fotografias também se compõem nessa tecitura de acontecimentalizações cotidianas, produzindo experiências que falam das crianças que habitam territorialidades periferizadas, acompanhando os fluxos das brincadeiras, do dito e não dito (Pinheiro & Baptista, 2019), mas também se reinventando conforme o campo os interpela (e nos interpela).

 

“Entre Essas Corridas A Quentura Se Faz Presente”: Cartografias Insurgentes E Periferização Das Escritas Do Mundo

Estamos entre pesquisadoras/es, artistas periféricos, poetas, fotógrafos a pensar sobre as insurgências periféricas e seus efeitos nos modos de subjetivação e na criação de um plano comum. Somos, na materialidade histórica e temporal em que nos situamos na realização deste trabalho, atravessados pela possibilidade de narrar e problematizar certa disputa de imaginários sociais em curso, pelo esgarçamento da geopolítica capitalista do norte/sul, centro/periferia, tal como tem protagonizado os corpos periféricos de jovens, crianças, idosos. Por meio da experiência suscitada pelos trabalhos desenvolvidos nas bibliotecas comunitárias, que acompanhamos no exercício de uma pesquisa cartográfica, foi possível, por um lado, colocar em relevo outras sociabilidades produzidas a partir dos encontros entre gerações inspiradas nas imagens e traçados poéticos das lembranças das infâncias nos territórios vividas pelos artistas; e por outro, que as narrativas ali produzidas pudessem provocar novos imaginários não apenas para as periferias, mas que extrapolassem sua geografia física, fazendo problema às práticas discursivas hegemônicas que governam infâncias e seus outros.

Esse texto é uma forma de visibilizar este esforço com poéticas/imagéticas que produzem outras periferias e outras infâncias na medida em produzem análise quanto à (in)visibilização perversa e a estigmatização das periferias. A composição possível a que chegamos com o presente texto constitui-se por resistências praticadas pelos coletivos ao produzirem outras narrativas e imagens por meio de poéticas/imagéticas. São histórias de si escritas por coletivos em que teimam e insistem em produzir sua memória, seu não esquecimento, gestando (re)nascimentos dos corpos das crianças periféricas, territórios afetivos que cuidam. Quenturas que subvertem os olhares higienistas que tentam suavizar as cidades, que esquecem suas diferentes temperaturas.

É sob as gargalhadas e o brilho do olhar das danações e invenções cotidianas das infâncias que se esvai as areias quando os pés se encontram no vai e vem de suas brincadeiras. Meninos e meninas correm, e correm em busca de suas diversões, sentem-se livres no momento do chute, ou mesmo na hora em que todos se encontram tentando conquistar os seus objetivos. Em meio às corridas, a quentura se faz presente, conexões e devires que faz com que o jogar a bola das crianças se esvai nas suas felicidades nos seus fins de tarde.

Coletivos jovens periféricos produzem arte e coextensivamente protagonizam ações com crianças. Tal como em “memórias inventadas” de Manoel de Barros, citado por Kohan (2014), ao referir o poeta em sua arte de aproximar contrários, atento aos movimentos, inventando palavras, deslizando sentidos para forçar a pensar algo novo, as imagens-poemas cuidadosamente escolhidas para esse texto também torcem sentidos e temporalidades, se prestam às ludicidades da linguagem não prevista, que se insinuam nas repetições e permanências, mas não nas imitações.

Cartografar as insurgências e invenções de periferização das escritas do mundo de crianças e jovens de Fortaleza, ao escreverem e agenciarem memórias, devires-periféricos, telas por onde brotar e inscrever direções dos mapas poéticos e brincantes, invenções audiovisuais, coloca como imperioso amplificar sua potência de conexão, produção de encontros, de outros mundos. Artes-periféricas que arejam formas de perceber, pensar e sentir o mundo, inclusive o das ciências endurecidas em cartografias e genealogias que reproduz o plano das evidências, do naturalizado, que produz o mesmo, o idealizado.

Poetas do esgoto, dos carregadores de celulares quebrados, que torcem os holofotes da (in)visibilidade colonial e mudam o foco. Imagens que fazem agenciamentos concretos, na contramão das instituições, que oferecem lugar para ação das crianças, para que se vejam, construam suas imagens de si e do mundo, criando outros referentes, deslocando-se das imagens estigmatizadas da narrativa hegemônica que tentam encobrir seus corpos.

Poesia, imagens e escrita são, por efeito de dobraduras, aproximadas, sem subserviências. O arranjo é perceptível pelo dispositivo da dobradura. Virar de cabeça para baixo o mapa. Cartografia realizada não pela academia, mas por quem habita as periferias. Operação que não pode ser discreta, atenuada, silenciada. Poesias, imagens, percepções, experiências de campo, conversas entre as/os autoras/es se desassossegam e desestabilizam ordens discursivas acadêmicas institucionalizadas. Procuramos assento na conversa, cada qual podendo traçar problemas, linhas de fuga (Deleuze & Guattari, 2004) que impeçam nossos sistemas de assumir estados homogêneos: purismos conceituais, especialismos. Ciências que se mobilizem para estar entre, desterritorializando categorizações, e transgredindo objetificações: “a” vida, “o” periférico, ”a” infância. “a” pesquisa.

 

Considerações Finais

 

Esta composição coletiva se propôs a experimentar uma escrita que tomasse como inspiração os processos de criações juvenis em torno da produção de narrativas sobre infâncias e juventudes periferizadas, dando enfoque para a reinvenção dos territórios desses dois segmentos populacionais como modo de re-existência. Tais experimentações e pistas buscaram dialogar com poemas escritos e escolhidos por (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo), de seu livro (livro a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois os autores participam da escrita deste artigo), e imagens produzidas e escolhidas por (a ser identificado, caso o artigo seja aceito, pois atua como participante da escrita do artigo), que também compôs o livro com suas fotografias. A participação de ambos estende-se durante o texto, para além da cessão das fotos e poemas, juntando-se às muitas mãos que produziram a pesquisa e seu texto. Tomamos aqui a própria escrita como uma aposta em narrativas que busquem se desvencilhar das armadilhas colocadas pela lógica representacional. Uma escrita que se disponha a compor com a acontecimentalização produzida pelos encontros e os deslocamentos vividos aberturas às inventividades coletivas que desalinham/desestabilizam concepções instituídas sobre periferias, infâncias e juventudes. Para além disso, esse texto também propõe pistas que decolonizem o dizível e o visível através de narrativas artísticas e políticas, pondo em xeque saberes e lugares da e na pesquisa.

As composições que experimentamos não versam sobre princípios e receitas de como decolonizar concepções hegemônicas, até porque não há nada mais colonizador que apontar regras de como os corpos devem se dispor nos encontros. A aposta é na força que o instituinte tem de propor novas disposições, a partir do questionamento e deslocamento de lugares-comuns, familiarizados, verticalizados, homogeneizados. Tal força emerge a partir dos encontros e dos planos comuns que se produzem. A proposta aqui relatada foi a de criar linhas que pudessem se transversalizar por meio de cantos de poetas- fotógrafos e de estudantes. Buscamos não apartar a produção artística de um ethos político e de produção do conhecimento, assim como não apartamos as ressonâncias que as produções artísticas proporcionaram, pois pensar é também fazer canto, criar problema é também criar territórios existenciais, outros mundos possíveis.

 

 

Referências

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