Revista de Psicologia, Fortaleza, v.14, e023005 jan./dez. 2023
DOI: 10.36517/revpsiufc.14.2023.5
RECEBIDO EM: 25/07/2022
PRIMEIRA DECISÃO EDITORIAL: 18/08/2022
VERSÃO FINAL: 05/10/2022
APROVADO EM: 23/10/2022
Grupo de Gestantes “Ser Mãe”: Uma Experiência de Estágio em Uma Unidade Básica de Saúde
"Being a Mother" Group of Pregnant Women: An Internship Experience In a Basic Health Unit
Marciane Maria Varotto
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Erechim, Rio Grande do Sul, Brasil. Psicóloga. https://orcid.org/0000-0003-0922-9322. marcianevarotto@hotmail.com
Mariana Alievi Mari
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Erechim, Rio Grande do Sul, Brasil. Psicóloga, professora do Curso de Psicologia e Supervisora de Estágio em Psicologia Social e Institucional, Drª em Ciências da Saúde. https://orcid.org/0000-0001-9639-9682 . marianamari@uricer.edu.br
Resumo
Este relato de experiência tem como objetivo apresentar a realização de um Grupo de Gestantes como prática de estágio curricular do Curso de Psicologia em uma Unidade Básica de Saúde, em Erechim/RS. O grupo buscou contribuir com a saúde das mulheres no período gestacional, promovendo um espaço de conhecimento, de acolhimento, de escuta e de troca de experiências, possibilitando o desenvolvimento de maior autonomia e compreensão das mudanças na gestação ao nascimento do bebê e ampliação do acesso aos serviços de saúde mental. Participaram do grupo 40 gestantes, entre 15 e 37 anos, em períodos gestacionais variados, em acompanhamento pré-natal. Realizado semanalmente, no formato de um grupo aberto e concomitante às consultas pré-natais, a partir de 05 temas principais, realizado um assunto por mês, além da escuta e do acolhimento das demandas. Os resultados se mostraram positivos devido à troca de experiências, à similaridade nas vivências, à escuta e ao acolhimento especializado.
Palavras-chave: Grupo de gestantes; saúde da mulher; atenção básica; psicologia social.
Abstract
This experience report aims to present the realization of a Group of Pregnant Women as a curricular internship practice of the Psychology Course in a Basic Health Unit in Erechim/RS. The group sought to contribute to the health of women in the gestational period, promoting a space for knowledge, reception, listening and exchange of experiences, enabling the development of greater autonomy and understanding of the changes in pregnancy to the birth of the baby, and expansion of access to services of mental health. 40 pregnant women participated in the group, between 15 and 37 years old, in different gestational periods, in prenatal care. Held weekly, in the format of an open group and concomitant with prenatal consultations, from 05 main topics, with one subject per month, in addition to listening and meeting demands. The results were positive due to the exchange of experiences, similarity in experiences, listening and specialized reception.
Keywords: Group of pregnant women; women's health; primary care; social psychology.
O Brasil teve avanços históricos na saúde com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), pois é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo que busca garantir o acesso à saúde para promover a melhor qualidade de vida, gerido e de responsabilidade pactuada nas esferas dos governos federal, estadual e municipal (Ministério da Saúde, 2011). Nesse contexto, há uma preocupação das políticas públicas com a integralidade da saúde da mulher que circunda os aspectos físicos, sociais e psicológicos, destacando aqui, o período gestacional (Santos & Assis, 2019).
Santos e Assis (2019) citam que, em 2004, o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes (PAISM), a qual tem vários objetivos ligados à integralidade e à promoção da saúde. As principais metas dessa política são a atenção na área obstétrica, no planejamento familiar, na assistência em todas as fases da vida, no acompanhamento clínico ginecológico e na área da reprodução (planejamento, gestação, parto e puerpério) através de um atendimento humanizado.
Diante dessas políticas públicas e das necessidades em torno do período gestacional, ressalta-se a importância de uma escuta e de acompanhamento psicológico qualificados, que podem ser realizados através de grupos de gestantes nas UBS (Unidades Básicas de Saúde). Para Nunes et al. (2021), o grupo de gestantes é considerado um espaço para esclarecer dúvidas e possibilitar a vivência com segurança e confiança do ciclo gravídico puerperal, refletindo no autocuidado da mulher e no cuidado com o bebê de maneira qualificada.
Resultados de um estudo com um grupo de gestantes mostram como positivas a troca de experiências entre elas e geram aprendizado conjunto sobre o período gestacional, pois há uma similaridade das vivências, refletindo na redução de medo e maior segurança sobre o período gestacional (Teixeira et al., 2016). Ainda segundo os autores, durante a gestação, as mulheres passam por mudanças físicas e emocionais, muitas vezes, não contempladas nas consultas de pré-natal, pois geralmente o foco maior está na saúde do bebê. Klein e Guedes (2008), corroboram citando que a experiência de participar do grupo de gestantes favorece a reflexão sobre as experiências emocionais, ideias e sentimentos. Possibilita também vivenciar a gestação de modo ativo, proporcionando um local adequado para que possam expressar dúvidas, ambivalências, medos, angústias, receios, dificuldades e preocupações, que podem resultar em alívio, encorajamento, autonomia e maior bem-estar (Klein & Guedes, 2008).
Dessa maneira, os grupos tornam-se uma estratégia para atender as necessidades das próprias gestantes, esclarecer dúvidas, oportunizar melhor compreensão do processo gestacional e proporcionar um trabalho conjunto de troca de diferentes vivências e de conhecimentos entre as próprias gestantes e a equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF), aumentando o vínculo dessas com os profissionais da ESF e diminuindo inseguranças, medos e ansiedades (Teixeira et al., 2016; Brasil, 2005; Marcon, 2016).
Diante dos diversos benefícios das práticas grupais, na esfera da ESF, as intervenções acontecem geralmente através de grupos psicoeducativos que objetivam, orientar e proporcionar o autocuidado numa perspectiva de promoção, prevenção e controle na área da saúde, de uma forma acolhedora e humanizada (Cavalcante, Silva, Souza, Dias & Parente, 2016).
Conforme Lemes e Ondere Neto (2017), a psicoeducação é uma técnica psicológica e pedagógica que objetiva ensinar e ajudar a pessoa a entender e ampliar o conhecimento de diferentes doenças, o seu tratamento, a qual pode ser aplicada em diversas áreas na promoção de saúde. Essa técnica pode utilizar diferentes recursos didáticos e pode contar com profissionais de uma equipe multidisciplinar, através de um olhar integral sobre o sujeito.
Quando se trata dos temas que podem ser trabalhados no grupo de gestantes, Santos e Assis (2019), destacam: fortalecimento de laços afetivos mãe e bebê; autoestima da gestante; mudanças na gravidez (físicas, psicológicas e sociais); estresse na gravidez; gravidez e sexualidade; importância do pré-natal; sentimentos e percepções durante a gestação; e fantasias e percepções em relação à sociedade, ao eu, dentre outros.
Muitos outros autores levantam aspectos que podem ser abordados nas intervenções com o grupo por configurarem fatores de extrema importância no período gestacional e puerperal como: os três transtornos emocionais pós-parto - melancolia da maternidade (baby blues), psicose puerperal e depressão (Alt & Benetti, 2008); a relação mãe-bebê, pois a qualidade das relações iniciais entre a mãe e bebê, proporcionará que a criança tenha um desenvolvimento psíquico e emocional saudável (Mozzaquatro, Arpini & Polli, 2015); as mudanças vivenciadas no corpo devido a gestação (sentimentos de insatisfação), muitas vezes influenciando na autoestima diante do companheiro (vergonha); e desconforto físico relacionado ao 3º trimestre gestacional (Zanatta, Pereira & Alves, 2017). Porém, também se destacam, a partir das autoras citadas acima, as mudanças positivas no modo de ser após as mulheres se tornarem mães, como amadurecimento, responsabilização e paciência com o bebê e demais pessoas.
Outro aspecto que deve ser considerado neste contexto são as mudanças na relação entre a mãe e o pai do bebê, quando sentimentos de ciúmes dos companheiros da relação mãe-bebê podem aparecer, já que o nascimento de uma criança marca um evento familiar, em que também o pai passa por um período de adaptação e mudança e precisa sentir-se incluído na nova organização familiar (Zanatta et al., 2017).
Todos esses temas podem ser abordados no grupo de gestantes, espaço que servirá para o apoio a esse público em suas angústias, medos, ansiedades, fantasias, ajudando-as na superação desses anseios; promoção no estabelecimento do vínculo afetivo entre a gestante e o bebê, criando condições de amor e cuidados (Santos & Assis, 2019) e prevenção de eventos negativos para a gestante e para o bebê, como a depressão pós-parto (Silva & Donelli, 2016).
Nesse contexto, o psicólogo tem um papel de facilitador proporcionando empoderamento e conscientização dessas mulheres, em um período em que ocorrem tantas mudanças biopsicossociais (Santos & Assis, 2019).
Deste modo, justifica-se a realização do grupo de gestantes pela área da Psicologia em uma UBS, localizada em um bairro na cidade de Erechim/RS, a partir de situações relatadas pelos profissionais de saúde e do grau de vulnerabilidade social em que muitas gestantes se encontravam. Ademais, é notória a necessidade de acolhimento, de escuta e de desenvolvimento dessa população para que se percebam como seres responsáveis e com capacidades/habilidades para contribuir com a sua própria saúde, a do bebê e da comunidade em que vivem.
Para tanto, o presente artigo é um relato de experiência do grupo de gestantes “Ser mãe” que teve como objetivo contribuir com a saúde das mulheres no período gestacional, promovendo um espaço de conhecimento, acolhimento, escuta e troca de experiências entre as usuárias da UBS, possibilitando a autonomia, maior compreensão das mudanças da gestação ao nascimento do bebê, e ampliação do acesso aos serviços de saúde mental. O artigo foi encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional Integrada do Alto do Uruguai e das Missões – URI - Campus Erechim e aprovado, conforme parecer CAAE 57140022.7.0000.5351.
Relato de experiência
Através das demandas identificadas, foi proposta a realização de um grupo de gestantes denominado “Ser mãe” em uma UBS, localizada na cidade de Erechim, região norte do Estado do Rio Grande do Sul. A proposta fez parte de uma das práticas de estágio curricular do curso de Psicologia na Ênfase de Práticas Sociais e Institucionais, que conta com carga horária semanal de 12 horas, realizada no 9º e 10º semestre do curso.
Salienta-se que, a demanda dessa ação foi identificada devido ao número elevado de gestantes (70 gestantes cadastradas no território da UBS) e do grau de vulnerabilidade da área, além de um levantamento com os profissionais de saúde, visitadora do PIM (Programa Infância Melhor), visitas domiciliares, observações e atendimentos realizados. Os assuntos trabalhados nos encontros do grupo de gestantes foram escolhidos após revisão da literatura, contato com os profissionais da UBS, e por sugestões das próprias gestantes a partir de uma conversa.
O grupo ocorreu no período de junho a novembro de 2021, contando com 18 encontros ao todo com duração média de uma hora e trinta minutos cada. Participaram do grupo o total de 40 gestantes, com idades entre 15 e 37 anos, dessas, 18 estavam na 1ª gestação, 16 na 2ª gestação, 03 na 3ª gestação e 03 na 4ª gestação. As participantes se encontravam em períodos gestacionais variados (entre 1° ao 9° mês), cadastradas na UBS e faziam acompanhamento pré-natal. Devido à pandemia do COVID-19 e aos cuidados necessários para o período gestacional, foi limitado o número máximo de 10 gestantes por encontro. Foram tomados todos os cuidados necessários para a realização do grupo, como distanciamento adequado, uso de máscaras e álcool em gel.
A atividade foi conduzida pela estagiária de psicologia no formato de um grupo aberto psicoeducativo, de escuta e acolhimento. A escolha pelo método psicoeducativo, deu-se por ser uma prática que auxilia as gestantes a entender suas emoções, as mudanças nessa fase, adquirindo informação e conhecimentos adequados, além de, proporcionar autonomia, maior segurança e participação ativa nas suas próprias demandas (Lemes e Ondere Neto, 2017).
O grupo acontecia concomitante às consultas de pré-natal, ou seja, durante a espera e após a consulta, as gestantes eram convidadas a participarem do grupo. O grupo acontecia todas as quintas-feiras, das 13h às 14h30min, na sala de reuniões da UBS, nos dias das consultas pré-natais mensais. Sendo assim, as gestantes participavam do grupo uma vez por mês de acordo com o agendamento da sua consulta pré-natal. Além disso, devido a algumas mulheres estarem no final da gestação e outras no início, nem todas participaram de todos os encontros.
Durante a realização do grupo, houve entradas e saídas das gestantes da sala, para a consulta obstétrica. No entanto, para aquela que desejou retomar algum aspecto do encontro que tenha sido tratado no momento de sua ausência, foi disponibilizado um tempo no final do encontro.
Participaram também do grupo, as ACS (Agentes Comunitárias de Saúde), as quais estiveram presentes em 09 encontros, além delas, a Enfermeira (Coordenadora da UBS) participou de 02 encontros. A participação das mesmas foi avaliada como positiva pela troca de informações e orientações realizadas (importância do aleitamento materno, informações sobre o parto, como amamentar, relato de experiência, etc.).
Os encontros do grupo de gestantes “Ser Mãe” foram organizados a partir de 05 temas principais, divididos em 05 módulos, desenvolvido um assunto por mês, conforme segue:
Módulo 01: Apresentação do formato do grupo e participantes, fortalecimento de vínculo, expectativas e dúvidas sobre a gestação;
Módulo 02: Mudanças vivenciadas na gestação e após o nascimento do bebê (físicas, emocionais e relacionais), gravidez: expectativa x realidade;
Módulo 03: Diferença entre Baby Blues e depressão pós-parto, quando procurar ajuda;
Módulos 04: Relação e vínculo mãe-bebê;
Módulo 05: Fechamento e avaliação da experiência.
A metodologia utilizada no desenvolvimento de cada módulo, foi através de técnicas expositivas-dialogadas, troca de experiências entre as gestantes, leitura e discussão de texto e esclarecimento de dúvidas. Cada encontro foi organizado em três momentos:
1) apresentação das participantes e proposta de trabalho do módulo;
2) apresentação do tema através da metodologia expositiva dialogada, articulada com as experiências do grupo; e
3) fechamento, dúvidas e avaliação do encontro (por escrito e sem identificação).
No decorrer dos encontros, os temas, as atividades e a metodologia das ações foram adaptadas conforme a necessidade e demandas das gestantes e da UBS, assim como, a necessidade de adequação de acordo com a entrada de novas gestantes no grupo e do período gestacional das participantes. Ou seja, os assuntos dos módulos, na maior parte dos encontros foram mesclados, assim, realizando um apanhado geral e contemplando o básico de informações a todas as gestantes. Em alguns módulos, devido ao conteúdo ansiogênico trazido pelas gestantes, ao invés de falar do assunto proposto, foi realizado acolhimento, escuta e orientação, o que se avaliou como o mais necessário para aquele momento.
Durante a realização dos encontros, duas gestantes foram encaminhadas para psicoterapia na UBS e uma recebeu acompanhamento individual pela estagiária. Esta demanda foi identificada a partir do conteúdo de suas falas e sintomas (sofrimento psíquico/choro/humor deprimido) por causa da gestação (não desejada, medos, tristeza, preocupação com a saúde do bebê devido histórico de complicações nas gestações anteriores, nova configuração familiar, uso de drogas no ambiente familiar, falta de rede de apoio) e ao histórico de depressão da gestante, anterior a gravidez.
Nesse sentido, a seguir serão listados os principais aspectos tratados nos encontros apontados pelas gestantes:
- Medos: de não ser uma boa mãe, de não ter leite para amamentar, de não ter o apoio da família, de não conseguir realizar o parto normal, da cesariana (anestesia e recuperação), das mudanças em cada fase da gestação, de sofrer aborto, com a saúde do bebê, com a própria saúde física (pressão alta/diabetes/ pré-eclâmpsia), de que aconteça algo com ela e o bebê durante o parto, da dor do parto, dos ossos não abrirem (parto normal/violência obstétrica), de ficar noites sem dormir, de amamentar (dor/rachaduras), de não dar conta de mais um filho (nova configuração familiar) e da insegurança na criação e educação dos filhos.
- Mudanças físicas e psicológicas da gestação: cólicas gestacionais nos primeiros meses, seios inchados, enjoos, sonolência, irritabilidade, maior cansaço/inchaço/dores/dificuldades no final da gestação, raiva e maior sensibilidade emocional (choro fácil).
- Dúvidas: do que fazer quando o bebê chorar, se vão dar conta de tudo, até que período amamentar a criança, como identificar quando o bebê precisa de algo ou está com fome, como proceder e como conduzir a atenção aos demais filhos após o nascimento do bebê, relação com o companheiro e mitos sobre a gestação.
- Sofrimentos: falta de apoio familiar, gravidez não desejada ou não planejada, palpites dos familiares sobre a gestação e na educação dos filhos, sobrecarga nas atividades domésticas, dificuldades físicas e emocionais no final da gestação, perda da autonomia, trabalho para cuidar dos filhos, abrir mão e ter que esperar para alcançar objetivos pessoais devido a gravidez, ansiedade, foco da família no bebê e a sensação da mãe de ser deixada de lado e depressão pós-parto.
- Sentimentos nos primeiros dias do nascimento do bebê: tristeza, raiva, medo, não saber o que fazer diante do choro do bebê, cansaço físico e psicológico, sentimento de incapacidade e de não ser uma boa mãe.
As gestantes verbalizaram em muitos momentos como os encontros foram positivos, destacando a oportunidade de troca de experiências e percepções, o que ajudou agregando conhecimento a respeito deste período, aliviando ansiedade e medos. Para tanto, através do grupo de gestantes identificaram-se dúvidas, medos, ansiedades, sofrimento psíquico, falta de rede de apoio, conflitos familiares (uso de drogas, falta de apoio, sobrecarga, violência psicológica, dificuldades financeiras, etc.), gravidez indesejada, ambiguidade de sentimentos, entre outros, fatores que estavam gerando sofrimento.
A partir das informações compartilhadas e da identificação desses aspectos, foi possível realizar intervenções e agir preventivamente. Em todos os encontros, foi realizado acolhimento, escuta das demandas, orientações, esclarecimento de dúvidas. Além disso, foi orientado sobre a importância de sanarem as dúvidas com os profissionais da saúde, a importância em pedir ajuda (rede de apoio e profissional), e ainda, troca de experiências e sentimentos comuns entre as gestantes.
Dessa forma, observa-se que a intervenção através da realização do grupo de gestantes pode ser um meio eficaz de acompanhamento, psicoeducação, compartilhamento de experiências, troca de informações, esclarecimento de dúvidas, apoio e superação diante de angústias, medos, ansiedades e fantasias, facilitando assim, o bem-estar, a saúde da gestante e melhores condições de cuidados e amor para a chegada do bebê (Santos & Assis, 2019).
Esses aspectos de bem-estar, saúde, conhecimento e melhores condições de cuidados consigo e com o bebê puderam ser evidenciados através de uma avaliação escrita realizada pelas gestantes presentes no último encontro. Foi solicitado pela estagiária para que avaliassem (sem se identificar) os encontros e a percepção de cada uma sobre o grupo.
O retorno das participantes do grupo foi considerado positivo, diante dos seguintes aspectos pontuados na avaliação: agradeceram a oportunidade; relataram ter gostado de participar; consideraram os encontros úteis e de ajuda; destacaram que sanaram dúvidas; escutaram outras experiências; ouviram ideias novas e aprenderam coisas que não sabiam, consequentemente se sentiram mais preparadas e informadas sobre a gestação, o parto e após o nascimento do bebê. Destacaram também que, receberam atenção e uma escuta que possibilitou que falassem sobre seus sentimentos e emoções, o que proporcionou alívio e momentos de desabafo.
Para tanto, as intervenções grupais oportunizam um espaço para promover a saúde da mulher gestante, por meio do compartilhamento de reflexões e informações sobre as mudanças que estão ocorrendo nessa fase (Klein & Guedes, 2008). Detectar precocemente os problemas e permitir que a gestante receba o acompanhamento adequado pode diminuir complicações obstétricas e promover uma melhor qualidade de vida e da relação mãe-bebê, sendo assim, diferentes ações de educação em saúde podem ser feitas, entre elas, a realização de grupos (Pio & Oliveira, 2014).
Considerações finais.
Diante da literatura e dessa experiência, percebe-se que, a realização do grupo de gestantes, além de ter oferecido, através da psicoeducação, informação e conhecimento adequados para esta fase, proporcionou momentos de escuta especializada na área de saúde mental, acolhimento de conteúdos que estavam gerando sofrimento psíquico, orientações, esclarecimentos de dúvidas, trocas de experiências e apoio às gestantes. Evidencia-se que o grupo de gestantes é uma estratégia de saúde que complementa as consultas pré-natais, atinge um maior número de pessoas, tem baixo custo e promove a construção de conhecimentos, mobiliza fantasias, diminui dúvidas do processo gestacional, contribuindo assim, com as premissas do Ministério da Saúde quanto à assistência ao ciclo gravídico puerperal: obter gestação, parto e nascimento saudáveis (Domingues, Pinto & Pereira, 2018).
Entretanto, uma dificuldade sentida nesta prática foi iniciar e concluir os assuntos com todas as gestantes, pois conforme iam para a consulta pré-natal, algumas não retornavam para o grupo devido a atividades de pesagem, entre outras. O que pode ser reavaliado juntamente com a equipe da UBS e se possível, readequar procedimentos para uma maior otimização do grupo. Porém, mesmo diante das saídas e interrupções, avalia-se essa ação como positiva, pois muito mais que falar sobre os assuntos propostos, é oferecer um momento de escuta, ajuda e acolhimento de aspectos que estão gerando sofrimento para as mulheres no período gestacional.
Mesmo diante das limitações, pontua-se os benefícios ligados à promoção e à prevenção em saúde, que fortalece a realização do grupo de gestantes nas UBS, juntamente com as datas das consultas pré-natais mensais, durante todo o período gestacional. E além da área de psicologia, também são válidos módulos com outros profissionais, proporcionando um acompanhamento maior e mais próximo da equipe multidisciplinar. Ressalta-se também, como benefício a escrita deste relato de experiência, para que outras pessoas tenham conhecimento do retorno positivo dessa atividade.
Referências
Alt, M. S., Benetti, S. P. C (2008, abr./jun.). Maternidade e depressão: impacto na trajetória de desenvolvimento. Psicologia em Estudo. Maringá, vol. 13, Nº. 2, p. 389-394. Recuperado em 14 de junho de 2021, de https://www.scielo.br/j/pe/a/QdKvmcG5mtcgm8dTJHCtKQC/
Brasil (2005). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de ações programáticas estratégicas. Área técnica de saúde da mulher. Pré-natal e puerpério:atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde. Recuperado em 29 de setembro de 2022, de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prenatal_puerperio_atencao_hum nizada.pdf
Cavalcante, V. O., M., Silva, M. A. M., Souza, A. M. S., Dias, M. S. A. & Parente, A. R. (2016). Abordagem grupal na estratégia de saúde da família. ETEP: Rev. Tendência da Enfermagem Profissional; 8 (3): 1974-1979. Recuperado em 29 de setembro de 2022, de http://www.coren-ce.org.br/wp-content/uploads/2019/03/ABORDAGEM-GRUPAL-NA-ESTRAT%C3%89GIA-SA%C3%9ADE-DA-FAM%C3%8DLIA.pdf
Domingues, P., Pinto, F. S.; & Pereira, V. M (2018, março). Grupo de gestantes na atenção básica: espaço para construção do conhecimento e experiências na gestação. Revista da Faculdade de Ciência Médicas. Sorocaba, 20 (3): 150-4. Recuperado em 17 de novembro de 2021, de https://revistas.pucsp.br/index.php/RFCMS/article/view/30648/pdf
Klein, M. M. S., & Guedes, C. R (2008, dezembro). Intervenção psicológica a gestantes: contribuições do grupo de suporte para a promoção da saúde. Psicologia: ciência e profissão, 28 (4), 862-871. Recuperado em 15 de junho de 2021, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/pcp/v28n4/v28n4a16.pdf https://www.scielo.br/j/pcp/a/wfFX8CYxf3bTTL5JWNT3F5D/?format=pdf&lang=pt
Lemes, C. B., Ondere Neto, J (2017, março). Aplicações da Psicoeducação no contexto de saúde. Temas em Psicologia.Vol. 25, Nº 1, 17-28. Recuperado em 29 de setembro de 2022, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v25n1/v25n1a02.pdf
Marcon. G. B (2016). Formação do grupo de gestantes na Estratégia de Saúde da Família Planalto na cidade de Brusque-SC. Monografia, Univ. Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. Recuperado em 29 de setembro de 2022, de https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/12696/1/Graciele_Bianchi_Marcon.pdf
Ministério da Saúde (2011). SUS a saúde do Brasil/Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Subsecretaria de Assuntos Administrativos. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Recuperado em 22 de maio de 2021, de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sus_saude_brasil_3ed.pdf
Mozzaquatro, C. O., Arpini, D. M., & Polli. R. G (2015, agosto). Relação mãe-bebê e promoção de saúde no desenvolvimento infantil. Psicologia em Revista. Belo Horizonte, vol. 21, Nº. 2, p. 334-351. Recuperado em 15 de junho de 2021, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/per/v21n2/v21n2a08.pdf
Nunes, G. de P., Negreira, A. S., Costa, M. G., Sena, F. G., Amorim, C. B., & Kerber, N. P. da C. (2021, janeiro). Grupo de gestantes como ferramenta de instrumentalização e potencialização do cuidado. Cidadania em Ação: Revista de Extensão e Cultura, Florianópolis (SC), 1 (1), 77-90. Recuperado em 14 de junho de 2021, de https://www.revistas.udesc.br/index.php/cidadaniaemacao/article/view/10932/pdf
Pio, D. A.M.; Oliveira, M. M (2014). Educação em saúde para atenção à gestante paralelo de experiências entre Brasil e Portugal. Saúde Social. São Paulo, vol. 23, Nº. 1, p. 313-324. Recuperado em 14 de novembro de 2021, de https://www.scielo.br/j/sausoc/a/ND7gF9BrqTJgz6NTbphZDTg/?format=pdf&lang=pt
Santos, N. V. M.; Assis, C. L (2019). Psicologia e gravidez: o papel do psicólogo a partir de uma pesquisa-intervenção junto a mulheres grávidas do interior de Rondônia, Brasil. Revista da Associação Latino Americana para a formação e ensino de Psicologia. Vol. 7, Nº. 20. ISSN: 2007-5588. Recuperado em 13 de novembro de 2021, de http://integracionacademica.org/attachments/article/239/07%20Psicologia%20Gravidez%20NVMoreira%20CLAssis.pdf
Silva, H. C.; Donelli, T. M. S (2016). Depressão e maternidade à luz da psicanálise: uma revisão sistemática da literatura. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, 28 (1), 83-103. Recuperado em 14 de junho de 2021, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/pc/v28n1/a05.pdf
Teixeira, F. V., Linhares, A. E. P., Guimarães, R. X., Cavalcante, M. M. B., Lopes, A. I. do N., & Teixeira, M. A. (2016, jan./jun.). Oficinas educativas para um grupo de gestantes acerca do período gravídico. SANARE: Revista de Políticas Públicas, Sobral, vol. 15, Nº. 01, p. 119-125 – 119. Recuperado em 14 de junho de 2021, de https://sanare.emnuvens.com.br/sanare/article/view/937/566
Zanatta, E., Pereira, C. R. R., & Alves, A. P. (2017, jul./set.). A experiência da maternidade pela primeira vez: as mudanças vivenciadas no tornar-se mãe. Pesquisas e práticas psicossociais. São João Del-Rei, Pesquisas e Práticas Psicossociais, 12 (3), 1-16. Recuperado em 16 de junho de 2021, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ppp/v12n3/05.pdf