Juventude precarizada e racialização do Tráfico de Drogas //Precarious youth and the racialization of drug trafficking

Auteurs

DOI :

https://doi.org/10.36517/revpsiufc.14.2023.e023012

Mots-clés :

Juventude, Narcotráfico, Racialização, Criminalização, Proibicionismo

Résumé

Este artigo, fruto de pesquisa realizada com jovens inseridos no tráfico de drogas, objetiva analisar os sentidos produzidos por jovens negros e periféricos a respeito de suas experiências no mercado ilegal de drogas, a partir de uma perspectiva que interseccione os marcadores de raça e classe social. Realizou-se uma investigação qualitativa com nove jovens em cumprimento de medida socioeducativa, durante cinco meses. Nesse período, empregou-se a observação participante, diário de campo e entrevistas narrativas, a partir do método de história de vida, buscando explicitar os entrelaçamentos das trajetórias e condições de vida narrados pelos sujeitos e os desdobramentos em suas experiências no tráfico de drogas. Para tanto, baseou-se em referencial teórico que aprofunda a discussão sobre a juventude negra e periférica como objeto permanente do poder punitivo. A criminalização desse contingente é uma constante histórica, reproduz a miséria e a segregação. Nesse sentido, os resultados desse estudo mostram que o tráfico de drogas é reiteradamente uma alternativa ao cenário de escassez de direitos e políticas públicas destinadas a esse contingente. Assim, essa atividade se apresenta como um caminho para esses jovens, contraditoriamente, sonharem e buscarem uma vida autônoma, distinta da realidade que os cerca.

Téléchargements

Les données relatives au téléchargement ne sont pas encore disponibles.

Bibliographies de l'auteur

Flávia Fernandes Guimarães, Universidade Federal de Juiz de Fora

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Formação em Teoria e Técnica em Psicanálise pela Sociedade Brasileira de Estudos Psicanalíticos de Juiz de Fora (SEP/JF). Pós graduada em Gestão Estratégica de Pessoas pelo Centro Universitário UNA. Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/Minas). 

Fernando Santana de Paiva, Universidade Federal de Juiz de Fora

Psicólogo e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Doutor em Psicologia (Psicologia Social) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) do Departamento de Psicologia da UFJF. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa sobre Sujeitos, Política e Direitos Humanos (NUPSID) da UFJF. Integrante do GT A Psicologia Sócio-histórica e o contexto brasileiro de desigualdade social, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). Trabalho e tenho interesse nos seguintes campos e temáticas: Psicologia social e Psicologia Política; Saúde Mental; Violências, Direitos Humanos e Políticas Públicas; Subjetividade e modos de vida da classe trabalhadora.

Références

Almeida, S (2018). O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento.
Baratta, A (2002). Criminologia crítica e crítica do direito penal. Uma introdução à sociologia do direito penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 5ª edição. Rio de Janeiro: Revan.
Bocayuva, H & Nunes, S (2009). Juventudes, subjetivações e violências. Rio de Janeiro: Contra Capa.
Boiteux, L (2019). A ação social como estratégia racista de controle e a Guerra às drogas. Le Monde Diplomatique Brasil, 13 (145). Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-proibicao-como-estrategia-racista-de-controle-social-ea-guerra-as-drogas.
Brasil. Lei nº 8.069 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Presidência da República, Casa Civil, Brasília. Recuperado de https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/camara/estatuto_crianca_adolescente_9ed.pdf.
Faria, AMC & Barros, VA (2011). Tráfico de drogas: uma opção entre escolhas escassas. Revista Psicologia & Sociedade. 23 (3), 536-544.
Fausto, B (2000). Crime e cotidiano: a criminalidade em São Paulo (1880-1924). São Paulo: EDUSP.
Feffermann, M (2006). Vidas Arriscadas: o cotidiano dos jovens trabalhadores do tráfico. Petrópolis: Vozes.
Feffermann, M (2018). O jovem/adolescente “trabalhador” do tráfico de drogas. Cadernos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, São Paulo, 3 (15), 137-155.
Fernandes, F & Moreira, M (2013). Considerações metodológicas sobre as possibilidades de aplicação da técnica de observação participante na Saúde Coletiva. Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 23 (2), 511-529.
Fernandes, F (1972). O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difusão Europeia do Livro.
Flauzina, ALP (2008). Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro. Rio de Janeiro: Contraponto.
França, RS (2016). Liberalismo, Biopoder e Racismo na guerra às drogas: Nota em torno de uma política. Olhares Plurais. Revista Eletrônica Multidisciplinar, 1 (14).
Galdeano, AP & Almeida, R. (2018). Tráfico de drogas entre as piores formas de trabalho infantil: mercados, famílias e rede de proteção social. São Paulo: CEBRAP.
Gomes, C et al. (2015). Políticas públicas e vulnerabilidade social: uma reflexão teórica a partir de experiência de estágio. Revista Ciência em Extensão. São Paulo, 11 (1), 116-130.
Guimarães, F (2021). De criança normal a menino da boca: trajetórias, resistências e perspectivas de jovens do tráfico de drogas. [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Juiz de Fora]. https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/13664/1/flaviafernandesguimaraes.pdf.
Karam, ML (2013). Proibição às drogas e violação a direitos fundamentais. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais, 7 (25), 169-189.
Lyra, D (2013). A república dos meninos: juventude, tráfico e virtude. Rio de Janeiro: Ed. Mauad X/FAPERJ.
Malvasi, P (2010). Violentamente pacíficos: desconstruindo a associação juventude e violência. São Paulo: Cortez.
Mbembe, A (2016). Necropolítica: biopoder soberania, estado de exceção, política da morte. Arte & Ensaios Revista do PPGAV/EBA/UFRJ, 32 (0), 123-151.
Minayo, MC (2017). Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, São Paulo, 5 (7), 01-12.
Oliveira, C (2019). O retrocesso na política nacional de drogas do governo Bolsonaro. Carta Capital, Brasil. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/hempadao/o-retrocesso-na-politica-nacional-de-drogas-do-governo-bolsonaro/.
Oliveira, N & Ribeiro, E (2018). O massacre negro brasileiro na guerra às drogas. Sur - Revista Internacional de Direitos Humanos, 15 (28), 35-43.
Pereira, E et al. (2017). História de Vida, Pesquisa Narrativa e Testemunho: Perspectivas nos Estudos Biográficos. Quaderns de Psicologia, 19 (3), 277-286.
Pessoa, A et al. (2017). Desafios éticos na pesquisa com adolescentes envolvidos no tráfico de drogas. Revista da SPAGESP. Ribeirão Preto, 18 (2), 100-114.
Rocha, AP (2015). Relações de trabalho no narcotráfico: exploração, riscos e criminalização. Argumentum, Vitória (ES), v (1), 55-68.
Santos, G (2008). Da lei do ventre livre ao Estatuto da Criança e do Adolescente: uma abordagem de interesse da juventude negra. Boletim do Instituto de Saúde, São Paulo, S (44), 15-18.
Sapori, L (2011). Mercado do crack e violência urbana na cidade de Belo Horizonte. Dilemas Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Rio de Janeiro, 5 (1), 37-66.
Scherer, G et al. (2018). Os dois lados da mesma moeda: urbicídio e juvenicídio na realidade brasileira. Iluminuras, Porto Alegre, 19 (47), 185-209.
Schwarcz, LM & Starling, HM (2018). Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras.
SEDESE, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (2020). Diagnóstico das Juventudes de Minas Gerais. Sistema Estadual de Redes em Direitos Humanos. Disponível em: http://ppsinajuve.ibict.br/jspui/handle/123456789/689.
Silva, V (2005). “Perdeu, passa tudo!”: a voz do adolescente autor do ato infracional. Juiz de Fora: UFJF.
Small, D (2016). A Guerra às drogas é um mecanismo de manutenção da hierarquia racial. [Entrevista concedida a Melo, D.]. Revista Carta Capital. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-guerra-as-drogas-e-um-mecanismo-de-manutencao-da-hierarquia-racial/.
Vogel, A (2011). Do Estado ao Estatuto: propostas e vicissitudes da política de atendimento à infância e adolescência no Brasil contemporâneo. A arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 287-321.
Wacquant, L (2008). As duas faces do gueto. Tradução de Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo.

Publiée

2023-04-01

Comment citer

Fernandes Guimarães, F., & Santana de Paiva, F. (2023). Juventude precarizada e racialização do Tráfico de Drogas //Precarious youth and the racialization of drug trafficking. Revista De Psicologia, 14, e023012. https://doi.org/10.36517/revpsiufc.14.2023.e023012