Revista de Ciências Sociais, v. 50, n. 2, 2019.
Jovens cristãos na educação pública:
novas abordagens analíticas quantitativas da religiosidade no Ensino Médio (2010-2016)
Fabio Lanza
Universidade Estadual de Londrina
lanza1975@gmail.com
Ileizi Fiorelli Silva
Universidade Estadual de Londrina
ileizisilva@hotmail.com
Luis Gustavo Patrocino
Universidade Estadual de São Paulo, Marília, Brasil
patrocinolg@gmail.com
As organizações religiosas brasileiras ocupam lócus de influência institucional e formativa dos jovens sendo, em muitas cidades e no campo, a única ou a principal opção cultural disponível para essa faixa etária de pessoas com idade entre 10 e 24 anos1. Dessa forma, as instituições religiosas continuam sendo importantes espaços de definições das identidades juvenis e, por vezes, seu mais importante arrimo ético. Consideramos, então, que é relevante construir modos de compreensão das ações juvenis e suas relações com as religiões.
Neste artigo,2 apresentamos uma forma de apreensão da realidade utilizando método e técnicas quantitativas com o duplo propósito: ao mesmo tempo em que a expõe, propor um modelo de análise quantitativa para dados religiosos e educacionais, que permitem refletir sobre inferências de alcance local e nacional. Os desafios de pesquisas quantitativas no âmbito religioso são grandes diante dos limites próprios a essas metodologias. Consideramos mais apropriado para os métodos quantitativos operar com o conceito de religião por se referir às relações institucionalizadas. Declinamos de mobilizar o conceito de religiosidades por ter um caráter mais “fluido”, mais flexível e que ofereceria mais limites para ser captado em termos quantitativos.
Diante das rápidas mudanças sociais que vêm ocorrendo no Brasil e no mundo e da presença de aspectos religiosos transpassando ações de violências ou pautas políticas3, cabe à produção científica das Ciências Humanas e Sociais aprofundar estudos sobre as temáticas que relacionem sociedade, indivíduo, religiões e educação na contemporaneidade com o propósito de perceber possíveis tendências de comportamento ou evidenciar características sociais, tanto no âmbito do micro como do macro social.4
Assim, nosso objetivo é analisar como os jovens brasileiros que estudam no Ensino Médio público se denominam religiosamente desde cinco pesquisas quantitativas diferentes (2010-2016). Além disso, perscrutar como esses dados sobre as declarações de adesão religiosa se relacionam entre si. Duas pesquisas são de abrangência nacional; a) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2010; b) Pesquisa Perfil Nacional da Juventude/PSNJ 2013; três de âmbito regional realizadas por laboratórios da Universidade Estadual de Londrina (UEL): a) O Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de Sociologia (LENPES), 2015; b) Laboratório de Ensino de Religiões e Religiosidades (LERR) 2015 e; c) Observatório da Educação (OBEDUC) do cursos de Ciências Sociais da UEL, 2016.
Neste artigo fazemos comparações entre as pesquisas supracitadas e para tal foi necessário, devido a critérios dos testes estatísticos utilizados, recortar as duas expressões de adesão religiosa com maior número de adeptos: Catolicismos e Protestantismos5.
Observamos em outras pesquisas qualitativas a tensão existente entre essas duas expressões de fé nos ambientes escolares, em momentos que ambas promoviam, por meio de agentes das escolas, ações de proselitismo religioso. Certamente, os conflitos com outras denominações religiosas também se intensificaram, após os anos de 1990. Entretanto, para este artigo, o recorte foi fixado nas duas correntes institucionais mais indicadas nas referidas pesquisas.
Por mais interessantes que sejam as várias nuances históricas do período colonial e imperial que tinha o catolicismo português como oficial e a transição deste para o romano6, nos ateremos a presença religiosa dentro do Estado Republicano que emergiu em 1889, mais precisamente, depois da década de 1940. No Censo de 1940 surgem as primeiras informações quantitativas sobre outras religiões tornando-o um ponto importante das análises de comportamento religioso no país. A Figura 1 apresenta a evolução do crescimento populacional e das religiões com maior número de declarantes. Nela é possível perceber a equivalência dos adeptos do catolicismo em relação a população geral até 1970. Também notamos a acentuação dessa perda de equivalência coincidentemente na mesma década em que a linha dos evangélicos ganha um incremento significativo em 1991.
Figura 1: Quantitativo religioso no Brasil |
Fonte: IBGE, série histórica pop060. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2014). Adaptado pelos autores. |
Esses dados ganham mais notoriedade se os observarmos sob o aspecto do crescimento demográfico. Uma vez que a reta da população apresenta uma linearidade ascendente sem interrupções, podemos perceber quanto cada uma das religiões ganharam de adeptos entre as décadas. Esses dados, contidos na Figura 2,7 facilitam a compreensão do processo de não crescimento de adeptos do catolicismo e de ganho dos protestantes se compararmos as linhas destas com a da população geral. Essa informação aponta para uma mudança significativa da estrutura religiosa nacional ao mesmo tempo em que os antagonismos expressos pelo desenho das linhas das religiões citadas começam a se evidenciar em outras esferas para além da moral, como a política e até mesmo a econômica.
Figura 2: Taxa de crescimento religioso e populacional entre os censos do período de 1940 a 2010 |
Fonte: IBGE, série histórica pop060. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2014) |
Nos censos de 1970 e 1980 já é possível perceber: a) um leve declínio da relação entre o crescimento do número de católicos e da população; b) a manutenção da taxa de crescimento protestantes; esses fatores antecipam a tendência das três décadas posteriores, contudo é no censo de 1991 que a nova condição fica confirmada.
Essa conjuntura é importante, pois é ela quem justifica nossa opção, neste artigo, para pensarmos a religião e os jovens uma vez que, a partir de 1991, o cenário religioso já se assenta sob bases de uma nova configuração. Para analisar essa ‘nova’ fase da religião brasileira optamos por recortar, dentro de toda a diversidade existente, um grupo nato neste período criando assim uma coorte. Entende-se por coorte o que Gonzalez (2014) descreveu:
O conceito de coorte, originário da demografia, se refere a um grupo de indivíduos que compartilham um mesmo evento em determinado momento temporal inicial, tal como os nascidos no mesmo ano ou período e que, na medida em que envelhecem, experimentam as mesmas transições e mudanças sociais com idades cronológicas próximas. O conceito de coorte se diferencia do conceito de idade, embora ambos coincidam quando se realiza uma única observação em um determinado momento do tempo. Mas na observação de vários períodos podem ser apreciadas as características de uma determinada coorte ao atravessar as diferentes idades. Por sua vez, os períodos nos quais sejam realizadas as observações, e as circunstancias históricas específicas, influenciam nas características do conjunto da população observada, atingindo indivíduos de idades diferentes e, portanto, de diferentes coortes de nascimento (GONZALEZ, 2014, p. 15).
Essa coorte surgida após 1991 que hoje pode ser categorizada como juventude, segundo a autora,
[...] compartilham um mesmo marco geracional no qual experimentam as mudanças da idade. Esse marco geracional não é só de natureza exógena – como são as mudanças na conjuntura política ou socioeconômica – senão que também está determinado por características endógenas: o tamanho relativo da coorte e as qualificações que vão adquirindo seus membros que lhe conferem suas características emergentes: escolaridade, atividade econômica, nupcialidade, entre outras (GONZALEZ, 2014, p. 19).
É justamente essa população nascida sob as marcas/tendências da concorrência entre as instituições religiosas, desde o final do século XX, que se torna mais uma variável importante para as Ciências Sociais. É nesse momento que surge no país seu maior contingente de jovens, formando uma coorte significativa sob vários aspectos.
Foi possível perceber na Figura 3 que a maior coorte brasileira em 2010 foi a de jovens entre 10-14 anos seguidas de perto por seu próximo recorte (20-24 anos). Dessa forma, conhecer como pensam ou se comportam esses jovens é fundamental para o planejamento das políticas públicas e outros tipos de ações visando formas de socialização de conteúdo plural e de reconhecimento das diferenças e diversidades religiosas.
Figura 3: População por faixas etárias |
Fonte: GONZALEZ, 2014, p. 48. |
Os conteúdos religiosos de matriz cristã visam produzir éticas de vida que não apenas definem a identidade dos professantes, mas muitas vezes, como devem se comportar em relação a outras confissões ou mesmo com adeptos cristãos de outras denominações, podendo ser tidos como “inimigos” competidores no “mercado” de bens e serviços religiosos. Esse cenário de antagonismo numérico entre católicos e protestante sugere uma investigação justamente nesse grupo etário para sabermos se e como eles têm incorporado essa dinâmica de conflito e disputa. Consideramos que o ambiente escolar se configura como melhor local para encontrar esse público, embora saibamos que nem todos os jovens estão nessa instituição por motivos de evasão e ou de abandono, ainda assim, o contingente existente indica uma concentração desse sujeito, sendo, portanto, um lócus de significativa representatividade amostral.
O principal desafio de comparar pesquisas é a definição dos critérios e limites para a composição de equiparações, uma vez que cada uma delas demarcou objetivos diferentes. Neste processo de ladear taxas entre diferentes bases é importante frisar e descrever os principais fatores almejando alcançar o leitor como interlocutor no diálogo sobre as experiências de pesquisas em que as dificuldades e as soluções poderão ser problematizadas
A primeira pesquisa utilizada como fonte é o Censo de 20108 realizado pelo IBGE sob o coorte de 10 a 24 anos de idade. Essa pesquisa tem âmbito nacional e serve como referência de comportamento nacional ao quais as demais se relacionarão.
A segunda pesquisa foi realizada a pedido da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), em 2013, denominada Perfil da Juventude Nacional e neste trabalho terá a sigla -PSNJ9, ela foi realizada em todo território nacional, totalizando 3.300 entrevistas com jovens de 15 a 29 anos e tem representatividade amostral significativa para todo território nacional, entre 13 de abril e 19 de maio do mesmo ano.
A terceira pesquisa foi realizada pelo grupo de pesquisadores das Ciências Sociais vinculadas ao Laboratório de Religiões e Religiosidades (LERR) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em parceria com o Programa Observatório da Educação das Ciências Sociais/CAPES (OBEDUC/ C.S-UEL), que teve como público 570 estudantes do ensino médio e do 9º ano do fundamental em oito (8) escolas públicas da cidade de Londrina entre setembro e dezembro de 2015, objetivava explorar as relações entre política, pensamento conservador e religião nas escolas onde o grupo ministrava palestras, aulas e cursos de formação continuada.
A quarta pesquisa foi realizada pelo Laboratório de Pesquisa, Ensino e Extensão de Sociologia – LENPES10 também em parceria com o OBEDUC– C.S, totalizando 1568 estudantes do ensino médio de Londrina-PR e Cambé-PR, em onze (11) colégios públicos e objetivava produzir um perfil dos estudantes do ensino médio de Londrina e região.
A quinta pesquisa foi realizada pelo grupo de pesquisadores do OBEDUC – CS-UEL, entre agosto e dezembro11 de 2016, coletou dados por meio de 881 questionários aplicados em seis (6) escolas públicas de Londrina e uma (1) de Rolândia. Objetivando fazer uma pesquisa longitudinal sobre o impacto das múltiplas desigualdades em âmbito escolar, o grupo produziu um questionário para compor um perfil dos estudantes que tivesse comparabilidade e aditividade com a realizada pelo LENPES, mas com o plus deste também servir como filtro e parâmetro para as incursões qualitativas da pesquisa. Uma vez que a quinta coleta foi posterior a do LENPES e a do LERR, valeu-se da experiência dessas para se aprimorar a nova coleta nas escolas. Dessa forma, os exercícios de pesquisa anteriores foram de fundamental importância para a realização da coleta do OBEDUC (2016).
Ressaltamos, mais uma vez, que as pesquisas locais foram frutos da relação do Observatório com os demais laboratórios. Fornecendo recursos financeiros, humanos e instrumentais, o OBEDUC serviu de ponto de apoio ao mesmo tempo que se valeu das experiências das pesquisas dos dois laboratórios, atuando como área de intersecção. As trocas foram muito significativas não apenas na produção de dados como também na formação dos envolvidos.
As primeiras comparações, entre as diferentes pesquisas, tangem a questão sobre adesão religiosa dos jovens.
Figura 4: Adesão religiosa |
Fontes: descritas e adaptado pelos autores. |
Como é possível notar as taxas de adesão religiosa são altas nas populações estudadas, contudo há uma diferença tanto entre as pesquisas nacionais (10,8%) quanto na média das diferenças nas pesquisas locais (8,1%). O teste de qui-quadrado12 define a relação entre as pesquisas e as opções de resposta como não-iguais, ou seja, há independência entre os dados. Portanto as respostas obtidas em cada pesquisa são diferentes entre si. Esse fato identifica que, embora todas tinham a intenção de ser significativas e representar certas populações, os dados religiosos não seguiram essa lógica mostrando, assim, nuances de heterogeneidade devido as amostragens e aos limites que esse tipo de análise possui.
Quando analisamos apenas as pesquisas locais temos a mesma resposta da análise do conjunto13, ou seja, em uma região com abrangência mais restrita os dados religiosos se comportam de maneira independente nas pesquisas. Tais fatos indicam que: a) a relação entre adesão e não adesão, embora tenham coeficientes muito diferentes com a preponderância da adesão sobre a não adesão; b) que essa diferença não poderia ser inferida para outras situações, tornando assim essa variável algo particular de cada universo amostral pesquisado. Dessa forma, quaisquer projeções realizadas sobre as taxas de adesão religiosa entre localidades diferentes precisam ser relativizadas, elas apontam uma realidade existente de alto percentual de adesão com uma tendência real nas escolas pesquisadas, mas com diferenças significativas que as deixam sem possibilidades de generalizações.
Conforme já indicado, está ocorrendo uma transformação no cristianismo brasileiro. A transição de membros parece ser interna. Assim olharemos para como essa coorte distribui as principais representantes do cristianismo brasileiro.
Figura 5: Taxa de católicos e protestantes |
Fonte: IBGE. Tabela 2104, SNJ, e autores. Nota: *Grupos de idade 10-14, 15-19 e 20-24 anos. |
Os dados nos permitem compreender que a presença da adesão religiosa cristã entre os jovens e a divisão entre as religiões é significativa. Somando católicos e protestantes temos como menor índice os 83% obtidos da pesquisa da PSNJ, de 2013, seguido dos 86% da pesquisa do OBEDUC (2016), 94% da pesquisa do LERR e 95% do CENSO 2010. Esses números são importantes, pois percebemos que a matriz cristã, quase não tem mais ‘espaço’ de ampliação, uma vez que vemos nas Figuras 1 e 2 a ascensão de protestantes e a queda de católicos, perguntamos: de qual contingente esses fiéis se originariam? A resposta expõe um comportamento social das últimas décadas, o fenômeno de trânsitos religiosos. A cristandade nacional, tende a repartir seus adeptos entre suas variadas formas de expressão.
A taxa de adeptos medidos pelo Censo de 2010 indica 64,63% de católicos, enquanto o protestantismo tem 22,16%. Quando comparamos essa marca na mesma pesquisa com as taxas obtidas no recorte etário realizado (70% e 25,3%), percebemos uma elevação dos índices nas religiões indicando uma adesão religiosa maior entre os jovens. Ainda assim, os valores não são tão discrepantes. Contudo, quando comparamos esse índice médio nacional com as demais pesquisas é possível perceber uma grande variação que tende ao decréscimo de adeptos do catolicismo e aumento do protestantismo. A variação do Censo 2010 de quase dois terços (⅔) de católicos para um terço (⅓) de protestantes se altera para meio (½) a meio (½) na pesquisa do LERR.
Quando observamos as duas pesquisas de âmbito nacional com as três realizadas no ambiente escolar surge uma nova evidência: as taxas obtidas pelo protestantismo nessa espacialidade são significativamente maiores. Para afirmarmos a significância estatística é preciso a construção dos intervalos de confiança para cada pesquisa, essa ação foi tomada seguindo as fórmulas fornecidas por Oliveira (2009, p. 188) e são apresentados no Quadro 1.
Quadro 1: Intervalo de proporções (em \%) | ||||
Católicos | Protestantes/Evangélicos | |||
Limite Inferior | Limite Superior |
Limite Inferior | Limite Superior | |
OBEDUC 2016 | 39,50 | 47,60 | 38,60 | 46,70 |
LENPES 2015 | 48,86 | 55,13 | 34,95 | 41,04 |
LERR 2015 | 42,56 | 51,43 | 42,56 | 51,43 |
PSNJ 2013 | 54,43 | 57,69 | 25,48 | 28,51 |
CENSO 2010 | 64,63 | 22,16 | ||
Fonte: IBGE. Tabela 2104, SNJ e autores. Nota: Inter. Confiança= 95%. |
Olhando, primeiro, para as interações das taxas referentes ao catolicismo, vemos que a pesquisa do LENPES obteve índices significantemente iguais as pesquisas do LERR e a PSNJ. A pesquisa do LERR é a única igual a pesquisa do OBEDUC, mas também é igual a PSNJ. Desses cruzamentos temos que a pesquisa que menos ‘interage’ com as demais, para o catolicismo é a do OBEDUC.
Ainda assim, as relações indicam uma taxa de catolicismo significativamente menor no ambiente escolar de Londrina, haja visto que a única pesquisa com informações iguais a nacional é a do LENPES e é por 0,7% em relação a PSNJ. Se tivermos como parâmetro os dados do CENSO, essa afirmação fica mais evidente, nenhum limite superior chega aos 64,3% de católicos.
Ao observarmos os protestantes, a pesquisa do OBEDUC indica igualdade tanto com a do LENPES quanto com a do LERR, estas não são iguais entre si e nem com as nacionais. Esse fato indica taxas de protestantismo, significativamente, maiores na cidade de Londrina. As duas pesquisas nacionais possuem os menores valores.
As diferenças entre as pesquisas locais podem ser decorrentes do fenômeno da fragmentação das denominações religiosas do protestantismo. Observou-se isso pela escolha da forma como as opções de resposta foram apresentadas nas três pesquisas. Como a pesquisa do LENPES tinha intenção censitária nos colégios e foi a primeira a ser executada, optou-se por disponibilizar aos estudantes o mesmo quadro utilizado pelo IBGE para que pudesse haver comparabilidade, este fato fez com que indicássemos 54 opções de respostas, 22 elencavam as denominações protestantes, o que produziu confusões aos respondentes devido à grande variabilidade. Esse comportamento não aconteceu no teste piloto realizado, por isso o formato foi legitimado e aplicado.
Quando observamos as respostas da pesquisa do LERR, que reduziu as opções para 34, mas manteve a lógica de ofertar algumas opções com nomes de denominações protestantes, vemos na opção de resposta ’Outras religiões", apareceram 48 respostas das 52 sinalizadas (92,2%) com nomes de igrejas protestantes pentecostais e neopentecostais. O fenômeno de fragmentação da identidade religiosa protestante ficou evidenciado. Essas 48 respostas foram incorporadas no total de protestantes da pesquisa do LERR o que não pôde ocorrer na pesquisa do LENPES, por esta não ter deixado esta opção de resposta.
Na terceira pesquisa local, a do OBEDUC, as experiências anteriores foram incorporadas. Retirou-se mais 10 opções, em relação as fornecidas pelo IBGE, que continham nomes institucionais protestantes, deixando a lista ainda mais enxuta com 22 opções e criou-se uma única opção para católicos e outra para protestantes/evangélicos. Essa ação produziu uma queda de quatro vezes no número de respostas ‘Outras’ em relação à pesquisa do LERR, ainda assim nesta continha indicações de protestantes, como por exemplo a referência à Congregação Cristã do Brasil.
Outra questão relativa ao protestantismo trata-se da inclusão de religiões com origem norte-americana (Testemunhas de Jeová, Adventista e Mórmons) na somatória. Nessas pesquisas preferiu-se deixar cada uma delas como opção diferente da ‘matriz protestante’ e que podem ser incorporadas a depender da caracterização de pesquisa e do pesquisador.
Tal fato demonstra a enorme fragmentação do protestantismo nacional e o processo fomentado pelo carisma produzido pela liderança religiosa, independente de credo. Cada igreja aparece como religião autônoma e há um sentimento de pertença explícito, haja visto, que quando os estudantes foram questionados e as opções de resposta associavam um número menor de nomes das denominações protestantes, fizeram emergir nos respondentes um sentimento do tipo ‘nacionalista’ com a igreja de pertença não contida como opção, ainda que existisse a possibilidade de assinalar uma opção genérica ‘Evangélico’. A lógica adotada pelos respondentes pareceu ser a de encontrar sua denominação na lista e não a matriz a qual pertence, ou seja, a suposta ‘identidade’ e reconhecimento como protestante ou evangélico são frágeis.
Desta forma, a experiência indicou que para coletar informações sobre religiões protestantes apresentam-se resultados com mais potencial de comparação se feitas sem particularizar o fenômeno. Entretanto, os membros não se identificam como integrantes de uma mesma confissão de fé originária na Reforma Protestante, mas sim, de comunidades isoladas, conferindo maior complexidade para as coletas em pesquisas de tipo survey.
Nesse sentido, frases de pastores neopentecostais ouvidas em programas de rádio e TV, que afirmam que suas igrejas têm convertido evangélicos ganham sentido e importância na compreensão da conjuntura protestante, revelando a concorrência também interna na matriz religiosa cristã brasileira. Assim, ao não ver o nome da sua instituição de origem, os jovens das pesquisas locais tenderam a explicitá-las, demarcando a diferença ao invés de se incluir na matriz nomeada de protestante ou evangélica. Manter uma opção “outras” foi fundamental para captar esse fenômeno de forma quantitativa e, talvez, possa ser uma alternativa para os pesquisadores captarem o fenômeno da fragmentação institucional da matriz protestante.
Incluiu-se na coleta do OBEDUC uma opção não encontrada em outras pesquisas do gênero, criamos uma opção “Acredito no Deus cristão, mas não vou a nenhuma igreja”, apesar de ser uma frase extensa, essa possibilidade foi fundamentada na existência das respostas contidas como opção ‘Outras’ da pergunta para aqueles que se diziam não ter religião da pesquisa do LERR. Entre esses, alguns que marcavam a pergunta “Você tem religião” (sim ou não) como não, e depois grafavam qualitativamente que acreditavam em Deus. Na coleta do OBEDUC, 6,04% aderiram a essa resposta indicando que ela funcionou, pois apenas 4 (0,64%) estudantes sinalizaram não ter religião e acreditar na divindade cristã, ou seja, repetiram o comportamento.
Apesar de não coincidentes os dados de todas as pesquisas, elas apontam para uma conclusão: em todas elas, as taxas de pertença religiosa foram superiores à do Censo 2010, revelando que o ambiente escolar nacional e, principalmente, da cidade pesquisada, tem número de protestantes superior ao verificado na população geral e no recorte etário. Para verificar se tal afirmação é real, é necessário realizar um teste de comparação entre as taxas obtidas nas pesquisas e as fornecidas pelo Censo.
Figura 6: Diferença entre o observado e o esperado nas pesquisas Protestantes Católicos |
Fonte: IBGE. Tabela 2104, SNJ e autores. |
Essa última comparação aponta que a diferença das pesquisas comparadas com o Censo foi significativa com relação aos Protestantes14 e aos Católicos15.
Outro fator importante quando pensamos em religião se trata de como o sujeito declarante pratica o que informou, pois, no estudo das éticas religiosas de tipo ideal weberiano, que levam em conta as moralidades contidas nos textos e documentos oficiais, além do problema relativo à questão da incorporação/aprendizado/obediência/conhecimento do membro em relação a estrutura institucional. Há que se averiguar em quais espaços ocorrem esse processo de socialização. Assim, ter respondentes adeptos não, necessariamente, significa que estes praticam/incorporam/disseminam os credos que dizem fazer parte.
Uma vez que pesquisas quantitativas não ‘seguem16’ ou observam esse comportamento, a forma mais usual de sabê-lo é questionando os entrevistados sobre sua frequência no rito. Este ponto também precisa ser ponderado, pois cada expressão religiosa tem suas periodicidades ritualistas e quantitativos muito diferentes. Dessa forma, compará-las exige dois cuidados: o primeiro é relativizar as comparações apenas entre matrizes de mesma origem. Segundo, para evitar erros por conta dos tamanhos populacionais diferentes é preciso ponderar os dados, tornando-os relativos ao total de adeptos.
Figura 7: Taxa ponderada de participação religiosa de jovens (10 a 24 anos) no Censo 2010. |
Fonte: IBGE. Tabela 2105. Adaptado pelos autores. |
Ao observarmos os dados do Censo de 2010 percebemos certa similaridade entre as religiões comparadas ao que nos permite uma ideia de como é a prática religiosa da matriz cristã brasileira. É possível notar que quanto maior a idade menor é a frequência de culto em ambas expressões da adesão religiosa.
Quando realizamos o teste de qui-quadrado para descobrimos se há uma homogeneidade entre as proporções das médias das coortes a resposta é positiva17. Assim, temos que o comportamento global de jovens é igual no protestantismo e no catolicismo. Há uma forte tendência de diminuição no que tange às frequências religiosas. Esses dados populacionais do Censo 2010 suscitam a dúvida a respeito daqueles que estão de alguma forma inseridos no sistema escolar. Será que dentro do sistema escolar público o mesmo fenômeno acontece?
Para investigar a questão utilizamos dados de outra pesquisa com abrangência nacional, a Pesquisa de Ações Discriminatórias em Âmbito Escolar (PADAE), realizada pelo INEP, em 2008. A inserção desses dados se faz necessária, porque a PSNJ não abordou a questão da frequência, há apenas uma menção à participação e não participação, mas não informa se é sobre o total geral ou de católicos. Já a PNADAE questionou seus entrevistados fornecendo-lhes três opções de resposta, nada participante, pouco participante e muito participante. Contudo, novamente as decisões e dificuldades de fazer as pesquisas dialogarem emergem: não foi possível retirar da PADAE, os respondentes: diretores, professores e pais, que correspondem a 16% da amostra. Portanto neste parâmetro há um erro conhecido e não trataremos as respostas como de jovens, mas da comunidade escolar. O uso dessa pesquisa se justifica por ser ela o único parâmetro encontrado com abrangência nacional para escolas com capacidade de permitir calibrar os resultados das locais.
A Figura 8 demonstra como essa percepção foi exposta pela comunidade escolar amostrada.
Figura 8: Taxa de participação religiosa PADAE 2008. |
Fonte: INEP, PNADAE 2008, elaborado pelos autores. |
Essa forma de coleta utilizada se apresenta muito subjetiva, uma vez que é impossível definir uma medida para nada/pouco/muito e porque era o próprio respondente quem definiria essa condição, independente de esta atender às exigências de frequência estipuladas pela própria religião.
Nota-se na Figura 8 que a moda18 entre os protestantes é a de se compreender como “muito participantes”, enquanto os católicos como “pouco participantes”. Uma vez que o parâmetro do Censo 2010 nos indica igualdade na frequência das religiões apresentadas ou existe uma diferença de comportamento dentro da comunidade escolar ou os fatores subjetivos mencionados interferem nas repostas.
Para evitar essas interferências, nas pesquisas locais foi utilizada a estratégia do Censo (IBGE 2010), mas com a criação de uma escala composta por seis possibilidades pensadas de forma a conseguir coletar informações menos subjetivas para todos os credos. São duas opções para a frequência semanal, duas para a mensal, uma anual e a opção de não participação.
No caso das duas religiões cristãs abordadas há uma diferença nas taxas de frequência religiosa tidas como suficientes para ambas. O protestantismo demanda de seus fiéis uma participação mínima de uma frequência por semana, contudo quase todas as denominações oferecem opções de serviço religioso tendo quase uma atividade por dia não, necessariamente, ocorrendo no templo. Em observações participantes realizadas, percebeu-se uma certa homogeneidade de discurso no que tange essa questão, há verdadeiros incentivos/apelos/coerções para que o fiel esteja o mais presente possível nas atividades institucionais.
No caso do catolicismo a missa é um espaço de participação semanal muito incentivada e algumas comunidades ofertam celebrações diárias, mas o público na maioria das vezes não é o mesmo para todos os dias, observa-se que um católico tido como praticante frequenta uma missa por semana, que é o sugerido pela Igreja Católica Apostólica Romana. O desenvolvimento da Renovação Carismática Católica trouxe a noção de assiduidade protestante para o interior do catolicismo, embora oferte uma reunião semanal não a entende como substituta da missa, assim o fiel carismático ao menos teria duas participações semanais.
Figura 9: Participação religiosa de estudantes de Londrina em 2015 |
Fonte: IBGE. Tabela 2104, SNJ, e autores. |
Ao observarmos os dados da Figura 9, percebemos que há entre os evangélicos um comportamento similar. Embora as taxas obtidas pelas respostas sejam diferentes o rankiamento das opções de resposta só apresenta uma inversão. A moda entre os evangélicos é a frequência religiosa em mais de um evento por semana, seguido de um evento por semana. Somando essas duas taxas temos mais de 70% dos respondentes (LERR 71,88%, OBEDUC 73,4% e LENPES 80,42%, respectivamente). A inversão de comportamento observada ocorre sob à medida que avaliaria a taxa de participação mensal. Na pesquisa do LERR, a quarta opção mais respondida foi a frequência de duas a três vezes ao mês, enquanto na pesquisa do LENPES foi a participação em uma vez por mês. Na quinta opção de resposta esse valor é oposto do que apresentou a terceira opção. Avaliando a frequência daquelas cujas práticas rituais são mensais temos um total parecido nas três pesquisas, LERR, 6,91%, LENPES, 6,94% e OBEDUC, 10,3%. Também sendo muito similar a sexta medida traz índices pequenos, o que indica uma tendência de participação ativa dos respondentes em relação a sua devoção.
Se agruparmos as variáveis para podermos compará-las aos dados do Censo e PNADAE, vemos uma forte discrepância com o primeiro e um ajustamento com a segunda. Entendendo que os respondentes optantes pelas frequências religiosas semanais se considerariam como Frequentadores, por serem estas o limite superior da escala proposta pela pesquisa. Temos nas duas pesquisas uma taxa de pelo menos o dobro do indicado pelo Censo (34%). Considerando a mesma lógica escalar para a PADAE as duas coletas locais demostraram taxas superiores ao encontrado na comunidade escolar como um todo.
No que diz respeito aos católicos o rankiamento não seguiu um padrão como no caso do protestantismo. Tendo a moda como a resposta de frequência de participação de ‘uma vez por semana’ em todas as pesquisas, o segundo item mais respondido foi divergente entre as pesquisas. Enquanto as pesquisas do OBEDUC e a do LENPES (por 0,3%) tiveram a opção de ‘mais de uma vez por semana’, a do LERR, obteve a ‘Não frequento’. A inversão se ajusta na opção com terceira maior frequência de respostas. As pesquisas do OBEDUC e as do LENPES tiveram a “não frequento”, enquanto a do LERR, “mais de uma vez por semana”. No quarto item os comportamentos das pesquisas se alteram; enquanto a pesquisa do LENPES e a do LERR concordam com a frequência “uma vez ao mês”, a pesquisa do OBEDUC indica ’de duas a três vezes ao mês".
A partir dos dados indicados foi possível identificar que há um comportamento de frequência de culto mais homogêneo entre os protestantes do que entre os católicos. As variações ocorridas dentre os dados de sujeitos católicos indicam um sistema de crença cuja ritualidade não estaria padronizado para a coorte estudada.
As reflexões e os resultados apresentados elucidam a problemática que envolve as denominações religiosas cristãs, a geração de jovens entre 10 e 24 anos de idade, que frequenta o Ensino Médio público e as características desses sujeitos com relação à questão da adesão religiosa e seus reflexos.
A descrição dos dados e os processos de comparação fizeram emergir um modelo de análise quantitativa para dados religiosos, destacando os cuidados epistemológicos, os limites dos dados, as dificuldades em unir as diferentes bases, a inexistência de pesquisas nacionais contínuas para produzirmos parâmetros. Tais dificuldades foram enfrentadas desde as tomadas de decisões de pesquisas no processo de reconstrução da realidade, a qual a Sociologia e as Ciências Sociais se deparam quando buscam suas informações e dados na concretude das relações sociais, na empiria da vida, tendo os laboratórios de pesquisa como francos e fundamentais promotores de conhecimentos da atualidade. Além disso, ressaltamos que com a descrição das decisões tomadas proporcionamos ao leitor possibilidade de contestá-las e/ou legitimá-las, tendo na transparência o acesso aos dilemas existentes no modelo proposto, visando partilhar o conhecimento desses desafios, antecipando-os para a realização de futuras pesquisas.
Descobrimos que os adeptos do campo protestante ressaltam um sentimento de pertença denominacional e possuem resistência em optarem por respostas genéricas como “protestante” ou “evangélico”. Por isso, o gradiente de opções carece de apresentar as inúmeras denominações previamente formuladas e manter a alternativa “outras” para que os declarantes possam registrar as novas organizações religiosas não contempladas na formulação do instrumento de pesquisa. Estes sujeitos também se mostram mais intensamente participantes das instituições ante aos católicos, contudo ambos se apresentaram com taxas de vínculo muito expressivas.
Ainda quanto ao modelo citado, normalmente os aspectos micro/subjetivos também são difíceis de apreensão na análise quantitativa, as críticas mais comuns são sobre as técnicas/testes vinculadas à metodologia e instrumentos, por isso, é necessário que os pesquisadores detenham conhecimentos de amostragem significativa, intervalos de confiança de médias e proporções e testes de independência para produção de afirmações.
Os dados apresentados a partir do cruzamento das cinco fontes quantitativas (Censo 2010, PSNJ 2013, LENPES e LERR 2015, OBEDUC 2016) possibilitam caracterizar os jovens brasileiros, a partir da coorte de gerações entre 10 e 24 anos, como sujeitos religiosos e de adesão cristã. No entanto, os dados refletem que há uma polarização entre os cristãos, fomentado com o crescimento dos adeptos da matriz protestante e o não crescimento contínuo de adeptos do catolicismo. Há uma tendência de comportamento entre jovens que indicam a adoção da fé cristã sem indicar a vinculação com uma organização religiosa específica, nesse interim, foi identificada a demanda, de um pequeno grupo, por questões que indicassem a adesão de múltiplo pertencimento religioso.
Esse último aspecto é, ainda, incipiente tendo em vista que se trata de um número pequeno grupo de jovens, no entanto, é uma expressão que indica autonomia individual frente as estratégias proselitistas e de concorrência no ‘mercado’ religioso. As hipóteses precisam ser aprofundadas, mas podemos indicar que a nova posição pode ser reflexo do trânsito religioso ou mesmo da adoção de diferentes noções de pertencimentos religiosos. Além disso, os levantamentos feitos em Londrina e região distam um período de seis anos da pesquisa nacional do IBGE, de 2010 a 2016. Em seis anos houve uma aceleração das mudanças sociais e das redes juvenis no Brasil, o que nos permite a continuidade da exploração das hipóteses construídas com os dados locais.
O conjunto de dados analisados nos encorajam a realizar pesquisas qualitativas no sentido de apreender as razões dos jovens estarem mais religiosos e ao mesmo tempo mais flexíveis diante das denominações de matriz cristã e, particularmente, do espectro evangélico/protestante. Para a compreensão das relações que os jovens estabelecem com os saberes escolares, essas adesões são muito importantes no desenvolvimento de disposições para aquisição dos conhecimentos científicos, que muitas vezes chocam com os saberes e dogmas das religiões. Destacamos também que a coleta do OBEDUC, que sintetizou as experiências das pesquisas do LERR e LENPES continuará até 2019, podendo demonstrar se as tendências apresentadas em 2016 se confirmarão ou não nas escolas estudadas. Com a divulgação dos próximos censos e pesquisas nacionais nos anos vindouros poderemos verificar se as tendências locais se confirmarão no âmbito nacional.
Os estudos acerca da ‘nova’ conjuntura religiosa brasileira, a partir do grupo nato e da coorte geracional nascida no pós 1991, exigem dos pesquisadores/as das Ciências Humanas e Sociais uma maior aproximação com as realidades dos ambientes escolares nas diferentes regiões brasileiras e, ao mesmo tempo, estabelecer um diálogo com os profissionais da área das políticas públicas para que possam fomentar com os dados quantitativos e qualitativos, ações governamentais (políticas públicas) com o sentido de fortalecer relações sociais que contemplem o respeito às diferentes identidades e promovam a convivência com a diversidade social, religiosa, política e suas consequências.
CORREIA, Cristiano Pinheiro. Múltiplos olhares dos estudantes do ensino médio de Londrina e Rolândia/PR: uma caracterização sociológica. Dissertação. 2016. Universidade Estadual de Londrina.
GONZALEZ, Carolina Alondra Guidotti. Envelhecimento demográfico e mudanças na transição à velhice entre brasileiros de distintas gerações. Tese, UNICAMP. (2014). Disponível em: www.bibliotecadigital.unicamp.br. Acesso em: 10 mar. 2016.
IBGE. Tabela 2094. População residente por cor ou raça e religião. Disponível em: www2.sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 23 dez. 2016.
INEP. Pesquisa de Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar. 2008. Disponível em: portal.inep.gov.br. Acesso em: 23 dez. 2016.
IPEA. Pesquisa de Opinião pública SNJ: Perfil da Juventude brasileira. 2013. Disponível em: www.ipea.gov.br. Acesso em: 23 dez. 2016.
LATOUR, Bruno. Reagregando o Social. Uma introdução a teoria do Ator-Rede. Salvador: Edufba, 2012; Bauru, São Paulo: Edusc, 2012.
OLIVEIRA, Marcelo Silva de; et al. Introdução à Estatística. Lavras: Editora UFLA.2009.
TODD, E. Sociologie d’une crise religieuse: Qui est Charlie? Paris, Seuil, 2015. 246 p.
Os dados quantitativos utilizados selecionaram esse recorte etário a partir da definição conceitual de coorte definido por Gonzalez (2014, p. 15), também apresentado no desenvolvimento do trabalho.↩
Esta pesquisa foi financiada pelo programa Observatório da Educação da CAPES, nos anos de 2013 a 2016.↩
Nas últimas décadas temos como por exemplo os atentados ocorridos nos Estados Unidos (EUA), na França, a organização do chamado Estado Islâmico no Oriente Médio; atos de intolerância e desrespeito aos adeptos de religiões afro-brasileiras em várias regiões do Brasil; ou o debate de fundo moral e religioso definindo pautas eleitorais de pleitos presidenciais no Brasil em 2010/2014.↩
Estudos como o de Emmanuel Todd enfrentam esse desafio metodológico. Inspirando-se no exemplo do estudo clássico de Durkheim sobre o suicídio, Todd (2015) relaciona dados de população, participação em manifestações, partidos políticos para entender os sentidos dos ataques terroristas na França de 2014. Conferir: TODD, 2015, p 246.↩
Usamos o plural porque há inúmeras formas e conteúdo de diferenciações internas dessas matrizes institucionais. Ressaltamos que não iremos explorá-las neste artigo e será objeto de análise em outro texto.↩
A título de esclarecimento havia o Regime do Padroado Régio que pendurou até o final do período imperial no Brasil e a base de formação do clero católico era em Portugal. A partir da segunda metade do século XIX houve a Reforma Ultramontana promovida pelo Vaticano e um processo de romanização foi instituído, esse último se adequou à nova conjuntura política e social brasileira decorrente da proclamação da República.↩
O gráfico acima é uma adaptação elaborada pelos autores das duas tabelas citadas acima e ajusta a taxa de crescimento numérico em relação ao crescimento da população. Desta forma os valores de crescimento religioso se referem à quantidade populacional levantada pelos censos dos respectivos anos.↩
IBGE (2010)↩
Secretaria Nacional de Juventude – SNJ (2013).↩
Maiores detalhes conferir em Correia (2016).↩
A programação de coleta indicava um mês para finalização, contudo, as conjunturas políticas, tanto nacionais como estaduais, com os movimentos de ocupação das escolas, com greves e paralisações tornaram impraticáveis as coletas.↩
Qui-quadrado Calculado= 20, df = 16, p-valor = 0.2202, X2 tabelado=26,296↩
Qui-quadrado Calculado = 6, df = 4, p-valor= 0.1991, X2, tabelado=11,07↩
Protestantes: Qui-Quadrado=14. 482. Graus de Liberdade 3, p-valor = 0.0023.↩
Católicos: Qui-Quadrado=1.788, Graus de Liberdade=3, p-valor = 0.6175.↩
Método ‘ANT’. Latour (2012).↩
Qui-quadrado =0,8366 e p-valor=0,381.↩
Segundo Oliveira, “a moda também foi idealizada visando a descrever melhor aqueles conjuntos de distribuição assimétrica. Ela busca apresentar como medida de posição dos dados o valor típico de ocorrência, isto é, por definição a moda é o valor mais frequente na massa de dados” (OLIVEIRA et al, 2019, p. 50). Vamos escrever em itálico ao longo do texto para demarcar que estamos tratando do termo usado em estudos estatísticos.↩
Resumo:
A transição demográfica no Brasil desafia as Ciências Sociais a compreenderem os novos padrões de engajamento religioso dos jovens, desde as indagações sobre os comportamentos de adesão ou não e suas intensidades, em termos de frequência nos espaços religiosos. Este artigo analisa dados a respeito do universo religioso dos jovens estudantes do Ensino Médio público, a partir de cinco pesquisas quantitativas (2010-2016), duas nacionais e três realizadas em Londrina-PR. Os dados foram explorados no sentido de identificar: a) a adesão religiosa cristã; b) a perspectiva de valorização do seu vínculo denominacional; c) a participação e frequência nas atividades religiosas semanais; d) um modelo de análise quantitativa para dados religiosos e educacionais. Os resultados das análises permitiram demonstrar uma polarização entre os dois grupos, de Católicos e de Protestantes, com maior contingente de adeptos, uma intensa adesão religiosa, um crescimento demográfico significativo do grupo protestante e um modelo de análise comparativo de dados quantitativos.
Palavras-chave:
religião; adesão religiosa; jovens brasileiros; ensino médio público.
Abstract:
The demographic transition in Brazil invites Social Sciences to comprehend new patterns of religious engagement of youngsters, including their questions related to behavior when becoming, or not, a member, as well as how intense their participation in such religious environment is. This article is based on data concerning the religious realm of Young students in public high schools that were collected through five quantitative researches (2010-2016), being two of them nationwide and three of them carried out in Londrina-PR. The dada covered were used to a few particular ends; a) the Christian religion admission; b) the perspective of an added value to a denominational admission; c) the frequency and participation in the weekly religious activities; d) a model for a quantitative analysis of religious and educational data. The analysis provided results that demonstrate a polarisation between two groups – Catholics and Protestants – with a larger number of followers, an intense religious admission, a significant demographic growth of the Protestant group and a comparative analysis model of the quantitative data.
Keywords:
religion; religious admission; Brazilian youngsters; public high school.
Recebido para publicação em 06/12/2018
Aceito em 20/05/2019.