Revista de Ciências Sociais — Fortaleza, v. 51, n. 1, mar./jun. 2020
DOI: 10.36517/rcs.2020.1.i01
Nota Editorial:
Revista de Ciências Sociais 50 ANOS
Neste ano de 2020 a Revista de Ciências Sociais completa 50 anos de publicação. Sua longevidade é motivo de grande orgulho, pois a faz ser, mesmo diante de situações de descontinuidade de periódicos existentes no Brasil, o segundo mais antigo desse campo científico, ainda em circulação dentro e fora do país.
Iniciada em 1970, a jornada editorial da RCS se confunde com a expansão das Ciências Sociais do País e o modo como o fazer científico se desenvolveu – e continua se desenvolvendo – por meio de fases de ampliação e retração. Nessas cinco décadas, a revista precisou enfrentar grandes desafios para se manter em circulação, construindo um retrato histórico e cientificamente relevante da produção científica das Ciências Sociais no Brasil e também no mundo.
A RCS foi fruto do esforço de um pequeno grupo de jovens professores engajados no fortalecimento das Ciências Sociais no país e, em particular, numa forma de articular o saber produzido por um também jovem curso de graduação na área, fundado na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1968.
Como relata Vieira (2016), a articulação das Ciências Sociais no estado do Ceará precede um pouco à fundação do curso, pois a influência dos estudos sociológicos e antropológicos europeus da virada do século XIX para XX já produziu algumas pioneiras reflexões por intelectuais cearenses. E foi um deles, o engenheiro de profissão e antropólogo por vocação Thomaz Pompeu Sobrinho, que a convite da recém-fundada UFC, fundou o Serviço de Antropologia, logo rebatizado de Instituto de Antropologia do Ceará, que se responsabilizou pela realização de pesquisas científicas e formação de profissionais para atuar como pesquisadores. Desse grupo aí reunido emergiu a fundação do Departamento de Ciências Sociais em 1966, que articulou a criação da referida graduação em Ciências Sociais, dois anos depois.
O curso de Ciências Sociais da UFC, também cinquentenário, foi objeto de reflexão no Dossiê Especial da RCS publicado no Vol. 50, n. 1, de 2019, com mais alguns textos complementares editados nos números 2 e 3 do mesmo ano.
É importante salientar o pioneirismo e ousadia desses jovens professores e pesquisadores em empreender tão cedo a feitura de um periódico científico numa universidade jovem do Nordeste brasileiro, em um curso de graduação recém-fundado, sem estrutura fixa de financiamento e nem mesmo um campo de pós-graduação estabilizado. Ainda mais, em plena fase acirrada da Ditadura Militar, que havia editado o Ato Institucional N.º 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, cuja execução resultou na cassação ou exílio de inúmeros ilustres pensadores das Ciências Sociais brasileiras, como Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado, Caio Prado Júnior, Paulo Freire, dentre tantos outros. Muitos também foram afastados ou aposentados dos órgãos em que trabalhavam, a exemplo de Celso Furtado, que homenageamos no Dossiê Temático deste número da RCS.
Dentre os pioneiros da revista, é importante evocar alguns destaques, em primeiro lugar a Paulo Elpídio de Menezes Neto, que liderou a criação da RCS e foi seu Diretor/Editor até 1984. Se a ocupação dos cargos formais e nomeados serve de indicativo, é necessário esclarecer que naqueles tempos, além do Conselho Editorial, a revista possuía os cargos de Diretor (ou Editor, variando no tempo a nomenclatura) e de Secretário. Nos três primeiros anos, este último cargo foi ocupado por Geraldo Markan Ferreira Gomes.
Os membros do Conselho Editorial em seu início eram os professores Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, Luiz Fernando Raposo Fontenelle, Hélio Barros, Luiz de Gonzaga Mendes Chaves, Raimundo Holanda Farias e André Haguette. Depois desses, José Agamenon Bezerra da Silva foi o Secretário, entre 1973 e 1975.
Todavia, o segundo grande destaque nesse corpo de pioneiros, deve ser dado a Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, que se tornou o Secretário em 1976 e finalmente assumiu oficialmente a Direção da publicação a partir de 1985, e que sustentou a continuidade do periódico por muitos anos.
Não por coincidência, vários desses pioneiros estão presentes com artigos no Vol. 1, n. 1 da RCS, de 1970. Firmando parcerias institucionais com pesquisadores franceses, alemães e norteamericanos, os professores da UFC articularam estudos pioneiros que foram editados no recém-criado periódico científico. A empreitada poderia ter sido considerada indulgente e precipitada caso não conseguisse obter continuidade ao longo do tempo; porém, para o bem das Ciências Sociais brasileiras, não foi o que ocorreu: cinco décadas da permanência dessa publicação atestam um patrimônio acadêmico, divulgando amostras do que de melhor é produzido pelas Ciências Sociais, não só no Brasil, mas em outras universidades do mundo.
Escrevendo por ocasião da celebração dos primeiros 25 anos da RCS, Maria Sylvia Porto Alegre (1995) dividiu a história da revista à época em três fases. A primeira, entre 1970 e 1975, foi marcada pelo ecletismo, pela divulgação de pesquisas científicas realizadas pelos autores-editores e os diálogos que travavam com parceiros de universidades estrangeiras, como por exemplo Jean Duvignaud, da Université Paris VI; Allen W. Johnson & Bernard J. Siegel, da California University e da Standford University, respectivamente (presentes no Vol. 1, n. 1); Emilio Willems, da Universidade de Vanderbilt (Vol. 2, n. 1, 1971); ou Mark A. Tessler, da Winsconsin University (Vol. 2, n. 2, 1971); seguindo mais contribuições, com Russel Getter (Vol. 3, n. 1, 1972), Stephen Osofsky (Vol. 2, n. 2, 1972) e Annie Guedez (Vol. 5, n. 2, 1974). Alguns autores expressivos no cenário nacional também já apareciam como colaboradores, como José de Souza Martins (Vol. 3, n. 1, 1972) e Simon Schwartzman (Vol. 5, n. 2, 1974).
Contudo, a maior parte dos textos publicados naquela fase eram mesmo dos editores da RCS, em especial Mendes Chaves e Bezerra de Menezes, ao lado de alguns outros, como Luciano Mota Gaspar e José Teodoro Soares. As pesquisas que esses autores pioneiros desenvolveram na época estavam relacionadas ao primeiro esforço de profissionalização científica do curso de Ciências Sociais da UFC com o Programa de Aperfeiçoamento de Pesquisadores Sociais do Nordeste (PRAPSON), iniciado em 1971.
É possível perceber na observação dos volumes da RCS na primeira metade da década de 1970 que as temáticas dos artigos, embora ecléticas em suas abordagens, metodologias e perspectivas teóricas, variavam até certo ponto sobre dois eixos principais: a) temáticas de cunho social relacionadas ao Nordeste (com estudos sobre comunidades rurais, trabalhadores urbanos, aspectos culturais e econômicos, quase sempre de natureza empírica); e b) reflexões mais abrangentes de aspecto epistemológico, como que construindo um campo do saber.
Na segunda fase, desenvolvida entre 1976 e 1989, segundo a classificação de Porto Alegre (1995), a RCS encontra outra dinâmica, agora, vinculada diretamente à pós-graduação, com a fundação do Mestrado em Sociologia do Desenvolvimento na UFC, que na prática (e institucionalmente) substituiu o PRAPSON. A inauguração da pós-graduação deu mais impulso às pesquisas e à produção dos intelectuais ligados ao programa, mas fundamentalmente, aumentou as interlocuções com outras universidades brasileiras e estrangeiras.
A partir de 1975, o professor Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes assumiu a liderança editorial da RCS e adotou, em conjunto com os demais editores envolvidos, um formato diferenciado para a publicação, por meio de Dossiês Temáticos, começando com o Vol. 9 e o tema Ciência, Mito e Filosofia, de 1978. A partir de então, apesar de jamais deixar de publicar artigos variados por meio de fluxo contínuo, a revista passou a ser dirigida e impulsionada pela organização desses dossiês.
Ainda assim, é possível identificar na produção da RCS, em particular nos anos 1980, dois eixos temáticos principais: a) por um lado, refletindo a orientação da Sociologia do Desenvolvimento que marcava o Mestrado da UFC, a profusão de textos sobre políticas públicas, organização econômica e dinâmicas políticas, em parte relacionadas ao que chamamos hoje de macroestrutura; e b) de outro, uma marca muito própria daquele tempo que é a emergência dos movimentos sociais conexos ao processo de fim da Ditadura Militar, reabertura política e redemocratização. Ao mesmo tempo em que elaboram reflexões teóricas novas, ambos os eixos eram marcados pela realização de pesquisas empíricas, com análise de dados, trabalho de campo e entrevistas.
A segunda fase da revista demonstra significativo aumento de diversidade na autoria dos textos e grande ampliação de colaboradores. Muitos autores estrangeiros contribuíram na RCS naqueles anos. Apenas o Vol. 7, n. 1 e 2, de 1976, trouxe artigos de Jim Barak, Jean Pierrre Corbeau e Arthur Frischkopf. James Watson escreveu no Vol. 9, n. 1 e 2, 1978; e o Vol. 11, n. 1 e 2, de 1980, trouxe artigos de Remy Riand, Claude Pairault, Jean Duvignaud e Renate Rott; mas as contribuições continuaram, por exemplo, com Guy Martinière, Billy Janynes Chandler (ambos no Vol. 14/15, n. 1 e 2, 1983-1984), Jean Lojkine (Vol. 16/17, n. 1 e 2, 1985-1986) e Robert E. Park (Vol. 18, n. 1 e 2, 1987).
Autores de destaque nacional também estiveram mais presentes, como Abdias Vilar de Carvalho, Sadi dal Rosso, José de Souza Martins (todos no Vol. 11, n. 1 e 2, 1980), Ruben George Oliven, Gilberto Velho, Renato Raul Boschi (os três no Vol. 12/13, n. 1 e 2, 1981-1982), Luiz Felipe Baeta Neves (Vol. 14/15, n. 1 e 2, 1983-1984), Luiz Mott, Jorge Zaverucha (ambos no Vol. 16/17, n. 1 e 2, 1985-1986), Pierre Sachis, Eduardo Hoornaert (ambos no Vol. 18, n. 1 e 2, 1987).
No campo doméstico, Luiz Gonzaga de Mendes Chaves, João Pompeu de Souza Brasil, Manfredo Araújo Oliveira e Diatahy Bezerra de Menezes continuaram a escrever diversos artigos, mas a atuação do Mestrado em Sociologia do Desenvolvimento resultou tanto no impulso a novas pesquisas, quanto na renovação dos quadros de colaboradores advindos do Departamento de Ciências Sociais, entrando em cena jovens professores-pesquisadores que teriam grande envolvimento com o periódico, como Irlys Barreira, Linda Gondim, Maria Auxiliadora Lemenhe, Teresa M. Frota Haguette e Sylvia Porto Alegre.
Essa renovação se institucionaliza no apagar das luzes dessa fase: a organização editorial do Vol. 20/21, n. 1 e 2, de 1989-1990, traz como editores Diatahy B. de Menezes, Barreira e Porto Alegre.
A terceira fase, última analisada por Porto Alegre (1995), começou em 1990, (e, acrescentamos, se estendeu até 2012) refletindo o processo de profissionalização da pós-graduação que resultaria na inauguração do Doutorado em Sociologia na UFC, em 1994, e a estruturação do Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Apesar do curto espaço de tempo, a autora já percebia uma transformação significativa nos artigos publicados na RCS, que ajuizavam uma organização de pensamento já bem menos voltada às macroestruturas dos momentos anteriores, mas relacionadas ao universo microssocial, reforçando temáticas como “identidade, subjetividade, imaginário, ética, desejo”. (PORTO ALEGRE, 1995, p. 9).
Tal abordagem pode ser percebida na organização de Dossiês Temáticos como Arte, Cultura e Sociedade (Vol. 23/24, 1992/1993), Produção Cultural e Comunicação (Vol. 31, n. 1, 2000), Enredos e Práticas Narrativas (Vol. 33, n. 2, 2002), Produções Artísticas e Domínios Culturais (Vol. 38, n. 1, 2007), Instituições, Atores e Mediações (Vol. 40, n. 2, 2009), Expressões de Identidades (Vol. 43, n. 1, 2012).
Como se nota, a tendência percebida pela autora se manteve na década seguinte, ao mesmo tempo em que a equipe editorial da RCS passava por algumas mudanças, mantendo a liderança de Diatahy B. de Menezes e incorporando editores como Sylvia Porto Alegre, Irlys Barreira e Sulamita Vieira. Após a virada de século, Barreira e Vieira se tornaram as principais coordenadoras editorais, auxiliadas por um corpo mais rotativo de professores. Os editores enfrentaram tempos difíceis de falta de recursos e concorrência com outras edições da UFC, momento em que os periódicos não tinham prioridade de edição. A Taxa de Bancada do CNPq vigente nos programas de Pós-Graduação foi importante para garantir a compra de papel e demais serviços necessários à continuidade do periódico.
O fazer artesanal da revista que caracterizou as fases anteriores supunha um trabalho voluntario de organização dos periódicos muitos dos quais construídos a partir de convites feitos a colaboradores. Muitos autores locais contribuíam com o esforço de dar continuidade mesmo que a colaboração de estrangeiros e a publicação de artigos pioneiros estivessem presentes. A revista funcionava sem secretaria, sem recursos financeiros e mantinha periodicidade variada.
Outro traço percebido nesse período que se encontra até 2012, é o aumento da colaboração de autores advindos de universidades brasileiras e estrangeiras e de outros programas de pós-graduação.
Pensar o curso de Ciências Sociais da UFC, mesmo em seus primeiros anos como “periférico” é algo discutível, como percebe-se nos textos celebrativos dos 50 anos do curso, em 2018, com a presença de vários autores locais, nacionais e internacionais, vide o Vol. 50, n. 1 (PAIS, 2019; LIMA, 2019; BARROS, 2019) e também no Vol. 50, n. 2 (MARTINS, 2019). Todavia, é notável que, particularmente nas duas primeiras fases aqui descritas, entre 1970 e 1989, a RCS em grande parte publicou material de seus próprios editores e dos professores do Departamento de Ciências Sociais (e depois, do Mestrado em Sociologia do Desenvolvimento), o que ajuda a refletir sobre a natureza de uma universidade não-central como a UFC em tal contexto.
Mesmo que outros autores, inclusive estrangeiros, estivessem presentes em todos os números publicados até então, de fato, é somente no período pós-1990, ou seja, a partir da terceira fase, que a revista começa a perder a característica de um trabalho voluntário e muitas vezes dependente de contribuições locais para a manutenção de sua continuidade.
Sabendo das dificuldades em selecionar e o risco das omissões, podemos ressaltar, por exemplo, a publicação de artigos de autores estrangeiros, como Scott William Hoefle (Vol. 26, n. 1 e 2, 1995), François Laplantine (Vol. 28, n. 1 e 2, 1997), Norbert Bandier (Vol. 31, n. 1-2, 2000), Alexis Nouss (Vol. 33, n. 2, 2002), Bernard Lahire, Michael Lowy (ambos no Vol. 34, n. 2, 2003), Smain Loacher (Vol. 35, n. 1, 2004), Lucio Oliver Costilla (Vol. 35, n. 2, 2004), Pierre Salama (Vol. 36, n. 1, 2005), Anthony N. Doob (Vol. 37, n. 1, 2006), Abdelhafid Hammouche (Vol. 37, n. 2, 2006), Benoit Gaudin (Vol. 38, n. 1, 2007), Ronald H. Chilcote, M. Fernanda Figurelli (ambos no Vol. 40, n. 1, 2009), José Manuel Sobral (Vol. 41, n. 2, 2010) e Eric Dunning (Vol. 42, n. 1, 2011). Também destacando a contribuição de cientistas sociais atuantes nas universidades brasileiras, como Lygia M.S. Dabul, Franz Josef Bruseke, Luiz Felipe Baeta Neves Flores, Manuela Carneiro da Cunha, Paulo Henrique Martins, Luís Felipe Miguel, Agripa Farias Alexandre, Ordep Serra, Marisa Mokarzel, Joanildo A. Burity, Maria Beatriz Balena Duarte, Lília Junqueira, Ricardo Antunes, Renato Janine Ribeiro, Beatriz M. A. de Heredia, Moacir Palmeira, dentre vários outros.
Destaca-se no que pode ser considerada a quarta fase da revista, a partir de 2013, um modo diferente de produzir condizente com os requisitos institucionais de avaliação de periódicos. Atualmente, todo processo de trabalho foi bastante modificado. A periodicidade estável e sem atrasos, a construção de uma gaveta de colaborações, a formalização de pareceristas e a inauguração de editais para as propostas de Dossiês Temáticos colocaram a revista em um circuito rápido e eficiente de divulgação. Destaca-se nesse sentido o trabalho de programação e editoração de Jakson Aquino e os editores Clayton Mendonça Cunha Filho e Irapuan Peixoto Lima Filho, que construíram um cronograma dotado de ações contínuas facilitada por um programa de informática que permite a formatação dos artigos em tempo hábil. Essa forma de produção do periódico tornou racional a divisão do trabalho, acelerando o fluxo de produção que teve por consequência a melhoria dos critérios de avaliação exigidos por indexadores. A revista atualizou-se em assuntos contemporâneos, sem abdicar de seu rigor acadêmico, mantendo um feedback interessante em sintonia com outros periódicos do país.
Destaca-se portanto que esta etapa é marcada pela maior profissionalização de produção da RCS e melhor ajuste do funcionamento editorial a partir dos itens avaliativos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que preconizam maior diversidade autoral e temática, assim como periodicidade mais estável e pontual e validação por indexadores nacionais e internacionais. Hoje, a RCS é cadastrada em 16 indexadores, incluindo, o Portal de Periódicos da CAPES, Google Acadêmico, Latindex, DOAJ, ROAD (Directory of Open Access Scholarly), Mir@bel, dentre outros.
A produção diversa recente da RCS contempla grande número de autores advindos de universidades estrangeiras, como James Clifford (Vol. 44, n. 2, 2013), Bernard Lahire (Vol. 45, n. 1, 2014), Karlfriedrich Herb (Vol. 45, n. 2, 2014), Massimo Canevacci (Vol. 47, n. 1, 2016), Paula Guerra (Vol. 47, n. 1, 2016), Lucio Oliver Costilla (Vol. 48, n. 1, 2017), George Raid Andrews, Karl Monsma, Tshombe Miles, Ana Ramos-Zayas (todos no Vol. 48, n. 2, 2017), Leiv Marsteintredet (Vol. 49, n. 1, 2018), Carlos Zánate Botia (Vol. 49, n. 3, 2018), José Machado Pais, Agnés Clerc-Renaud (ambos no Vol. 50, n. 1, 2019) e Cheik Daniel Kere (Vol. 50, n. 2, 2019). Claro, vários autores brasileiros ou atuantes em universidades brasileiras e que tenham representatividade na produção das Ciências Sociais também publicaram artigos (seja como autores ou em coautoria) neste período específico, como Moacir Palmeira, Amurabi Oliveira, Simone Meucci, Maria José Rezende, Vera da Silva Telles, Adriana Piscitelli, Cornélia Eckart, Elder Patrick Maia Alves, André Luiz Coelho Farias de Souza, Andrés del Rio, José Lindomar Albuquerque, Jacob Carlos Lima, Ileizi Fiorelli Silva, Paulo Henrique Martins, Luiz Fernando de Oliveira, dentre muitos outros.
Destaca-se ainda que pesquisadores do Departamento de Ciências Sociais – organizados agora não somente na Pós-Graduação em Sociologia, mas também no Programa Associado de Pós-Graduação em Antropologia (UFC/UNILAB) e no Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (PROFSOCIO) – não estiveram ausentes da revista, embora agora, mais bem dimensionados aos novos tempos de avaliação da CAPES. Por isso, nas 16 edições da RCS publicadas entre 2013 e 2019 foram apresentados 207 artigos, dos quais apenas 16% são de professores do curso que edita o periódico.
Em termos temáticos, a quarta fase também tem suas particularidades. Uma leitura do conjunto de artigos publicados a partir de 2013 demonstra que a marca da etapa anterior se diluiu – embora ainda presente – convivendo agora com discussões relacionadas a outros dois eixos: a) as transformações epistemológicas advindas da pós-colonialidade e da tentativa explícita de aumento de espaço analítico de determinados sujeitos sociais marginalizados ou discriminados historicamente (discussões sobre a branquitude, o feminismo, o movimento negro, a população LGBTQ+ etc.); e b) a reflexão sobre fenômenos políticos recentes de grande impacto na sociedade e que trazem componentes novos de análise (como o processo de impeachment de Dilma Rousseff, a queda de presidentes na América Latina, a politização do judiciário etc.).
Para além de analisar a RCS em sua história e fases, cabe pequena nota sobre seu aspecto editorial, afinal, ao bom cientista social compete a tarefa de se atentar aos detalhes. Desde o início, a revista foi pensada como uma publicação semestral, editando dois números por ano. Infelizmente, as dificuldades com edição, diagramação, impressão, financiamento, entre outros desafios à produção e divulgação do conhecimento científico brasileiro, fizeram com que algumas vezes os números precisassem ser agregados de modo a compensar atrasos, o que ocorreu pela primeira vez no Vol. 7, n. 1 e 2, de 1976, e pela última vez no Vol. 36, n. 1 e 2, de 2005. A década de 1980 foi particularmente crítica nesse sentido, com volumes agregados, tal qual o Vol. 10/11, n. 1 e 2, de 1980-1981, como medida última para manter a continuidade. A despeito desses desafios, a RCS perseverou e continuou em circulação.
A adoção integral do formato digital, em 2016, tornou a programação, diagramação e edição mais fácil no sentido de que a publicação da revista deixou de depender dos maneirismos e prazos de uma gráfica; ao mesmo tempo em que as políticas de avaliação da CAPES impulsionaram a demanda por artigos científicos em periódicos. Respondendo a esse novo momento, a Comissão Editorial da RCS decidiu abandonar o formato semestral e adotar o quadrimestral (ou seja, três revistas ao ano), o que se iniciou a partir do Vol. 49, de 2018.
Também cabe uma observação sobre o projeto gráfico. Nesses 50 anos, a revista teve 5 layouts distintos, que dialogam com suas especificidades contextuais. Os dois primeiros números trouxeram um design de capa condizente com sua época, similar aos grafismos adotados nos livros de então (mas ao mesmo tempo exibindo alguma exuberância), com duas linhas se cruzando sobre um fundo de cor avermelhada no Vol. 1 e azul no Vol. 2; mas por qualquer razão, em seguida, adotou formato de capa mais tradicional, dividido em duas colunas e trazendo já a descrição do sumário. Cada número era publicado com uma cor diferente e esse padrão foi usado de 1971 a 1979.
A partir de 1980, o layout da revista entra em nova fase com um formato similar ao inicial, em forma de livro, mantendo fixo o mesmo padrão de cores em tonalidade de rosa, algo que se alongou até 1994. A revista mudou de formato pela primeira vez, em 1995, deixando a aparência de livro e adotando o tamanho de um caderno escolar (aproximadamente 28 x 22 cm), tendo em vista a adaptação ao formato da máquina de impressão da Imprensa Universitária da UFC. Mais arrojado, tal layout deixava em destaque o Dossiê Temático específico de cada número impresso em cores variáveis de acordo com papel disponível no mercado. Tal aparência, fruto de projeto gráfico de Fernanda do Val, se manteve por 18 anos até 2013. No entanto, os dois últimos números dessa etapa (Vol. 44, n. 1 e 2) já apontavam uma diferença, com o tamanho reduzido de volta ao padrão-livro.
Nesse ínterim, o passo decisivo rumo à profissionalização se deu com o financiamento junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que possibilitou que a revista passasse a ser impressa com mais agilidade e qualidade pela Expressão Gráfica, o que se deu a partir do Vol. 39, n. 1, de 2008, conforme pode ser percebido na capa, que passa a trazer o selo do banco, o que prosseguiu até 2013.
O layout atual da RCS é inaugurado em 2014, com novo projeto gráfico de autoria da Vibri Design & Branding, mais convidativo, e uma capa caracterizada pela gravura de linhas coloridas que se cruzam, no padrão-livro (16 x 24 cm) e variando de cor a cada edição. Esse design foi possibilitado pelo financiamento de um projeto PRONEX, fruto da parceria do CNPq e da FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com a pós-graduação, estreado no Vol. 45, n. 1.
É importante salientar, a RCS foi impressa em papel até o Vol. 47, n. 1, de 2016. Refletindo o padrão seguido por vários periódicos brasileiros motivado por crise de investimento na área de edição, aumento dos custos de impressão e emergência da forma digital também apoiada pelo sistema de avaliação; atentando às mudanças do campo científico, e particularmente da divulgação científica; ao mesmo tempo em que se promovia a renovação da Comissão Editorial, sob a liderança de Irlys Barreira, a RCS adotou exclusivamente o regime digital, que existia de modo concomitante com o impresso há alguns anos. Se por um lado, a ausência física tem suas desvantagens quanto ao manuseio, por outro, uma revista totalmente online se torna mais acessível e democrática, reforçando a diretriz de acesso livre à ciência brasileira e de sua divulgação.
Destaca-se que a dificuldade em garantir os recursos de impressão voltou a atrasar a publicação dos volumes, tal qual havia ocorrido na década de 1980. Os últimos exemplares impressos contaram com subsídios do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, principal instituto cultural do Governo do Estado do Ceará, porém, as burocracias de financiamento retardavam o processo, assim como a terceirização da diagramação e impressão.
A adoção do regime exclusivamente online, a partir do Vol. 47, n. 2, de 2016, trouxe o desafio da equipe editorial assumir para si a edição e diagramação da revista, assim como o procedimento de upload dos arquivos, mas o domínio de determinadas ferramentas e o trabalho árduo da equipe editorial e dos bolsistas (alguns remunerados e muitos voluntários) permitiu à RCS entrar numa nova fase, na qual, como já escrito, a publicação se tornou mais ágil e a pontualidade algo inquestionável.
Vale à pena nomear esses bolsistas, verdadeiros heróis anônimos que tornaram o trabalho editorial da RCS possível. Arriscando a destacar apenas aqueles dos últimos anos, tivemos: Alessandra Estevam da Silva, Ana Alice Lima de Sousa, Ana Paula Lima, Airton Rodrigues Barroso Júnior, Danrley Pascoal dos Santos, Fablicio Faria Santos, Francisco Sócrates Costa de Abreu, Jessica da Silva Rodrigues, Rafael de Mesquita Freitas, Saraya Morais Viana e Thiago Krubniki.
Ao encerrar suas primeiras cinco décadas de publicação, a equipe da RCS se vê obrigada a refletir sobre seu legado e os desafios da atualidade. Não obstante a pressão por qualificação do periódico segundo os padrões exigidos por indexadores, que se refletem em pontualidade, diversidade institucional, adoção de critérios rígidos de avaliação (representada no parecer duplo-cego), na administração do fluxo de artigos e na complexidade de diagramação e upload, a editoração da revista passa pelas vicissitudes da divulgação científica no Brasil contemporâneo.
Nos últimos quadriênios, a importância da avaliação Qualis da CAPES se tornou mais marcante, tendo como consequência a maior demanda de publicação qualificada não só dos professores universitários/ pesquisadores, mas também dos estudantes de pós-graduação. Isso impulsiona para que periódicos bem avaliados, como a RCS, recebam volume de solicitações para publicação muito maior do que no passado. Desse modo, aumenta muito mais o cuidado com o bom texto escrito, análises refinadas, manejo responsável das teorias e conceitos, dados qualificados, ética de pesquisa e – infelizmente, é necessário citar – cuidados com plágio e autoplágio.
Se em algum momento do passado os editores de revistas científicas demandavam textos para preencher o espaço de publicação, hoje, ao contrário, é necessária a organização de um fluxo de entrada e saída mediado por criteriosa avaliação, o que consome muito tempo e trabalho. É preciso considerar que a maioria das instituições sequer conta a carga horária de trabalho numa revista científica como parte da jornada de seus professores, transformando a tarefa editorial num tipo de missão voluntária assumida por poucos.
A precariedade material com o qual funcionam os periódicos científicos não é particular das Ciências Sociais, como demonstra o artigo de Lima et al. (2019), que relata os desafios da manutenção de revistas no campo das Ciências Humanas.
Ainda assim, com resiliência e determinação, quedas e levantes, segue-se a aventura da divulgação científica da RCS. A Comissão Editorial celebra suas cinco décadas de publicação, seu legado e sua relevância atual na divulgação de parte do melhor do que as Ciências Sociais produzem contemporaneamente; ao mesmo tempo, agradece e parabeniza todos aqueles que contribuíram para o desenrolar desse percurso, em especial, editores, autores, colaboradores, pareceristas e leitores, os quais, por meio século mantiveram a tentativa de compreender cientificamente o mundo e a sociedade, contribuindo para a elaboração de formas de intervir e modificá-los. Em síntese, o bem-fazer da ciência como diretriz máxima de seu devir.
Comissão Editorial da Revista de Ciências Sociais
Universidade Federal do Ceará
Fevereiro de 2020
BARROS, Hélio. Depoimento: 50 anos de Ciências Sociais na UFC. Revista de Ciências Sociais. Fortaleza, Vol. 50, n. 1, mar./jun. 2019, p. 101-158.
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REVISTA de Ciências Sociais. Fortaleza: UFC. Arquivos 1970-2020. Disponível em www.periodicos.ufc.br, acessado em 20 de fevereiro de 2020.