A AUTOFICÇÃO E AS TENDÊNCIAS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA A PARTIR DE A RESISTÊNCIA DE JULIÁN FUKS

Resumo

Com o grande aumento de livros, autores e gêneros, indicar tendências, continuidades e rupturas na literatura contemporânea e em especial na ficção vem sendo uma das principais tarefas de pesquisadores da área e daqueles interessados em cultura e na relação desta com a sociedade. Nesse contexto, este trabalho teve o objetivo de analisar essas questões a partir do romance A Resistência (2015) de Julián Fuks, obra representativa do estado atual da literatura não só por ser vencedora dos principais prêmios literários em língua portuguesa em 2016, dentre eles o Oceanos e o Jabuti de livro do ano e de ficção, mas também por fazer parte de um gênero que teve uma grande difusão nos últimos anos: a autoficção. O método adotado foi uma análise comparativa com o suporte teórico das obras de Maurice Blanchot e da semiótica de linha de francesa, partindo do princípio de que, como um gênero, a autoficção deve ser vista menos como um conjunto de características formais do que como um processo de produção que estabelece relações com a linguagem e com sua esfera de atuação: o sistema literário. Como resultado, observou-se que A Resistência e outros textos autoficionais estabelecem uma hibridização dos regimes de crença, isto é, das predeterminações de como interpretar um texto. Ao misturar o regime de crença do documento e da ficção, a autoficção mostrou-se a parte mais explícita de uma estratégia adotada na nova literatura para desestabilizar o leitor, perturbando a escolha do gênero e do regime adequado e abalando a possibilidade de aceitar ou rejeitar, conscientemente, os valores e o que está sendo proposto. Isso apontou para uma nova configuração do ideal literário menos baseado na tradição e nas normas e mais focado no ato indiferenciado e singular de escrever e para tendências da literatura contemporânea ao indefinido e ao neutro. Agradecimentos ao CNPq pelo apoio financeiro.