Subsídios
literários
cruzados:
entre
compra
federal
brasileira
e
apoio
estatal
português
Marcello
Giovanni
Pocai
Stella
Universidade
de
São
Paulo,
Brasil
http://orcid.org/0000-0001-9248-9402
marcello.stella1@gmail.com
Introdução
Do
começo
do
século
XXI
até
o
final
de
sua
segunda
década,
o
número
de
livros
de
autores
africanos
naturais
de
países
de
língua
oficial
portuguesa
(Angola,
Cabo
Verde,
Guiné-Bissau,
Moçambique
e
São
Tomé
e
Príncipe)
editados
no
Brasil
mais
do
que
triplicou.
Sá
(2018)
identifica
190
livros
publicados
de
autores(as)
africanos(as)
de
língua
portuguesa
entre
1940
e
2017.
Destes,
154
(81%)
foram
publicados(as)
nas
duas
primeiras
décadas
do
século
XXI.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
DOI:
10.36517/rcs.54.2.a04
ISSN:
2318-4620
Marcello
G.
P.
Stella
127
Gráfico
1
-
Evolução
da
quantidade
de
títulos
de
literaturas
africanas
de
língua
portuguesa
publicados
no
Brasil
de
1949
a
2017.
Fonte:
Elaboração
própria
a
partir
de
SÁ
(2018,
p.
30)
De
acordo
com
Sá
(2018),
e
também
Cruz
(2018),
a
primeira
obra
de
um
escritor
africano
de
língua
portuguesa
publicada
no
Brasil
foi
a
de
Castro
Soromenho,
Terra
Morta
(1949),
pela
editora
Casa
do
Estudante
do
Brasil.
Após
essa
estreia,
nos
anos
1950,
a
plataforma
de
publicação
mais
frequente
de
literaturas
africanas
no
Brasil
foi
a
revista
modernista
catarinense
Sul
(1948-1957)
que,
através
dos
contatos
de
Marques
Rebelo
com
autores
do
continente
africano,
pôde
receber
contribuições
de
moçambicanos,
angolanos
etc.
Nos
anos
1960,
publicações
de
autoria
africana
foram
mais
dispersas
e
só
se
tornaram
mais
sistemáticas
a
partir
dos
anos
1970
com
a
coleção
“Autores
Africanos”
da
editora
Ática,
que
permaneceu
ativa
até
o
ano
de
1991.
O
responsável
pela
organização
da
coleção
foi
o
ex-professor
da
USP,
Fernando
Mourão.
Ao
todo,
a
Ática,
via
“Autores
Africanos”,
publicou
27
livros
de
autores
de
diversas
nacionalidades
e
línguas.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Após
o
fim
da
coleção,
nos
anos
1990,
houve
outras
publicações
esparsas
de
editoras
como
Companhia
das
Letras,
Nova
Fronteira,
Bertrand
Brasil
e
Gryphus,
que
entre
outros
autores
publicaram
os
seguintes
nomes:
Mia
Couto,
Pepetela,
Germano
Almeida
e
José
Eduardo
Agualusa.
Até
o
início
do
século
XXI,
a
publicação
destes
autores
não
obteve
um
crescimento
expressivo,
permanecendo
desde
1949
em
números
estáveis,
no
entanto,
baixos.
A
partir
dos
anos
2000
esta
tendência
de
modificou
drasticamente,
como
mencionado.
Sá
(2018)
atribui
tal
crescimento
à
aprovação
da
lei
n.º
10.639,
de
09
de
janeiro
de
2003,
que
trata
da
incorporação
do
ensino
de
cultura
e
história
africana
nas
escolas
brasileiras.
O
que
Sá
(2018)
não
percebe
é
que
a
lei,
por
si
só,
não
criaria
incentivos
suficientes
para
tal
ascensão
abrupta
no
número
de
publicações.
Creio
que
a
lei,
combinada
à
possibilidade
de
os
livros
de
literaturas
africanas
de
língua
portuguesa
passarem
a
fazer
parte
do
conjunto
de
obras
adquiridas
pelo
governo
federal
em
larga
escala,
constituiu
outro
fator
decisivo
para
que
diversas
editoras
passassem
a
apostar
nesse
nicho
editorial
e
até
que
editoras
especializadas
surgissem.
Esta
hipótese
sugere
que,
ao
contrário
do
que
defende
Sapiro
(2019a),
os
estados
nacionais,
com
suas
políticas
de
proteção
à
literatura
nacional,
não
só
permitem
que
gêneros
menos
rentáveis
do
mercado
editorial
continuem
existindo
ao
oferecer
bolsas
específicas
de
publicação
e
incentivo
à
escrita
para
autores;
mas
também
usam
das
políticas
do
livro,
como
as
de
tradução,
como
forma
de
circulação
e
consagração
de
seus
autores
e
obras
e
de
influência
e
controle
de
seus
mercados
simbólicos
privilegiados.
No
caso
presente
mostramos
como
a
política
portuguesa
visa
incidir
no
espaço
transnacional
de
língua
portuguesa,
colocando
Portugal
como
vetor
de
circulação
privilegiado,
de
seus
autores
nacionais
e
dos
de
países
de
língua
oficial
portuguesa,
africanos
e
asiáticos.
Mais
um
elemento
dessa
equação,
para
além
dos
programas
de
compras
governamentais
brasileiros,
é,
no
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
129
mesmo
período,
a
política
portuguesa
de
subsídio
de
edição
de
obras
de
autores
portugueses
e
de
literaturas
de
língua
portuguesa
(africanos
e
asiáticos)
no
Brasil.
A
DGLAB
(Direção-Geral
do
Livro,
dos
Arquivos
e
das
Bibliotecas),
através
dessa
linha
de
apoio,
cobre
parte
dos
custos
de
edição
de
livros
de
autores
portugueses,
africanos
ou
asiáticos
de
língua
portuguesa
no
país.
O
financiamento
a
fundo
perdido
português
começou
a
ser
concedido
para
editoras
brasileiras
em
2002/2003,
mesmo
ano
de
assinatura
da
lei
10.639.
Através
desse
mecanismo,
muitas
editoras
conseguiram
publicar
os
primeiros
autores
portugueses,
africanos
e
asiáticos,
que
escrevem
em
português,
no
Brasil
(PORTUGAL,
[200-?]a,
[200-?]b.).
E,
em
alguns
casos,
conseguiram
simultaneamente
o
financiamento
português
e
acesso
às
grandes
compras
governamentais,
minimizando
qualquer
possibilidade
de
prejuízo
da
edição
e
garantindo
um
lucro
seguro.
Portanto,
uma
das
principais
hipóteses
que
norteiam
o
presente
artigo
é
a
de
que
a
aprovação
da
lei
nº
10.639,
de
09
de
janeiro
de
2003,
apoiada
pelo
PNBE
(Programa
Nacional
Biblioteca
da
Escola)
e
PNLD
Literário
36
,
responsáveis
pela
compra
de
livros
literários
(de
vários
gêneros)
para
bibliotecas
de
escolas
públicas
de
todas
as
séries,
e,
também,
pela
linha
de
apoio
à
edição
no
Brasil
da
Direção-Geral
do
Livro,
dos
Arquivos
e
das
Bibliotecas
do
Ministério
da
Cultura
português
gerou
uma
demanda
e
incentivo
pela
edição
de
livros
e
autores
que
versassem
sobre
história
e
culturas
africanas
e
afro-brasileiras
37
.
37
Obtive
acesso
aos
dados
referentes
à
compra
efetuada
em
2018
por
pedido
de
informações
ao
FNDE
tendo
por
base
a
lei
de
acesso
à
informação
(BRASIL,
2011).
36
O
PNBE
segundo
Ardilhes
(2017),
foi
executado
pela
última
vez
em
2014
e
no
ano
de
2017
foi
extinto.
O
programa
só
foi
retomado
em
2018
e
desta
vez
com
o
nome
modificado,
passando
a
se
chamar
PNLD
Literário
(FNDE,
2018).
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Com
fins
de
testar
tal
hipótese
me
concentrarei
em
um
estudo
de
caso
da
recepção
de
escritores
e
escritoras
africanos
de
países
de
língua
oficial
portuguesa,
publicados
no
Brasil,
a
partir
da
promulgação
da
lei
referida.
A
tese
a
ser
defendida
é
que
se
abriu
um
espaço
maior
para
a
publicação
de
mais
autores
de
países
africanos
de
língua
oficial
portuguesa
e
de
África
em
geral
no
Brasil,
sendo
um
dos
fatores
centrais
para
a
compreensão
deste
movimento
de
expansão
esta
concertação
imprevista
entre
uma
legislação
e
programas
de
incentivo
estatais
de
diferentes
países.
Além
disso,
o
crescimento
do
poder
e
da
influência
de
grandes
conglomerados
editoriais
transnacionais
e
de
agentes
literários
serão
abordados
a
fim
de
mostrar
o
quanto
estes
têm
influenciado
na
difusão
internacional
de
seus
escritores
e
livros.
O
enquadramento
da
análise
se
baseia,
sobretudo,
nos
programas
de
pesquisa
construídos
por
Pierre
Bourdieu,
a
saber,
o
estudo
dos
campos
e
das
condições
sociais
de
circulação
internacional
das
ideias
(BOURDIEU,
1991,
1996,
2002,
2018
[1999]).
Não
vem
ao
caso
esmiuçar
todos
os
procedimentos
de
pesquisa
de
Bourdieu,
porém,
é
necessário
dizer
que,
tradicionalmente,
os
estudos
dos
campos
(intelectual,
artístico,
político
e
econômico)
na
tradição
bourdieusiana
frequentemente
se
fizeram
em
um
enquadramento
nacional,
embora
nunca
em
seus
escritos
o
autor
tenha
afirmado
que
a
noção
de
campo
se
limitasse
necessariamente
às
fronteiras
dos
Estados-nação
(SAPIRO,
2019a).
O
autor
sugere
que,
na
realidade
concreta,
as
trocas
e
intercâmbios
internacionais
são
submetidos
a
diversas
constrições
estruturais,
sendo
alguns
fatores
preponderantes
para
a
existência
de
ruídos
e
mal-entendidos
na
circulação
internacional
de
bens
simbólicos
e
culturais.
Uma
das
primeiras
barreiras
é
o
fato
dos
textos
e
bens
circularem
sem
seus
contextos
originais.
O
contexto
de
produção
no
qual
a
obra
foi
gerada
não
é
automaticamente
e
nem
necessariamente
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
131
carregado
por
ela
e
pode
ser
ignorado
pelas
leituras
de
que
será
alvo
em
seu
novo
lugar
de
recepção.
Seguindo
esse
raciocínio,
um
dos
objetivos
deste
artigo
é
mostrar
que
os
bens
simbólicos
para
circular
internacionalmente
atravessam
diversas
fronteiras:
linguísticas,
políticas,
econômicas,
nacionais
e
transnacionais
etc.
Em
cada
momento
da
importação/exportação,
dependendo
dos
territórios
em
questão,
são
ativados
elementos
que
dizem
respeito
a
cada
uma
dessas
fronteiras
mencionadas,
e
elas
agirão
em
conjunto
para
dificultar/facilitar
a
tradução
(compra
e
venda)
de
um
autor/obra
(JURT,
2014;
SAPIRO,
2003;
2016a).
Além
da
lacuna
que
se
pretende
preencher
nos
estudos
de
circulação
internacional
de
bens
simbólicos,
este
texto
visa
dar
uma
contribuição
ao
aperfeiçoamento
aos
enquadramentos
analíticos
propostos
nesta
área
temática.
O
estudo
do
caso
da
importação
de
escritores
africanos
de
países
africanos
de
língua
oficial
portuguesa
para
o
Brasil
mostra
um
entrecruzamento
de
políticas
públicas
estatais
de
educação
(expansão
de
compras
governamentais
e
a
aprovação
de
uma
lei
que
tornou
obrigatório
o
ensino
de
línguas
e
culturas
africanas
nas
escolas
brasileiras
em
todos
os
níveis
de
ensino)
e
de
uma
Linha
de
apoio
à
edição
no
Brasil
executada
pela
DGLAB
(Direção-Geral
do
Livro,
dos
Arquivos
e
das
Bibliotecas)
que
subsidia
a
publicação
de
autores
e
autoras
portugueses(as)
e
dos
países
de
língua
portuguesa
(Angola,
Moçambique,
Cabo
Verde,
São
Tomé
e
Príncipe,
Guiné-Bissau
e
Timor)
(PORTUGAL,
[200-?]a,
[200-?]b).
Esse
entrelaçamento
de
políticas
públicas
de
incentivo
ao
livro
e
a
promoção
de
literaturas
estrangeiras
em
outros
territórios,
a
que
chamo
no
título
do
artigo
de
subsídios
cruzados,
é
um
fenômeno
pouco
considerado,
quando
se
pensa
nas
questões
relacionadas
ao
mercado
mundial
de
livros
e
à
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
circulação
internacional
das
obras.
Pretendo,
assim,
chamar
à
atenção
para
a
centralidade
que
o
cruzamento
de
incentivos
estatais
à
literatura,
livros
e
autores/as
tem
na
circulação
literária,
sobretudo,
em
países
de
espaços
literários
dominados
e
periféricos.
Uma
das
referências
principais
da
área,
Thompson
(2013),
a
partir
da
observação
do
mercado
editorial
de
língua
inglesa
(EUA
e
Reino
Unido)
no
começo
dos
anos
2000,
identifica
três
fatores
estruturantes
do
mercado
editorial
global
do
século
XXI.
Primeiro,
a
formação
de
grandes
conglomerados
editoriais
transnacionais,
elemento
que
mudou
as
dinâmicas
do
mercado
editorial
mundial
nas
primeiras
duas
décadas
do
século
XXI.
Os
grandes
grupos
têm
um
poderio
de
mercado
e
de
escala
que
não
se
comparam
ao
das
grandes
empresas
editoriais
nacionais
do
século
XX.
Os
processos
de
fusão
e
aquisição
que
redundaram
em
corporações
gigantes
do
mundo
dos
livros
se
deu
na
virada
do
milênio
e
seus
efeitos
se
intensificaram
e
se
fizeram
sentir
com
força
já
no
começo
do
século.
Um
segundo
fator
elencado
por
Thompson
(2013)
é
o
fortalecimento
da
figura
do
agente
literário.
Uma
função
até
pouco
tempo
atrás
bastante
restrita
a
tarefas
de
negociação
de
contratos
e
de
direitos
autorais,
que
passou
a
ser
menos
focada
em
burocracias,
se
tornando
fundamentalmente
um
representante
da
totalidade
da
obra
de
um
escritor.
Com
a
reestruturação
dos
grandes
grupos
editoriais,
que
passaram
por
processos
de
otimização
e
racionalização
empresarial,
houve
enxugamento
do
quadro
funcional
das
editoras
e
aumento
de
tarefas
para
cada
funcionário,
o
que
tornou
a
rotina
dos
editores
muito
pesada.
Em
consequência,
muitas
de
suas
ocupações
foram
terceirizadas
para
os
agentes
literários,
que
se
converteram,
então,
em
mediadores
privilegiados
na
busca
de
novos
talentos,
alocação
de
escritores
em
editoras,
procura
de
possibilidades
de
tradução
literária
e
adaptação
multimídia
dos
livros
(minisséries,
novelas,
audiobooks
,
teatro
etc.)
(STELLA,
2018;
PARDO,
2018).
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
133
O
terceiro
fator
identificado
pelo
autor
é
o
surgimento
das
grandes
redes
varejistas
de
livros.
Livrarias
em
shoppings
centers
,
megalojas
e
o
comércio
on-line
(principalmente
o
surgimento
da
Amazon
)
configuraram
fatores
de
transformação
de
grandes
dimensões
nas
relações
da
cadeia
de
produção
e
circulação
das
obras
literárias.
Um
dos
efeitos
mais
salientes
é
o
recrudescimento
da
concorrência
e
fragilização
da
posição
das
livrarias
médias
e
pequenas
no
espaço
editorial.
O
quarto
fator
que
pretendo
incluir
na
equação
de
Thompson
(2013)
é
o
que
se
relaciona
às
políticas
de
subsídios
estatais
ao
livro
e
a
sua
promoção,
ações
culturais
centrais
para
Estados
nacionais
dominados
no
plano
do
mercado
editorial
global,
notadamente,
quase
todos
os
que
não
são
de
língua
inglesa,
francesa,
espanhola
e
alemã.
A
meu
ver,
e
como
o
artigo
tenta
mostrar,
estes
elementos
são
indispensáveis
para
entender
o
redimensionamento
e
transformação
do
espaço
literário
de
língua
portuguesa
e
ibero-americano
(CASSIANO,
2013.).
Entrecruzamentos
da
Linha
de
Apoio
à
Edição
no
Brasil
(Portugal)
e
do
PNBE/PNLD
Literário
(Brasil)
Para
fundamentar
minha
proposta
pretendo
entrecruzar
a
política
de
compras
de
livros
literários
por
parte
do
governo
brasileiro
com
a
política
de
subsídio
à
publicação
de
autores
e
obras
portugueses
e
de
países
de
língua
oficial
portuguesa.
Tal
política,
como
referido,
é
de
responsabilidade
da
Direção-Geral
do
Livro,
dos
Arquivos
e
das
Bibliotecas
(DGLAB)
de
Portugal
e
incentiva
desde
o
início
do
século
XXI
a
edição
de
autores
portugueses,
moçambicanos,
cabo-verdianos,
timorenses,
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
angolanos
etc.
por
editores
brasileiros.
A
DGLAB
financia,
a
fundo
perdido,
20%
a
60%
do
custo
total
de
edição
dos
livros.
Retomando,
sugiro
que
este
estímulo
do
Estado
Português,
somado
à
possibilidade
de
compra
governamental
brasileira,
atuaram
fortemente
como
fatores
mitigadores
de
prejuízos
e
como
indutores/estímulos
à
publicação
de
autores(as)
portugueses(as),
africanos
de
língua
oficial
portuguesa
e
até
de
autores
orientais
(Timor-Leste
e
Macau).
Em
outras
palavras,
com
o
programa
português
de
apoio
à
edição
no
Brasil
e
com
as
compras
do
PNBE/PNLD
literário
os
editores
brasileiros
passaram
a
ter
a
oportunidade
de
jogar
um
jogo
de
ganha-ganha,
numa
ponta
minimizam
os
custos
e
prejuízos
da
edição
de
uma
obra
com
o
subsídio
português
e,
por
outro
lado,
podem
eventualmente
alcançar
lucros
seguros
com
as
compras
estatais
de
grande
escala
brasileiras.
Antes
de
passar
à
construção
histórica
dos
programas
de
incentivos
português
e
brasileiro,
retomo
a
situação
do
mercado
editorial
brasileiro
entre
os
anos
1980
e
1990,
para
melhor
aquilatar
o
peso
dessas
políticas
para
a
cadeia
do
livro
e
da
edição
nacional,
tentando
igualmente
compreender
as
grandes
linhas
de
transformações
da
indústria
cultural
brasileira
no
mesmo
período.
Segundo
Ortiz
(1989)
o
período
ditatorial
teria
representado,
no
setor
da
cultura,
um
impulso
à
indústria
cultural
brasileira,
principalmente
do
setor
televisivo.
Porém,
a
conduta
política
de
estímulo
seletivo
dos
militares
ao
setor
industrial
da
cultura,
se
fez
sentir
em
outras
áreas
da
produção
de
bens
simbólicos,
entre
elas
a
da
edição.
É
nesse
período
que
Hallewell
(2012)
identifica
uma
complexificação
e
diferenciação
cada
vez
maior
no
trabalho
do
editor,
que
divide
suas
funções
literárias
(
publisher
)
das
funções
gerenciais
mais
comerciais
(
manager
),
papéis
que
até
então
se
encontravam
misturados.
É
também
a
hora
do
nascimento
dos
grandes
grupos
editoriais
nacionais
como
o
Record
e
de
crescimento
de
editoras
que
apostavam
em
coleções
vendidas
em
bancas
de
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
135
jornal,
que
mudaram
a
cadeia
de
distribuição
de
livros
brasileira,
sendo
o
pioneiro
o
Grupo
Abril.
As
turbulências
econômicas
dos
anos
1980
até
metade
dos
anos
1990,
por
outro
lado,
prejudicou
a
atividade
dos
editores,
que
só
foi
recuperada
a
partir
da
estabilidade
econômica
adquirida
pela
criação
e
implantação
do
Plano
Real
entre
1993
e
1994.
O
novo
plano
econômico
permitiu
o
florescimento
de
novas
casas
editoriais
e
maior
previsibilidade
para
o
trabalho
de
edição
(HALLEWELL,
2012.).
Outra
linha
de
força
importante
para
compreensão
do
campo
literário
no
período
foi
a
massificação
do
ensino
para
amplos
setores
da
população
brasileira,
ainda
que
nem
sempre
essa
expansão
tenha
significado
um
igual
acréscimo
qualitativo
na
estrutura
de
ensino
e
nos
conteúdos
oferecidos
no
processo
educativo.
Mas,
ainda
assim,
houve
crescimento
de
matrículas
entre
os
anos
1980/1990
em
praticamente
todos
os
níveis
educacionais,
com
destaque
para
quedas
significativas
das
taxas
de
analfabetismo
(ainda
que
com
aumento
das
taxas
de
analfabetismo
funcional
em
grau
não
desprezível)
e
uma
subida
acentuada
do
percentual
de
alunos
em
cursos
de
ensino
superior
e
de
pós-graduação
(principalmente
no
setor
privado),
processo
que
se
manteve
pelo
menos
até
a
primeira
década
dos
anos
2000
(cf.
RIDENTI,
2018;
STELLA,
2018;
SENKEVICS;
CARVALHO,
2020.).
Todos
esses
fatores
em
conjunto
indicavam
para
um
aumento
potencial
do
público
leitor
e
consumidor
de
livros.
Além
da
disponibilidade
de
um
público
crescente
e
potencialmente
mais
democratizado,
houve
a
criação
de
grandes
programas
de
compras
de
livros
didáticos
e
de
paradidáticos
–
estes
em
um
segundo
momento.
O
primeiro
programa
PNLD
(Programa
Nacional
do
Livro
Didático)
tem
origem
em
1985,
como
mostra
Cassiano
(2013),
ele
objetivou
a
compra
e
distribuição
gratuita
para
os/as
estudantes
da
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
educação
básica
brasileira
de
manuais
escolares.
Já
o
Programa
Nacional
Biblioteca
da
Escola
(PNBE)
foi
criado
por
meio
da
Portaria
n.º
548
de
28
de
abril
de
1997
e
tinha
por
função
comprar
livros
para
serem
doados
ao
acervo
de
bibliotecas
das
escolas
públicas
de
todo
território
nacional.
O
PNLD
passou
por
sucessivas
alterações,
que
aos
poucos
ampliaram
seu
escopo
de
atuação,
tornando-o
nos
anos
2000
uma
política
que
atendia
à
educação
brasileira
de
maneira
universal
(em
todos
os
níveis
de
ensino:
infantil,
fundamental,
médio
e
ensino
de
jovens
e
adultos).
O
PNLD
é
gerido
pelo
MEC/FNDE
(Ministério
da
Educação/
Fundo
Nacional
para
o
Desenvolvimento
da
Educação)
sendo
responsável
por
colocar
o
governo
brasileiro
no
hall
dos
maiores
compradores
de
livros
do
mundo.
Segundo
Cassiano
(2013),
em
compras
institucionais
de
livros,
o
Brasil
só
fica
atrás
de
China
e
Estados
Unidos.
Porém,
quando
se
olha
somente
para
os
livros
didáticos,
o
PNLD
se
mostra
o
maior
programa
global.
Cassiano
(2013)
reconta
de
forma
detalhada
como
esse
programa
tornou
o
segmento
dos
didáticos
um
nicho
de
negócio
rentável,
seguro
e
cobiçado
por
diversos
agentes
do
mercado
editorial.
O
fato
de
ser
um
programa
contínuo
com
recursos
empenhados
e
garantidos,
e
de
lançamento
de
editais
de
compra
e
reposição
de
livros
constantes
criou
uma
corrida
entre
grandes
grupos
editoriais
(inter)nacionais
(sobretudo
espanhóis)
para
liderar
esse
“mercado”
estatal.
Nesse
mesmo
período,
se
o
nicho
dos
didáticos
era
considerado
um
negócio
rentável
e
seguro,
o
mesmo
não
se
podia
dizer
do
setor
de
obras
gerais
(aqui
incluídos
livros
de
ficção
e
não-ficção,
biografias
etc.).
A
fragilidade
do
setor
é
analisada
por
Sá-Earp
e
Kornis
(2010)
que
demonstraram
ter
havido,
no
período
1996-2006,
uma
queda
constante
no
faturamento
real
das
editoras
(receita
total,
retirados
os
custos
da
inflação).
Entre
1995
e
2006
o
PIB
do
país
cresceu
31%,
já
as
vendas
de
livros
caíram
39%.
O
setor
se
sustentou
durante
muito
tempo
a
partir
das
compras
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
137
governamentais,
que
eram
responsáveis
pela
aquisição
de
40%
dos
exemplares
produzidos
e
por
25%
do
faturamento
total.
Como
demonstram
os
autores,
as
compras
do
Estado,
todavia,
eram
irregulares
(principalmente
as
do
PNBE,
sendo
as
de
competência
do
PNLD
mais
constantes)
e
concentradas
em
poucos
fornecedores,
sobretudo,
quando
se
trata
de
vendas
de
livros
didáticos
(as
vendas
no
período
de
1996-2006
para
o
setor
de
didáticos
foram
destinadas
nomeadamente
para
as
editoras
Positivo,
Ática/Scipione,
Saraiva
e
FTD).
Com
o
passar
dos
anos
a
situação
do
setor
da
edição
no
Brasil
permaneceu
difícil,
o
relatório
organizado
por
FIPE,
CBL
e
SNEL
intitulado
“Série
histórica:
10
anos
de
Pesquisa
Produção
e
Vendas
do
Setor
Editorial
Brasileiro”,
aponta
que,
para
o
período
2006-2015,
todos
os
setores
do
mercado
editorial
tiveram
desempenho
inferior
à
performance
do
PIB
38
.
O
setor
que
mais
sofreu
foi
o
de
Obras
Gerais
(aqui
incluídos
livros
de
ficção
adulta)
que
não
seguiu
o
crescimento
econômico
do
país
entre
2005-2010
e
sofreu
forte
tombo
com
a
crise
econômica
entre
2009
e
2010.
Dentre
os
programas
governamentais,
o
PNLD
sofreu
com
alguns
cortes,
porém,
manteve
alguma
constância,
já
que
ele
era
responsável
por
alimentar
todos
os
níveis
de
ensino
do
conjunto
do
alunado
brasileiro.
Já
o
PNBE
foi
o
programa
que
mais
sofreu
cortes,
sendo,
inclusive,
paralisado
no
ano
de
2014
e
extinto
por
decreto
em
2017
(MOREIRA,
2017).
Posteriormente,
o
programa
foi
incorporado
ao
PNLD
e
passou
a
se
chamar
PNLD
Literário.
No
ano
de
2018,
ele
foi
executado
pela
primeira
vez
no
novo
formato
e
a
próxima
aquisição
de
livros
paradidáticos
estava
prevista
para
o
ano
de
2020
(FNDE,
2018).
Segundo
Moreira
(2017),
através
do
PNBE
foram
38
Nas
pesquisas,
o
mercado
é
divido
entre
4
partes:
Didáticos
(DID),
Obras
Gerais
(OG),
Religiosos
(REL)
e
Científicos,
Técnicos
e
Profissionais
(CTP).
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
vendidos,
desde
os
anos
2000,
230
milhões
de
exemplares
a
um
preço
total
de
R$
891
milhões.
Um
investimento
anual
de
aproximadamente
R$
68,5
milhões
em
renovação
dos
acervos
das
bibliotecas
escolares.
Tal
programa
foi
importante
para
o
setor
de
obras
gerais,
como
já
mencionado,
um
segmento
do
mercado
editorial
bastante
deficitário.
As
compras
do
PNBE
atingiram
escritores
e
escritoras
com
orientações
diversas,
inclusive,
autores
consagrados
do
polo
de
produção
restrita
(erudita)
do
campo
literário.
Esse
tipo
de
compra
era
parte
da
composição
necessária
para
fechar
as
contas
da
publicação
de
um
autor
de
ficção.
Ou
pelo
menos
servia
como
um
mitigador
de
riscos,
já
que,
uma
vez
selecionado
no
programa,
um
livro
e
um
autor,
se
pagavam
para
a
editora
e
permitiam
o
investimento
em
outros
autores
que
não
gerassem
lucro
imediato.
Além,
igualmente,
de
ter
sido
uma
fonte
de
recursos
preciosa
para
escritores,
já
que
os
repasses
do
governo
eram
feitos
de
uma
vez
e
o
autor
ganhava
seus
direitos
(10%
sobre
o
preço
de
venda
de
capa
do
livro)
imediatamente
e
não
em
parcelas
conforme
se
faz
nas
vendas
do
mercado
de
varejo
privado.
Afora
o
PNBE,
para
compreender
o
boom
de
publicação
e
consagração
de
autores
africanos
de
língua
portuguesa
no
país,
devemos
citar
a
aprovação
e
promulgação
da
Lei
n.º
10.639,
de
09
de
janeiro
de
2003,
que
tornou
obrigatório
o
ensino
da
temática
de
história
e
cultura
afro-Brasileira
e
africanas
nas
escolas
públicas
e
particulares.
As
mudanças
preconizadas
pela
lei
exigiriam
renovação
dos
acervos
das
bibliotecas
das
escolas,
para
acomodar
livros
e
obras
que
tematizassem
os
novos
conteúdos
obrigatórios.
Assim
se
viu
nos
anos
subsequentes
a
aparição
de
autores
africanos
de
língua
portuguesa
nas
listas
de
compras
do
PNBE.
Vejamos
o
histórico
de
autores
africanos
de
língua
oficial
portuguesa
no
PNBE/PNLD
literário.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
139
Tabela
1
–
Histórico
de
Vendas
de
autores
africanos
de
língua
oficial
portuguesa
no
PNBE/PNLD
Literário
Pnbe
-
Programa
Nacional
Biblioteca
Da
Escola
2005
A
2014
/
Pnld
Literário
–
2018
Ano
Editora
Autor
Título
Série
Tiragem
Total
Do
Contrato
2009
Pinto
E
Zincone
Editora
Manuel
Rui
Quem
Me
Dera
Ser
Onda
Ensino
Médio
11.093
Sem
Informação
Sub-Total
11.093
Sem
Informação
2006/20
13
Editora
34
Jorge
Araújo
E
Pedro
Sousa
Pereira
Comandante
Hussi
Ensino
Fundamental
29.093
R$
137.609,89
2009
Agir
Editora
Jorge
Araújo
E
Pedro
Sousa
Pereira
Nem
Tudo
Começa
Com
Um
Beijo
Ensino
Fundamental
25.788
Sem
Informação
2009
Editora
34
Jorge
Araújo
E
Pedro
Sousa
Pereira
Cinco
Balas
Contra
A
América
Ensino
Médio
11.093
Sem
Informação
Sub-Total
65.974
R$
137.609,89
2009
Agir
Editora
Ondjaki
Bom
Dia
Camaradas
Ensino
Fundamental
25.788
Sem
Informação
2013
Pallas
Editora
E
Distribuido
ra
Ondjaki
Há
Prendisajens
Com
O
Xão
Ensino
Médio
12.396
R$
72.403,80
2014
Pallas
Editora
E
Distribuido
ra
Ondjaki
A
Bicicleta
Que
Tinha
Bigodes
EJA
32.382
R$
156.401,28
2018
Pallas
Editora
E
Distribuido
ra
Ondjaki
Ombela:
A
Origem
Das
Chuvas
Sem
Informação
68.246
R$
358.973,96
Sub-Total
138.812
R$
587.779,04
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
2011
Editora
Atica
Luis
Bernardo
Honwana
-
Albertino
Bragança
-
Nelson
Saúte
-
Antonio
Couto
-
Maria
Odete
Soares
Semedo
-
Henrique
Teixeira
De
Sousa
-
Ondjaki
-
Boaventura
Cardoso
-
José
Eduardo
Agualusa
-
Luandino
Vieira
Contos
Africanos
Dos
Países
De
Língua
Portuguesa
Ensino
Fundamental
25.918
R$
153.693,74
Sub-Total
25.918
R$
153.693,74
2009
Pinto
E
Zincone
Editora
José
Eduardo
Agualusa
Manual
Prático
De
Levitação
Ensino
Médio
11.093
Sem
Informação
2009
Pinto
E
Zincone
Editora
José
Eduardo
Agualusa
Nação
Crioula
Ensino
Médio
11.093
Sem
Informação
2009
Pinto
E
Zincone
Editora
José
Eduardo
Agualusa
O
Vendedor
De
Passados
Ensino
Médio
11.093
Sem
Informação
2013
Língua
Geral
Livros
José
Eduardo
Agualusa
Nação
Crioula
Ensino
Médio
Sem
Informaçã
o
Sem
Informação
Sub-Total
33.279
Sem
Informação
2018
Casa
Da
Palavra
Producao
Editorial
Pepetela
Se
O
Passado
Não
Tivesse
Asas
Sem
Informação
55.107
R$
1.126.938,15
2018
Casa
Dos
Mundos
Producao
Editorial
E
Games
Pepetela
Mayombe
Sem
Informação
109.145
R$
994.310,95
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
141
Sub-Total
164.252
R$
2.121.249,1
2009
Editora
Schwarcz
Mia
Couto
O
Outro
Pé
Da
Sereia
Ensino
Médio
11.093
Sem
Informação
2013
Editora
Schwarcz
Mia
Couto
O
Último
Voo
Do
Flamingo
Ensino
Médio
12.396
R$
158.308,08
2018
Editora
Schwarcz
Mia
Couto
Terra
Sonâmbula
Sem
Informação
94.204
R$
563.339,92
Sub-Total
117.693
R$
721.648,00
2018
Todavia
Editora
Kalaf
Epalanga
Também
Os
Brancos
Sabem
Dançar
Sem
Informação
40.721
R$
575.387,73
Sub-Total
40.721
R$
575.387,73
Total
Geral
597.742
R$
4.297.367,50
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
do
FNDE/MEC
(2017a;
2017b).
As
editoras
que
mais
obtiveram
a
oportunidade
de
vender
ao
FNDE/MEC
autores
africanos
de
língua
portuguesa
foram
em
ordem
crescente:
Gryphus
4
vezes
(cujo
nome
empresarial
é
Pinto
e
Zincone
Editora);
seguida
da
editora
Companhia
das
Letras
e
Pallas
por
3
vezes;
por
2
vezes
as
editoras
Agir,
Leya
Brasil
(Nome
empresarial
Casa
da
Palavra
e
Casa
dos
Mundos)
e
Editora
34;
e
1
vez
as
editoras
Todavia,
Língua
Geral
e
Ática.
Entre
estas
editoras,
como
aponta
Sá
(2018),
estão
as
principais
e
as
que
mais
publicaram
autores
africanos
de
língua
portuguesa
no
Brasil,
e,
além
disso,
como
mostrarei
a
seguir
no
andamento
da
argumentação,
podemos
encontrar,
entre
estas,
as
editoras
que
mais
foram
beneficiadas
com
apoio
à
edição
de
livros
no
Brasil
da
DGLAB
de
Portugal.
Tabela
2
–
Comparativo
de
total
de
exemplares
e
volume
comprados
entre
os
autores
africanos
de
língua
oficial
portuguesa
nos
programas
PNBE/PNLD
literário
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
do
FNDE/MEC
(2017a;
2017b).
A
Direção-Geral
do
Livro,
dos
Arquivos
e
das
Bibliotecas
(DGLAB)
é
um
órgão
do
governo
de
Portugal,
vinculado
ao
Ministério
da
Cultura
do
país
(PORTUGAL,
[200-?]b.).
Sua
função
é
a
coordenação
e
execução
de
políticas
dedicadas
as
bibliotecas
públicas,
aos
arquivos
e
aos
livros.
Na
área
do
livro
são
diversas
políticas
e
iniciativas
que
estão
a
cargo
da
DGLAB,
dentre
elas
o
apoio
à
criação
e
edição
no
país,
a
promoção
da
literatura
portuguesa
e
de
língua
portuguesa
no
exterior,
promoção
da
leitura
etc.
(Portugal,
[200-?]b.).
Entre
tais
objetivos
há
um
específico
para
o
apoio
à
edição
no
Brasil
iniciada
na
primeira
década
do
século
XXI
(PORTUGAL,
[200-?]a,
[200-?]b.).
No
site
da
entidade
o
programa
com
suas
regras
e
contrapartidas
é
descrito
assim:
A
DGLAB
concede
incentivos
financeiros
aos
editores
brasileiros,
para
a
edição
de
obras
de
autores
portugueses
e
de
autores
dos
países
de
língua
portuguesa
(Angola,
Moçambique,
Cabo
Verde,
São
Tomé
e
Príncipe,
Guiné-Bissau
e
Timor).
[...]
Processo:
São
objeto
de
apoio
as
edições
de
obras
portuguesas,
dos
autores
elegíveis,
nos
domínios
da
ficção,
poesia,
teatro,
ensaio
literário
e
literatura
infantojuvenil.
Não
há
limite
ao
número
de
candidaturas
a
submeter
por
cada
editor,
em
cada
ano.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
143
[...]
O
valor
do
apoio
cobre
parcialmente
o
custo
de
produção,
bem
como
direitos
de
autor.
Contrapartida:
Impressão
do
logótipo
da
DGLAB
nas
obras
apoiadas,
junto
com
a
seguinte
menção:
"Obra
apoiada
pela
Direção-Geral
do
Livro,
dos
Arquivos
e
das
Bibliotecas/Cultura
-
Portugal";
Enviar
à
DGLAB
cinco
exemplares
do
livro
publicado.
(PORTUGAL,
[200-?]b,
n.p.).
Conforme
divulgado
no
site
da
entidade
o
programa
parece
ter
uma
estrutura
bastante
simples,
a
DGLAB
recebe
em
fluxo
contínuo
nesse
site
e
por
meio
de
e-mail
e
via
postal,
candidaturas
de
editoras
interessadas
até
uma
data
estipulada.
Após
o
prazo
limite
para
determinado
ano
são
selecionadas
algumas
obras
dentre
o
conjunto
das
candidaturas
e
estas
recebem
um
subsídio,
segundo
o
regulamento
do
programa,
de
20%
a
60%
do
custo.
Vale
citar
aqui
algumas
outras
regras
de
condicionamento
a
participação
previstas
no
regulamento
da
entidade:
Artigo
3º
Entidades
beneficiárias
Do
Programa
são
entidades
beneficiárias
as
editoras
que
atuam
no
território
brasileiro.
[...]
Artigo
5º
Obras
elegíveis
1
-
O
apoio
financeiro
destina-se
à
edição
de
obras
inéditas
no
Brasil
podendo
ser
apoiados
excertos
de
obras.
2-
São
elegíveis
obras
de
autores
portugueses
à
exceção
de
autores
de
nacionalidade
brasileira.
[...]
5
-
Não
são
aceites
obras
já
editadas,
exceto
se
a
reedição
for
aumentada
sendo,
nesta
circunstância,
passível
de
apoio,
exclusivamente
a
parcela
de
texto
inédita
no
Brasil.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
6
–
Não
são
aceites
obras
inéditas
em
Portugal,
salvo
situações
excecionais,
devidamente
justificadas
que
serão
sujeitas
a
avaliação.
[...]
Artigo
12º
Natureza
e
limites
do
apoio
financeiro
1
–
O
apoio
financeiro
a
conceder
reveste
a
forma
de
subsídio
a
fundo
perdido
e
é
calculado
a
partir
dos
custos
de
produção
apresentados,
devidamente
justificados
pelo
editor.
[...]
3
-
O
montante
do
apoio
financeiro
a
atribuir
por
projeto
é
definido
pela
DGLAB,
após
o
encerramento
das
candidaturas,
e
corresponderá
a
uma
percentagem
que
pode
variar
entre
os
20%
a
60%
do
custo
total
da
produção.
[...]
Artigo
13º
Pagamento
1
-
O
apoio
financeiro
é
pago
através
de
transferência
bancária,
em
euros,
à
ordem
do
editor,
numa
única
parcela,
mediante
a
recepção
na
DGLAB
do
contrato
assinado
pelo
editor.
(PORTUGAL,
[200-?]a,
n.p.).
Os
critérios
parecem
ser
relativamente
pouco
custosos
em
comparação
às
contrapartidas
exigidas.
A
forma
de
pagamento
é
vantajosa
dado
que
vem
em
uma
parcela
única
todo
o
montante
que
cobre
de
20%
a
60%
do
custo
da
produção
da
obra.
Porém,
chamam
à
atenção
algumas
condições
de
controle
exigidas
pela
DGLAB,
entre
elas:
a
obrigação
da
editora
atuar
em
território
brasileiro,
a
proibição
de
publicação
de
autores
de
nacionalidade
brasileira
e
a
exigência
que
o
título
seja
inédito
no
Brasil.
Além
destas,
é
vedada
a
publicação
de
obras
com
este
auxílio
que
não
tenham
sido
editadas
primeiro
em
Portugal,
o
que
dá
ao
instrumento
de
subsídio
uma
função
também
de
controle
sobre
a
circulação
de
livros
entre
os
países
de
língua
oficial
portuguesa
e
estabelece
uma
primazia
para
a
edição
portuguesa.
Antes
de
analisar
os
números
mais
específicos
de
autores
africanos
de
língua
portuguesa
apoiados
pela
DGLAB
é
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
145
interessante
sublinhar
a
baixa
quantidade
e
complexidade
de
documentos
exigidos
das
editoras:
um
formulário
da
DGLAB
que
pede:
identificação
da
editora,
obra
a
publicar,
características
da
edição
e
os
custos
(em
euro);
uma
cópia
de
contrato
da
cessão
dos
direitos
do
autor
e
o
catálogo
atualizado
da
editora
(PORTUGAL,
[200-?]a,
n.p.).
Próximo
das
cláusulas
de
controle
de
mercado
exigidas
pela
DGLAB
para
a
candidatura
ao
subsídio
estão
também
os
critérios
de
avaliação
impostos
aos
projetos
submetidos:
a)
Importância
relativa
da
edição
(autor/obra)
no
território
brasileiro;
b)
Importância
do
autor
no
panorama
literário
português
;
c)
Relevância
para
a
difusão
da
cultura
portuguesa
;
d)
Prioridades
estratégicas,
cumulativas
ou
não,
definidas
contextualmente
em
função
do
mercado
destinatário,
do
autor,
da
obra,
do
género
literário;
(PORTUGAL,
[200-?]a,
n.p.,
grifo
nosso
)
Destaco
os
critérios
relativos
à
importância
e
relevância
da
obra
e
do
autor
no
cenário
português
e
para
a
difusão
da
cultura
portuguesa.
Pode-se
ver
aí
um
indicativo
de
que
a
política
da
DGLAB,
apesar
de
abarcar
autores
de
outros
países
e
áreas
de
língua
oficial
portuguesa,
permanece
se
pautando
por
critérios
de
seleção
que
seguem
bastante
identificados
com
os
interesses
culturais
do
Estado
português.
Feitas
essas
ressalvas,
fica
sugerido
o
baixo
custo
e
trabalho
exigido
para
a
inscrição
e
candidatura
no
programa
por
parte
das
editoras
brasileiras
em
relação
ao
duplo
benefício
que
pode
ser
auferido,
em
primeiro
lugar
o
subsídio
direto
do
Estado
português
e
em
segundo
lugar,
ainda
que
uma
possibilidade
mais
remota,
uma
futura
compra
por
parte
do
Estado
brasileiro
através
dos
editais
do
antigo
PNBE
atual
PNLD
Literário.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Vejamos
a
seguir
os
números
de
obras,
autores
e
editoras
incentivados
pelo
programa
da
DGLAB,
mais
especificamente
o
conjunto
de
autores
africanos
de
língua
portuguesa
39
.
A
DGLAB
entre
2002/2003
e
2017/2018
subsidiou
a
publicação
de
472
títulos,
destes
424
foram
de
autoria
de
portugueses,
correspondendo
a
89,83%
de
todos
os
livros
apoiados.
Os
autores
africanos
de
países
de
língua
oficial
portuguesa
foram
responsáveis
por
40
títulos
ou
8%
do
total
de
títulos
apoiados.
Autores
asiáticos
tiveram
4
títulos
publicados,
ou
aproximadamente
1,5%
do
total
geral.
Como
se
pode
notar,
há
um
predomínio
do
apoio
a
escritores
e
escritoras
portugueses
e
uma
pequena
concessão
para
autores
e
autoras
de
países
africanos
e
asiáticos
de
língua
oficial
portuguesa.
A
distribuição
dos
títulos
publicados
de
autoria
africana
de
língua
portuguesa
é
a
seguinte:
Tabela
3
–
Títulos
de
autoria
africana
de
língua
portuguesa
publicanos
no
Brasil
com
subsídio
da
DGLAB
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
da
DGLAB.
Entre
os
livros
de
autoria
africana
destacam-se
em
primeiro
lugar
os
de
autoria
angolana,
com
19
(48%),
moçambicana
10
(25%),
cabo-verdiana
8
(20%)
e
são-tomense
3
(8%).
A
lógica
da
39
Agradeço
as
funcionárias
e
funcionários
do
DGLAB,
em
especial
a
Ana
Maria
de
Castro
Silva
que
gentilmente
cedeu
todos
os
dados
referentes
a
todos
os
anos
de
funcionamento
do
programa.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
147
distribuição
de
países
mais
uma
vez
espelha
a
das
compras
governamentais
e
da
própria
história
da
edição
de
autores
e
autoras
africanas
de
países
de
língua
oficial
portuguesa
no
Brasil.
Sem
entrar
novamente
nos
detalhes,
já
mencionados
anteriormente,
de
toda
a
história
da
edição
de
escritores
e
escritoras
dos
PALOP
(Países
Africanos
de
Língua
Oficial
Portuguesa)
no
Brasil,
vale
destacar
que
desde
1949,
segundo
Sá
(2018),
até
o
ano
de
2017
foram
editados
190
livros
com
autoria
de
escritores
provenientes
dos
PALOP.
Isto
significa
que
os
40
títulos
apoiados
pela
DGLAB
correspondem
a
21%
de
todas
as
obras
já
publicadas
no
Brasil.
Se
nos
detivermos,
ainda
consoante
os
dados
de
Sá
(2018),
somente
nas
duas
primeiras
décadas
do
século
XXI,
quando
foram
publicados
a
maioria
das
obras
154
(81%)
temos
um
acréscimo
de
importância
do
apoio
da
DGLAB
que
passa
a
corresponder
a
um
quarto
(25%)
de
todos
os
títulos
publicados
por
autores
dos
PALOP
no
Brasil.
Se
passarmos
do
foco
dos
títulos
para
a
quantidade
de
autores
e
autoras,
a
estrutura
dos
números
permanece
bastante
semelhante.
Aos
472
títulos
subsidiados
pela
DGLAB
corresponde
o
número
de
263
escritores
e
escritoras.
Destes,
240
(91,25%)
são
portugueses,
17
são
africanos
(6%)
e
2
são
asiáticos
(0,6%).
Percebe-se
uma
queda
de
representatividade
dos
autores
dos
PALOP
quando
nos
detemos
na
quantidade
de
escritores
e
escritoras
apoiados/apoiadas
e
não
no
total
de
títulos
apoiados
(um/uma
escritor/escritora
pode
ter
mais
de
um
livro
incentivado).
Tabela
4
–
Distribuição
dos/as
autores/as
dos
PALOP
por
país
de
origem,
dentre
os
que
foram
subsidiados/as
pela
DGLAB
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
da
DGLAB.
O
predomínio
de
Angola
permanece
também
neste
caso
com
8
escritores/escritoras
(47%),
desta
vez
seguida
por
Cabo
Verde
com
5
autores/autoras
(29%)
e
em
seguida
Moçambique
com
3
(18%)
e
São
Tomé
e
Príncipe
com
1
(6%).
Observemos
agora
quem
foram
os
autores
mais
vezes
contemplados
com
subsídios
para
seus
títulos:
Tabela
5
–
Autores/as
dos
PALOP
e
total
de
títulos
subsidiados
pela
DGLAB
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
149
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
da
DGLAB.
Os
cinco
autores
mais
subsidiados
foram
Mia
Couto
com
7
obras
apoiadas,
seguido
por
José
Eduardo
Agualusa
com
5,
Ondjaki
com
5,
Pepetela
com
3
e
Jorge
Araújo
e
Pedro
Sousa
Pereira
com
3
livros.
Além
de
mais
subsidiado
pela
DGLAB,
Mia
Couto
é
o
escritor
oriundo
de
um
PALOP
com
mais
obras
editadas
no
Brasil.
Segundo
Sá
(2018),
o
autor
tem
38
livros
publicados
no
país,
Ondjaki
tem
13
livros
publicados,
atrás
apenas
de
Pepetela
e
José
Eduardo
Agualusa.
Se
compararmos
o
total
de
livros
publicados
pelos
5
autores
mais
editados
no
Brasil
dos
PALOP
e
o
total
de
livros
subsidiados
podemos
ponderar
o
peso
do
incentivo
da
DGLAB.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Tabela
6
–
Peso
do
subsídio
da
DGLAB
em
relação
ao
total
de
livros
publicados,
pelos
5
autores
dos
PALOP
mais
editados
no
Brasil
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
de
Sá
(2018)
e
da
DGLAB.
Em
todos
os
casos,
o
peso
do
subsídio
oferecido
pela
DGLAB
tem
um
impacto
de
mais
15%
no
total
dos
livros
editados.
Em
casos
como
o
de
José
Eduardo
Agualusa
e
de
Ondjaki,
a
porcentagem
chega
a
20%
e
38%
respectivamente
do
que
foi
publicado
no
Brasil.
Vale
frisar
que
ao
cotejarmos
os
livros
subsidiados
de
cada
autor
com
o
seu
histórico
de
publicação
no
Brasil,
vemos
que,
em
muitos
casos,
as
primeiras
obras
publicadas
foram
as
que
tiveram
incentivo
do
DGLAB.
Mia
Couto
e
Ondjaki,
nesse
sentido,
são
os
autores
exemplares,
e
tal
padrão
pode
significar
uma
estratégia
de
editores/as
brasileiros/as,
que
buscam
o
apoio
português
para
a
publicação
de
autores
ainda
desconhecidos
no
país
para
minimizar
possíveis
perdas
e
prejuízos.
Com
o
tempo,
o
uso
do
subsídio
da
DGLAB
–
principalmente
por
parte
de
grandes
casas
editoriais
–
vai
diminuindo
em
caso
de
sucesso
nas
vendas
do
escritor
e
um
maior
reconhecimento
de
seu
nome
no
país.
Neste
aspecto,
a
obra
de
Mia
Couto
é
a
que
mais
se
aproxima
deste
padrão.
Podemos
afirmar
que
tal
política
de
apoio
do
governo
português
tem
forte
influência
na
quantidade
de
obras
editadas
destes
autores
no
país,
sendo,
portanto,
um
condicionante
relevante
para
se
compreender
a
recepção
destes
autores
no
Brasil.
Em
alguns
casos,
a
importância
do
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
151
subsídio
da
DGLAB
em
quantidade
de
obras
vendidas
é
maior
do
que
a
quantidade
de
obras
compradas
pelo
governo
brasileiro,
vejamos:
Tabela
7
–
Peso
das
compras
estatais
bia
PNBE/PNLD
literário
em
relação
ao
total
de
livros
publicados,
pelos
5
autores
dos
PALOP
mais
editados
no
Brasil
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
de
Sá
(2018)
e
do
FNDE/MEC
(2017a,
2017b).
Percebe-se
em
todos
os
casos
um
decréscimo
geral
de
participação
percentual
em
relação
ao
peso
do
subsídio
da
DGLAB,
porém
em
casos
como
o
de
Ondjaki,
31%
de
seus
livros
publicados
no
Brasil
foram
comprados
pelo
Estado
brasileiro
e
no
caso
de
José
Eduardo
Agualusa
esse
número
é
de
16%,
seguido
por
Pepetela
com
11%
e
Mia
Couto
com
8%.
Se
os
percentuais
são
menores,
como
visto
anteriormente,
os
valores
envolvidos
nas
transações
com
o
governo
são
elevados
e
muito
provavelmente
trata-se
de
valores
muito
superiores
aos
custos
bancados
pela
linha
de
apoio
da
DGLAB.
Vejamos
a
seguir
as
obras
que
foram,
simultaneamente,
subsidiadas
e
compradas
via
PNBE/PNLD
dos
escritores
africanos
de
países
de
língua
oficial
portuguesa.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Tabela
8
–
Autores
e
obras
dos
PALOP
subsidiados
pela
DGLAB
e
comprados
pelo
Estado
brasileiro
via
PNBE/PNLD
literário
Fonte:
Autoria
própria
com
dados
do
FNDE/MEC
(2017a,
2017b)
e
da
DGLAB
Os
autores
contemplados
mais
vezes
foram
Jorge
Araújo
e
Pedro
Sousa
Pereira
(Cabo
Verde)
por
três
vezes,
em
segundo
lugar
Mia
Couto
(Moçambique)
por
duas
vezes
e
em
terceiro
lugar
Ondjaki,
Kalaf
Epalanga
e
Manuel
Rui
(todos
Angolanos)
com
1
livro
cada.
As
editoras
mais
duplamente
beneficiadas
foram
a
Companhia
das
Letras
e
Agir,
seguidas
por
Editora
34,
Todavia
e
Gryphus.
Com
exceção
da
Todavia
e
Editora
34,
a
primeira
nova
neste
segmento
de
autores
de
países
africanos
de
língua
oficial
portuguesa
e
a
outra
com
publicação
pontual
de
livros
de
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
153
Jorge
Araújo,
as
demais
possuem
boa
quantidade
de
obras
destes
escritores
e
escritoras.
Segundo
levantamento
de
Sá
(2018),
foi
a
Companhia
das
Letras
o
selo
editorial
que
mais
publicou
autores
e
autoras
africanas
de
língua
portuguesa,
entre
1949
e
2017,
sendo
a
responsável
pela
publicação
de
43
livros
de
autoria
africana,
22,6%
do
total
editado
no
período
do
estudo.
Enquanto
a
Companhia
constitui
um
gigante
editorial
transnacional
com
grande
poder
financeiro,
de
marketing
e
simbólico,
as
outras
editoras
que
se
beneficiaram
dos
subsídios
cruzados
ou
até
de
só
um
deles
é
constituída
em
sua
maioria
de
selos
de
médio
e
pequeno
porte.
Conforme
Sá
(2018),
uma
delas
que
tem
destaque
nas
listas
de
compras
governamentais
é
a
Língua
Geral,
sediada
no
Rio
de
Janeiro
e
fundada
no
ano
de
2006
por
Conceição
Lopes,
produtora
cultural
portuguesa,
e
pelo
escritor
José
Eduardo
Agualusa,
tendo
desde
o
princípio
focado
na
publicação
de
autoria
africana
de
língua
portuguesa,
obras
principalmente
focadas
no
público-infanto-juvenil.
Outra
editora
de
destaque
é
a
Pallas,
fundada
em
1975,
na
cidade
do
Rio
de
Janeiro,
e
que
desde
então
tem
se
voltado
à
literatura
infanto-juvenil,
biografias,
ficção,
ensaio,
entrevistas
e
produção
acadêmica
voltada
para
autoria
africana
não
só
de
língua
portuguesa,
mas
de
todo
o
continente.
A
editora
Gryphus
foi
o
primeiro
selo
da
editora
Forense,
criada
em
1995
no
Rio
de
Janeiro,
depois
se
tornou
independente
desta,
em
2006.
Desde
então
tem
se
dedicado
à
publicação
de
ficção,
ensaios,
biografias,
espiritualidade,
cinema
e
cultura
pop/geek
.
Já
a
editora
Agir
foi
fundada
em
1944,
também
no
Rio
de
Janeiro,
pelo
crítico
Alceu
Amoroso
Lima,
e,
em
2002,
foi
vendida
para
o
Grupo
Ediouro
do
qual
passou
a
fazer
parte
ao
lado
de
outros
selos
como:
Nova
Fronteira,
Coquetel,
Petra
e
Pixel
(EDIOURO,
[20--].).
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
A
Editora
34
é
originária
da
revista
34
Letras
,
publicação
vinculada
a
alunos
da
PUC-RIO,
entre
eles,
membros
vinculados
à
família
Bracher,
importante
clã
de
herdeiros
de
um
dos
maiores
bancos
brasileiros,
porém,
com
o
tempo,
a
sede
da
casa
se
mudou
para
São
Paulo,
devido
à
crescente
participação
e
importância
dos
sócios
paulistas
nos
rumos
do
selo
(MUNIZ
JR.,
2013).
Por
fim,
a
editora
Todavia
é
composta
por
antigos
membros
da
editora
Companhia
das
Letras:
Flávio
Moura
(ex-curador
da
FLIP),
André
Conti,
Ana
Paula
Hisayama,
Leandro
Sarmatz
e
Marcelo
Levy.
O
selo
contou,
em
2017,
com
apoio
de
três
investidores
para
se
lançar
no
mercado,
entre
eles
Alfredo
Setúbal
e
seu
filho
Alfredo
Nugent
Setúbal,
ligados
à
família
controladora
do
grupo
Itaú,
Guilherme
Affonso
Ferreira,
presidente
do
fundo
de
investimentos
Teorema
e
um
dos
apoiadores
da
FLIP
e,
por
fim,
Luiz
Henrique
Guerra,
39,
do
fundo
Indie
(MEIRELES,
2017).
A
participação
de
editoras
de
tamanhos,
origens
e
catálogos
tão
variados
sugere
que
os
incentivos
cruzados
ou
isolados
geraram
um
impulso
significativo
para
a
criação
de
todo
um
ecossistema
de
publicações
de
autores
e
autoras
africanas
de
língua
portuguesa
que
se
espraiou
em
diversos
segmentos
do
setor
editorial.
Houve
editoras
que
apostaram
na
edição
de
autores
e
autoras
que
pudessem
ser
elegíveis
tanto
para
os
anos
iniciais
de
ensino
no
Brasil,
a
faixa
mais
universalizada
e
democratizada
(SENKEVICS;
CARVALHO,
2020)
quanto
para
os
anos
finais,
notadamente
o
ensino
médio,
que
pode
ser
um
meio
de
alcançar
as
compras
governamentais
ainda
mais
efetivas
se
combinadas
com
a
presença
de
uma
obra
na
lista
de
alguns
dos
grandes
vestibulares
de
universidades
públicas
e
privadas.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
155
Considerações
finais
Ainda
que
o
PNBE/PNLD
Literário,
a
lei
sobre
a
obrigatoriedade
do
ensino
de
cultura
e
história
africanas
nas
escolas
e
o
subsídio
da
DGLAB
não
possam
ser
reportados
como
os
únicos
fatores
de
estímulo
e
enquadramento
da
recepção
de
autores/as
africanos/as
de
língua
portuguesa
no
Brasil,
é
impossível
não
os
considerar
como
promotores
de
um
ambiente
favorável
a
publicação
e
recepção
desses/as
escritores/as.
Vale
reforçar
a
importância
do
papel
exercido
pelos
agentes
literários
na
articulação
entre
os
diferentes
contextos
nacionais
e
a
passagem
de
um
para
outro.
Como
um
deles,
atuante
no
Brasil,
relatou
em
entrevista,
a
publicação
de
livros
de
autores
estrangeiros
não
tão
famosos
ou
oriundos
de
áreas
linguísticas
periféricas
(não
inglesas
ou
espanholas)
e
não
dominantes,
necessitam
normalmente
de
algum
apoio
estatal
para
valerem
à
pena
para
o
editor.
Consideradas
publicações
de
alto
risco,
elas
são
apostas
que
se
tornam
mais
palatáveis
se
existirem
programas
de
apoio
à
tradução
ou,
como
no
caso
mostrado,
programas
governamentais
de
compras
de
livros
literários
para
escolas
numa
ponta
e
subsídio
à
importação
literária
em
outra.
Vale
registrar
que,
entre
os
autores
mais
subsidiados
e
mais
comprados
pelo
governo
(Pepetela,
Mia
Couto,
Ondjaki,
Mia
Couto,
Jorge
Araújo
e
Pedro
Sousa
Pereira,
Kalaf
Epalanga,
José
Eduardo
Agualusa
e
Manuel
Rui),
só
Manuel
Rui,
Jorge
Araújo
e
Pedro
Sousa
Pereira
não
são
agenciados
pela
agência
Mertin.
Foi
a
fundadora
da
agência,
segundo
Sá
(2018),
que,
inclusive,
indicou
o
nome
de
um
de
seus
agenciados,
Mia
Couto,
para
ser
publicado
pela
Companhia
das
Letras.
Indicação
que
acabou
por
se
tornar
um
dos
maiores
ativos
da
editora
e
o
escritor
de
literaturas
de
língua
portuguesa
mais
publicado
no
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Brasil.
Em
outras
palavras,
o
acesso
à
publicação
e
consagração
exitosas,
tanto
no
Brasil
quanto
fora,
passa
pelo
autor
ser
agenciado
pela
Mertin.
Assim,
é
bastante
razoável
acreditar
que
os
fatores
elencados
estimularam
agentes
literários
diversos,
além
da
Mertin,
a
oferecer
autores
africanos
de
língua
portuguesa
para
diversas
editoras,
mostrando
como
os
riscos
de
sua
publicação
estavam
bem
menores,
dadas
as
chances
de
eles
entrarem
no
PNBE/PNLD
literário
via
o
estímulo
criado
pela
lei
10.639/2003
e
nos
casos
elegíveis
ser
contemplado
com
o
subsídio
da
DGLAB.
Lembro
que
os/as
agentes
literários/as
são
remunerados
por
um
percentual
(normalmente
de
10%
a
20%)
que
incide
sobre
cada
contrato
que
firmam
entre
editor
e
autor,
ou
entre
autor
e
adaptador
do
livro
para
TV,
cinema,
teatro
etc.,
e
estão
constantemente
à
procura
de
contratos
para
seus
autores,
seja
de
publicação,
tradução
e/ou
adaptação.
Tal
fato
se
revela
na
velocidade
e
extensão
da
tradução
e
publicação
dos
trabalhos
dos
cinco
autores
mais
editados
no
Brasil
(Mia
Couto,
Pepetela,
Ondjaki,
José
Eduardo
Agualusa
e
Luandino
Vieira)
tanto
nos
países
de
língua
oficial
portuguesa
quanto
no
resto
do
mundo
(BUCAIONI,
2020.).
Não
só
os
agentes
procuram
por
novidades,
também
os
editores
dos
grandes
grupos
estão
atrás
de
estreantes,
dado
o
cenário
concorrencial
cada
vez
mais
acirrado
entre
grandes
editoras
transnacionais.
E
as
editoras
pequenas
e
médias
procuram
oportunidades
de
viabilizar
seu
catálogo
com
o
menor
risco
possível
e
o
máximo
de
retorno,
buscando
atuar
em
nichos
não
cobertos
pelos
conglomerados
(THOMPSON,
2013.).
Thompson
(2013),
em
seu
livro
sobre
o
mercado
editorial
no
século
XXI,
distingue
importantes
fatores
que
condicionam
o
mundo
dos
livros
na
contemporaneidade,
porém,
por
se
focar
no
espaço
mais
consolidado
e
mercantilizado
do
sistema
mundial,
acaba
por
não
perceber
outro
fator
muito
importante
que
entra
nos
cálculos
de
editores
e
agentes
literários
fora
do
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
157
mundo
de
língua
inglesa.
A
saber,
as
possibilidades
de
estímulos,
subsídios
e
políticas
estatais
cruzadas
que
apoiam
determinado
segmento,
gênero
literário,
língua
etc.
Como
sugere
Sapiro
(2003,
2019a,
2019b)
o
Estado
pode
jogar
um
papel
corretivo
em
contextos
em
que
a
dominação
de
lógicas
econômicas
esteja
impondo
cada
vez
mais
constrições
alheias
às
lógicas
literárias.
A
autora
aposta
que
em
campos
onde
a
interferência
de
fatores
econômicos
representa
uma
ameaça
às
áreas
da
produção
simbólica
cuja
demanda
é
menor,
mas
que
possuem
alto
valor
simbólico,
a
saber,
a
área
de
produção
restrita
de
um
campo,
o
Estado
pode
exercer
mediante
políticas
de
proteção
um
contrapeso
a
favor
das
lógicas
internas
ao
campo,
contrabalançando
o
peso
do
raciocínio
economicista.
Como
vimos
no
caso
em
estudo,
a
atuação
do
Estado
se
reveste
de
uma
maior
ambiguidade,
ao
mesmo
tempo
em
que
uma
determinada
política
pública
preserva
a
possibilidade
de
existência
de
um
setor
menos
rentável
da
economia
simbólica
da
literatura,
temos
tal
política
sendo
utilizada
igualmente
como
um
fator
minimizador
de
riscos,
prejuízos
e
aumento
de
lucros
para
grandes
grupos.
E
não
se
trata
somente
de
uma
política
pública
nacional,
mas
dos
efeitos
de
entrecruzamento
desta
com
uma
segunda
política
(de
outro
país)
que
ao
se
interseccionarem
diminuem
substancialmente
as
possibilidades
de
perdas
dos
selos.
As
cláusulas
de
participação
no
programa
da
DGLAB,
notadamente,
aquela
que
condiciona
o
acesso
ao
incentivo
a
livros
já
publicados
em
Portugal,
sugere
que
o
subsídio
atua
também
como
um
instrumento
de
controle
à
circulação
de
autores/as
portugueses/as
e
de
países
de
língua
oficial
portuguesa,
entre
África,
Europa
e
América.
Ampliando
as
constrições
pelas
quais
os
bens
simbólicos
passam
ao
cruzar
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
fronteiras
geográficas,
linguísticas
e,
também,
políticas
e
econômicas.
Este
jogo
complexo
chama
à
atenção
para
que
muitas
escolhas
para
a
formação
de
um
catálogo
de
uma
editora,
embora
regidas
também
por
critérios
propriamente
literários,
são
antes
presididas
por
critérios
da
economia
do
mercado
editorial
e
de
oportunidades
transnacionais
de
incentivo
estatal
de
vários
tipos.
Ainda
que
as
políticas
estejam
enraizadas
e
controladas
por
Estados-nação
individuais,
há
um
jogo
jogado
entre
agentes
literários,
editoras
transnacionais,
escritores
e
Estados
que
mobilizam
o
tempo
todo
um
trânsito
entre
fronteiras
alargadas
para
viabilizar
uma
publicação
bem-sucedida.
A
ausência
aparente
de
instrumentos
de
controle
e
avaliação
das
políticas
públicas
empregadas
pelos
dois
países
parecem
criar
sob
critérios
de
isonomia
um
instrumento
público
que
acaba
por
gerar
mais
assimetrias
e
concentrações.
Sendo
o
caso
estudado
apenas
uma
pequena
fatia
de
um
mercado
como
o
brasileiro
que
edita
por
ano
em
média
de
350
milhões
a
400
milhões
de
exemplares
de
livros,
estimula-se
que
outras
pesquisas
do
gênero
sejam
conduzidas,
cruzando
políticas
brasileiras
de
incentivo
com
outras
que
possam
ser
pertinentes
ao
setor.
Isto
tendo
em
vista
notar
possíveis
mecanismos
de
concentração
editorial
e
assimetria
de
poder
de
atuação
no
setor.
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littéraire.
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Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
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1,
mar.
2024
Marcello
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Stella
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BOURDIEU,
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Lei
nº
10639,
de
09
de
janeiro
de
2003.
Altera
a
Lei
no
9.394,
de
20
de
dezembro
de
1996,
que
estabelece
as
diretrizes
e
bases
da
educação
nacional,
para
incluir
no
currículo
oficial
da
Rede
de
Ensino
a
obrigatoriedade
da
temática
"História
e
Cultura
Afro-
Brasileira",
e
dá
outras
providências.
Lei
no
10.639,
de
09
de
Janeiro
de
2003.
Brasília,
DF,
09
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05
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2019.
BRASIL.
Lei
nº
12527
,
de
18
de
novembro
de
2011.
Regula
o
acesso
a
informações
previsto
no
inciso
XXXIII
do
art.
5º
,
no
inciso
II
do
§
3º
do
art.
37
e
no
§
2º
do
art.
216
da
Constituição
Federal;
altera
a
Lei
nº
8.112,
de
11
de
dezembro
de
1990;
revoga
a
Lei
nº
11.111,
de
5
de
maio
de
2005,
e
dispositivos
da
Lei
nº
8.159,
de
8
de
janeiro
de
1991;
e
dá
outras
providências.
Lei
nº
12527,
de
18
de
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BUCAIONI,
Marco.
Quem
constrói
o
cânone
internacional
das
Literaturas
Africanas
em
Português?
Tradução,
instituições
e
assimetrias
norte/sul.
Revista
Mulemba
,
v.
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https://doi.org/10.35520/mulemba.2020.v12n22a39812
CÂMARA
BRASILEIRA
DO
LIVRO;
SINDICATO
NACIONAL
DOS
EDITORES
DE
LIVROS;
FUNDAÇÃO
INSTITUTO
DE
PESQUISAS
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
ECONÔMICAS.
Desempenho
do
Mercado
Livreiro
:
uma
análise
de
10
anos
da
pesquisa
produção
e
vendas
do
setor
editorial
brasileiro.
São
Paulo,
2017.
Disponível
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<
http://www.snel.org.br/wp-content/uploads/2016/08/10-ANOS-P
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CASANOVA,
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A
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das
letras
.
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O
Mercado
do
Livro
Didático
no
Brasil
do
século
XXI
:
a
entrada
do
capital
espanhol
na
educação
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São
Paulo:
Editora
UNESP,
2013.
CRUZ,
Clauber
R.
A
Coleção
de
Autores
Africanos
da
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Ática:
as
literaturas
africanas
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Tese
(Doutorado
em
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Faculdade
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Ciências
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Marcello
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Acionista
do
Itaú
é
maior
investidor
da
editora
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o-setubal-do-itau-e-investidor-por-tras-de-nova-editora-literaria.s
html,
consultado
em
20/08/2020.
MOREIRA,
Ardilhes.
Governo
federal
está
desde
2014
sem
comprar
livros
de
literatura
para
escolas
públicas:
Última
remessa
de
obras
foi
em
2014.
Programa
de
compras
foi
extinto
e
alternativa
está
em
elaboração
de
edital:
se
tudo
der
certo,
nova
entrega
ocorre
só
a
partir
2019.
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o_Rio-S%C3%A3o_Paulo_e_as_reconfigura%C3%A7%C3%B5es_d
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Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Subsídios
literários
cruzados…
Resumo:
O
artigo
examina
a
Linha
de
Apoio
à
Edição
no
Brasil,
do
governo
português
dedicada
a
subsidiar
a
publicação
de
autores
de
língua
portuguesa
no
país
e
a
relaciona
as
políticas
brasileiras
de
compras
de
livros
via
PNBE/PNLD.
Comparo
os
dois
instrumentos
a
partir
do
exame
das
obras
apoiadas
e
compradas,
realizando
um
levantamento
dos
principais
autores
e
editoras
que
acessaram
as
duas
políticas.
Em
seguida,
focalizo
a
recepção
dos
autores
africanos
de
países
de
língua
oficial
portuguesa,
para
mostrar
como
a
intersecção
entre
os
dois
incentivos,
mais
a
Lei
10.639/03,
foram
fundamentais
para
a
sua
publicação
no
mercado
editorial
brasileiro.
Palavras-chave:
Políticas
de
tradução;
Literaturas
de
Língua
Portuguesa;
Lei
10.639/03;
Escritores
Africanos
de
Língua
Portuguesa;
PNLD.
Abstract:
The
article
explores
the
Portuguese
government's
Linha
de
Apoio
à
Edição
no
Brasil
(Line
of
Support
for
Publishing
in
Brazil),
dedicated
to
subsidizing
the
publication
of
Portuguese
language
authors
in
the
country,
and
relates
it
to
the
Brazilian
policies
of
book
purchasing
via
PNBE/PNLD.
I
compare
the
two
instruments
by
examining
the
works
supported
and
purchased,
conducting
a
survey
of
the
main
authors
and
publishers
who
accessed
the
two
policies.
I
then
focus
on
the
reception
of
African
authors
from
Portuguese-speaking
countries,
to
show
how
the
intersection
between
the
two
incentives,
plus
Law
10.639/03,
were
fundamental
to
their
publication
in
the
Brazilian
publishing
market.
Keywords:
Politics
of
translation;
Portuguese
Language
Literatures;
Law
10.639
/
03;
Portuguese-speaking
African
writers;
PNLD.
Recebido
para
publicação
em
11/07/2021
Aceito
em
08/04/2023
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
Marcello
G.
P.
Stella
165
ACESSO
ABERTO
Copyright:
Esta
obra
está
licenciada
com
uma
Licença
Creative
Commons
Atribuição
4.0
Internacional.
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024