Impactos
sociais
da
Covid-19
para
a
população
negra:
uma
perspectiva
de
análise
a
partir
da
implementação
do
Auxílio
Emergencial
André
Sena
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro,
Brasil
https://orcid.org/0000-0002-5598-0072
andresennas0@gmail.com
Introdução
A
pandemia
da
Covid-19
que
se
abateu
sobre
o
mundo
a
partir
de
2020
trouxe
uma
série
de
desafios
para
as
experiências
no
campo
das
políticas
públicas.
No
Brasil,
as
desigualdades
que
demarcam
a
formação
social
do
país
foram
pano
de
fundo
para
um
cenário
mais
adensado
de
crise
social
estrutural,
cujos
efeitos
são
observados
na
ampliação
da
precarização
da
vida,
em
múltiplos
campos:
econômico,
social,
cultural,
saúde
(saneamento,
segurança...),
dentre
outros.
A
pandemia
do
novo
coronavírus
escancarou
as
desigualdades
sociais,
de
classe,
raciais
e
de
gênero,
expondo
o
sistema
capitalista
em
toda
sua
perversidade
perante
o
agravamento
da
barbárie
social.
Quase
três
anos
após
o
início
da
pandemia
da
Covid-19,
diversas
pesquisas,
como
os
Boletins
Políticas
Sociais:
acompanhamento
e
análise
n.º
28
(2021)
e
n.º
Revista
de
Ciências
Sociais
—
Fortaleza,
v.
55,
n.
1,
mar.
2024
DOI:
10.36517/rcs.54.2.a05
ISSN:
2318-4620
Impactos
sociais
da
Covid-19…
29
(2022)
do
Instituto
de
Pesquisa
Econômica
Aplicada
(IPEA),
têm
demonstrado
as
maiores
vulnerabilidades
à
contaminação
e
à
mortalidade
pelo
vírus,
bem
como
nos
efeitos
sobre
emprego
e
renda,
quando
os
marcadores
sociais
da
diferença
de
gênero,
raça
e
classe
são
adicionados
ao
prisma
analítico
da
conjuntura
pandêmica.
De
acordo
com
Santos
(2020),
os
efeitos
mais
perversos
são
sentidos
pelas
populações
que
já
apresentavam
condições
de
desigualdade
em
virtude
de
sua
raça
ou
etnia,
gênero
e
classe
social.
Para
conter
os
impactos
econômicos
e
sociais
da
crise
sanitária,
políticas
públicas
de
rendas
básicas
emergenciais,
garantindo
segurança
alimentar
e
acesso
ao
consumo
básico,
foram
aprovadas
ao
redor
do
mundo.
Essas
medidas
não
contributivas
de
proteção
social,
segundo
cada
país,
sustentam-se
em
leis,
decretos
executivos
e
regulamentos
ministeriais.
Isso
posto,
não
deveria
surpreender
que
grupos
já
socialmente
vulnerabilizados
sejam
mais
suscetíveis
aos
impactos
deletérios
da
pandemia
de
Covid-19,
mas,
ao
contrário,
deveria
ser
esperado
e,
dessa
forma,
passível
de
intervenções
políticas
específicas
que
minimizassem
tais
impactos.
Contudo,
levantamentos
já
em
2020
mostravam
que
pessoas
negras
sofriam
desigualmente
os
impactos
advindos
da
crise
sanitária-social-econômica
inaugurada
pela
Covid-19.
Nesse
sentido,
ao
chegar
ao
Brasil,
a
pandemia
da
Covid-19
encontra
uma
sociedade
profundamente
desigual,
e
é
a
partir
deste
terreno
que
devemos
essa
pesquisa
se
inicia.
Isso
posto,
o
artigo
tem
por
objetivo
refletir
e
analisar
os
impactos
sociorraciais
aprofundados
durante
a
pandemia
da
Covid-19
para
a
população
negra
a
partir
da
implementação
da
política
pública
de
Auxílio
Emergencial
(AE).
Pôr
a
população
negra
brasileira
em
destaque,
realizando
um
recorte
racial
entre
os
beneficiários
do
AE,
nossa
pretensão
recai
nos
elementos
historicamente
sintomáticos
da
realidade
social
concreta
dessa
população,
como
moradias
precárias,
renda
André
Sena
200
mais
baixa
quando
comparadas
à
população
branca,
acesso
à
saúde
precarizado.
Excetuando
aqui
menção
direta
a
outros
elementos
que,
concomitantemente,
estruturam
a
vida
desse
grupo
populacional.
O
artigo
está
ancorado
na
discussão
de
análise
de
políticas
públicas
e
geração
de
desigualdade,
as
ideias
que
norteiam
a
construção
de
uma
política
pública
e
suas
consequências
não
previstas
diante
de
suas
finalidades
no
contexto
brasileiro.
É
importante
frisar
que
a
Covid-19
se
espalha
numa
realidade
estruturalmente
desigual
e
racista,
com
uma
população
que
naturalizou
a
invisibilização
das
dores
e
das
mortes
de
determinados
corpos
–
a
partir
da
agência
constante
do
necropoder
(MBEMBE,
2016)
–
e
naturalizou
corpos
brancos
nos
espaços
de
poder
e
privilégio.
A
justificativa
desta
pesquisa
reside
na
possiblidade
de
análise,
a
partir
de
uma
perspectiva
crítica
dos
impactos
da
implementação
de
políticas
públicas
que
têm
como
beneficiários
grande
quantidade
de
pessoas
negras
–
maioria
inconteste
entre
os
vulnerabilizados
no
Brasil
–,
a
despeito
de
a
política
não
ter
essa
população
como
público-alvo
prioritário.
O
contexto
da
Covid-19
escancarou
a
necessidade
de
políticas
públicas
como
o
Auxílio
Emergencial
para
que
os
sujeitos
vulnerabilizados
tenham
condições
de
subsistir.
Idealmente,
esperamos
que
as
reflexões
levantadas
ao
longo
deste
texto
possam
ser
úteis
para
que,
no
futuro,
eventuais
crises
que
tenham
por
respostas
políticas
públicas
acuradas
diante
da
realidade
social
de
tantos
brasileiros
e
brasileiras.
Permitindo,
assim,
que
a
agência
do
poder
pública
seja
efetivamente
um
caminho
para
a
melhoria
da
qualidade
de
vida
no
país.
Este
artigo
se
divide
então
em
cinco
partes,
excetuando
a
Introdução
.
Na
primeira,
apresentamos
os
procedimentos
metodológicos
empregados.
Na
segunda,
pontuamos
que
os
impactos
da
crise
socioeconômica
da
Covid-19
se
constroem,
em
anos
recentes,
sobre
um
desmonte
institucional
das
políticas
de
combate
ao
racismo
no
âmbito
do
Governo
Impactos
sociais
da
Covid-19…
Federal,
principalmente,
centrado
em
discursos
do
então
Presidente
Jair
Messias
Bolsonaro
(2019-2022)
e
outros
membros
de
seu
governo.
Num
terceiro
momento,
focamos
na
política
pública
de
distribuição
de
renda,
o
Auxílio
Emergencial,
e
sua
implementação
que
suscitou
uma
série
de
impactos
indesejados
para
a
população
negra.
Na
quarta
seção,
sublinhamos
os
impactos
sociorraciais
gerados
pela
implementação
do
AE,
analisando
a
partir
de
um
viés
crítico,
como
a
política
criada
no
contexto
pandêmico
amparou
(ou
não)
adequadamente
os
indivíduos
que
mais
necessitavam.
Por
fim,
apresentamos
as
considerações
finais,
urgindo
por
um
papel
mais
ativo
da
figura
do
Estado
para
mitigar
os
impactos
perversos
sobre
aqueles
que
são
mais
vulnerabilizados.
Procedimentos
Metodológicos
O
presente
texto
apresenta
caráter
exploratório
e
descritivo,
visto
que
a
complexidade
dos
impactos
sociais
da
implementação
de
política
pública
de
distribuição
de
renda
tão
recente
ainda
está
sendo
escrutinada
e
analisada.
O
cunho
recente
do
fenômeno
social
aqui
apresentado
demanda
ainda
maiores
e
mais
aprofundadas
pesquisas.
Isso
posto,
realizou-se
o
levantamento
bibliográfico
nas
bases
Scielo
e
do
IPEA
uma
vez
que
essas
bases
dispõem
de
artigos
e
relatórios
científicos
publicados
que
abordam
o
tema
aqui
tratado.
Não
foram
utilizadas
outras
bases
visando
uma
proposital
restrição,
devido
ao
número
limitado
de
páginas.
Quanto
aos
procedimentos
metodológicos,
a
partir
de
uma
metodologia
qualitativa,
destaca-se
dois
principais
eixos
de
impacto
da
política
pública
de
renda
emergencial
adotada:
socioeconômico
e
sanitário.
Analisa-se
a
implementação
do
Programa
Auxílio
Emergencial
com
o
intuito
de
identificar
os
impactos
sobre
a
população
negra,
nos
referidos
eixos.
Os
André
Sena
202
dados
foram
tratados
por
meio
de
análise
crítica,
tendo
por
base
a
Análise
de
Políticas
Públicas.
Deu-se
foco
ao
recorte
raça/cor,
indo
ao
encontro
das
reflexões
sobre
a
necropolítica
vivida
no
Brasil
durante
a
pandemia
da
Covid-19.
O
levantamento
de
dados
nos
permitiu
traçar
o
perfil
das
vicissitudes
vividas
pelos
beneficiários
da
política
do
Auxílio
Emergencial.
Por
se
tratar
de
um
fenômeno
social
recente,
optou-se
por
se
restringir
nas
bases
citadas
em
que
a
temática
dos
artigos
coadunava
com
o
objetivo
do
artigo.
Na
base
Scielo,
foram
utilizadas
as
seguintes
palavras
chaves
em
dois
momentos
distintos:
focando
na
política
pública,
utilizou-se
“auxílio
emergencial”
e
no
eixo
relações
étnico-raciais
foram
utilizadas
“população
negra”
e
“covid-19”.
O
objetivo
fora
encontrar
fontes
bibliográficas
que
já
focassem
no
cruzamento
entre
o
auxílio
pago
pelo
Governo
Federal,
seus
impactos
e
a
população
negra.
A
busca
se
restringiu
ao
período
de
março
de
2020
a
dezembro
de
2022.
Na
Scielo
,
foram
encontradas,
no
primeiro
momento,
12
(doze)
artigos,
todos
em
português,
sendo
4
(quatro)
deles
de
uma
mesma
revista,
a
Revista
de
Administração
Pública
.
Dos
doze,
6
(seis)
foram
publicados
em
2022
e
3
(três)
em
2021
e
2020,
respectivamente.
9
(nove)
deles
estavam
concentrados
na
área
temática
de
Ciências
Sociais
Aplicadas,
2
(dois)
em
Saúde
e
2
(dois)
em
Ciências
Humanas.
Desses
doze
encontrados
na
base
Scielo,
apenas
dois
tratavam
efetivamente
da
implementação
do
Auxílio
Emergencial:
MARINS
et.
al.
Auxílio
Emergencial
em
tempos
de
pandemia,
da
Sociedade
e
Estado
(2021)
e
CARDOSO,
Bruno
Baranda,
A
implementação
do
Auxílio
Emergencial
como
medida
excepcional
de
proteção
social,
da
Revista
de
Administração
Pública
(2020).
Os
demais
tratavam
desde
o
desenho
da
política,
sua
formulação,
até
os
dilemas
morais
para
a
gestão
pública,
passando
pelos
efeitos
sobre
a
política
de
transferência
de
renda
no
Brasil.
Impactos
sociais
da
Covid-19…
Num
segundo
momento,
ainda
na
base
Scielo,
utilizando
as
palavras-chave
“população
negra”
e
“covid-19”,
temos
11
(onze)
artigos,
todos
disponíveis
em
português.
Dois
foram
lançados
na
Revista
Ciência
&
Saúde
Coletiva
.
Dos
doze
encontrados,
oito
estão
na
área
temática
da
Saúde.
Após
leitura
dos
resumos
dos
artigos,
utilizamos
como
critério
de
exclusão
a
relação
e
menção
do
Auxílio
Emergencial
e
polução
negra,
excluindo
os
que
focavam
mormente
no
eixo
saúde-covid-19,
tangenciando
ou
mesmo
não
abordando
o
tema
da
política
pública
do
Auxílio
Emergencial.
Feito
isso,
nove
artigos
foram
deixados
de
lado
enquanto
fontes
possíveis
por
não
atenderem
ao
critério
de
cruzamento
elencado.
Foram,
no
entanto,
dois
que
atendiam
ao
critério:
SANTOS,
Fernanda
Barros;
SILVA,
Sergio
Luiz
Baptista
da.
Gênero,
raça
e
classe
no
Brasil:
os
efeitos
do
racismo
estrutural
e
institucional
na
vida
da
população
negra
durante
a
pandemia
da
covid-19
,
da
Revista
de
Direito
e
Práxis
(2022)
e
GOES,
Emanuelle
Freitas,
RAMOS;
Dandara
de
Oliveira;
FERREIRA,
Andrea
Jacqueline
Fortes.
Desigualdades
raciais
em
saúde
e
a
pandemia
da
Covid-19
,
da
revista
Trabalho,
Educação
e
Saúde
(2020)
.
Da
base
de
dados
do
IPEA,
utilizamos
os
documentos:
Boletins
Políticas
Sociais:
acompanhamento
e
análise
n.º
28
(2021)
e
n.º
29
(2022)
que
trazem
dados
consistentes
sobre
os
impactos
e
mudanças
sentidas
pela
população
vulnerabilizada
durante
a
pandemia.
Esses
boletins
foram
escolhidos
dentre
os
relatórios
produzidos
pelo
IPEA
por
sua
preocupação
com
os
efeitos
sociais
da
pandemia
e
sobre
a
atividade
econômica,
bem
como
com
a
igualdade
racial
durante
o
período,
tendo
todo
um
capítulo
dedicado
a
isso.
Ademais,
inclui-se
no
levantamento
o
documento
legal
que
conforma
o
desenho
da
política:
Lei
nº
13.982
(BRASIL,
2020)
e
matérias
de
jornais
nacionais
que
tratavam
da
política
em
foco,
abordando
seus
problemas
de
implementação
no
Brasil.
André
Sena
204
Outras
fontes
utilizadas
são
I)
resultado
da
participação
contínua
enquanto
pesquisador
no
Diretório
de
Pesquisa
Desigualdade,
Interseccionalidade
e
Política
Pública;
II)
fontes
consultadas
a
partir
das
referências
dos
textos
elencados
acima
por
meio
do
levantamento
bibliográfico;
e
III)
fontes
já
previamente
catalogadas
de
artigos
anteriormente
publicados
pelo
autor.
Desse
modo,
dado
o
acima
exposto,
este
artigo
parte
da
hipótese:
será
que
a
população
negra,
historicamente
subalternizada
no
Brasil,
conseguiu
acessar
a
política
de
modo
efetivo?
Considerando
essa
problematização,
focamos,
então,
na
fase
da
implementação
da
política
e
nas
desigualdades
raciais
geradas
ou
aprofundadas
a
partir
do
dado
contexto.
Aqui,
utilizamos
a
categoria
racial
de
maneira
indissociável
ao
social
visto
que
os
impactos
se
desdobram
na
realidade
material
dos
negros
e
das
negras
brasileiros
e
brasileiras.
Com
isso,
utilizamos,
por
vezes,
o
termo
impacto
sociorracial
que
é
traduzido
em
instrumentos
de
fomento
(ou
não)
das
desigualdades
vividas
por
parte
dos
cidadãos
e
cidadãs
negros
e
negras
diante
da
ação
do
Estado.
A
desigualdade
racial
no
pré-pandemia
da
Covid-19
Afirmar
que
o
racismo
no
Brasil
é
sutil,
significa
fechar
os
olhos
para
a
crueldade
a
que
foi
historicamente
submetida
a
população
negra.
Verificam-se
dois
mecanismos
que
se
conjugam,
traduzindo
algumas
facetas
do
racismo
brasileiro.
Por
um
lado,
teme-se
a
“quase
invisibilidade”
da
questão
racial,
entendida
por
parte
ainda
substancial
da
sociedade
como
“assunto
dos
negros”.
Embora
os
inúmeros
dados
demonstrativos
da
situação
injusta
e
crítica
vivenciada
pelos
negros
no
Brasil
venham
ganhando
notoriedade,
no
bojo
dos
debates
sobre
a
implementação
de
políticas
afirmativas.
Impactos
sociais
da
Covid-19…
Por
outro
lado,
coloca-se
a
crença
no
mito
da
democracia
racial
53
e
na
ideia
de
que
o
Brasil
teria
superado
a
escravidão
e
o
racismo
por
meio
do
processo
de
miscigenação
que,
por
sua
vez,
nos
teria
livrado
de
problemas
existentes
apenas
em
outras
paragens,
tais
como
Estados
Unidos
ou
a
África
do
Sul
(PACHECO;
SILVA,
2007).
Como
observado,
a
pandemia
da
Covid-19
não
começa
sobre
um
pano
de
fundo
vazio.
O
Brasil,
um
país
marcado
pelo
racismo
estrutural
(ALMEIDA,
2018),
figura-se
enquanto
lugar
onde
o
racismo
impacta
a
reprodução
das
formas
sociais
e
da
vida
quotidiana
das
pessoas
negras.
Almeida
(2018)
depreende
com
isso
que
a
cor/raça
impacta
as
pessoas
negras
no
Brasil
enquanto
uma
questão
de
raça
conectada
com
o
processo
de
reprodução
das
formas
sociais
e
das
estruturas.
Neste
caso,
o
racismo
condiciona
e
estrutura
a
vida
de
negros
e
negras
e,
enquanto
ideologia,
constitui
a
maneira
como
se
experimenta
a
realidade
circundante.
É
este
contexto
de
racismo
estrutural
que
torna
a
população
negra
particularmente
vulnerável
à
pandemia
da
Covid-19,
seja
no
que
tange
aos
efeitos
em
termos
de
saúde
(morbimortalidade),
seja
no
que
diz
respeito
aos
efeitos
econômicos,
os
quais
podem
também
resultar
em
mortalidade
pela
fome,
pela
pobreza
e
pela
falta
de
acesso
a
condições
mínimas
de
acesso
à
saúde
(GOES;
RAMOS;
FERREIRA,
2020).
Nas
questões
de
saúde,
depara-se
com
a
ocorrência
de
alguns
dos
principais
sintomas
da
Covid-19 e
da
demora
na
recuperação
serem
mais
severos
na
população
negra.
Cabe
destacar
que
a
pandemia
da
Covid-19
e
a
crise
social
e
sanitária
em
curso
tiveram
e
continuarão
tendo
efeitos
na
saúde
da
população
que
transcendem
o
contágio
ou
o
óbito
pelo
vírus.
A
53
Do
ponto
de
vista
sociológico,
a
democracia
racial
é
uma
construção
falsa
de
um
passado
nacional
imaginado,
uma
falsa
ideologia
sustentada
pela
suposta
ausência
de
preconceito
e
de
discriminação
racial
no
Brasil,
que
se
constituiu
principalmente
depois
da
publicação
de
Casa-Grande
e
Senzala
de
Gilberto
Freyre,
em
1933.
André
Sena
206
saturação
do
sistema
de
saúde
para
responder
à
pandemia
implicou
em
obstáculos
inéditos
ao
serviço
de
saúde
que
afetam
precipuamente
a
população
negra
mais
vulnerável,
aprofundando
a
desigualdade
preexistente.
No
que
concerne
ao
panorama
socioeconômico,
segundo
dados
estatísticos
do
Instituto
Brasileiro
de
Geografia
e
Estatística
(IBGE),
em
2019,
pouco
antes
do
início
da
pandemia,
as
pessoas
de
cor
ou
raça
preta
ou
parda
representavam
57,7
milhões
de
pessoas
na
força
de
trabalho
do
país;
enquanto
a
população
de
cor
ou
raça
branca
totalizava
46,1
milhões
de
pessoas.
Logo,
os
pretos
representavam
25,2%
a
mais
do
que
os
brancos.
Contudo,
a
maior
proporção
absoluta
não
equivale
a
superioridade
no
rendimento
ou
na
ocupação
de
cargos
de
trabalho.
Além
disso,
a
distribuição
por
atividades
nos
mostra
que
60,8%
das
atividades
agropecuárias,
62,6%
da
construção
civil
e
65,1%
dos
serviços
domésticos
são
realizados
por
pretos
e
pretas
(IBGE,
2019).
Por
outro
lado,
as
atividades
mais
bem
remuneradas
como
as
atividades
atreladas
à
administração
pública,
educação
superior
e
saúde
são
majoritariamente
ocupadas
por
pessoas
de
cor
ou
raça
branca.
No
que
tange
à
renda,
os
brancos
ganhavam
73,9%
a
mais
quando
comparados
a
pretos
ou
pardos
(IBGE,
2019).
Segundo
dados
do
Departamento
Intersindical
de
Estatística
e
Estudos
Socioeconômicos
(DIEESE),
dos
8
milhões
de
pessoas
que
perderam
o
emprego
entre
o
1º
e
o
2º
trimestre
de
2020,
ou
seja,
no
início
da
pandemia
de
Covid-19
“6,3
milhões
eram
negros
e
negras,
o
equivalente
a
71%
do
total”
(DIEESE,
2020,
p.3).
Além
disso,
a
persistência
de
desigualdade
entre
negros
e
brancos
ficou
ainda
mais
latente
na
pandemia,
assim:
A
taxa
de
desocupação
entre
esses
trabalhadores
é
sempre
maior,
mas
a
pandemia
conseguiu
criar
ainda
mais
adversidades
para
essa
população.
Em
situação
vulnerável
de
renda,
moradia,
sem
possibilidade
de
aderir
ao
isolamento,
necessário
Impactos
sociais
da
Covid-19…
para
evitar
a
propagação
do
coronavírus,
trabalhadores
e
trabalhadoras
negras
foram
obrigados
a
continuar
a
busca
por
trabalho
diante
da
necessidade
de
sobrevivência,
em
longos
deslocamentos
dentro
de
transportes
públicos
nas
grandes
cidades.
(DIEESE,
2020,
p.3-4).
Entende-se,
portanto,
que
o
recorte
racial
melhora
a
compreensão
de
como
a
pandemia
afeta
de
maneira
diferenciada
grupos
específicos
da
sociedade.
Segundo
o
IBGE
(2019),
a
população
brasileira
é
composta
de
56%
de
pretos
e
pardos,
e
essa
mesma
população
preta
representava
75%
dos
pobres
do
país,
classes
D
e
E,
enquanto
a
população
branca
representa
os
70%
mais
ricos.
Além
disso,
essas
pessoas
vivem
uma
vida
nua
54
em
territórios
(favelas)
que
carregam
a
baixa
infraestrutura
e
a
vulnerabilidade
social.
Logo,
a
pandemia
também
representou
um
desafio
maior
já
desde
o
início
para
quem
se
encontrava
em
situações
sociovulneráveis
latentes.
Em
termos
políticos,
no
governo
Bolsonaro
(2019-2022)
foi
observado
um
desmonte
paulatino
e
constante
do
arcabouço
institucional
para
o
combate
ao
racismo.
Os
anos
da
gestão
Bolsonaro
que
antecederam
a
pandemia
da
Covid-19
possibilitam
vislumbrar
como
os
negros,
mulheres
e
as
populações
de
baixa
renda
vulnerabilizadas
foram
menos
visados
enquanto
público-alvo
para
as
políticas
públicas
focalizadas,
o
que,
por
sua
vez,
gerou
impactos
sociorraciais,
sanitários
e
econômicos
quando
a
pandemia
de
Covid-19
chegou
(IPEA,
2021).
As
desigualdades
raciais
e
sociais
existentes
no
Brasil
pré-pandêmico
e
a
gestão
necropolítica
do
Governo
Federal
em
lidar
com
a
pandemia
refletiram
numa
conjuntura
54
Segundo
Giorgio
Agamben,
em
resumo,
vida
nua
é
uma
expressão
que
retira
do
direito
romano
antigo,
do
antigo
homo
sacer
,
o
homem
sagrado:
aquele
que
era
matável,
mas
não
sacrificável.
Quando
um
policial
mata
um
menino
negro
em
situação
de
rua
que
cometeu
um
delito,
na
interpretação
de
Agamben,
ele
não
cometeu
um
crime,
uma
vez
que
ele
matou
alguém
que,
para
sociedade,
estava
já
morto.
André
Sena
208
desfavorável
de
condições
estruturais
de
desigualdade
que
a
pandemia
cumpriu
o
papel
de
reforçar.
Somado
a
isso,
a
nominada
gestão
do
governo
federal
deliberadamente
promoveu
uma
tentativa
de
desmonte
da
agenda
de
igualdade
racial
no
campo
simbólico
teórico.
Discursos
como
o
do
então
presidente
da
Fundão
Cultural
Palmares
,
no
Dia
da
Consciência
Negra
de
2020,
reiteram
esse
ponto,
no
momento
foi
dito
“Não
existe
racismo
estrutural
no
Brasil;
o
nosso
racismo
é
circunstancial
–
ou
seja,
há
alguns
imbecis
que
cometem
o
crime”;
falas
como
essa
se
repetiram
entre
diferentes
autoridades
do
então
governo
e
do
próprio
presidente,
reiterando
a
crítica
supracitada.
Observou-se
um
processo
de
desmonte
das
políticas
de
combate
ao
racismo
e
promoção
da
igualdade
racial
no
Brasil
que
tomam,
em
anos
recentes,
um
caminho
triplo:
1)
redução
das
capacidades
institucionais,
o
que
afeta
as
esferas
organizacionais
e
administrativas
da
política;
2)
um
segundo
movimento
que
acontece
no
plano
simbólico-ideológico,
reforçado
a
partir
de
2019,
quando
um
discurso
sistemático
institucionalizado
retrocede
à
tese
da
democracia
racial
e
nega
a
existência
do
racismo
estrutural;
e
3)
o
terceiro
se
dá
pela
estratégia
de
desmonte
por
default
,
na
qual
os
tomadores
de
decisão
não
declaram
abertamente
a
intenção
de
acabar
com
a
política
e
utilizam
como
táticas
o
desamparo,
a
desassistência,
e
a
não
tomada
de
decisão
(IPEA,
2021).
O
Boletim
de
Política
Social
do
IPEA
(2021)
aponta
que
tal
desqualificação
da
desigualdade
racial
é
uma
tentativa
de
mitigar
o
racismo
estrutural
enquanto
problema
público
estruturante
da
sociedade
a
ser
enfrentado
com
políticas
públicas.
O
que
ocorre,
portanto,
é
uma
tentativa
de
construção
de
uma
narrativa
reacionária
de
democracia
racial
segundo
a
qual
o
Brasil,
enquanto
um
país
miscigenado,
não
teria
o
racismo
como
problema
estrutural,
mas,
pelo
contrário,
pontual.
O
ideário
da
democracia
racial
sustenta
de
forma
abstrata
os
valores
da
igualdade
entre
brancos
e
negros,
assim,
Impactos
sociais
da
Covid-19…
desproblematizando
as
desigualdades
sociais
entre
os
diferentes
grupos
étnico-raciais
enquanto
um
problema
público.
O
que
se
vislumbra
a
partir
deste
prisma
analítico,
portanto,
é
um
movimento
duplo
de
deslegitimação
das
pautas
raciais
enquanto
estruturantes
das
relações
sociais
estabelecidas
na
sociedade
e,
simultaneamente,
a
fragilização
do
sistema
de
políticas
de
combate
ao
racismo
ou
de
políticas
focais
voltadas
para
as
populações
negras.
Quando
a
pandemia
de
Covid-19
avançou
no
Brasil,
ela
o
fez
sobre
um
sistema
de
proteção
social
diminuído,
cujos
níveis
de
desemprego
e
pobreza
já
se
apresentavam
como
alarmantes.
Ao
produzir
efeitos
nefastos
não
somente
sobre
o
sistema
de
saúde,
mas
em
diversas
frentes
da
vida
social,
a
crise
sanitária
teve
impactos
distintos
a
depender
do
grupo
social
atingido.
Implementando
desigualdades:
a
política
pública
de
renda
básica
emergencial
A
adoção
de
sistemas
de
distribuição
de
renda
para
garantir
o
sustento
das
pessoas
ante
diversas
situações
de
riscos
ao
longo
do
ciclo
de
vida
constitui
uma
das
funções
essenciais
da
proteção
social
(ABRAMO;
CECCHINI;
MORALES,
2019).
A
proteção
social
nasceu
vinculada
aos
riscos
associados
à
saúde,
ao
trabalho
e
ao
envelhecimento,
mas
tendeu
a
incorporar
tanto
o
combate
à
pobreza
e
às
desigualdades
como
novas
fontes
de
risco
que
geram
incerteza
e
afetam
o
bem-estar
e
o
gozo
de
direitos.
Desta
maneira,
a
proteção
social
inclui
um
amplo
leque
de
mecanismos
para
garantir
a
renda,
como
o
seguro-desemprego
ou
de
acidente
de
trabalho,
os
sistemas
de
pensões,
as
bolsas
de
estudo
e
os
programas
de
transferências
André
Sena
210
monetárias,
com
ou
sem
condicionalidades
(NATALINO;
PINHEIRO,
2020).
Já
política
pública
é
um
conceito
amplo
e,
por
isso,
não
tem
uma
definição
uníssona
(SOUZA,
2006).
Para
a
autora,
as
políticas
públicas
são
o
conjunto
de
mecanismos
que
perfazem
a
intervenção
estatal
na
realidade
social,
visando
equacionar
problemas,
como
falta
de
infraestrutura,
além
de
aspectos
relacionados
à
saúde,
moradia,
educação,
emprego
e
renda.
Pires
e
Gomide
(2016)
apontam
que
política
pública
pode
ser
definida
enquanto
“um
curso
de
ação
visando
determinados
resultados
a
partir
de
um
conjunto
de
escolhas
ou
decisões
tomadas
por
um
governo”
(PIRES;
GOMIDE,
2016,
p.
121).
Nessa
perspectiva,
afirmam
também
que
“planos,
programas,
projetos
governamentais
se
constituem
como
políticas
públicas,
pois
são
ações
decididas
pelo
governo
visando
determinados
fins”
(PIRES;
GOMIDE,
2016,
p.
122).
De
acordo
com
Santos
(2020),
com
o
avanço
da
ideologia
neoliberal
a
partir
da
década
de
1990,
o
mundo
foi
tomado
por
uma
dinâmica
em
que
as
políticas
públicas
passaram
a
ser
projetadas,
implementadas
e
avaliadas
a
partir
de
critérios
altamente
economicistas,
tendo
por
pano
de
fundo
a
(re)produção
do
capital.
A
não
mitigação
de
problemas
da
desigualdade
socioeconômica
acarreta
que
os
efeitos
mais
perversos
são
sentidos
pelas
populações
que
já
apresentavam
condições
de
desigualdade
em
virtude
de
sua
raça
ou
etnia,
gênero
e
classe
social.
Sobre
isso,
Arruda
e
Santos
(2020)
escrevem:
A
concepção,
implementação
e
avaliação
das
políticas
públicas
a
partir
de
uma
lógica
eminentemente
economicista
provoca
alguns
fenômenos,
dentre
os
quais
(Moraes,
2002;
Pochmann,
2017):
(a)
o
direcionamento
da
estrutura
do
Estado
para
que
seja
catalisadora
das
atividades
econômicas
e
“produtivas”,
com
foco
para
as
atividades
empresariais
privadas;
(b)
a
prevalência,
na
configuração
das
políticas
públicas,
Impactos
sociais
da
Covid-19…
de
critérios
muito
difundidos
pela
lógica
do
capitalismo
neoliberal
–
tais
como
os
aspectos
relacionados
à
meritocracia
e
eficiência,
que
não
necessariamente
podem
(e
devem)
compor
a
única
régua
para
“medir”
as
políticas
públicas
e;
(c)
a
configuração
de
uma
estrutura
de
Estado
mínimo,
com
poucas
possibilidades
para
intervir
na
realidade
social
(o
que
é
algo
muito
problemático
em
países
desiguais,
tais
como
o
Brasil,
no
qual
as
leis
de
mercado
não
são
capazes
de
promover
o
bem-estar
e
a
equidade
social).
(ARRUDA;
SANTOS,
2020,
p.144).
Para
mitigar
os
impactos
sociais
de
uma
crise
como
a
social-sanitária
da
Covid-19,
o
problema
repousa
no
perigo
de
negligência
de
aspectos
crucias
relativos
à
agenda
social,
à
distribuição
de
renda
àquelas
pessoas
que
mais
precisam,
que
se
encontram
em
alguma
situação
de
vulnerabilidade
socioeconômica.
Wolff
et
al.
(2020)
apresentam
a
ideia
de
que
o
vírus
da
Covid-19
seria
igual
para
todos
se
faz
falaciosa
diante
das
estruturas
sociais
modernas;
sabe-se
que,
na
realidade
material
concreta,
pessoas
negras,
mulheres,
pobres,
favelizadas
–
corpos
subalternizados
historicamente
–
perfazem
o
grupo
mais
vitimizado
pelo
vírus.
Campos
(2020)
denuncia
que,
a
despeito
da
necessidade
de
uma
política
pública
de
redistribuição
de
renda,
vale
ressaltar
que
a
implementação
de
tal
medida
aconteceu
num
contexto
de
crise
econômica
e
política
no
Brasil,
sob
o
governo
Bolsonaro
(2019-2022).
Além
disso,
a
falta
de
coordenação
e
ação
conjunta
entre
governos
federal,
estaduais
e
municipais
fez
com
que
informações
desencontradas
fossem
passadas
a
população
de
maneira
dúbia
e
conflituosa.
Sposati
(2020)
completa
ao
afirmar
que
políticas
públicas
formuladas
em
tempos
de
pandemia
pelo
governo
brasileiro
trouxeram
em
seu
cerne
uma
preocupação
em
priorizar
a
economia,
marginalizando,
por
conseguinte,
“a
necessidade
de
amparar
as
pessoas
mais
vulneráveis
e
garantir
com
que
elas
subsistam,
com
um
mínimo
de
dignidade,
enquanto
os
efeitos
André
Sena
212
mais
deletérios
do
Covid-19
perdurarem
no
país”
(SPOSATI,
2020
apud
ARRUDA;
SANTOS,
2020,
p.
145).
A
pandemia
apresentou
um
desafio
à
proteção
social
ao
ampliar
o
número
e
a
variedade
de
grupos
de
população
afetados,
obrigando
o
Governo
Federal
a
repensar
a
cobertura
efetiva
dos
programas
já
existentes,
como
o
Bolsa
Família,
a
suficiência
do
apoio,
o
nível
de
financiamento
e
os
mecanismos
de
acompanhamento
e
gestão.
Além
disso,
levou
a
fazer
um
amplo
uso
das
tecnologias
da
informação
e
comunicação
(TIC),
mas
num
contexto
de
grandes
lacunas
digitais.
A
principal
política
adotada
e
que
é
o
foco
da
análise
pretendida
foi
o
Auxílio
Emergencial.
No
dia
30
de
abril
de
2020,
o
Senado
aprovou
o
Auxílio
Emergencial,
instituído
pela
Lei
nº
13.982,
de
2020,
uma
renda
básica
destinada
a
famílias
de
baixa
renda,
a
beneficiários
do
Bolsa
Família,
pessoas
já
cadastradas
no
CadÚnico,
microempreendedores
individuais,
trabalhadores
informais
e
desempregados
que
teriam
suas
rendas
rebaixadas
e
sentiriam
os
impactos
da
pandemia.
Para
isso,
essas
pessoas
deviam
se
enquadrar
nas
seguintes
exigências:
(i)
seja
maior
de
18
(dezoito)
anos
(ii)
não
tenha
emprego
formal
ativo;
(iii)
não
seja
titular
de
benefício
previdenciário
ou
assistencial
ou
beneficiário
do
seguro-desemprego
ou
de
programa
de
transferência
de
renda
federal,
ressalvado,
nos
termos
dos
§§
1º
e
2º,
o
Bolsa
Família;
(iv)
cuja
renda
familiar
mensal
per
capita
seja
de
até
1/2
(meio)
salário-mínimo
ou
a
renda
familiar
mensal
total
seja
de
até
3
(três)
salários
mínimos;
(v)
que,
no
ano
de
2018,
não
tenha
recebido
rendimentos
tributáveis
acima
de
R$
28.559,70
(vinte
e
oito
mil,
quinhentos
e
cinquenta
e
nove
reais
e
setenta
centavos);
e
(vi)
que
exerça
atividade
na
condição
de:
a)
microempreendedor
individual
(MEI);
b)
contribuinte
individual
do
Regime
Geral
de
Previdência
Social
que
contribua
na
forma
do
caput
ou
do
inciso
I
do
§
2º
do
art.
21
da
Lei
nº
8.212,
de
24
de
julho
de
1991;
ou
c)
Impactos
sociais
da
Covid-19…
trabalhador
informal,
seja
empregado,
autônomo
ou
desempregado,
de
qualquer
natureza,
inclusive
o
intermitente
inativo,
inscrito
no
Cadastro
Único
para
Programas
Sociais
do
Governo
Federal
(CadÚnico)
até
20
de
março
de
2020,
ou
que,
nos
termos
de
autodeclaração,
cumpra
o
requisito
do
inciso
IV
(BRASIL,
2020,
p.2).
O
valor
aprovado
foi
uma
vitória
da
oposição
no
Congresso
que,
diante
da
proposta
inicial
do
Presidente
e
do
Ministério
da
Economia
de
transferir
R$
200,00
(duzentos
reais)
por
pessoa,
foi
de
R$
600,00
(seiscentos
reais)
mensais
per
capita
,
podendo
ser
solicitado
por
até
dois
membros
da
casa,
ou
de
R$
1.200,00
(hum
mil
e
duzentos
reais)
mensais
para
mães
solo.
Inicialmente,
o
Auxílio
seria
transferido
por
três
meses.
Com
a
continuidade
da
quarentena
e
da
contaminação
da
Covid-19,
o
benefício
foi
estendido
para
mais
duas
parcelas.
Em
seguida,
aprovado
para
permanecer
até
o
mês
de
dezembro
de
2020,
num
valor
menor
de
R$
300,00
(trezentos
reais).
Mesmo
aprovado,
o
Auxílio
Emergencial
demorou
a
ser
pago.
Enquanto
medida
não
contributiva
55
de
proteção
social,
sua
celeridade
era
indispensável
para
garantir
segurança
alimentar
e
acesso
ao
consumo
básico.
De
acordo
com
reportagem
do
Valor
Econômico
,
de
02
de
abril
de
2020,
o
Ministro
da
Economia,
Paulo
Guedes,
havia
afirmado
que
era
necessário
ainda
esperar
a
aprovação
de
uma
emenda
constitucional
pelo
Congresso
para
dar
mais
garantias
jurídicas
sobre
a
operação
e
o
pagamento
do
auxílio.
O
Ministro
da
Cidadania,
Onyx
Lorenzoni,
havia
também
afirmado
que,
para
ser
feito
o
pagamento,
ainda
era
preciso
55
O
regime
não
contributivo
é
uma
modalidade
de
proteção
social
que
provê
os
mínimos
sociais
-
podendo
ser
por
transferência
monetária
-
para
prevenir
situações
de
pobreza
e
de
exclusão
social
ou
a
compensar
a
ocorrência
de
determinadas
eventualidades
(como
uma
pandemia).
Por
exemplo,
os
programas
de
transferência
condicionada
de
renda
aprovados
em
caráter
emergencial
durante
a
pandemia
do
coronavírus
(CEPAL,
2020)
.
André
Sena
214
esperar
a
aprovação
da
Câmara
de
um
outro
projeto
do
Senado
que
detalharia
todas
as
categorias
que
estariam
aptas
a
receber
o
benefício.
Contudo,
o
então
presidente
da
Câmara
dos
Deputados,
Rodrigo
Maia,
e
o
Ministro
do
Supremo
Tribunal
Federal,
Gilmar
Mendes,
declararam
que
os
instrumentos
necessários
para
colocar
o
Auxílio
Emergencial
em
prática
já
haviam
sido
aprovados,
faltando
apenas
o
aval
da
equipe
econômica
do
presidente.
Diferentemente
do
Bolsa
Família,
política
descentralizada
e
municipalizada,
o
Auxílio
Emergencial
foi
todo
concentrado
no
Governo
Federal.
Inicialmente,
o
pagamento
era
feito
através
das
lotéricas,
o
que
levou
a
enormes
filas
e
aglomerações,
contrariando
a
principal
premissa
do
distanciamento
social.
Em
seguida,
o
Governo
Federal
desenvolveu
o
aplicativo
Caixa
Tem
56
,
com
o
objetivo
de
centralizar
todos
os
processos,
incluindo
o
pagamento
do
benefício.
Por
conta
de
dificuldades
de
implementação
da
conta
digital,
dificuldades
de
operacionalização
do
aplicativo
por
parte
dos
solicitantes
e
por
informações
confusas
e
incompletas
vindas
do
Ministério
da
Cidadania
e
do
Ministério
da
Economia,
inúmeras
pessoas
só
foram
conseguir
a
aprovação
no
benefício
e
o
recebimento
do
dinheiro
na
segunda
ou
terceira
leva
de
pagamentos.
Como
Wolff
et
al.
(2020)
denunciaram,
a
implementação
desencontrada
entre
os
entes
da
federação
gerou
impactos
que
alijaram
as
necessidades
dos
indivíduos
subalternizados.
Além
disso,
diversos
potenciais
beneficiários
da
política
não
foram
contemplados
por
falhas
na
implementação,
como
a
obrigatoriedade
de
Cadastro
de
Pessoa
Física
(CPF)
regularizado.
56
O
Caixa
Tem
é
um
aplicativo
para
celular
smartphone
de
atendimento
social
e
transações
bancárias
lançado
em
06
de
abril
de
2020.
Foi
criado
para
fornecer
fundos
do
auxílio
emergencial
nos
termos
da
Lei
do
Saque
Emergencial
do
FGTS
autorizada
pela
Medida
Provisória
nº
946,
de
07
de
abril
de
2020.
Impactos
sociais
da
Covid-19…
Logo
em
seu
começo,
os
usuários
do
aplicativo
encontraram
diversas
dificuldades
para
entender
o
aplicativo
e
suas
operações.
Houve,
de
início,
uma
forte
falha
de
comunicação
entre
as
informações
dadas
pelo
Governo
Federal
e
as
informações
que
chegavam
ao
público-alvo.
A
principal
foi
referente
ao
cadastramento
dos
membros
da
família
no
aplicativo.
Conforme
o
texto
aprovado,
apenas
dois
membros
da
casa
poderiam
solicitar
e
receber
o
benefício.
No
entanto,
o
desencontro
de
informações
levou
a
membros
de
uma
família
a
fazer
o
cadastro
de
ambos,
havendo
duplicação
nos
CPFs
e
conflitos
de
cadastramento.
Por
conta
disso,
alguns
solicitantes
tiveram
o
auxílio
negado
ou
ficaram
com
“dados
inconclusivos”.
A
partir
disso,
a
Caixa
Econômica
Federal
havia
informado
que
o
aplicativo
permitiria
a
contestação
da
análise
e
uma
nova
solicitação.
No
caso
de
“dados
inconclusivos”,
o
solicitante
deveria
ficar
atento
aos
possíveis
motivos
para
tal,
como:
ter
se
colocado
como
chefe
de
família
sem
ter
indicado
nenhum
outro
membro
dependente;
não
ter
indicado
o
sexo
do
requerente;
inserção
incorreta
dos
dados
de
outro
membro
da
casa,
como
CPF
e
data
de
nascimento;
divergência
de
cadastro
entre
os
membros
da
mesma
casa,
como
indicar
o
CPF
do
dependente
e
este
ter
feito,
também,
um
cadastro;
e
a
inclusão
de
algum
membro
que
já
tenha
falecido.
Dentre
outros
problemas,
destacam-se,
as
dificuldades
de
acesso
ao
aplicativo
e
a
inicial
instabilidade
no
calendário
de
pagamento.
Primeiro,
é
importante
mencionar
as
dificuldades
de
acesso
à
internet
por
boa
parte
das
famílias
em
situação
de
vulnerabilidade
e
solicitantes
do
benefício.
De
acordo
com
o
Centro
Regional
de
Estudos
para
o
Desenvolvimento
da
Sociedade
da
Informação
(2019),
em
área
urbana,
somente
83%
dos
indivíduos
possuem
acesso
à
internet.
Além
da
questão
da
internet,
podemos
também
mencionar
a
ausência
de
telefones
celulares
e
eletrônicos
por
boa
parte
do
público-alvo
e
suas
dificuldades
de
uso.
André
Sena
216
Em
relação
ao
pagamento,
o
Auxílio
seguiu
o
modelo
de
pagamento
de
outros
programas
sociais,
como
o
Bolsa
Família,
de
acordo
com
o
mês
de
nascimento.
A
forma
de
pagamento
em
ciclos,
adotada
pela
Caixa
Econômica
Federal
(CEF),
diminuiu
o
número
de
fraudes
e
amenizou
as
grandes
filas
que
se
formavam
nas
lotéricas
e
agências
da
CEF.
Para
o
benefício,
o
mencionado
banco
adotou
a
transferência
em
contas
especiais,
numa
poupança
social
digital
a
partir
do
próprio
aplicativo
do
Caixa
Tem
.
Contudo,
a
CEF
não
levou
em
consideração
as
desigualdades
latentes
do
território
nacional
que
conta
com
centenas
de
municípios
sem
agências
bancárias,
o
que
levou
ao
deslocamento
em
plena
pandemia.
Soma-se
a
isso
a
pouca
familiaridade
de
diversas
pessoas
com
a
tecnologia
de
smartphones
,
o
tipo
de
aparelho
necessário
para
baixar
o
aplicativo
e
solicitar
o
benefício
e,
claro,
a
cobertura
de
internet
pelo
Brasil.
É
relevante
também
destacar
a
importância
da
existência
do
Cadastro
Único
na
implementação
do
AE
e
da
experiência
do
Brasil
em
relação
às
políticas
de
proteção
social.
De
acordo
Cardoso
(2020),
o
CadÚnico,
como
instrumento
comprovadamente
útil
na
gestão
de
políticas
de
transferência
de
renda
ao
público-alvo,
mostra-se
como
fundamental
para
a
migração
de
milhares
de
brasileiros
para
outros
programas
sociais
–
como
ocorreu
no
caso
da
migração
do
Bolsa
Família
para
o
Auxílio
Emergencial.
O
CadÚnico
foi
criado
em
2001
sob
o
Decreto
nº
3.877
e
regulamentado
pelo
Decreto
nº
6.135
de
2007
como
um
“instrumento
de
identificação
e
caracterização
socioeconômica
das
famílias
brasileiras
de
baixa
renda”
(CARDOSO,
2020,
p.
1056)
sendo
utilizado
para
a
seleção
de
beneficiários
e
integração
de
programas
sociais
do
Governo
Federal.
O
CadÚnico
é
o
principal
instrumento
de
identificação
de
famílias
e
cidadãos
em
situação
de
vulnerabilidade
e/ou
pobreza
que
antes
não
eram
alcançados
pelas
bases
de
dados
e
acabavam
Impactos
sociais
da
Covid-19…
ficando
fora
de
principais
políticas
sociais
para
o
enfrentamento
à
pobreza.
O
CadÚnico
é
caracterizado,
principalmente,
como
uma
ferramenta
de
abrangência
censitária
(da
população
pobre),
natureza
cadastral
(com
dados
de
identificação
e
endereço)
e
ampla
identificação
das
condições
de
vida
das
famílias,
alcançando
mais
de
74
milhões
de
cidadãos
(BARROS;
CARVALHO;
MENDONÇA,
2008).
O
que
se
viu,
no
Brasil,
portanto,
foi
uma
subversão
das
prioridades
sociais
por
uma
priorização
de
uma
agenda
estritamente
economicista
que
atendia
o
interesse
de
alguns
poucos
setores
e
indivíduos.
O
lema
“a
economia
não
pode
parar”
reposicionou
no
centro
do
debate
a
importância
de
uma
economia
forte
em
detrimento
da
saúde
pública,
da
vida
dos
brasileiros
e
brasileiras
e
do
bem-estar
físico
e
emocional
das
populações
vulnerabilizadas
no
Brasil.
Ao
mesmo,
a
implementação
“às
pressas”
do
AE
como
uma
lente
amplificadora
que
nos
permite
enxergar
as
desigualdades
sociais
e
raciais
presentes
no
Brasil,
como
uma
consequência
da
reorientação
dos
gastos
públicos
em
favorecimento
dos
setores
de
forte
retorno
econômico
proposto
pelo
próprio
modelo
neoliberal.
Os
impactos
sociorraciais
do
Auxílio
Emergencial
para
a
população
negra.
O
impacto
desigual
da
pandemia
sobre
os
diferentes
segmentos
populacionais
se
expressou
de
distintas
maneiras
ao
longo
da
pandemia
(ainda
não
findada)
nas
circunstâncias
que
envolvem
a
realidade
social
material
e
simbólica.
No
que
tange
a
questão
de
mortalidade,
Jesus
e
Melo
(2021)
apontam
que
é
perceptível,
após
análise
dos
dados
dos
Boletins
André
Sena
218
Epidemiológicos
de
Saúde
(BEE)
57
de
2020,
uma
mudança
de
perfil
quando
os
pardos
(que
junto
com
os
pretos
configuram
a
população
negra
no
país),
segundo
o
IBGE
(2020),
passam
a
ser
o
maior
contigente
de
casos
e
óbitos
por
Covid-19.
Os
impactos
da
pandemia,
no
entanto,
não
se
limitaram
aos
efeitos
diretos
sobre
a
saúde
humana.
As
medidas
de
controle
e
contenção
da
Covid-19,
aplicadas
por
diferentes
níveis
de
governo,
resultaram
em
perdas
de
trabalho
e
renda
para
amplo
contingente
da
população.
Além
disso,
a
implementação
do
Auxílio
Emergencial
teve
vários
encalços
que
diante
das
desigualdades
estruturais
do
país
e
suas
interseções
fazem
os
impactos
da
crise
sanitária
pesar
notoriamente
mais
sobre
a
população
negra,
trabalhadores
e
trabalhadoras
do
setor
informal,
crianças
e
idosos
vulnerabilizados
58
(ABREU
et
al.
2021).
Aqui,
debruçamo-nos
sobre
os
impactos
sociorraciais
da
implementação
do
AE,
considerando
as
intersecções
com
os
marcadores
de
raça
da
população.
Para
uma
análise
dessa
natureza,
é
preciso
não
apenas
reconhecer,
mas
também
58
Neste
artigo,
utilizamos
o
termo
vulnerabilizado/a
e
não
a
escrita
vulnerável,
porque
vulnerabilizado
descreve
o
processo
político
ativo
de
desumanização
e
marginalização
de
uma
parcela
da
população,
majoritariamente
negra
no
Brasil.
A
escrita
vulnerável
descreve
o
estado
de
desumanização
como
identidade
natural
das
pessoas
vítimas
de
um
sistema
perversamente
excludente,
o
capitalismo;
o
que
intensifica
sua
invisibilização.
57
Os
BEE
foram
iniciados
pelo
Ministério
da
Saúde,
por
meio
da
Secretaria
de
Vigilância
em
Saúde
(SVS/MS),
semanalmente
a
partir
da
edição
de
número
14,
publicada
no
dia
26
de
abril
de
2020,
têm
como
proposito
não
apenas
apresentar
os
números
disponíveis,
mas
também
realizar
a
interpretação
da
situação
epidemiológica
e
refletir
sobre
as
evidências
e
limitações
de
cada
processo,
além
de
apresentar
uma
análise
mais
detalhada
sobre
o
perfil
da
transmissão
no
Brasil
por
Unidade
da
Federação
e
Região
de
Saúde.
Mais
informações
e
para
acessar
os
boletins,
consultar
o
site
do
MS
dedicado
ao
Covid-19.
Disponível
em:
<
https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/
epidemiologicos
>.
Impactos
sociais
da
Covid-19…
considerar
as
estruturas
vulnerabilizantes
em
que
a
população
negra
brasileira
está
submetida
de
maneira
quotidiana
nas
mais
diversas
áreas
da
vida
social,
desde
o
acesso
a
serviços
de
saneamento
básico
até
as
desigualdades
nas
oportunidades
de
emprego
e
sub-representação
nas
instituições/locais
de
poder.
Diante
da
necessidade
de
desenvolver
uma
análise
sobre
pelo
menos
uma
das
questões
relacionadas
à
pandemia
de
Covid-19
e
compreendendo
a
impossibilidade
de
abordar
a
totalidade
do
tema,
opta-se
por
direcionar
nosso
foco
nos
impactos
sociorraciais
mais
abrangentes
identificados
já
em
2020
na
implementação
da
política
pública
de
distribuição
de
renda.
De
fato,
a
desigualdade
entre
negros
e
brancos
no
Brasil
se
destaca
por
sua
regularidade
histórica.
Levantamento
realizado
por
Instituto
Locomotiva
,
em
2021,
relevou
que
em
números
absolutos
os
brancos
conseguiram
lograr
maior
sucesso
no
recebimento
do
auxílio
federal
quando
comparados
aos
números
absolutos
da
população
negra.
Os
números
apresentados
mostram
que,
entre
os
negros
que
pediram
o
auxílio,
74%
tiveram
o
pedido
liberado.
Essa
taxa
foi
de
81%
entre
os
brancos
que
fizeram
a
solicitação.
Do
grupo
total
de
candidatos
ao
benefício
temporário,
43%
eram
negros
e
37%
brancos
(EXAME,
2020).
Na
esteira
das
condições
históricas,
segundo
estudo
divulgado
pela
Central
Única
das
Favelas
(CUFA),
realizado
pelo
Instituto
Locomotiva
,
em
junho
de
2020,
que
71%
dos
negros
e
negras
no
Brasil
não
tinham
nenhuma
reserva
financeira
no
início
da
pandemia
de
coronavírus.
Entre
os
que
tinham
alguma
reserva,
12%
já
a
tinham
usado
e
23%
já
havia
gastado
a
maior
parte
para
se
manter
nos
primeiros
meses
daquele
ano.
Além
disso,
o
estudo
revelou
que
73%
das
pessoas
pretas
e
pardas
tiveram
redução
na
renda
devido
à
pandemia,
índice
que
cai
para
60%
entre
as
brancas.
Quase
a
metade
das
pessoas
negras
(49%)
disse
que
deixou
de
pagar
alguma
conta
no
período,
enquanto
o
percentual
ficou
em
32%
para
as
brancas.
André
Sena
220
Infere-se,
assim,
que
a
política
de
Auxílio
Emergencial
teve
impactos
desiguais
sobre
as
diferentes
parcelas
da
população.
Não
obstante,
os
impactos
deletérios
da
conjuntura
imposta
pela
aglutinada
crise
sanitária
e
socioeconômica,
o
primeiro
impacto
da
implementação
do
Auxílio
foi
positivo
para
a
população
negra
em
geral,
ao
menos,
para
àqueles
que
lograram
receber
sem
maiores
percalços.
Segundo
dados
do
Banco
Mundial
(2021),
a
política
de
transferência
de
renda
brasileira
foi
a
maior
da
América
Latina,
atingindo
quase
67
milhões
de
pessoas.
Grande
parte
desse
montante
foi
de
cidadãos
e
cidadãs
negros
e
negras
que,
num
curto
prazo,
tiveram
seus
declínios
econômicos
mitigados
pela
medida.
Ainda
de
acordo
com
o
mesmo
relatório,
a
despeito
da
elogiável
medida
de
transferência
de
renda,
houve
demora
na
resposta
do
Governo
Federal
diante
da
pandemia
da
Covid-19
e
com
medidas
pouco
eficazes,
como
o
distanciamento
social
pouco
restritivo.
Ademais,
um
conjunto
desarticulado
de
medidas
–
nas
três
esferas
do
governo:
União,
Estados
e
Municípios
–
prejudicaram
a
implementação
do
Auxílio.
Segundo
o
Banco
Mundial
(2021),
apesar
da
abrangência
da
política
ser
alta
quando
comparada
aos
outros
países
latino-americanos,
a
lenta
redução
da
desigualdade
e
o
aumento
da
pobreza
em
anos
recentes
no
país
limitaram
os
benefícios
da
política
a
curto
e
médio
prazo,
principalmente
por
se
tratar
de
uma
política
temporária,
acarretando
numa
desigual
distribuição
desses
benefícios
como
também
dos
impactos
resultantes.
Até
2014,
a
pobreza
vinha
diminuindo
no
Brasil
devido
ao
avanço
de
políticas
sociais
redistributivas
como
o
Bolsa
Família,
os
ganhos
reais
do
salário-mínimo
e
a
ampliação
do
acesso
à
educação
(SOUZA,
2021).
Contudo,
a
partir
de
2015,
com
os
efeitos
da
crise
econômica,
a
tendência
inverteu
e
a
miséria
voltou
a
crescer
anualmente.
Em
2021,
somados
os
efeitos
da
pandemia
e
a
má
gestão
de
seus
impactos,
o
Brasil
alcançou
a
marca
histórica
de
14,5
milhões
de
famílias
na
miséria,
Impactos
sociais
da
Covid-19…
caracterizadas
por
aquelas
que
vivem
com
até
R$
89,00
de
renda
mensal.
Isso
equivale
a
70
milhões
de
brasileiros
e
brasileiras
que
vivem
em
condição
de
miséria.
É
crucial
frisar
que
antes
da
implementação
do
Auxílio
Emergencial,
a
renda
dos
brasileiros
e
das
brasileiras
negros
e
negras
já
era
historicamente
menor.
Segundo
o
IBGE
(2019),
com
o
mesmo
grau
de
instrução,
a
taxa
de
desocupados
é
historicamente
maior
entre
os
negros
(pretos
e
pardos).
Outro
dado
apresentado
se
reporta
ao
rendimento
médio
mensal
das
pessoas
ocupadas,
o
grupo
branco
(R$
2.796)
foi
73,9%
superior
ao
das
pretas
ou
pardas
(R$
1.608),
em
todo
o
Brasil
(IBGE,
2019).
Esses
dados
são
ainda
mais
alarmantes
quando
se
faz
o
recorte
de
gênero,
sendo
a
renda
de
mulheres
negras
menos
da
metade
(44,4%)
da
renda
de
um
homem
branco.
Em
última
análise,
no
desenho
das
desigualdades
raciais,
o
mapa
demográfico
do
Brasil
indicou
que
pretos
ou
pardos
tinham
maiores
restrições
à
Internet
(23,9%),
saneamento
básico
(44,5%),
educação
(31,3%),
condições
de
moradia
(15,5%)
e
à
proteção
social
(3,8%).
Em
comparação,
todos
esses
valores
estão
acima
dos
percentuais
registrados
para
homens
ou
mulheres
brancas
(IBGE,
2019).
Logo,
essa
conjuntura,
alicerçada
pelo
racismo
estrutural,
foi
a
base
sobre
a
qual
o
Auxílio
Emergencial
foi
implementado.
Isso
posto,
um
dos
primeiros
impactos
que
pudemos
identificar
foi
quanto
à
maneira
formulada
pelo
Governo
Federal
para
implementar
a
política:
a
internet.
Visando
o
distanciamento
social,
foi
decidido
que
o
cadastro
para
recebimento
do
Auxílio
para
aqueles
que
não
estavam
inscritos
no
CadÚnico
seria
pelo
aplicativo
do
Caixa
Tem
ou
pela
internet.
Esse
cadastro,
por
sua
vez,
era
vinculado
a
um
celular
que,
não
raro,
não
pertencia
a
pessoa
que
estava
solicitando
o
benefício.
Como
já
mencionado,
a
ausência
de
telefones
celulares
smartphones
e
eletrônicos
por
boa
parte
do
público-alvo
e
suas
dificuldades
de
uso
geraram
uma
lacuna
e
perda
de
potenciais
André
Sena
222
beneficiários
(MARINS
et
al.,
2021).
Nesta
análise,
a
perspectiva
interseccional
se
faz
imperativa,
haja
visto
que
quanto
mais
vulnerabilizada
a
classe
social,
via
de
regra,
mais
precária
é
sua
educação
formal
e
digital.
Isso
posto,
de
maneira
geral,
os
negros
têm
mais
dificuldade
de
acesso
e
compreensão
–
não
por
falta
de
capacidade,
mas
de
manuseio
e
de
ensino
–
das
informações
exigidas
pelo
aplicativo
de
celular.
Sem
uma
via
telefônica
para
tirar
dúvidas,
muitas
pessoas
em
plena
pandemia
foram
aos
Centro
de
Referência
da
Assistência
Social
(CRAS)
para
obter
informações
sobre
o
recebimento
do
Auxílio,
aumentando
o
risco
de
contágio
individual
e
familiar.
Por
ser
centrado
na
esfera
federal,
os
CRAS
tinham
pouca
ou
nenhuma
informação
para
ajudar
as
pessoas.
Outras
várias
pessoas
encontraram
dificuldade
para
trabalhar
com
o
aplicativo
e
a
demora
da
análise
do
pedido
de
muitas
pessoas
as
levou
a
filas
imensas
nas
agências
da
Caixa
Econômica
Federal
(PORTAL
Poder
360).
A
partir
dessa
perspectiva,
pode-se
refletir
sobre
a
não
possibilidade
do
pobre
negro
de
usufruir
do
privilégio
do
distanciamento
social.
A
inexistência
de
políticas
públicas
específicas
para
a
população
negra
durante
o
período
pandêmico,
ainda
que
os
indicadores
sociais
mostrem
como
esta
população
tem
sido
historicamente
vulnerabilizada,
seja
com
a
perda
de
vida,
seja
com
a
perda
de
empregos,
tem
sido
nominada
por
alguns
autores
como
uma
necropolítica
(SANTOS;
ARRUDA,
2020).
Santos
e
Arruda
discorrem
que
É
importante
considerarmos
que
muitos
dos
critérios
definidos
para
a
operacionalização
do
auxílio
emergencial,
a
despeito
de
serem
coerentes
com
a
necessidade
de
estimular
as
pessoas
a
manterem
medidas
de
distanciamento
social
(e
não
induzi-las
a
ter
que
ir
até
a
algum
lugar
para
o
preenchimento
de
um
cadastro,
por
exemplo),
ainda
assim
são
medidas
que
certamente
não
são
“práticas”
e
plenamente
acessíveis
para
Impactos
sociais
da
Covid-19…
contingentes
expressivos
de
sujeitos
subalternizados
que,
em
última
análise,
são
os
mais
necessitados
do
amparo
da
política
pública.
Nesse
ínterim,
deve-se
pontuar
que
a
necessidade
de
realização
de
um
cadastro,
disponível
em
página
online
ou
em
aplicativo
de
smartphone,
é
algo
inacessível
para
contingentes
expressivos
de
pessoas.
Ao
serem
obrigados
a
ter
que
encarar
extensas
aglomerações
nas
portas
das
agências
da
Caixa
Econômica
Federal,
muitos
dos
beneficiários
do
auxílio
emergencial
se
expuseram
sobremaneira
ao
risco
de
contágio
pelo
Covid-19.
Em
certo
sentido,
considerando
esse
arranjo
de
coisas,
podemos
depreender
que
a
própria
política
pública
do
auxílio
emergencial
assume
certo
viés
necropolítico,
uma
vez
que
tem
como
efeito
(mesmo
que
adverso
e
indesejado)
a
ocorrência
de
aglomerações
entre
pessoas,
tornando-as
suscetíveis
à
doença
pelo
Covid-19
e
até
à
morte
(ARRUDA;
SANTOS,
2020,
p.151-152).
A
baixa
renda
pré-Covid-19,
a
informalidade
laboral,
a
inação
e
desconcerto
entre
as
esferas
do
poder
somados
ao
racismo
estrutural,
portanto,
fizeram
com
o
que
o
Auxílio
se
tornasse
mais
uma
ferramenta
da
necropolítica.
Sobre
isso,
Santos
e
Silva
(2022)
discorrem
[negros
e
negras]
continuaram
expostos
à
contaminação
pelo
vírus
através
do
uso
de
transportes
coletivos,
dando
prosseguimento
aos
seus
trabalhos
que
jamais
entraram
na
modalidade
remota,
na
sua
maioria,
tratava-se
pessoas
negras
em
serviços
domésticos,
faxina,
portarias,
cuidadores
de
idosos
e
doentes,
técnicos
de
enfermagem,
seguranças,
empregados
de
supermercados,
entregadores
e
comércio.
O
“distanciamento
social”
foi
aplicado
pelas
classes
médias
e
dominantes,
que
puderam
se
resguardar
em
seus
lares
e
preservar
os
vulneráveis
de
suas
famílias
(idosos
e
doentes).
(SANTOS;
SILVA,
2022,
p.1858).
André
Sena
224
Por
esse
prisma
analítico,
destaca-se,
então,
que,
com
os
problemas
e
dificuldades
de
cadastramento,
de
duplicidade
e
de
entendimento
do
aplicativo
e
do
próprio
calendário
de
pagamento,
os
impactos
se
avolumaram
significativamente
entre
os
negros
e
pobres,
residentes
de
áreas
periféricas,
que
não
apenas
não
puderem
se
manter
em
casa
para
o
distanciamento
social,
como
tiveram
problemas
no
cadastramento
e
no
recebimento
do
Auxílio
Emergencial.
A
política
pública
de
transferência
de
renda
–
ou
a
ausência
dela
–,
portanto,
teve
um
impacto
maior
sobre
as
populações
negras,
tanto
econômica
quanto
diretamente
na
mortalidade
dessa
população,
visto
que
para
resolver
problemas
relacionados
ao
recebimento
do
Auxílio
várias
dessas
pessoas
se
expuseram
ao
contágio
pelo
coronavírus.
Ao
compilar
dados
estatísticos
sobre
racismo
estrutural
durante
a
pandemia
de
Covid-19,
o
Núcleo
de
Operações
e
Inteligência
em
Saúde
(NOIS)
elaborou
uma
nota
técnica
que
analisou
as
discrepâncias
entre
óbitos
e
recuperados
em
hospitalizações
por
Covid-19
no
Brasil,
partindo
de
variáveis
demográficas
e
socioeconômicas.
Foram
analisados
29.933
casos.
Na
pesquisa,
o
núcleo
identificou
que
a
taxa
de
letalidade
do
Brasil
é
elevada,
sendo
influenciada,
precipuamente,
pelas
desigualdades
no
acesso
ao
tratamento.
A
porcentagem
de
pacientes
pretos
e
pardos
que
vieram
à
óbito
(54,78%)
foi
maior
do
que
os
de
brancos
(37,93%).
Os
números
permitem
estabelecer
uma
relação
direta
entre
os
impactos
sociorraciais
já
citados
da
implementação
do
Auxílio
e
o
racismo
estrutural
no
Brasil.
Contudo
é
importante
constantemente
frisar
a
relevância
dessa
transferência
de
renda
cuja
ajuda
para
milhares
de
famílias
foi
imprescindível
(MELO;
RODRIGUES,
2021).
Com
o
fim
da
primeira
versão
do
Auxílio
Emergencial
sem
que,
contudo,
a
pandemia
também
chegasse
ao
seu
fim,
as
preocupações
e
incertezas
acerca
do
futuro
das
famílias
mais
vulneráveis
permaneceram.
A
diminuição
do
valor
do
Auxílio
de
Impactos
sociais
da
Covid-19…
2020
para
2021
gerou
uma
queda
abrupta
da
renda
de
muitas
famílias
negras
que
literalmente
de
um
mês
para
o
outro
viram-se
sem
sua
principal
fonte
de
renda.
Como
o
fim
da
pandemia
se
mostrava
cada
vez
mais
distante,
em
abril
de
2021
foi
anunciada
a
extensão
do
Auxílio
Emergencial
em
sua
nova
versão.
Esse
cenário
de
baixa
confiabilidade
no
Governo
Federal,
somada
às
vicissitudes
no
recebimento
do
benefício
–
desde
problemas
com
o
aplicativo,
falta
de
internet,
do
próprio
aparelho
celular
a
longas
filas
nas
agências
da
Caixa
,
levou
aos
impactos
sobre
a
população
negra
de
maneira
quase
direcionada
(SANTOS;
SILVA,
2022).
Assim
sendo,
o
efeito
amortizador
do
Auxílio
sobre
os
impactos
sociorraciais,
num
primeiro
momento,
foi
substituído
pelo
quadro
de
racismo
histórico
e
estrutural.
De
fato,
a
ausência
do
benefício
intensificou
a
vulnerabilidade
social
e
econômica
da
população
negra
aliada
a
redução
do
valor,
em
2021.
Como
por
armas
de
fogo,
a
população
negra
é
a
mais
afetada
pela
mortalidade
causada
pelo
coronavírus.
Foi
o
cenário
de
desmonte
das
políticas
públicas
para
a
igualdade
racial,
que
se
constituiu
no
compasso
do
Governo
Federal
na
pandemia,
que
contribuiu
para
que
a
população
negra
fosse,
em
outro
lamentável
indicador,
sobrerrepresentada
no
número
de
óbitos
por
Covid-19
(FIOCRUZ,
2021).
Como
apresentado,
a
despeito
da
implementação
de
políticas
de
proteção
social
fosse
um
movimento
de
nível
mundial,
a
decisão
pela
implementação
da
política
do
Auxílio
Emergencial
enfrentou
uma
série
de
conflitos
políticos
que
giraram
em
torno
das
disputas
de
poder
presentes
na
esfera
federal,
acarretando
o
atraso
da
tomada
de
decisão,
no
estabelecimento
das
diretrizes
da
política,
bem
como
afetou
a
escolha
do
público-alvo,
o
tempo
e
o
valor
do
benefício
(ARRUDA;
SANTOS,
2020).
Reitera-se
que
essas
instabilidades
André
Sena
226
afetaram
a
maneira
como
a
política
foi
implementada,
afetando
mais
pesadamente
a
população
negra.
Importa
salientar
que
apesar
de
todos
os
problemas
de
implementação
que
a
política
de
renda
básica
enfrentou,
ela
foi
essencial
quando
esteve
vigente,
evitando
que
milhares
de
pessoas
enfrentassem
a
miséria
e
a
fome
em
um
período
crítico
de
isolamento
social.
No
entanto,
o
seu
fim
gerou
uma
série
de
consequências
que
se
agravaram
cada
vez
mais,
posto
que
a
pandemia
foi
arrefecida
em
decorrência
das
vacinas,
mas
a
crise
econômica,
os
níveis
alarmantes
de
desemprego
e
alta
inflamação
que
acomete
o
preço
dos
alimentos
persistem
como
um
flagelo
social.
É
complexo
–
para
não
dizer
cruel
–
quando
sujeitos
subalternizados
são
acometidos
por
quedas
bruscas
em
seus
níveis
de
renda
e,
na
pandemia
de
Covid-19,
o
contexto
não
foi
monocausal.
Pires
(2020)
salienta
nesta
conjuntura
a
importância
do
Auxílio
Emergencial
para
que
os
trabalhadores
subalternizados
não
sofressem
com
quedas
acentuadas
nos
seus
rendimentos.
Por
outro
lado,
Arruda
e
Santos
sublinham
que:
[...]
o
auxílio
emergencial,
com
os
valores
que
se
dispõe
a
repassar
aos
beneficiários
e
com
os
critérios
que
foram
adotados
para
a
operacionalização
da
política
pública,
não
foi
capaz,
por
si
só,
de
impedir
com
que
os
segmentos
subalternizados
da
sociedade
fossem
compulsoriamente
obrigados
a
arcar
com
os
ônus
mais
evidentes
da
pandemia
no
Brasil,
o
que
–
conforme
já
se
ressaltou
anteriormente
–
pode
implicar
em
necessidades
severas
a
esses
indivíduos.
Nesse
ínterim,
entendemos
que
tal
constatação
reforça
as
evidências
quanto
ao
caráter
excludente
e
desigual
da
estrutura
social
brasileira.
(ARRUDA;
SANTOS,
2020,
p.
151).
Neste
estágio
da
reflexão,
é
importante
rememorar
que
o
Governo
Federal
não
formulou
a
política
pensando
na
Impactos
sociais
da
Covid-19…
população
negra,
em
condição
de
vulnerabilidade
socioeconômica,
e,
tampouco,
organizou
uma
maneira
de
assistir
essa
população
de
maneira
a
mitigar
a
saída
às
ruas
e
aumentar
o
acesso
a
informações.
O
que
se
viu
foi
uma
verdadeira
corrida
às
portas
das
agências
da
Caixa
em
busca
de
informações
que
as
ajudassem
a
conseguir
o
benefício.
Muitas
dessas
pessoas
eram
pobres,
negras,
mulheres,
faveladas
e
subalternizadas.
Percebe-se
que
é
paradigmático
refletir
que
os
mecanismos
pensados
para
mitigar
o
contágio
do
coronavírus
foi
o
que,
em
contrapartida,
alijou
muitos
de
conseguirem
o
Auxílio.
Arruda
e
Santos
(2020)
analisam
o
fato
de
o
Auxílio,
como
já
mencionado,
ser
disponibilizado
em
conta
bancária
social
criada
pela
Caixa
,
o
que
representou
um
empecilho
para
o
pleno
acesso
ao
recuso
por
parte
da
população
subalternizada
que,
em
parte,
não
conseguem
acessar
facilmente
contas
e
nem
tem
documentos
pessoas,
o
que
as
tornam,
na
prática,
“invisíveis”
para
a
política
púbica
em
análise.
Assim,
contingentes
expressivos
ficaram
de
fora
do
alcance
da
política
uma
vez
que
ela
não
foi
formulada
pensando
nas
desigualdades
abissais
que
singram
o
Brasil
e
afetam,
mormente,
a
população
negra
vulnerabilizada.
Os
dados
brevemente
discutidos
acima
corroboram
a
perspectiva
de
que
os
impactos
da
pandemia,
inclusive
aqueles
decorrentes
da
implementação
do
Auxílio
Emergencial,
são
mais
evidentes
entre
a
população
subalternizada
que
além
de
não
terem
o
privilégio
de
um
trabalho
remoto,
também
desempenham
trabalhos
mais
precários
na
sociedade.
Para
além
de
dificuldades
no
recebimento
do
Auxílio
que
dificulta
ainda
mais
rendimentos
estáveis.
Assim
sendo,
a
reflexão
supra
levantada
sugere
que
a
política
pública
do
Auxílio
Emergencial,
da
maneira
como
foi
implementado,
infligiu
impactos
sanitários
e
sociais
à
população
negra
vulnerabilizada
e
não
foi
capaz
de
“alcançar”
a
totalidade
de
sujeitos
que
verdadeiramente
precisariam
dela.
André
Sena
228
Esses
impactos
foram
observados
por
meio
dos
diversos
problemas
que
os
beneficiários
enfrentaram:
instabilidade
do
site
para
cadastramento;
filas
para
cadastramento
e
recebimento
do
benefício,
gerando
aglomeração
e
possibilidade
de
contágio
em
um
momento
crítico
da
pandemia;
dificuldades
iniciais
quanto
ao
CPF
não
regularizado;
demora
na
tomada
de
decisão
para
o
pagamento
do
Auxílio;
restrições
quanto
ao
tipo
de
movimentação
a
ser
feita
com
o
dinheiro
em
conta,
de
modo
que
em
um
primeiro
momento,
não
era
permitido
sacar
ou
transferir
o
dinheiro;
precariedade
dos
recursos
humanos
para
atendimento
da
alta
demanda
em
tempo
de
pandemia.
Estes
problemas
representaram
impactos
sociorraciais,
não
raro,
decorrentes
dos
pontos
cegos
(
blind
spots
)
da
política
pública
não
previstos
pelos
formuladores.
Considerações
Finais
À
luz
do
exposto
neste
artigo,
defendemos
a
adoção
de
políticas
públicas
que,
de
fato,
tenham
a
população
preta
–
majoritariamente
mais
vulnerável
no
Brasil
–
como
público-alvo
e
não
como
efeito
colateral
de
sua
amplitude.
Para
evitar
que
os
impactos
sociorraciais
da
pandemia
se
prolonguem
com
o
tempo,
aprofundando
os
diversos
marcadores
da
desigualdade
racial
brasileira
pré-existentes,
marcados
pelos
eixos
estruturantes
da
matriz
da
desigualdade
e
da
cultura
do
privilégio,
é
necessária
uma
ação
para
além
da
política
de
distribuição
de
renda.
Uma
ação
holística
que
abarque
a
área
da
Saúde,
da
Cultura,
do
Trabalho
e
outras
que,
de
maneira
interligada
com
justiça
social,
estendam
o
mesmo
padrão
de
cuidado
vivido
pela
população
privilegiada
deste
país.
Assim,
sobre
a
indagação
inicial
vale
frisar,
em
última
análise,
que
a
política
de
Auxílio
Emergencial
não
foi
capaz
de
alcançar
adequadamente
a
população
vulnerabilizada,
Impactos
sociais
da
Covid-19…
nominalmente,
os
negros
e
negras.
Ademais,
é
imperativo
ter
em
mente
que
o
AE,
da
maneira
que
foi
implementado
pelo
Governo
Federal,
de
modo
centralizador,
não
teve
a
capacidade
ou
a
celeridade
que
a
conjuntura
impunha,
o
que
acarretou
impactos
adversos
e
evitáveis
para
a
população
em
vulnerabilidade.
Percebeu-se
que
os
indivíduos
com
acesso
precário
ou
nenhum
acesso
aos
recursos
imprescindíveis
para
se
alcançar
o
benefício
foram
aqueles
que
historicamente
já
são
marginalizados
e
inviabilizados
pelo
Estado.
Em
médio
e
longo
prazo,
é
fundamental
avançar
rumo
a
sistemas
de
proteção
social
universais,
integrais
e
sustentáveis
que
não
sejam
meras
políticas
de
governo,
mas
de
Estado,
num
compromisso
com
a
justiça
social.
Dessa
forma,
defendemos
a
ideia
de
um
círculo
virtuoso
de
bem-estar
que
inclua
a
população
negra
de
maneira
integral
e
com
equidade;
distribuir
um
auxílio
e
ao
mesmo
tempo
criar
as
condições
sociais
e
materiais
para
que
as
pessoas
se
resguardem
em
casa
durante
uma
pandemia.
Para
isso,
é
preciso,
sobretudo,
estabelecer
garantias
de
renda
para
o
conjunto
da
população
negra
vulnerabilizada,
promover
políticas
ativas
no
mercado
de
trabalho
para
que
essa
população
não
fique
desempregada
ou
sujeita
à
subempregos
e
transitar
para
uma
economia
e
uma
sociedade
do
cuidado,
de
maneira
a
consolidar
a
autonomia
dos
vulnerabilizados,
como
as
mulheres
(mormente
as
mulheres
pretas),
trabalhadores
e
trabalhadoras
do
setor
informal
e
idosos.
Nesse
interim,
acreditamos
que
a
reafirmação
do
papel
central
do
Estado
no
processo
de
construção
da
sociedade
do
cuidado
é
imperativa
e
inescapável,
mediante
ações
que
tenham
como
horizonte
a
universalização
de
serviços
de
qualidade,
a
coordenação
e
intersetorialidade
das
políticas
e
a
sustentabilidade
financeira.
É
necessário
estabelecer
políticas
e
programas
que
atendam
às
necessidades
específicas
da
população
negra,
o
que
não
foi
feito
no
Brasil
durante
a
André
Sena
230
pandemia
da
Covid-19,
agravando
o
quadro
de
impactos
sociorraciais.
A
distribuição
assimétrica
dos
impactos
econômicos
e
sociais
da
pandemia
de
Covid-19
escancarou
o
padrão
estrutural
das
desigualdades
historicamente
endêmicas
no
Brasil.
Conforme
identificou-se,
apesar
de
todos
os
problemas
de
implementação
que
a
política
de
renda
básica
enfrentou,
ela
foi
essencial
no
período
em
que
estava
vigente,
evitando
que
milhares
de
pessoas
enfrentassem
a
miséria
e
a
fome
em
período
pandêmico.
O
avanço
rumo
a
sistemas
de
proteção
social
universais,
integrais,
sustentáveis
e
resilientes
é
necessário
para
encarar
tanto
os
problemas
estruturais
como
racismo,
a
pobreza
e
a
desigualdade
como
toda
uma
série
de
impactos
que
a
população
negra
enfrenta
e
que
põem
em
risco
seu
bem-estar
e
efetivo
gozo
de
direitos.
A
proteção
social
é
essencial
para
enfrentar
riscos
macrossociais
vinculados
às
epidemias
e
pandemias
da
proporção
que
tem
sido
a
da
Covid-19,
e
os
vais
e
vens
do
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André
Sena
236
Resumo:
O
presente
artigo
objetiva
refletir
sobre
a
política
pública
do
auxílio
emergencial
e
seu
impacto
sobre
as
desigualdades
aprofundadas
para
a
população
negra
vulnerabilizada
no
Brasil,
no
contexto
da
pandemia
da
Covid-19.
Quanto
a
metodologia,
a
partir
de
uma
metodologia
qualitativa,
emprega-se
a
técnica
de
análise
documental
para
estabelecer
um
diagnóstico
desses
impactos,
analisando
documentos
institucionais,
artigos
e
dados
de
diferentes
bases
(IBGE,
IPEA
e
DIEESE).
Nas
considerações
finais,
ressalta-se
que,
mesmo
durante
os
pagamentos
do
Auxílio,
os
grupos
subalternizados
da
população
brasileira,
negros
em
sua
maioria,
foram
aqueles
que
mais
amargaram
com
as
quedas
de
níveis
de
renda
e
a
perda
de
emprego,
também
com
os
impactos
da
implementação
da
política;
trazendo
à
luz
as
abissais
desigualdades
estruturais
e
raciais
no
Brasil.
Palavras-chave:
pandemia;
auxílio
emergencial;
Covid-19;
população
negra;
desigualdade.
Abstract:
The
present
article
aims
to
reflect
on
the
public
policy
of
emergency
aid
and
its
impact
on
deepening
inequalities
for
the
vulnerable
black
population
in
Brazil,
in
the
context
of
the
Covid-19
pandemic.
We
adopt
an
exploratory
and
descriptive
methodological
strategy,
employing
the
technique
of
document
analysis
to
establish
a
diagnosis
of
these
impacts,
analyzing
institutional
documents,
articles
and
data
from
different
bases
(IBGE,
IPEA
and
DIEESE).
In
the
final
considerations,
we
emphasize
that,
even
during
the
Aid
payments,
the
underprivileged
groups
of
the
Brazilian
population,
most
of
them
black,
were
those
who
suffered
the
most
from
the
declines
in
income
levels
and
loss
of
employment,
as
well
as
the
impacts
of
the
policy
implementation;
bringing
to
light
the
abysmal
structural
and
racial
inequalities
in
Brazil.
Keywords:
pandemic;
emergency
aid;
Covid-19;
black
population;
inequality.
238
Recebido
para
publicação
em
17/02/2023
Aceito
em
29/08/2023
ACESSO
ABERTO
Copyright:
Esta
obra
está
licenciada
com
uma
Licença
Creative
Commons
Atribuição
4.0
Internacional.