A gestão ordinária no agreste das confecções: Um olhar a partir do cotidiano das mulheres proprietárias de negócio em um centro de compras
DOI:
https://doi.org/10.19094/contextus.2024.85158Palavras-chave:
estudos organizacionais, inclusão, gestão ordinária, gênero, negóciosResumo
Contextualização: Os negócios da confecção no agreste pernambucano são oriundos das feiras de rua e, mesmo após relativa modernização, surgimento dos grandes centros de compras e alcance de destaque econômico para a região, guardam consigo práticas embasadas na gestão ordinária. É nesse contexto que mulheres constroem suas histórias, gerindo seus negócios cercadas das relações patriarcais, divisão sexual do trabalho e discriminação de gênero. Em contraste, também é nesse ambiente que reafirmam sua inclusão, força e persistência na busca pela subsistência e igualdade no mercado de trabalho.
Objetivo: Este estudo buscou analisar as dinâmicas de gestão ordinária desenvolvidas por mulheres que possuem negócios de confecção em um centro de compras no agreste pernambucano por meio do recorte de gênero.
Método: Foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas e os achados discutidos a partir da análise de conteúdo temática.
Resultados: Observou-se que as proprietárias administram seus negócios de modo singular a partir do saber adquirido na prática, sem ferramentas de gestão consolidadas, mas que são efetivas em atingir resultados em um modo ordinário próprio de gerir; seguem enfrentando a divisão sexual do trabalho; sobrecargas da dupla jornada laboral; e outras opressões relacionadas ao gênero.
Conclusões: Percebe-se importância dos negócios na confecção para a vida pessoal e profissional dessas mulheres, pois a partir do trabalho desenvolvem saberes, conquistam certo reconhecimento e emancipação econômica.
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