A MORTE COMO CATEGORIA FILOSÓFICA: FINITUDE E DETERMINAÇÃO EM FEUERBACH

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DOI:

https://doi.org/10.30611/2015n6id5195

Resumo

Este artigo tem por tema uma parte do projeto de pesquisa Revisão Crítico-Materialista da Bioética, que compreende entre seus objetivos rastrear na tradição filosófica materialista momentos nos quais certos conceitos chave para a reflexão, a elaboração e o discurso bioéticos foram em alguma medida abordados ou problematizados. Neste trabalho se analisa o caráter propriamente filosófico da mortalidade no pensamento de Feuerbach. Delimita-se o papel constitutivo que a reflexão acerca da morte desempenha na sua elaboração antropológica. Em especial se examinará Pensamentos sobre morte e imortalidade, conjunto de textos publicado anonimamente em 1830. Aqui a morte aparece possuindo uma função específica de demarcação do ser concreto dos homens de maneira oposta àquela observada na religiosidade cristã arrimada na noção de imortalidade individual. Teologicamente, a essência humana é posta numa fictícia realidade situada para-além da concretude natural. Neste sentido, a excelência humana somente poderia ser atualizada porquanto a alma tenha negada a sua circunscrição pelo sensível e carnal. Feuerbach, ao contrário, pretende ancorar a dignidade humana de modo assertivo, como afirmação de um estar-aí objetivamente existente, na exata medida em que assume a mortalidade como delimitação positiva do indivíduo em sua conexão com o gênero, que continua e assimila a pessoalidade finita na sua virtual infinitude. O reconhecimento de teor positivo da mortalidade individual põe em marcha uma reelaboração da compreensão das determinações antropológicas do indivíduo, baseada no reconhecimento daquele liame essencial, uma vez que apenas na comunidade fundada no gênero, no compartilhamento de uma essência natural comum com os semelhantes, obtêm os indivíduos a possibilidade de afirmação de suas qualidades. A compreensão deste caráter imediatamente finito da existência dos homens descortina diretamente a possibilidade da reflexão acerca de outros elementos, tais como a determinação particular da pessoa enquanto esta pessoa, a real significação da temporalidade como construção de uma história específica da vivência, e não como mera passagem abstrata do tempo, entre outros complexos temáticos.

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Publicado

2016-10-06

Edição

Seção

Dossiê Ludwig Feuerbach: Antropologia e Ética