ORDENAR AS PAIXÕES: RECONHECIMENTO E SOCIABILIDADE NO EMÍLIO DE ROUSSEAU - SEGUNDA PARTE
DOI:
https://doi.org/10.30611/2020n17id60620Palavras-chave:
Educação, Moral, Reconhecimento, Sociabilidade, TeatroResumo
Este artigo recupera o problema do reconhecimento no quadro teórico do artigo anterior e prossegue examinando, na leitura de Emílio, ou Da educação, o princípio da ordem das paixões como condição de sociabilidade. Dessa vez, o comentário procura esclarecer a ideia de reconhecimento segundo Rousseau com base em dois pontos fundamentais de Emílio, a saber, o modelo de espetáculo para as cenas pedagógicas e o princípio da amizade para formação do juízo moral. No tocante às cenas, Rousseau recoloca o princípio da “educação negativa” com base na tese da Carta a d’Alembert sobre os espetáculos, a saber, que as cenas teatrais são incapazes de modificar os costumes, uma vez que, diante do “quadro das paixões”, a “cena em geral” não produz virtude, mas apenas reforça as inclinações já existentes no espírito do espectador. Em relação à amizade, Rousseau lida com o problema do amor-próprio ponderando que, embora as relações entre amigos não sejam suficientes para anular o conflito de interesses inerente à luta por reconhecimento, o arranjo social engendrado por elas apresenta um ordenamento satisfatório do ponto de vista da boa ordem das paixões.
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