HOMO ABSCONDITUS: O CONTEÚDO UTÓPICO-SUBVERSIVO DAS RELIGIÕES SEGUNDO L. FEUERBACH E E. BLOCH
DOI:
https://doi.org/10.30611/2021n21id70901Palavras-chave:
Religião, Conteúdos utópicos, Ateísmo antropológicoResumo
Com o apoio decisivo da teoria de L. Feuerbach, Ernst Bloch pôde estabelecer, mesmo que de um ponto de vista materialista e até mesmo ateísta, uma relação teórica muito produtiva com a religião. A valorização blochiana da teoria de Feuerbach se situa numa perspectiva não usual na tradição crítica e marxiana a qual, geralmente se limita a indicá-lo como antecessor de Marx, principalmente no que diz respeito à análise do caráter fetichista da sociedade capitalista. Para além dos limites muitas vezes indicados quanto a compreensão histórica, política e antropológica, Bloch reconhece que em Feuerbach há uma verdadeira revolução no modo de compreender e atribuir significado a religião. Muito mais do que superar a religião, segundo Bloch, Feuerbach estava interessado no conteúdo humano e até mesmo subversivo inerente às religiões. Essa apropriação produtiva da teoria de Feuerbach possibilitou a Bloch trabalhar com o pressuposto de que os ‘segredos’ das religiões se fundam em dimensões humanas latentes, embora ainda não reconhecidas enquanto tal. As religiões estariam, portanto, carregadas de conteúdo utópico, sendo portadoras de um homo absconditus e, simultaneamente, representariam uma fronteira inigualável de emergência do inédito no mundo. O pensamento crítico estaria diante da tarefa de explicitar os conteúdos utópicos e subversivos aí emergentes em vez de abandoná-los ao pensamento e as ações conservadoras.
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