TRANSTEMPORALIDADE PAU-BRASIL
DOI:
https://doi.org/10.30611/33n33id94066Palavras-chave:
Transtemporalidade, Tempo, Política cultural, Modernidade, Manifesto da Poesia Pau-BrasilResumo
Este artigo explora a temporalidade da ideia oswaldiana de Pau-Brasil. Analisa-se a experiência das viagens realizadas em 1923, para Paris, e 1924, para o interior de Minas Gerais. Aqui, é mostrado de que maneira o primitivismo contextualizado em um país que fora colônia propicia a percepção de dois tempos entrecruzados, o de uma modernidade global, europeia e imperialista, e o de uma modernidade local, brasileira e anti-imperialista. Em seguida, o artigo aborda a complexificação conceitual da experiência das viagens no Manifesto da Poesia Pau-Brasil. Argumenta-se que o texto de 1924 soma ao tempo histórico um tempo ideal, de um futuro moderno brasileiro, e um tempo subjetivo, de um “nós” que se altera ao longo do texto conforme delineia um programa estético-cultural. Propõe-se o conceito de transtemporalidade para articular essa polimorfia do tempo de Pau-Brasil. O conceito revela, também, uma nova política cultural, ciente da geopolítica do primitivismo vanguardista e explicitamente contrária à política cultural do Brasil Império, a qual é entendida como ainda subserviente a padrões simbólicos europeus. Com isso, o artigo almeja um duplo objetivo. Primeiro, mostrar que o programa poético Pau-Brasil traz conotações políticas, sustentadas por uma filosofia do tempo, de modo que seria apressado julgar verdadeira a crítica do desengajamento oswaldiano em Pau-Brasil. Segundo, contribuir, de modo mais geral, para a interpretação do pensamento oswaldiano, possibilitando ver na temporalidade de Pau-Brasil um precedente conceitual da filosofia oswaldiana formulada nos ensaios da década de 1950.
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