LÍNGUA RAÇA E ENSINO

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA NÃO LICENCIADOS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36517/eemd.v46i93.94495

Palavras-chave:

língua inglesa, raça, formação

Resumo

A noção de fluência linguística, que muitas vezes é atravessada por uma visão hegemônica, elitista e racista de língua, é supostamente privilegiada no ensino de língua inglesa na rede particular de ensino, seja em cursos livres ou escolas. Da mesma forma, a escolha por professores que supostamente saibam “falar bem” a língua, o que se desdobra na ideia de selecionar aqueles que tenham vivência linguística fora do país ou sejam falantes nativos não licenciados, sendo isso uma prática recorrente. Tendo em vista a concepção de que essas visões implicam em elementos raciais e raciológicos (isto é, impactados por elementos racistas), neste artigo buscamos analisar como professores de língua inglesa não licenciados que atuam no ensino particular da cidade de Itabuna/BA entendem como o ensino de línguas é impactado pelas questões raciais. Queremos, com isso, demonstrar a importância da formação desses profissionais de maneira mais ampla. Os aspectos metodológicos incluem entrevista semiestruturada e aplicação de questionários e os resultados demonstram, como pressupomos a priori, maior necessidade de formação qualificada desses profissionais, tendo em vista a tendência a um ensino purista da língua que privilegia quase unicamente o inglês branco norte-americano, juntamente à sua cultura.

Biografia do Autor

Lara Cordeiro Lisbôa, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

Mestranda em Letras: linguagens e representações pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

Gabriel Nascimento dos Santos, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB). Professor adjunto II na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Professor permanente no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL/UESC).

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Publicado

2024-11-23