Salazar esquartejado
as representações do ditador português a partir de contos e crônicas de José Saramago
Resumo
No conto “Cadeira” (1978), José Saramago nos remete ao fatídico acidente doméstico do ditador António de Oliveira Salazar ocorrido em 3 de Agosto de 1968. Mas, se nesse texto somos levados ao Forte de Santo António do Estoril, onde Salazar caiu de uma cadeira de lona, nas crônicas A cabeça (1978) e A mão do finado (1977), por sua vez, o escritor português não deixa de retomar esse tombo de forma inacabada, representando metaforicamente sua cabeça (ideias) e suas mãos (gestos) a se espalhar pelas ruas e casas portuguesas. Em tais fragmentadas andanças, Saramago nos remete aos próprios destroços das estátuas públicas de Salazar sucessivamente explodidas e decapitadas durante as últimas décadas, evidenciando tanto suas sucessivas quedas quanto alarmando sobre seus diversos ressurgimentos. No conflito entre uma aparente queda de Salazar e as muitas notícias de ataques às suas estátuas, Saramago constata que, infelizmente, as diversas partes do corpo e da mente do ditador ainda insistem em transitar entre nós até os dias atuais.