UMA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL: ENTRE AÇÕES E FRUSTRAÇÕES

Resumo

Recentemente, o governo anunciou com entusiasmo a sanção da lei que institui Tempo Integral na rede pública estadual de ensino, manifestando a intenção de estender o modelo a todas as escolas da rede estadual. No ano de 2017 o Colégio Liceu do Ceará iniciou a implantação de tal sistema de ensino. Sua adoção ocasionou uma série de impactos sobre a comunidade escolar, alterando diversos aspectos de sua sociabilidade, assim como do processo ensino-aprendizagem. Através de observação participante, a partir de minha vivência cotidiana como professor nessa instituição, objetivei perceber e analisar tais transformações, avaliando os reflexos que estas tiveram sobre o fazer docente e estudantil. Percebemos que o modelo de Tempo Integral possibilitou uma intensificação do contato entre professores e estudantes, gerando, consequentemente, o estreitamento de laços que alteraram posturas intra e extra sala de aula. As denominadas disciplinas eletivas, que teoricamente permitem docentes diversificarem suas práticas e proporcionam momentos diferenciados aos alunos, ocasionou tanto satisfações como descontentamentos entre seus partícipes. Após a adoção do Tempo Integral, verificamos que ocorreu um aumento vertiginoso do número de estudantes que sofrem desmaios e outros mal-estares na escola durante os dias letivos. A inexistência de uma infra-estrutura mínima necessária para a viabilização desse sistema, resultou em adversidades que produziram prejuízos no processo educacional, frustrações na comunidade escolar e, consequentemente, evasões. Apesar de a proposta educacional em questão apresentar aspectos positivos, estes estão muito aquém do que foi inicialmente idealizado e atualmente propagandeado pelos órgãos governamentais. A experiência até então vivenciada em nosso colégio nos aponta elementos que indicam riscos de as escolas de Tempo Integral trilharem um caminho inverso ao ambicionado: o aumento da precariedade educacional.