A ATUALIZAÇÃO DOS EFEITOS DE SEGREGAÇÃO EM CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19

Autores

  • Aline Gabriele Carvalho de Lima
  • Karla Patricia Holanda Martins

Resumo

Em meados de março de 2020 todos se depararam com um acontecimento que tem provocado modificações em nossas vidas, a contaminação pelo Coronavírus e sua doença, COVID-19, seguida da mobilização para lidar com as consequências da proliferação do vírus. A medida de isolamento social passou a fazer parte da vida cotidiana da grande maioria dos brasileiros. O vírus conseguiu atingir todas as classes econômicas, mas ele também evidenciou os racismos e as desigualdades sociais em nosso país. Além disso, o uso dos espaços públicos e privados passou também a sofrer suas transformações. Se antes o isolamento e a segregação se relacionavam à violência urbana, tem-se hoje uma realidade que os potencializa. Assim, o objetivo do presente trabalho é propor uma discussão sobre o que se entende como uma atualização dos efeitos de segregação em contexto de pandemia, a partir do caráter traumático da não dignificação e reconhecimento do valor de algumas vidas no cenário pandêmico. O referido trabalho, por meio de uma revisão de literatura, coloca em diálogo a noção lacaniana de segregação e a teoria ferencziana sobre o trauma, partindo do pressuposto de que as vidas que já eram matáveis em contexto de violência urbana são as mesmas que contabilizam a maior parcela de mortes decorrentes da COVID- 19. A análise e discussão do pressuposto se utiliza ainda da categoria de Homo sacer, cunhada por Giorgio Agamben (2010), bem como das articulações com Achille Mbembe (2020) e Judith Butler (2019). Como resultado, percebe-se a negação, o desmentido ou o descrédito social como formas produtoras de segregação e de apagamento das diferenças e desigualdades socias. Conclui-se que o discurso negacionista que desvaloriza essas vidas perdidas ficará lado a lado com a memória de outras perdas que não foram contabilizadas na história oficial brasileira, a exemplo dos mortos das ditaduras, dos campos de concentração cearenses e da violência policial que vem ocorrendo no decorrer da nossa história.

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Publicado

2021-01-01

Edição

Seção

XIII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação