FESTEJOS DE SÃO JOSÉ: PRÁTICAS RELIGIOSAS EM TEMPOS PANDÊMICOS

Resumo

Este trabalho resulta da experiência no “Projeto: Procissões em narrativas, imagens e memórias: as festas de São José (Bonsucesso) e São Sebastião (Varjota/Mucuripe-Dendê) em Fortaleza”. A pesquisa foi afetada pela pandemia, o que impossibilitou a observação presencial e inviabilizou os ritos habitualmente praticados. Buscou-se compreender como se davam as práticas religiosas dos fiéis em meio ao isolamento social. A metodologia consistiu na realização de entrevistas por ligação telefônica aos participantes da pesquisa, incursões em mídias jornalísticas e sociais para observar como ocorreram as festas religiosas nesse cenário. Os relatos apontam que não houve interação social em procissões e outros ritos, como a reza do terço no dia anterior à procissão. Os fiéis recolheram-se em suas casas, sendo, em maioria, pessoas idosas. Relatou-se que alguns deles contraíram COVID-19, outros perderam familiares. Nesse contexto pandêmico, observou-se que os ritos religiosos ocorreram de maneira individualizada ou acompanhada através de programas de rádio ou mídias sociais. As Missas e as festas religiosas ocorreram em plataformas digitais. A análise das narrativas indica que, embora profundamente afetadas pelas circunstâncias, as práticas religiosas foram adaptadas, adentrando cada vez mais o universo tecnológico que, de diferentes formas, já se fazia presente na religiosidade popular. Conclui-se, portanto, que a experiência da fé e a manifestação da devoção dinamizam-se em face de contingenciamentos e mudanças na sociedade, gerando desafios à manutenção de práticas, crenças e devoções, em um cenário de adoecimento e perdas, em que a religiosidade apresenta-se como alento e amparo emocional.