O ENSINO DA BIOLOGIA SOB UMA ÓTICA ARTÍSTICA-CIENTÍFICA

Resumo

Ao friccionar as zonas que delimitam arte e ciência rompe-se o pensamento binário, proporcionando uma relação não hierarquizada entre as duas esferas, aproximando-as de tal forma que a arte passa a ser vista como uma expressão do saber científico e assim mutuamente. Inserido nessa conjuntura, o objetivo desse projeto se faz em analisar as contribuições da obra 'Coro d'Sum: quimera dos rios intermitentes' do artista e pesquisador Davi Ângelo para o ensino da biologia, sob a ótica da interface ciência-arte. O primeiro contato artístico de Davi foi na cidade onde cresceu, Pires Ferreira no interior do Ceará, em que as contações de lendas eram parte da cultura local, o que fez o artista se encantar pelo fantástico que o folclore carrega, levando-o a seu atual processo artístico. Esse contexto inicial de interação com a arte o impulsionou a explorar os campos do real e do imaginário em seu novo processo de criação, a Coro d'Sum, que soma elementos de artes visuais e performances, no qual retrata os mitos dos ciclos de cheias e secas do Ceará e materializa a figura de uma sereia. Produzida em tamanho padrão e com um material maleável que lhe atribuiu um aspecto humanóide, a sereia possui uma aparência serena e inocente. A configuração anatômica do ser folclórico, associada à estética da ciência, está contaminada pelo artístico, provocando um impacto visual. Dessa forma, Davi excedeu o muro que delimita a arte como também possibilitou expor as limitações do discurso científico. Tais limitações, especificamente na área da biologia, apresentam-se como uma racionalidade restringente que ordena e classifica todas as formas de conhecimentos acerca do mundo, refutando todas as sensações e subjetividades que não se encaixam no molde da ordem vigente. A junção do artístico e científico aqui proposto é uma práxis viável, que permite caminhar fora dos trilhos, transformando a biologia e o seu ensino no mundo vivo e não apenas um discurso.