A NOÇÃO DE NECROPOLÍTICA, DE ACHILLE MBEMBE E O VALOR DA VIDA EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO

Resumo

Na narrativa distópica do romance Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago, os personagens passam a viver em um mundo acometido por uma cegueira branca, doença que surge de modo repentino e de origem desconhecida. O Estado apresentado na obra não consegue lidar com a epidemia de cegueira, e através do autoritarismo, isola os cegos em manicômios a fim de evitar a perturbação da ordem, delimitando os direitos dos corpos cegos que ficam passivos do controle estatal. De todo modo, a situação foge do controle, expondo a ineficiência de seus dirigentes. Com base na metodologia comparatista literária e numa abordagem multidisciplinar, objetiva-se abrigar contribuições que privilegiem o quadro geopolítico contemporâneo. A partir do conceito de necropolítica de Achille Mbembe (2018), que argumenta sobre a apropriação da morte pelo poder político, de modo a subjugar a vida, e do posicionamento de Zygmunt Bauman (2016) sobre a literatura possibilitar a compreensão da sociedade, pretendemos analisar o valor da existência dentro da ficção apresentada, bem como utilizá-la como pano de fundo para o entendimento dos mecanismos que legitimam a necropolítica na contemporaneidade. Diante disso, abordar a desigualdade e a política de exclusão de grupos minoritários que, por exemplo, visualizamos no Brasil. Grupos esses que, como no romance de Saramago, têm os direitos individuais cerceados e passam a ser vistos como inimigos internos da pátria.