DESVIOS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO DO NORDESTE BRASILEIRO

Resumo

O controle da família, especialmente do casal monogâmico, se alastrou para os espaços da política, da religião, da escravidão dos primeiros séculos, das relações de trabalho e saber no Nordeste. Quanto mais rico era o homem, mais macho e temido esse indivíduo seria. Todas as coisas pertenceriam à sua família (ALBUQUERQUE, 2013). A política da criação e manutenção das sexualidades pelo Estado, Família e Cultura tem eficácia para controlar, manter e incentivar as práticas sexuais, inclusive as desviantes. Ao mesmo tempo em que são controladas, essas sexualidades falam de si e para si, e nesse movimento o corpo e o desejo vão sendo modulados, controlados e instigados pelo poder (FOUCAULT, 1988). As imagens ocidentais dos países que viveram a experiência colonial estão imersas nos mitos que giram em torno da heterossexualidade normativa, dos embates raciais e de classe (McCLINTOCK, 2010). Portanto, o cinema contemporâneo do Nordeste do Brasil guarda influências dos povos que foram escravizados e exterminados nesse território. O projeto colonial foi fundamental para a consolidação das imagens do homem do poder. Por outro lado houve dissidência e resistência antes, durante e depois das invasões européias (HIJA de Perra, 2015). Tatuagem, Praia do Futuro e Boi Neon são filmes que apresentam um Nordeste com paisagens, corpos e discursos distintos. Os diretores nos apresentam o sertão, o litoral e as paisagens urbanas periféricas que poderiam pertencer a qualquer região do país ou do mundo. O olhar masculino dominou a arte, o pensamento e a ciência ocidentais. Esse olhar é confrontado pelas cenas que nos apresentam personagens que sabotam e, ao mesmo tempo, performam as normas de gênero e sexualidade. O mito do cabra-macho parece está em constante atualização. Através das histórias e artifícios cinematográficos analisaremos os fantasmas coloniais que se presentificam no cinema contemporâneo do território nordestino.