FILOSOFIA E COVID-19: FEUERBACH E EDGAR ALLAN POE COMO ANTÍPODAS DE UM MUNDO AVESSO À MORTE

Resumo

O presente artigo discorre acerca do pensamento de Ludwig Feuerbach em articulação a um conto do famoso escritor americano Edgar Allan Poe, A Máscara da Morte Rubra, de 1842. Reflete-se aqui sobre a pretensa fixidez e cerceamento do conceito vida, que, no mundo contemporâneo, modelado pelos vultos da razão e do materialismo religioso, expulsam o papel da morte como elemento necessário através do qual se afirma a natureza em nós, sendo, aqui, denunciado como um impropério o desejo de expurgar a inexorável presença de Tânatos (Θάνατος) além indicar uma postura que se transmuta moralmente em um tratamento aversivo e arbitrário dos seres humanos frente à natureza e à vida. Ainda no mesmo artigo, tecemos alguns comentários acerca da relação entre a crise sanitária referente à pandemia da Covid-19, responsável por inúmeras mudanças na vida em sociedade, aludindo também a uma primaz urgência de um novo paradigma que se eleve sobre o já desgastado Antropoceno, a chamada “Era do homem”, que convulsiona ante os abusos cometidos pela humanidade em relação ao mundo natural e aos demais seres sencientes, com destaque a uma reflexão sobre a morte como pretensão de se abrir uma senda ao possível enlace da consciência ante ao seu destino final na natureza, contra a qual funda-se, segundo Feuerbach, a maior parte dos esforços empreendidos pelo homem na busca de afirmar sua superioridade em relação ao restante do mundo natural.