MATERNIDADE NO CURRÍCULO LATTES E A LUTA DAS MULHERES CIENTISTAS POR EQUIDADE DE GÊNERO

Resumo

A construção social da maternidade como vocação e dos cuidados com as crianças como algo eminentemente feminino trouxe uma série de consequências para vida das mulheres. Apenas no século XX, por exemplo, mulheres começaram a ter acesso às universidades. Na atualidade, apesar de mudanças comportamentais e o surgimento de políticas públicas nesse sentido, no ambiente científico, ainda se reproduzem desigualdades entre gêneros. No caso das cientistas mães, a situação é agravada pela sobrecarga materna, explicada em parte pela divisão sexual do trabalho, e pela escassez de políticas públicas de apoio à maternidade, que visem maior equidade de gênero. Uma pesquisa de 2017, realizada pelo coletivo Parent in Science, mostrou que 81% de 1.182 cientistas brasileiras disseram que a maternidade teve impacto negativo em suas carreiras. Recentemente, em abril de 2021, tornou-se possível incluir na Plataforma Lattes registros de períodos de licença-maternidade. A partir dessa mudança, pretende-se, com este trabalho, compreender o que isso representa para as mulheres cientistas e para a comunidade científica. O estudo foi feito a partir de pesquisa bibliográfica e documental e da análise de entrevistas de cientistas mães. Percebeu-se, através disso, que poder registrar a licença maternidade no currículo lattes representa para as mulheres cientistas um ganho político e um importante resultado de uma mobilização que durou anos. Nota-se, pelas falas das cientistas no material analisado, que há a expectativa de que essa medida, aparentemente simples, possa mitigar prejuízos nas avaliações de produtividade das cientistas mães. Entretanto, elas também pontuam que essa ação por si só não é suficiente para garantir avaliações mais justas frente a recrutadores, universidades e agências de fomento, já que é necessário utilizar essa informação em ações práticas.