REPRESENTAÇÕES DA FIGURA PATERNA NA LITERATURA: A RECEPÇÃO DO MITO EDIPIANO EM CARTA AO PAI E LAVOURA ARCAICA

Resumo

Na literatura, nota-se que a figura paterna é configurada a partir de um arquétipo que concentra força, poder e autoridade, afora outros ideais, que fazem do pai um personagem ambíguo, pois, por um lado, temos uma figura protetora e provedora, mas, por outro, temos uma imagem que, ao sintetizar as formas de autoridades de uma sociedade patriarcal (pai, patrão, sacerdote, juiz), exerce a opressão em vários domínios dos indivíduos que compõem seu clã, gerando nesses o sentimento de insatisfação. Como resultado dessa insatisfação surge outro arquétipo, o do filho, geralmente do sexo masculino, que passa a confrontar seu pai. Esta disputa entre pai e filho tem como precursor mais conhecido, senão o principal, o mito edipiano representado literariamente em Édipo rei (V a.C.), de Sofócles, que tem como desdobramento o incesto entre mãe e filho. Assim, tal como na tragédia grega temos o filho que mata seu pai e desposa sua mãe; em toda a literatura ocidental, não faltam textos que retomem o complexo de Édipo de modo semelhante ou recriando-o. Pensando nessas inúmeras releituras, este trabalho propõe-se a discorrer sobre a representação das relações familiares na literatura a partir de ambas as vertentes do mito – o conflito entre pai e filho e o incesto. Para tanto, tomaremos como ponto de partida, conforme já foi dito, o complexo edipiano elaborado na mitologia grega e sua recepção na literatura, na teologia e na psicanálise. Destarte, propõe-se que, além da tragédia mencionada, sejam abordadas obras como a Teogonia (VIII a.C.), de Hesíodo; a Bíblia sagrada; Totem e tabu (1913), de Sigmund Freud; Carta ao Pai, de Franz Kafka e Lavoura arcaica (1975), de Raduan Nassar. Ao fim do percurso, espera-se identificar aspectos relevantes sobre a recepção do mito para a construção e consolidação dos arquétipos de pai e filho na literatura. A pesquisadora agradece à FUNCAP, órgão financiador desta pesquisa.