RELIGIAO, MODERNIDADE E O RETORNO DO FEMININO SAGRADO

Abstract

Desde a década de 1960, em diferentes lugares do mundo, mulheres têm buscado uma maior conexão consigo mesmas e com as demais, a partir do que se chamou Espiritualidade Feminina. Atualmente, como um ramo dessa espiritualidade, tem-se os chamados Círculos de Mulheres, onde se busca resgatar uma natureza sagrada por meio de práticas de autoconhecimento e autocuidado, utilizando técnicas como vaporizações do útero, chás, cristais e outros. Os Círculos não se vinculam a nenhuma instituição religiosa e se formam de maneira livre, a partir de mulheres que “facilitam” os encontros, ou seja, que conduzem as reuniões. Acompanhou-se, em 2019, seis grupos de mulheres que se reuniam em Fortaleza- Ceará. Observou-se uma especial atenção ao tema da menstruação, que se configura, nesses espaços, como uma experiência positiva, capaz de informar sobre a saúde física e emocional da mulher. Nos Círculos, as facilitadoras, no geral, não fazem alusão a nenhuma religião ou crença e se remetem ao caráter sagrado do feminino, podendo fazer referência a deusas dos mais diversos patões. Toma-se os Círculos de Mulheres como um Novo Movimento Religioso, expressão de um momento em que a própria ideia de religião tem sido transformada, sendo compreendida de modo difuso, extrapolando os espaços religiosos tradicionais. Essa desinstitucionalização do sagrado possibilita uma maior liberdade para os indivíduos vivenciarem e reorganizarem os elementos religiosos tal como queiram. Dessa forma, a espiritualidade é expressa como uma forma de expansão da consciência, autoconhecimento e autocuidado. Esses espaços articulam a noção de cura (física e emocional) com o resgate de práticas de cuidado naturais com práticas místico-esotéricas. Dessa forma, situamos esses Círculos como práticas identificadas com a chamada Nova Era, movimento também fluido de espiritualidade que dá sombra a práticas que envolvem uma ética, filosofia ou estilo de vida.